Em
meio a tantas histórias essa podia ser mais uma contada por um artista que vive
a se reinventar, Adilson Dias já contou para o público deste blog sua historia
de superação. Detalhes de como foi ser menino de rua e virar um diretor de teatro
com a ajuda do teatrólogo Sergio Britto, o que foi conviver com as crianças
chacinadas na Igreja da candelária e montar uma polêmica paixão de Cristo na
Cidade de Deus, no Rio de Janeiro.
Hoje
Adilson Dias se revela um poeta das artes e em suas muitas facetas, a
descoberta da música. Intuitivo e autodidata, ele passou a vestir seus versos
com música e partiu para as ruas com seu violão. Dessa vez sem pés descalços,
sem canivete ou gargalho de garrafa, mas como artista que é hoje. O poeta vem
cantando e encantando nos trens da Super via e nas praças por onde passa.
Em
suas andanças o seu som acabou parando em um estúdio musical. Com a ajuda do
produtor Guilherme Gê, que percebeu o talento do ‘Poeta de Rua’ e decidiu
produzir suas canções. Gê que já produziu
grandes nomes da musica brasileira como Sergio Brito dos Titãs, Luis Melodia e
Roberto Menescal, vem investindo na descoberta de novos talentos da MBP e
Adilson Dias é um deles. Confira o bate-papo com Adilson Dias:
Como aconteceu seu encontro com o
Guilherme Gê?
Eu
assistia ao programa Dando as Letras, do canal Music Box Brasil da TV por
assinatura. Um programa apresentado por Guilherme Gê, Alan Dias e Marcos
Suzano. Decidi procurar o Guilherme no Facebook e ficamos amigos, trocamos
algumas ideias e lhe enviei o áudio de minha canção, gravado no celular mesmo.
Ainda muito receoso de receber um não, mas ele gostou do que ouviu e me chamou
para gravar. Eu dei pulos de alegria e não acreditei no que estava acontecendo.
Tomei coragem e fui.
Você me disse que nunca havia entrado num
estúdio de música profissional. Fala do processo de gravação...
Ainda
estou na gravação da primeira canção que foi feita no Estúdio Hanói, em
Botafogo (RJ). Quando eu cheguei ao estúdio foi um baque. O lugar é
maravilhoso, parece uma nave espacial. Tocar e cantar em um estúdio num
silêncio total é muito diferente de fazer isso numa rua com muita poluição
sonora. Era como se eu estivesse patinando no gelo depois de ralar muito os
meus pés e minha garganta no chão grosso.
A música em sua vida é algo recente...
Foi
no ano de 2012, quando voltei de Cuba e percebi certa musicalidade em meus
versos. Então comprei um violão em um brechó e comecei a bater tentando tocar.
Aprendi algumas notas em uma revistinha de música e hoje faço acordes que não
sei o nome. Ando pelo braço do violão como se fosse a extensão do meu próprio
braço, ouço minhas palavras vestidas com som e tenho muito prazer em fazer
isso. Não me considero um cantor, mas gosto de cantar e poder dizer o que penso
em minhas canções.
Fale sobre as canções que comporão seu
primeiro CD independente. A propósito, alguém está o financiando? Existe
mercado musical para o seu trabalho?
São canções
autorais mais politizadas e também coisas que falam de amor e outros universos.
O titulo vai ao encontro com o que vivo no cotidiano de tocar e cantar pelas
ruas da cidade, minha poesia sempre bem-vinda nas margens urbanas. Não penso em
expor meu trabalho atrelado a um Rio de Janeiro de uma mídia alienada que vende
a cidade como uma referência internacional de arte e cultura, mas que fecha as
portas para o fluxo cultural existente na mesma. Pra mim, o Rio que vivo está
aberto. Aberto para as artes do gueto em suas ruas, favelas e periferias. Quando
não há palco e nem foco de luz, tem sempre uma calçada e uma gambiarra pra eu
fazer um show.
Às
vezes penso que seria muito mais comercial se eu fosse só “uma linda história
de superação”, mas eu penso e falo o que penso. E isso não é legal para esse
sistema alienador. Um suposto ‘mercado musical’ alucinante sofrendo de amor e
agressão. Por isso, na dúvida: “Se dou na cara dela ou bato em você” eu não
pago cinquenta reais! (risos)...
Estou
estudando a possibilidade do financiamento coletivo para terminar de fazer o
CD. Quero entregar um bom trabalho ao publico que estou conquistando. Venho
estudando, buscando e me esforçando para isso. Uma qualidade sonora que vista
com sinceridade os meus versos.
Um caminho alternativo no atual cenário
de produção industrial...
O
caminho para mim é fazendo shows em espaços mais alternativos, coisa que já
faço. Procurar um selo que se interesse na comercialização do meu trabalho e
divulgar. Não dá para ralar tanto, fazer um CD e colocar na gaveta. Eu tenho
plena consciência da crise fonográfica existente em nosso país, mas o que mais
me preocupa é a crise auditiva. Às vezes parece que todos estão com o ouvido no
mesmo lugar, querendo ouvir repetidas vezes as mesmas coisas. Caindo no feitiço
dos jabás financiados pelos fazendeiros universitários que não se formam nunca.
Não me preocupo com o que está na moda, faço o que acredito e o que me faz bem.
Ter discernimento sobre o que eu ouço é o que me inspira e me faz feliz.
Você ouve...
Não
vou cair no clichê de dizer que ouço de tudo um pouco, porque estarei mentindo.
Ouço Beatles, Caetano Veloso, João Gilberto, Nina Simone, Lenine e por ai vai.
Querendo ou não, pra mim o que ouço influencia diretamente na minha
musicalidade, por isso preciso ter critérios no que estou ouvindo e também ter
um pensamento critico sobre o mundo que estou vivendo.
Margens Urbanas é o título do seu CD.
Qual é a proposta desse trabalho?
Eu
espero conseguir comunicar, tocar nas pessoas. Acho que pra fazer algum sentido.
Não quero ser genial, quero só fazer música e ser feliz.
Que
venha Margens Urbanas... Sucesso e obrigado!
Super orgulhosa por conhecer este carinha do bem!!! Parabéns e muito sucesso, bjus da Dani e do Nicholas
ResponderExcluir