Por José Vitor Rack
A telenovela é o gênero que sustenta a programação das duas mais importantes redes de televisão aberta do país. Tanto Globo quanto Record organizam sua programação de maneira a ceder às suas telenovelas espaços privilegiados na grade.
Novela fideliza o telespectador. Se a história prende o telespectador, em condições normais ele sempre sintoniza naquele canal naquele horário para acompanhar o desenrolar da trama. Seja qual for o índice de audiência, ele costuma ser constante e manter um público fiel no canal, o que valoriza os intervalos comerciais daquele horário.
Se tudo isso não bastasse, a telenovela ainda é muito lucrativa. A emissora monta cenários, figurinos, contrata gente para trabalhar, enfim. Quase todos os investimentos financeiros numa telenovela são feitos antes da estréia. Lá por volta do capítulo 100 a novela já se pagou completamente e a partir deste ponto o que se cobrar por seus intervalos comerciais representa puro lucro. E é aí que a porca torce o rabo...
Com voracidade de dar inveja a qualquer ícone do capitalismo, as emissoras foram estendendo a duração das novelas na horizontal e na vertical. Com isso, hoje temos novelas com cerca de 200 capítulos ficando no ar diariamente por até mais de uma hora.
Ao meu ver é uma maneira eficiente de se matar a galinha dos ovos de ouro.
Muitos profissionais da TV já se manifestaram nesse sentido, com especial destaque para Lauro César Muniz. É certo que algumas iniciativas já foram feitas no sentido de encurtar as novelas. Exemplos claros são os das faixas das 18 e das 23 na Globo e das novelas da Record, que há algum tempo já não tem mais o capítulo de sábado. Mas no geral, o que vemos é que a novela que dá certo é esticada, procurando sugar até a última gota de autores, atores e equipe.
Novela longa demais desgasta os autores, que recorrem a colaboradores para dar conta do trabalho. Nem sempre a qualidade do texto é preservada. Muitos atores se recusam a fazer novelas por conta dessa overdose de trabalho. Ou alguém imagina outro motivo para atores como Eduardo Moscovis, Selton Mello e Rodrigo Santoro recusarem convite após convite?
Uma novela no ar de segunda a sexta feira, com 40 minutos de arte (sem contar os intervalos) e durando, no máximo, 120 capítulos, utilizaria muito menos personagens que as novelas atuais. Com menos personagens, seriam necessários menos cenários, menos figurinos, menos salários seriam pagos... Ou seja: o investimento inicial das emissoras seria muito menor, o que faria com que a novela se pagasse lá pelo capítulo 50 ou 60.
Com novelas menores, não faltaria emprego para autores, atores e diretores. Pelo contrário! A rotatividade delas no ar seria maior, ocasionando mais oportunidades para todos. Poderíamos até ter mais faixas de exibição. Todos trabalhariam mais estimulados, com um horizonte mais amigável à frente. A qualidade da telenovela brasileira subiria consideravelmente.
Sonho? Delírio? Insensatez?
Ou uma simples constatação da realidade?
José Vitor Rack
@josevitorrack
Nenhum comentário:
Postar um comentário