sábado, 28 de janeiro de 2012

Entrevista com o Ator Mário Cardoso

Um Ator Português, totalmente "abrasileirado" graças ao seu talento. Conquistou espaço na telinha, tendo participado de diversas novelas ao longo da carreira, vide Escalada, A Moreninha, Coração Alado, Feijão Maravilha, Paraíso, entre outras, na Rede Globo, algumas mais no SBT e, especialmente na Rede Manchete, onde se destacou nas bem sucedidas Dona Beija e Xica da Silva. O convidamos a bater um papo, ele prontamente aceitou e desde já o agradecemos. Confira!


Por Fábio Costa

Posso Contar Contigo? Entre as décadas de 1980 e 1990 você manteve um consultório de psicologia graças à virada que o meio artístico sofreu e declarou numa entrevista à Isto É Gente que foi esquecido pela Rede Globo quando ficou de fora das “panelas” com os nomes preferidos dos responsáveis pela escalação de elenco. O Thiago Paixão de Amor e Revolução é um ótimo personagem para um ator já maduro. Teria sido ele um presente para você?

Mário Cardoso – Com certeza todo trabalho eu considero como um presente, e o Thiago foi um grande presente em um momento muito especial pra mim, já que não vinha sendo escalado para TV, Teatro e Cinema. Levanta a auto-estima, reforça o ego e o principal, faz a gente se sentir mais útil e ocupado, não tem coisa pior do que você contar o tempo quando não tem nada pra fazer, é uma eternidade, faz mal. Agradeço ao Boury e ao Sergio Madureira (faleceu um mês depois do início da novela, fevereiro de 2011), por me presentearem com um ano de intenso trabalho e exercício artístico, eu estava precisando. O Thiago representava todos os profissionais de jornalismo que lutaram pelo restabelecimento da democracia tentando informar o povo o que realmente estava acontecendo, tendo como arma apenas sua máquina de escrever e sua inteligência, passava suas informações nas entrelinhas, cassado, torturado, aviltado e exilado, representou os anseios de muitos brasileiros de coragem da época. Foi ou não foi um presente?

com Reynaldo Boury, diretor da novela e Fátima Freire, colega de elenco

PCC? – O que representou para você a sua participação como Teodoro na série Tudo Novo de Novo, além, é claro da volta num papel de destaque? Gostaria de voltar a trabalhar com Lícia Manzo, que está no ar com sua primeira novela-solo, A Vida da Gente?

MC – É, antes de Amor e Revolução tive a honra de trabalhar com a Denise Sarraceni em Tudo Novo de Novo, foi uma volta às origens, já que eu não trabalhava há muito tempo com um personagem com vida própria fazendo parte direta na trama, e na globo, foi muito prazeroso e é claro que gostaria muito de voltar a trabalhar com ela (Lícia Manzo), a visão dela do cotidiano em nossas vidas é preciso e de muita riqueza.


PCC? Amor e Revolução teve como tema principal esta ferida ainda não cicatrizada que é o regime militar no Brasil e o que ocorreu por conta do seu estabelecimento. Que outros temas importantes nesse sentido você acha que ainda não foram explorados pela teledramaturgia, ou foram, mas não como poderiam ser?

MC – Não necessariamente por conta do regime militar, mas em função do golpe de 64, instituindo a ditadura e conseqüentemente os seus atos institucionais, como também a aberração que foi a tortura, porque as forças armadas ficaram divididas com a ditadura, tendo muitos militares cassados, não deixando de ser uma mancha na história do nosso país, mantendo essa ferida aberta até hoje.
Esse é um assunto que não foi totalmente explorado, por falta de coragem e muito comprometimento, essa foi a primeira vez que se falou abertamente para o público, em forma de novela, sobre um assunto que só tinha a ótica da direita, e que agora possibilitava um discurso da esquerda, temos gerações pós- revolução que jamais tinham sabido desses acontecimentos e que continuam sem saber. Apesar da liberdade de expressão, a novela sofreu pressões que mudaram o rumo da proposta inicial, acho que ainda é um tema em aberto.
Temos uma infinidade de temas que podem ser desenvolvidos, mas que possivelmente não terão respaldo popular ou do governo, por exemplo, quem produziria uma novela focando a vida corrupta de um político brasileiro, na íntegra, mostrando toda a canalhice contra o povo? Acho que temos autores nacionais que poderiam ter seus livros adaptados e que seriam sem dúvida novelas fantásticas, vide Escrava Isaura, Olhai os Lírios do Campo, A Moreninha... etc... Falta criatividade e competência.


PCC? – Adaptações de clássicos da literatura brasileira como A Moreninha, Escrava Isaura e O Feijão e o Sonho, de cujas versões nos anos 70 você integrou os elencos, fazem falta atualmente? Você concorda quanto à televisão servir de incentivo à leitura das obras que adapta?

MC – Com certeza, até me adiantei falando sobre isso acima, o incentivo à leitura é enorme, mas infelizmente hoje essas novelas não têm apelo comercial e de marketing, se tornando inviáveis.

com Nívia Maria em A Moreninha

PCC? – Sua voz é conhecida de boa parte do público, em especial as crianças e os mais jovens, graças à dublagem do Professor Utonium da série de animação As Meninas Superpoderosas, dentre outros trabalhos. Como a dublagem surgiu na sua vida?

MC – A dublagem surgiu como mais uma porta que foi aberta a nível profissional, foi a partir de um incentivo do amigo e ator Isaac Bardavi, fazíamos na época a peça Trair e Coçar é só Começar, e ele exímio dublador me apresentou a dublagem, e com isso entrei de cabeça, dublando e dirigindo por um bom tempo já.


PCC? – Gosta de ser reconhecido pela voz em atividades cotidianas como as compras, graças a seus muitos trabalhos de dublagem que atingem um púbico que não o conhecia das telenovelas?

MC – é muito difícil ser identificado pela voz, mas já aconteceu e é muito gratificante ser reconhecido sempre por seu trabalho, principalmente quando é uma criança.

PCC? – Um de seus melhores desempenhos em teledramaturgia foi o peão Clariovaldo em Dona Beija, produzida em 1986 pela extinta Rede Manchete. O fato de ser um personagem diferente do tipo para o qual você era frequentemente escalado na época e ainda costuma ser (o homem charmoso, bem vestido, educado e cortês) contribuiu para isso?

MC – O Clariovaldo foi uma boa surpresa, um personagem puro, trabalhador, humilde, desalinhado, rústico, barbudo, humano, completamente diferente de todos os outros, com praticamente poucas roupas pra troca, a maioria das cenas em cima de um cavalo, uma história incrível e de muito sucesso. Foi a felicidade completa.

em cena de Dona Beija

PCC? – Nos anos 80 você participou de três novelas no SBT: Razão de Viver, Vida Roubada e Uma Esperança no Ar, sendo apenas a última de original brasileiro. O que esses trabalhos acrescentaram ao seu modo de construir o personagem, já que originais latinos são em geral considerados muito lacrimosos e melodramáticos?

MC – Temos sempre muita coisa pra aprender em tudo, e em cada personagem, em cada história de vida, em cada perfil psicológico montado vivenciamos vidas paralelas, no caso específico das três novelas citadas, embora sendo a última de original brasileiro, elas tinham o melodrama em comum, e também a quantidade de texto bem maior do que de costume, com cenas mais longas, possibilitando um grande exercício mental, desde o decorar até o incorporar esses personagens mais puros e menos agressivos  na forma de atuar que estamos acostumados a fazer hoje, foi um desafio.

PCC? – Você chegou a declarar que sua saída da Rede Globo nos anos 80, para ir trabalhar na Rede Manchete e no SBT, foi um dos fatores que atrapalharam sua volta à emissora posteriormente. Arrepende-se de ter saído para fazer novelas em emissoras outras?

MC – Não, claro que não, não costumo me arrepender das coisas que faço, o que comentei é que talvez a saída pra outras emissoras pudesse ter atrapalhado minha continuidade na globo, mas na verdade sabemos que um dos fatores, é que não sendo mais novidade e tendo um mercado restrito, ficamos muitas vezes sem contrato e conseqüentemente sem trabalho, por força do mercado e suscetibilidades de alguns diretores passamos a ser esquecidos.


PCC? – Amor e Revolução teve o seu último capítulo exibido recentemente. Terminada a novela, quais os seus projetos?

MC – O ator brasileiro tem que ter um grande jogo de cintura pra driblar essas constantes situações, tenho muitos projetos ainda pra serem pensados e desenvolvidos, mas no momento espero ainda nova oportunidade em TV, já que fiquei um bom tempo de fora, como também penso em Teatro com um bom texto, e principalmente em Cinema , que além de gostar muito,  não tenho tido oportunidades para fazê-lo.


PCC? – “O Posso Contar Contigo?” agradece a gentileza e deseja ainda mais sucesso!

MC – Obrigado aos amigos, Isaac e Fábio, pelo incentivo, esperando ter material novo para uma próxima entrevista. Grande abraço. Amor e Luz.

Fotos: Google Imagens
Video: You Tube

8 comentários:

  1. Achei muito legal a entrevista com o Mário Cardoso.Ele é um ator notável e mereçe reconhecimento do público.Sua recente atuação em "Amor e Revolução" destacou sua madureza profissional bastante apurada! A página negra da História do país foi bem descrita nesta novela do SBT,o que me faz lembrar da Inesquecível Minisérie "Anos Rebeldes" exibido na TV Globo.O Mário Cardoso fez muitos personagens marcantes,mais os que ficaram em minha memória foram em "A Moreninha" onde fez par romântico com a sempre bela Nívia Maria, e na novela mais marcante da tv brasileira "A Escrava Isaura" como Henrique em que fez par com Lucélia Santos!. Parabéns p/ entrevista.

    ResponderExcluir
  2. foi um dos atores da minha infância, o Augusto qdo eu li A moreninha na escola e depois na faculdade;o irmão da Malvina em Escrava Isaura, mas ele foi par da Myrian Rios na verdade, fez um ótimo papel em Feijao Maravilha mostrando o lado de humor que eu até estranhei na época...e fez um homem sexy em Xica da Silva que cortejava o personagem do Ze Mulher. Adorei vê-lo em Tudo novo de novo...que volte!!!

    ResponderExcluir
  3. Mário é e sempre será um bom ator. Além de uma ótima pessoa. Também marcou minha adolescencia com a sua primeira novela que foi Cuca Legal trabalhando ao lado de Francisco Cuoco, Hugo Carvana e Yoná Magaçhães. Desejo a ele muito amor e luz, que Deusa sempre o abençoe pela pessoa linda que ele é por fora e por dentro.

    ResponderExcluir
  4. que legal, Olga...eu vi flashes de Cuca Legal..e não me lembrava dele...só lembrando o lindo Alberto Karany Jr, cuja trama foi abortada por causa da diabetes...se fosse a Gloria Perez!!! kkkkk

    ResponderExcluir
  5. Uma das melhores entrevistas que já li no blog: perguntas ótimas, e muita disposição, riqueza de detalhes e sinceridade por parte do entrevistado, Mário Cardoso.
    O ator me chamou a atenção em Xica da Silva, como o duvidoso, charmoso e cruel Capitão-Mor, e pesquisando e vendo cenas no youtube, ainda pude conferir alguns poucos trechos de seus trabalhos como os bons moços de adaptações literários dos anos 70 como A Moreninha e Escrava Isaura. E em 2009, foi ótimo vê-lo como o rústico, fiel e bondoso Clariovaldo, na reprise de Dona Beija no SBT. Confesso que não gostei de Amor e Revolução mas, dentre os destaques positivos, o jornalista Thiago Paixão foi um deles.
    Também espero ver Mário cardoso com maior frequência na TV, que muitíssima snovas oportunidades de admirar seu ótimo trabalho surjam em 2012.

    Es

    ResponderExcluir
  6. Lembro ainda quando na novela "Escalada", ele (o Mário Cardoso) apareceu no papel de Ricardo (filho de Tarcísio e Suzana Vieira).Sem dúvida, foi um dos grandes galãs da TV brasileira.

    ResponderExcluir
  7. Mário Cardoso é desses atores atemporais . Deveriam aproveita-lo em mais novelas . Lindo e talentoso ! Meu amor platônico da adolescência !

    ResponderExcluir

Related Posts Plugin for WordPress, Blogger...