segunda-feira, 16 de setembro de 2013

Raio Laser - 1º Capítulo


RAIO LASER
NOVELA DE DAVI VALLÉRIO E ALEX SPINOLA
 POR ALEX SPINOLA
CAPÍTULO 01

Escuridão. Surgem na TELA, como se datilografados, os dizeres: BRASIL, 1982.

CENA 01. FACHADA DA IGREJA DA SALVAÇÃO. EXTERIOR. NOITE

Breu total. O único ponto de luz, mesmo assim vacilante, emana do neon azul que circula uma cruz cravada na parte mais alta da construção. LAURO, um belo rapaz de dezenove anos, com toda a pinta de seu xará famoso, o Corona, olha ao redor.

LAURO: (chama baixinho) Lídia? Lídia?

Um ruído no interior da igreja chama a atenção dele. Lauro percebe que a porta está entreaberta. Ele entra.

CENA 02. IGREJA DA SALVAÇÃO. SALÃO. INTERIOR. NOITE

Iluminação precária. RÁDIO LIGADO tocando "CAMA E MESA" do Roberto Carlos. Lauro torna a chamar baixinho. Uma sequência de lâmpadas se acende sobre o altar. Salão enfeitado para cerimônia de casamento. Ele sorri. ALGUÉM surge às suas costas e fecha a porta de entrada. Lauro se vira abruptamente. Diante dele, VEMOS EVA, 40 anos, vestida de maneira provocante, maquiagem carregada. O SOM das inúmeras pulseiras que lhe adornam os pulsos produz um chiado estranho, similar ao guizo de uma serpente.

EVA: (embriagada) Surpresa, Lauro!
LAURO: Dona Eva? O que a senhora tá fazendo aqui?
EVA: (provocante) Corta esse papo de senhora, garotão.
LAURO: Espera aí, eu recebi um recado da Lídia, foi o Sidney quem levou...
EVA: (ar de deboche) Foi uma brincadeirinha minha. O Sidney, apesar daquele jeitinho lerdo dele, faz tudo o que a mamãe pede.
LAURO: Como a senhora entrou aqui?
EVA: (rindo maliciosa) Bem, aquela beata de uma figa, aquela papa hóstias da Sofia Emerenciana teve que desgrudar da chave, (olha ao redor), dessa espelunca por conta do casamento...
LAURO: (cortando) Já chega! Eu vou embora daqui!
EVA: Não vai não! Hoje você é meu!
LAURO: O quê? Você tá louca?!
EVA: Tô sim, Lauro! Tô louca de amor por você, e você sabe disso!
LAURO: Eu não sei do que você tá falando! Eu vou casar com a sua filha, a Lídia, esqueceu?
EVA: (esfregando-se nele) Foi pra isso que eu armei esse encontro, Lauro: pra pedir que você não se case, pra te pedir que a gente fuja dessa cidade atrasada! A gente pode dar o fora daqui! Tenho dinheiro pra isso, você sabe!
LAURO: (se afasta dela, enojado) Que loucura é essa? Eu sei dos buchichos que você chifra o seu marido com garotões da cidade, mas comigo não! Ninguém tem coragem de abrir a boca. O povo tem medo da má fama do seu marido...
EVA: (debochada) E você acha que aquele corno não sabe de nada? É claro que sabe!
LAURO: (esboçando sair) Então chegou a hora da cidade toda também saber!

Num gesto brusco, Eva pega sua bolsa sobre um banco, e a vasculha, rápido. Um pequeno cantil prateado cai no chão. Eva saca de um revólver, puxa o canhão. O tambor gira.

EVA: Você não vai pra lugar nenhum!

CORTA PARA:

CENA 03. FACHADA DA IGREJA DA SALVAÇÃO. EXTERIOR. NOITE

SIDNEY, 16 anos, jeito abobalhado, aproxima-se. Olhar apreensivo.

CORTA PARA:

CENA 04. IGREJA DA SALVAÇÃO. SALÃO. INTERIOR. NOITE

Lauro apavorado diante Eva. Ela continua a assediá-lo.

EVA: (esfrega-se nele, o acaricia com o revólver) Eu quero você, Lauro! Você finge que não sabe, mas eu sei que você sabe! Eu sei que você sente!
LAURO: (toma coragem, a empurra) Louca varrida! Eu não sinto nada! O que eu tô sentindo por você agora é pena, é nojo! Sabe o que é isso, nojo? Olha pra você! Será que você não se enxerga?

A repulsa de Lauro deixa Eva desnorteada. Ela o encara. Um olhar triste, patético, que depois de um breve instante se enche de cólera.

EVA: Desgraçado! Quem você tá pensando que eu sou? Uma idiota? Pensa que eu não vejo o jeito que você me olha desde aquele dia, que você me salvou lá na cachoeira?
LAURO: Te salvei, sim, porque você estava bêbada!
EVA: Você me beijou!
LAURO: Respiração boca a boca! Eu teria feito por qualquer um, até por um bicho! Você confundiu tudo! O que quê é, pirou, enlouqueceu?!
EVA: Não, eu não enlouqueci! Essa sou eu, garoto! A Eva de verdade, que não precisa fingir, só pra agradar esse bando de caipiras! Eu tô aqui, me abrindo pra você, falando do meu amor, e você faz pouco?

A porta de entrada é aberta. Eva percebe a chegada de Sidney. Assustado, ele esboça sair.

EVA: (berrando) O que você tá fazendo aqui, seu mongoloide?
SIDNEY: A senhora me mandou mentir pro Lauro. Eu sabia que era mentira, eu sabia. Toda vez que a senhora fica desse jeito, a senhora mente.
EVA: Cala essa boca! Entra e tranca essa porta, a chave tá aí, senão eu meto bala na cabeça do seu amiguinho!

Sidney faz que não.

LAURO: (desespero) Corre e chama a polícia, Sidney!
EVA: Obedece a sua mãe, garoto!

Sidney se aproxima. Eva pega o cantil prateado, livra-se da tampa e toma uma boa dose. Lauro perplexo diante o inusitado da situação.

EVA: (ergue o cantil) Uísque puro, legítimo, veio do estrangeiro! Quer um trago, Sidney?
SIDNEY: Eu não posso beber, eu tomo remédio.

Eva fica muda. Olha para o cantil, olha para Sidney. Um sorriso maligno brota em seus lábios. Teve uma grande ideia.

EVA: Seu problema é esse, Sidney: você toma remédio demais pra problemas de menos. Dá seus remedinhos pra mamãe, dá! Você não precisa deles!

Sidney retira uma cartela de comprimidos do bolso da calça. Eva dá uma gargalhada diabólica.

Agora, a música é "BLUES DA PIEDADE" de Cazuza. Acompanhamos, em cortes descontínuos, a loucura crescente de Eva.

EVA: Querem saber de uma coisa: Quero todo mundo muito louco aqui! Você falou de verdade, Lauro, que todos iriam saber a verdade? Pois eu não acredito em verdade dita de cara limpa! Ninguém diz a verdade, de cara limpa, garoto. Vai, bebe!!

Lauro se nega. Eva puxa Sidney pelos colarinhos. Aponta seu revólver para a cabeça dele.

EVA: Vai! Bebe!

Lauro vai recuando, tropeça e cai próximo a escadaria que conduz ao altar. Eva entrega-lhe o cantil. Apavorado, ódio nos olhos, ele bebe.

EVA: Isso! Bebe mais! Bebe tudo!

Eva arremessa Sidney para o lado de Lauro.

EVA: Vai, Sidney, você também! Bebe porque teu mal é esse: falta de birita!

Apavorado, Sidney obedece. Eva obriga Lauro e Sidney a engolirem alguns comprimidos.
Os garotos já estão pra lá de Bagdá. Eva rodopia pelo salão. Ela olha para as imagens sacras, e tem a impressão que elas também a observam.

EVA: Isso! Bebendo, bebendo tudo! Se acabar, eu pego mais! Sei que o padreco balofo é outro pinguço! Aquele lá bebe até o vinho da eucaristia, que eu sei!

Desvairada, ela pega uma garrafa com vinho, quase cheia, que está escondida numa bancada atrás do altar, e deste modo continua a embebedá-los, ao passo que também os obriga a tirarem as roupas. A música cessa. Aos poucos, Eva parece sair de seu transe e vê os garotos estirados, nus, aos pés do altar, entra em desespero, chora lágrimas negras de rímel. Eva se aproxima de Lauro, estirado no chão. Ela o encara, patética, destruída.

EVA: (acariciando o rosto de Lauro) Não era pra ter sido assim, meu menino, não era.

Uma lágrima negra cai no peito nu dele. Eva a enxuga, com alguma ternura. Instantes. Ela se ergue desesperada.

EVA: O que eu fiz? O que eu fiz? Você precisa resolver isso, Eva Juarez! Precisa! Não, não tem como voltar atrás, não tem como!

Ela recolhe suas tralhas e sai.

CORTA PARA:

CENA 05. FACHADA DA IGREJA DA SALVAÇÃO. RUA. EXTERIOR. NOITE

Detalhe das mãos trêmulas de Eva tentando acertar a chave no buraco da fechadura. Uma de suas inúmeras pulseiras cai no chão, ela não percebe. Trôpega, ela se embrenha num bambuzal próximo a igreja e ressurge montada num cavalo, em pleno galope. Numa rua próxima, passa ventando por SOFIA EMERENCIANA, uma senhorinha tísica, 65 anos, com cara de beata fervorosa.

SOFIA: Lá vai o demônio!

CORTA PARA:

CENA 06. FAZENDA DOS JUAREZ. CAMPO ABERTO. EXTERIOR. NOITE

A luminosidade tímida da lua banha o longo campo. Eva em seu cavalo. Ela chora.

CENA 07. FAZENDA DOS JUAREZ. CASA GRANDE. SALA. INT. NOITE

Eva entra, na surdina. Uma voz na escuridão a assusta.

SEBASTIÃO: (off) De novo, Eva?

Sebastião acende a luz, e isso nos revela sua figura: um sujeito abrutalhado, olhar sombrio, beirando os 50 anos.

EVA: Não me enche, Bastião!
SEBASTIÃO: Não grita. Vai acordar a Lídia. Cadê o Sidney? Ele foi atrás de você.
EVA: Eu tava por aí, não sei dele!
SEBASTIÃO: Desse jeito, você vai colocar tudo a perder, mulher. Não sei até quando a gente vai conseguir segurar a língua desse povo. O casamento da nossa filha é amanhã, e você por aí, caçando assunto...
EVA: Nossa filha, uma ova! Ela é minha filha! Você só prestou pra me dar o lerdinho do Sidney, (gargalha alto), o lerdinho da mamãe!
SEBASTIÃO: Vê se te avia, mulher! Vá tomar um banho gelado! Vê se arranca desse lombo esse cheiro de cachaça!
EVA: (sai murmurando) Casamento, é? Isso é o que você pensa, seu frouxo. Quando o padreco chegar à igreja... (ri, demente) quero ver só se vai ter alguma merda de casamento.

CORTA PARA:

CENA 08. CASA DOS JUAREZ. QUARTO DE LÍDIA. INTERIOR. NOITE

Um vestido de noiva debruçado sobre um baú. Lídia, uma garota brejeira, 18 anos, quase uma sósia da famosa Brondi, está de ouvido colado na porta do quarto. Acabou de ouvir a conversa que veio da sala. Ela se afasta da porta, olha para seu vestido por alguns instantes e sorri.

LÍDIA: Nem acredito que vou ficar livre desse hospício!

CORTA RÁPIDO PARA:

CENA 09. TORRENTES. VÁRIOS PLANOS. EXTERIOR. MANHÃ

Imagens aéreas revelam a pequena cidade, espremida por uma cadeia de montanhas e serpenteada por um rio. Numa aproximação mais detalhada, percebemos que a cidade de Torrentes, apesar de jeitosa, parece congelada no tempo. Nenhum sinal de progresso.

CENA 10. PREFEITURA DE TORRENTES. ENTRADA. EXTERIOR. MANHÃ

ORLANDO VIANNA, um sujeito austero, perto dos 60 anos, se debate para arrancar uma sequência de panfletos colados na fachada do prédio.

CORTA PARA:

CENA 11. PRAÇA PRINCIPAL DE TORRENTES. CORETO. EXT. MANHÃ

NECO e BETO de prosa, olhares voltados para o prédio da prefeitura. Ambos são rapazes fortes e rústicos, porém Neco abusa mais do estilo cowboy: chapelão, cinturão de fivela e botas de vaqueiro. Passa Sofia Emerenciana, a beta mor da cidade, curiosamente pilotando uma mobilete.

BETO: Depois que Lauro deu essa mobilete pra D. Sofia, a gente é obrigado a ver essa velha pra lá e pra cá.
NECO: Essa daí é puxa-saco daquele maricas.
BETO: (aponta para a prefeitura) Olha lá Seu Orlando, o prefeito tá com a macaca, Neco!
NECO: Também, com o filho fresco que tem. Não sei o que a gatinha da Lídia enxergou naquele traste. Você sabe o apelido dele, Laurinho Protesto, você sabe, claro que sabe!
BETO: Ele tá certo, uai! Tem que protestar mesmo, a cidade vive nesse atraso! O pai dele, não faz merda nenhuma pra melhorar a cidade! As cidades por aqui são tudo melhor que Torrentes... Todo mundo fala que do coreto daqui até Copacabana tem só 110 quilômetros de distância!
NECO: Nisso o prefeito é que tá certo! Tem que manter tudo no cabresto! Modernidade só traz o que não presta, Veja pelo filho dele. Estudou fora e deu no que deu. Parece uma mulher, com aquelas roupas coloridas.
BETO: Deixa o Lauro escutar essa sua prosa, Neco.
NECO: Aquilo lá é macho pra me peitar, ô Beto? O que eu quero mesmo é a gostosinha da Lídia.
BETO: Quer, é? O padrasto dela te capa, peão! Você bem sabe da fama do Sebastião: matador. Chegou lá do fiofó do mundo, com as malas cheias de grana.
NECO: Matador merda nenhuma! É um picareta, isso sim!
BETO: E mesmo assim você fica de olho espichado pra Lídia? O velho é capaz de roubar o pouco que te resta.
NECO: Claro que fico! Deixa ela cair na minha mão, dou-lhe um trato. Trato que aquele afrescalhado do Lauro nunca deu. E tem mais: caso com ela e tiro o pé da lama.
BETO: Pode tirar seu pangaré da chuva. A Lídia é doida pelo Lauro, os dois foram criados na cidade grande, nunca que ela vai querer ter nada com um caipira igual você.
NECO: Caipira é você, sua besta! Esqueceu que também fui criado fora daqui, estudei na mesma escola que eles, lá no Rio de Janeiro! Mas eu sou macho. Não me deixei levar por aquela vida solta. E Não é de hoje que tô de olho em Lídia. A gente até teve um rolo no passado.
BETO: (provocando) Pois vai morrer cego de tanto olhar, e também vai ter que arrumar outro jeito de pagar as dívidas que o seu velho deixou, porque daqui a pouco os dois vão tá entrando lá na igreja!
NECO: E daí? Esse Lauro nunca que vai ser macho pra ela! Você bem sabe que esse Lauro não passa de um viadinho, isso sim! Viadinho metido a comunista! O velho Orlando só aceitou esse casamento pra calar a boca do povo, e o pilantra do Sebastião aproveitou a chance, tá de olho na no cargo do velho!
BETO: Eu não sei de nada.
NECO: A Lídia quer ele é pra brincar de boneca! Macho pra ela sou eu!
BETO: (gargalha alto) Chega de prosa! Simbora, que daqui a pouco começa o casório!

CORTA PARA:

CENA 12. IGREJA DA SALVAÇÃO. ENTRADA. EXTERIOR. MANHÃ

Sol já a pino. Eva, agora vestida com todo o recato que a situação pede, acompanha o marido, Sebastião Juarez. Ela está tensa. Convidados para a cerimônia ciscando por ali, impacientes, entre eles, a beata Sofia Emerenciana. Lídia, vestida de noiva, salta de uma caminhonete preta, acompanhada por sua amiga AMANDA, uma jovenzinha de 17 anos, meio brega.

EVA: (nervosa) Volta pro carro, Lídia!
LÍDIA: (tensa) Que história é essa de igreja fechada, mãe? Cadê o padre Manoel? (olha ao redor) Será que ninguém mais tem as chaves dessa igreja? Cadê a cópia que a senhora pegou com a dona Sofia?
EVA: Sei lá de chaves! Não deixei com você, pra arrumação da igreja?
LÍDIA: Não sei, não lembro! Não entreguei pra senhora?
EVA: Já falei que não estou com raio de chave nenhuma, Lídia! Deve ter ficado lá na fazenda!
SEBASTIÃO: (carinhoso) Lídia, o padre não é desta paróquia, deve tá atrasado. Fica calma!
AMANDA: Como ficar calma, seu Sebastião? Igreja fechada, Lauro que não aparece! Já vi noiva atrasada, mas noivo sumido é a primeira vez!
EVA: (agarrando Amanda pelo braço) Vê se não piora as coisas, Amanda! Cala essa boca! Sebastião, dá um jeito nisso! Cadê o pai do Lauro? Vai atrás do prefeito!
AMANDA: (que não se emenda) É mesmo, cadê o pai do noivo, cadê o prefeito?

Beto e Neco chegam. Percebem a confusão.

BETO: O seu Orlando tava arrancando uns papéis lá das paredes da prefeitura!
NECO: (maldoso) O quê que tá acontecendo por aqui? Não vai ter mais casório, é?
LÍDIA: Cala essa boca, seu cretino cafona!

Orlando Vianna, pai de Lauro, vem chegando, com alguns panfletos na mão. Um deles escapa e vai parar aos pés de Lídia. Amanda, sempre curiosa, o recolhe. Passa os olhos pelos dizeres: “FORA A DITADURA CAPENGA DO PREFEITO. FORA A CARETICE. VOU COMEÇAR UMA GRANDE REVOLUÇÃO. AGUARDEM!”. Ela tem dificuldades com a leitura. Mostra o panfleto para Lídia.

AMANDA: O que é caretice?
LÍDIA: (aponta para Orlando) É isso aí!
AMANDA: Parece que o Lauro tem o bicho carpinteiro no fiofó! Nem no dia do casamento para de aprontar presepada pro pai!
ORLANDO: Que algazarra é essa?
SEBASTIÃO: Eu é que pergunto, seu Orlando! Cadê seu filho? E o senhor também só chega agora?
ORLANDO: E eu lá sei daquele moleque! Desde ontem à noite que não vejo. Olha pra isso (mostra um dos panfletos) acho que passou a noite pregando essas merdas por aí. Duvido que apareça pra esse casamento. Duvido! Aquele infeliz faz de tudo pra me afrontar! Deve tá planejando alguma coisa... Espera aí, eu pensei que ele estivesse lá pelas bandas da sua casa!
EVA: O que, prefeito? Alto lá, que a minha casa é de respeito!

Sofia Emerenciana emite uma tossida seca, irônica. Um dos convidados, JOÃO DO FACÃO, 40 anos, já meio de porre, resolve se manifestar.

JOÃO DO FACÃO: Alguém dê um jeito nisso! A gente não pode ficar aqui, debaixo desse pampeiro de sol, esperando! Ou arrumem um lugar pra gente ficar ou arrombe a desgraça dessa porta.

Orlando e Sebastião o fulminam com um olhar.

AMANDA: Não precisa arrombá mais não! (aponta) O padre Manoel chegou, óia lá!

CORTA PARA:

CENA 13. RUA PRÓXIMA À IGREJA DA SALVAÇÃO. EXT. DIA

Uma Brasília toda cacarecada se aproxima, levantando uma nuvem de poeira. Ao volante o PADRE MANOEL, um sujeito gordo, 60 anos, com um cigarro pendurado no beiço. Rosto vermelho, suor a escorrer.

CORTA PARA:

CENA 14. FACHADA DA IGREJA DA SALVAÇÃO. EXTERIOR. DIA

Padre Manoel por ali, a acalmar os ânimos, vasculhando os bolsos da batina, a procura de sua chave, a encontra. Os CONVIDADOS comemoram.

CORTA PARA:

CENA 15. IGREJA DA SALVAÇÃO. SALÃO. INTERIOR. DIA

A porta se abre com um ranger sinistro. Sebastião é o primeiro a entrar. Dá alguns passos e empaca no meio do salão.

SEBASTIÃO: (berra) Sangue de Jesus tem poder!
Eva também entra. Fica ainda mais tensa, mas para disfarçar, geme:

EVA: Blasfêmia.

Assustada, Lídia aproxima-se de Sebastião. Seu PONTO DE VISTA nos revela uma imagem chocante: Lauro e Sidney, nus como vieram ao mundo, abraçados e adormecidos diante o altar.

LÍDIA: (desesperada) Não!!!!!

CORTA PARA:


FIM DO CAPÍTULO 01


Baixe a trilha sonora RAIO LASER Nacional (clique na capa)


5 comentários:

  1. Muito bom mesmo Alex, já adorei a Eva Juarez, vilã do jeito que gosto rs! adorei também o estilo regionalista da historia, e o gancho "apenasmente" sensacional, vão todo mundo pensar que Lauro e Sydney são um casal néh rs? Ansioso para o próximo, parabéns!!!

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    1. Obrigado, Rafael,por apreciar! Sim, a Eva é uma vilã com toques de fenômeno natural: um tsunami de mulher! Fortes emoções a caminho!

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  2. Mais uma vez arrasando com seu ótimo texto, com a sua riqueza de detalhes e seu maravilhoso jeito de escrever, Alex!!! Ansiosa demais com os próximos capítulos, por que sei que vem BOMBA por aí!
    Está perfeitamente FANTÁSTICO! Vc está cada vez melhor!!!!


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    Respostas
    1. Luciana, obrigadão! E sim, e teremos várias no caminho do nosso herói, o Lauro!

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  3. Sim, Fabi, adoro esses nomes, pois os LAUROS e LAURAS carregam a simbologia da palavra com origem no latim, laurus, àqueles que são dignos da coroa de louros, os vitoriosos, iluminados! Obrigado pelo carinho e apoio!

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