quinta-feira, 31 de outubro de 2013

O Rei do Torto marcou época

Por André Araújo

Não é uma praxe, mas volta e meia os telespectadores/noveleiros se dão conta de que existe vida fora da Rede Globo. Foi o que aconteceu em 1987 com a novela “CORPO SANTO” [Rede Manchete], de José Louzeiro, que tirou o sono da Vênus Platinada. A mesma coisa aconteceu três anos depois, com “PANTANAL”, do Benedito Ruy Barbosa. A diferença foi que com a história de Juma Marruá (CRISTIANA OLIVEIRA) dominando o Brasil, a emissora do falecido jornalista Roberto Marinho reagiu, e assim todos ganharam, pois era uma novidade atrás da outra e o público saiu satisfeito.
Anos depois, a Rede Record decidiu faturar em cima desse filão e entrou com tudo na briga. Depois do sucesso de “PROVA DE AMOR” e “A ESCRAVA ISAURA”, ambas do ex-global Tiago Santiago, e “ESSAS MULHERES”, do veterano MARCÍLIO MORAES, a emissora do Bispo Edir Macedo produziu uma novela que muito agradou: “VIDAS OPOSTAS”, do mesmo Marcílio Moraes. A trama abordava os dramas de uma comunidade comandada pelo tráfico. E mesmo com uma história forte e recheada de violência, o público não virou as costas e nem mudou de canal. Tudo ali deu tão certo que a novela ganhou o troféu imprensa [2008] de melhor novela, dividindo o prêmio com “PARAÍSO TROPICAL”, do Gilberto Braga.


Começando pelo romance entre o rico Miguel (Léo Rosa) e a doce e pobre Joana (Maytê Piragibe), a novela agradou desde o início.
Quando a novela começou, Miguel era noivo da estilista Erinia (Lavínia Vlasak), mas se envolvia com Joana, ex-namorada de um perigoso traficante, Jeferson (Angelo Paes Leme), que àquela altura, cumpria pena de quatro anos na cadeia.


Apaixonado, Miguel rompia com Erinia para ficar com Joana, mas o inesperado aconteceu: Jeferson saiu da prisão e voltou para a favela, disposto a reconquistar sua ex, que a essa altura já estava caída de amores pelo milionário.


Jeferson voltava ao mundo do crime e queria transformar a amada Joana na rainha da bandidagem, mas ela se recusava, gerando sua ira. E como se não bastasse, Erinia também passou a praticar diversas armações para ter seu noivo de volta, o que quase aconteceu.
Na favela, a comunidade tomou o partido de Joana, e torcia para que ela ficasse com Miguel. Jeferson acaba morto. É quando entra em cena o perigoso Jacson (Heitor Martinez), irmão do falecido que, além de se tornar o novo chefe do tráfico, decide ficar com Joana também, resultando numa guerra. O novo “rei do Torto”, contava com um aliado poderosíssimo: O delegado corrupto Dênis Nogueira (Marcelo Serrado), que o favorecia.


Uma história paralela também chamou atenção: A viúva Ísis (Lucinha Lins), mãe de Miguel, embora fosse rica, linda e chique, vivia sozinha, comandando os negócios que seu falecido deixara. Mas se reencontra com Bóris (Nicola Siri), um italiano dado como morto há muitos anos. Foi ele o grande amor de Ísis na juventude. E é no momento em que a mãe de Miguel está prestes a perder tudo devido a um golpe financeiro de Mário (Cecil Thiré), vice-presidente da empresa, que Bóris surge e salva Ísis da falência, desmascarando o vilão que contava com o apoio do advogado Félix (Roger Gobeth) e de Maria Lúcia (Flávia Monteiro), prima da mãe de Ísis.


Desesperado de paixão, Jacson chega a sequestrar Joana, mas a delegada Carmo (Raquel Nunes) invade o cativeiro e atira no bandido. Jacson morre nos braços da mocinha, numa cena lírica; Erinia, que havia se tornado aliada do delegado Nogueira, acaba matando-o, mas é presa depois da denúncia de sua mãe Cilene (Silvia Bandeira). Mário, Félix e Maria Lúcia são processados.
morte de Jacson
morte de Nogueira
Ísis e Bóris até que se esforçam, mas concluem que não podem ficar juntos, uma vez que o italiano vive fugindo da polícia. A despedida dos dois é emocionante e o beijo que eles trocam, inesquecível.
Joana e Miguel? Nada mais justo que fiquem juntos e felizes, o que de fato acontece.


Com 240 capítulos, por muitas vezes “VIDAS OPOSTAS” bateu a Rede Globo em audiência, o que era praxe às quartas-feiras. A novela foi levada ao ar entre 21 de Novembro de 2006 e 27 de Agosto de 2007. O último capítulo registrou 25 pontos de audiência, um recorde.

Reprisada entre 28 de Março e 11 de Junho de 2012, o sucesso não foi o mesmo, mas chamou atenção e muita gente reviu a  melhor novela que a Rede Record produziu nos últimos sete anos.

terça-feira, 29 de outubro de 2013

Ficção Seriada é tema de debates na USP



Por Guilherme Fernandes

Nos dia 05 e 06 de novembro acontece no Auditório Paulo Emílio da Escola de Comunicação e Arte da Universidade de São Paulo (ECA-USP) o IV Encontro Obitel Brasil. No evento, promovido pelo Centro de Estudos de Telenovela e pelo Globo Universidade, serão apresentados e debatidos as pesquisas publicadas no livro “Estratégias de Transmidiação na Ficção Televisiva Brasileira”. O evento contará ainda com a palestra do professor espanhol Carlos Scolari que abordará a pesquisa em narrativas transmídia.
O Obitel – Observatório Ibero-americano da Ficção Televisiva – foi criado em 2005, na cidade de Bogotá (Colômbia) com o objetivo de realizar a análise anual da produção, audiência e repercussão sociocultural da ficção televisiva na América Latina e Península Ibérica. Coordenado em âmbito internacional pelos professores Maria Immacolata Vassallo de Lopes e Guillermo Orozco Gómez reúne atualmente doze países. Além do Brasil, fazem parte do Obitel: Argentina, Chile, Colômbia, Equador, Espanha, Estados Unidos (hispânico), México, Peru, Portugal, Uruguai e Venezuela. Atualmente é publicado um relatório da ficção seriada em cada um desses países e uma síntese comparativa entre todos os membros. Além dos destaques da programação, anualmente um tema em comum é analisado em conjunto. Este ano, o Obitel Internacional trabalhou com a “Memória Social e Ficção Televisiva em Países Ibero-americanos”. O livro, publicado em português, inglês e espanhol pode ser consultado através do site: http://obitel.net/.
Além do Obitel Internacional, existe também o Obitel Brasil, que reúne pesquisadores seniores de ficção televisiva. No evento a ser realizado na ECA-USP ocorrerá o lançamento do terceiro volume produzido pelo grupo. A partir da pergunta “o que acontece com a ficção televisiva quando esta se transmidializa?” oito equipes pesquisaram, durante dois anos, diversas produções brasileiras.
Gostaria de convidar os leitores do blog para conhecer o Obitel e participar deste evento. As inscrições são gratuitas e podem ser realizadas pelo e-mail globo.universidade@tvglobo.com.br até o dia 04 de novembro. Este blogueiro estará no evento e participou da equipe que pesquisou o pré-lançamento da telenovela Salve Jorge.

domingo, 27 de outubro de 2013

Temporada de séries 2013


A temporada de séries (Ou show de TV como queiram) começou com gratas surpresas (E algumas decepções que logo foram canceladas). Estúdios de TV sempre em busca de melhores atrações para atrair o público não medem esforços para que seus programas sejam cada vez mais elaborados, cheios de efeitos especiais e bons roteiros.


Entre as mais antigas, séries consagradas como Once Upon a Time fez tanto sucesso que houve necessidade de criar um derivado para que mais “contos de fadas” pudessem ser trabalhados. Once Upon a time in Wonderland conta a história de Alice no país das maravilhas sob os olhos dos figurões da ABC. Trazendo a fórmula que tanto agradou na série original, Wonderland mostra Alice sendo uma moça de 20 e poucos anos apaixonada pelo gênio da lâmpada do Aladin que foi sequestrado e é mantido preso pela rainha de copas e Jafar. A série é um pouco mais rápida já que a proposta é que ela tenha no máximo (Se os produtores assim acharem conveniente) três temporadas. O roteiro é muito bom, não deixa buracos além do necessário para manter o mistério e os personagens são fortes e marcantes. O único ponto fraco da série é em relação aos efeitos especiais, que parecem mal feito ou feito às pressas; mas não estraga em nada a série no geral.


Já a FOX vem com uma proposta um pouco mais sombria. SleepyHollow traz à tona a lenda do cavaleiro sem cabeça, mas, digamos, com um universo estendido. Na série a cidade começa a presenciar misteriosos assassinatos. Crane, que teve seu destino ligado a um soldado mascarado depois de uma sangrenta batalha, volta à vida através de uma magia que sua mulher lhe fez 200 anos atrás. Aparentemente a cidade esteve no epicentro da guerra da independência e George Washington possuía mais mistérios do que se imaginava. Icabogh Crane precisa se unir a Tenente Mills para poder resolver esses misteriosos assassinatos que envolvem magia negra e os quatro cavaleiros do apocalipse. Um roteiro forte, e citações e referências a história dos Estados Unidos são o ponto forte da série que foca a desconfortável relação de um soldado do século XVIII com a modernidade do século XXI.


A NBC resolveu fazer mais do mesmo com Drácula. Usando como base o livro de Bran Stroker, Drácula volta à vida numa série repleta de luxuria, acordos escusos e fortes uniões de personagens que durante alguns séculos foram inimigos. Jonathan Rhys Meyer (Henrique VIII da série Tudors) dá a vida ao personagem título com um toque de modernidade ligada à antigas tradições. O piloto foi ao ar esta semana e já nos primeiros 10 minutos notamos que em nada lembra as funérias histórias vampíricas que tem nos bombardeado ultimamente. Drácula volta com sede de vingança (Vendeta como foi mencionado). Adotando o nome de Alexander, Drácula está atrás dos membros de uma ordem chamada Ordem do Dragão, responsáveis pela morte de seu grande amor, ressuscitado na pele da doce Mina. Todos nós conhecemos a história, resta esperar para saber que modificações a NBC nos trará. Mas não se assustem, ao menos por enquanto, ele não brilha no sol.


Falando em Tudors, parece que a sede de conhecimento da época de Henrique VIII não cessa. Reign, nova série da CW, e minha aposta mais quente, conta a história de Mary Stuart, rainha da Escócia na época em que a mesma era independente da Inglaterra e sua principal inimiga A série se passa no conturbado episódio em que Mary fora prometida para o filho de Henrique VIII dando início a um conflito religioso entre a Inglaterra protestante e a Escócia católica. Com 15 anos, Mary foi obrigada a abandonar o convento onde morava e seguir para a França a fim de conhecer seu futuro marido, o príncipe Francis. Não fugindo de suas origens a CW nos brinda com triângulos amorosos, conflitos políticos e magia. Para reforçar isso, há a aparição de Nostradamus como conselheiro da Rainha que, depois de uma visão, organiza planos para que Mary não se case com seu filho. Além de um roteiro sério, figurinos e locações belíssimas, o canal nos brinda com uma trilha sonora jovem, vibrante e alegre, contraponto com as intrigas e traições da corte francesa.

Além dessas, outras séries merecem destaque como Agents ofShields (com um Phil Coulson tendo que explicar sua milagrosa sobrevivência),Atlantis (Com mitos e lendas Gregas, a série se passa na cidade perdida de Atlantida), Tomorrow people (Que apesar de tratar de mutantes, é algo completamente diferente dos estudantes do professor X) e Bruxas de East End (Uma família de bruxas tentando encontrar caminhos para burlar uma terrível maldição). Há ainda as já consagradas Revolution, que em sua segunda temporada parte do ponto pós bomba nuclear e Onde Upon a Time, onde Emma precisa enfrentar seus medos para salvar seu filho das mãos de Peter Pan.

Programas não faltam. Muitas outras séries novas e renovadas estão com fôlego novo para essa, que promete ser uma das melhores temporadas para aqueles que não perdem a oportunidade de entretenimento de qualidade.

segunda-feira, 21 de outubro de 2013

O Espetáculo de Sangue Bom

por Thiago Andrade

Nesta semana, Sangue Bom entra em sua penúltima semana de exibição, começando a trazer desfechos importantes para a história de diversas personagens. Longe de ser um dos maiores sucessos da experiente Maria Adelaide Amaral, e do seu colaborador promovido a coautor Vincent Villari, a novela tem recebido boas críticas da imprensa especializada, mas não emplacou tanto em audiência, atingindo médias de 28 pontos de ibope na reta final.
Particularmente, Sangue Bom é a minha novela preferida das que estão no ar na televisão brasileira e virou quase que um ritual sair do trabalho correndo para chegar em casa a tempo de assisti-la. Os autores em questão promovem a discussão sobre o mundo do espetáculo, em que nem tudo o que parece realmente é.

Na verdade, temos um mix bem amplo em pleno horário das 19h. Temos em destaque o mundo das celebridades, ou subcelebridades, que buscam a fama a qualquer custo. Temos também a pessoa que vira um produto para atingir o sucesso e é moldado por assessores e empresários inescrupulosos. Há aqueles casos de famosos que, por algum motivo, abandonam completamente suas carreiras em ascensão. Os que fazem tudo por dinheiro e os que não se importam tanto com os bens materiais. A publicidade que define o que é bom ou não para o consumidor. Entretanto, acredito que o grande eixo norteador da trama é o autoconhecimento.


Percebo isso muito nitidamente na maioria das personagens, mas principalmente na Verônica, de Letícia Sabatella, e na Damáris, de Marisa Orth. As duas adotaram um autoego bem diverso das personalidades que elas normalmente apresentavam. A primeira se tornou Palmira Valente, uma mulher segura, que chama a atenção dos homens e se revela no palco uma cantora pronta para o sucesso. A segunda se transforma em Gladis do Cabuçu, uma mulher despudorada, que abusa da sensualidade para conseguir o que quer. Do ponto de vista do telespectador, é interessante perceber como a trama vem convergindo para que cada um delas e seus respectivos autoegos possam encontrar um ponto de equilíbrio, uma vez que são partes de uma mesma pessoa.


Outra personagem que me surpreendeu foi a Malu, de Fernanda Vasconcellos.  A moça ingênua e passiva do início da novela deu lugar a uma mulher decidida, que se emancipa e luta por aquilo que quer, aprendendo, inclusive, a levar a vida de forma mais leve e curtir os bons momentos que ela proporciona. O mesmo não aconteceu com Bento, de Marcos Pigossi, o rapaz sangue bom da trama manteve uma regularidade e passou todo o enredo praticamente sendo o mesmo, sem grandes mudanças em sua personalidade.


Já os vilões de Sangue Bom devem mesmo seguir o caminho da redenção. Os próprios autores já afirmaram que Amora, de Sophie Charlotte, deve pagar por todos os crimes que cometeu. A ex-it girl que já perdeu o apoio da mãe adotiva e o grande amor da sua vida, ainda vai penar nos próximos capítulos com a morte da irmã e também com a prisão. A partir desse momento, a ficha vai cair e não restará a ela nada além do arrependimento.


Já Fabinho, de Humberto Carrão, aprontou todas, foi parar na sarjeta e deu amostras de que embora continue sendo um cara ambicioso, está disposto a tentar ser uma pessoa melhor, comovida, principalmente, pela compaixão das pessoas que o ajudaram e pelo amor que sente por Giane, de Isabelle Drummond. Esta é outra que foi crescendo e se transformando durante a trama, saindo da sombra de Bento e cuidando mais de si e de sua vida.  A partir do momento que ela põe fim nesse amor platônico, a vida dela dá um grande salto, deixando-a mais independente, bonita e livre para corresponder os sentimentos do ex-bad boy, com quem terminará a novela.


Essa reta final também marca a volta de Felipinho, Josafá Filho, dos Estados Unidos. Depois de se assumir homossexual publicamente, ele parte para um período de estudos no exterior e volta para a exposição de arte do pai. Os autores explicam que o afastamento de Felipinho foi necessário para a evolução da personagem, que sofre com o preconceito ainda existente na nossa realidade, principalmente, na mídia. E acho que levantar esse tema é extremamente válido, uma vez que, no Brasil, a sexualidade dos atores, em especial aqueles que interpretam mocinhas e galãs, ainda é um tabu para o grande público e para a área comercial deste ramo.


Sangue Bom tem um número extensivo de personagens. Mas muitos deles conseguiram se destacar e servir de ponto para discussões interessantes. Se fosse citar todos, esse post ficaria um “bocado” cansativo, mas quero mencionar aqueles que me impressionaram de alguma forma, seja pelo contexto da novela ou pela excelente atuação. Por isso, merecem os méritos Ingrid Guimarães, por interpretar Tina Leão, uma mulher insana, que depois de ser abandonada no altar dá uma de Nina (Avenida Brasil), se infiltra na casa de sua rival em busca de vingança. Malu Mader, na pele de Rosemere, uma mãe superprotetora, batalhadora, que morre de ciúmes do filho, mas percebe que ele precisa crescer, assim como ela. Bruno Garcia como Natan, um cara sem caráter, que trai a esposa e faz de tudo para se dar bem na vida, mas que percebe que ao mesmo tempo em que ele fez o mal para quem o amava, ele fez mal para si mesmo e tenta compensar os outros por isso. Carmem Verônica, como Karmita, que além de ser super divertida, é uma verdadeira conselheira para as personagens mais jovens e também para o próprio telespectador. E, por fim, Giulia Gam, que com sua Bárbara Ellen fez muita gente morrer de raiva por suas maldades, mas também fez rir muito pela sua total falta de noção.


Sangue Bom vai chegando ao fim e avalio que a novela cumpriu bem o seu papel. Durante toda a sua exibição, ela entreteu, emocionou e trouxe à tona temas importantes para a nossa realidade. Foram mais de seis meses, acompanhando o dia a dia de personagens que nos causou algum tipo de identificação ou empatia.

Basicamente, dois finais serão gravados – um em que a Malu fica com Bento e o outro em que ela fica com o Maurício, de Jayme Matarazzo. Agora é só esperar o dia 1° de novembro e acompanhar o fim dessa trama. Quais são suas apostas?

sábado, 19 de outubro de 2013

Outras Influências

A teledramaturgia precisa de novos olhares.

por José Vitor Rack

Nos primórdios da telenovela brasileira, poucos abnegados roteiristas colocavam no ar esse produto tão festejado. Quase sempre eram pessoas que vinham do rádio. Nos anos 60 e 70 a TV começou a importar talentos de outras áreas.

Paulo Pontes

A grande responsável pela chegada de grandes talentos do teatro, como Jorge Andrade, Bráulio Pedroso, Armando Costa, Lauro César Muniz, Mario Prata, Paulo Pontes, Plínio Marcos, Oduvaldo Vianna Filho, entre outros, foi a censura. Com seus trabalhos censurados e impedidos de continuar sobrevivendo de sua arte, os dramaturgos se mandaram para a televisão animados por terem um bom salário fixo e a possibilidade animadora de atingirem a milhões.

Nem tudo o que fizeram foi sucesso. Mas o que é inquestionável é a contribuição decisiva dos profissionais de outras áreas para a formação da linguagem de televisão que temos hoje. E, mais do que isso, eles ajudaram o Brasil a criar a mais fantástica fábrica de telenovelas do mundo, com texto de qualidade inigualável em todo o mundo.

Ferreira Gullar

A censura atingia também os jornais. Alguns jornalistas também contribuíram para a TV com sua agilidade e capacidade de síntese. Poetas como Ferreira Gullar também. Poucos se lembram, mas Gullar foi do primeiro time de roteiristas da TV Globo por longos anos, tendo escrito seriados como Carga Pesada e Obrigado Doutor, e novelas como Sinal de Alerta e Araponga.

Rubens Ewald Filho

Glória Perez era poetisa. E historiadora. Rubens Ewald Filho, Daniel Más e Gilberto Braga eram críticos. Sílvio de Abreu e Antônio Calmon eram cineastas. A TV ainda não tinha sua própria máquina de roteiristas. Hoje as oficinas de roteiros são disseminadas por diversos meios. A TV Globo está cheia de roteiristas formadas em sua oficina de autores.

Resulta que hoje a TV dialoga pouco com outras áreas de nossa cultura. Despreza as experiências feitas no teatro, no cinema, no circo, na música, nos quadrinhos. Quando traz pra si algo de bacana da internet, logo trata de padronizar e enquadrar em seu modus operandi tradicional.

A maneira de aproveitar os talentos de outras áreas deve ser cuidadosa. Talvez eles sejam mais úteis e efetivamente inovadores na criação do que na execução de projetos. Afinal, audiência ainda é a meta a ser perseguida. Mas com pitadas de ousadia e a experiência dos especialistas em TV unidas, creio que bons resultados aparecerão logo.

A TV precisa voltar ao passado para ser moderna. Ser mais plural. 

quinta-feira, 17 de outubro de 2013

As maiores rivalidades da teledramaturgia

 por Vinicius Pantoja

Uma novela, para manter a atenção do telespectador, além de uma boa história e tramas interessantes, também tem que ter personagens que se confrontem e se antagonizem. E na teledramaturgia brasileira, existem rivalidades clássicas. Resolvi então listar as que mais chamaram a atenção do público.

10: Ana (Cássia Kiss) e Clara (Cláudia Abreu) em Barriga de Aluguel (1990)


A primeira tinha o sonho de ser mãe, porém não podia ter do modo natural. A segunda queria dinheiro rápido. A rivalidade das duas para conseguir a guarda da criança dividiu o país, pois ali não tinha a certa ou a errada, cabia ao público escolher quem ele achava que tinha razão. Tanto que o final da novela foi em aberto, com as duas dizendo que não importa com quem a criança ia ficar, elas queriam apenas a felicidade da criança.
 
9: Ruth e Raquel (Eva Wilma/Glória Pires) em Mulheres de Areia (1973/1993)


As gêmeas mais famosas da teledramaturgia, interpretadas brilhantemente por Eva e Glória nas duas versões da novela, disputavam o amor do mesmo homem, Marcos (Carlos Zara/Guilherme Fontes). Mas enquanto Ruth era apaixonada pelo bom moço, Raquel queria apenas o dinheiro dele.

8: Maria Clara (Malu Mader) e Laura (Cláudia Abreu) em Celebridade (2003)
  
Com o pretexto de ser admiradora de Maria Clara, Laura se aproxima dela, iniciando um plano para tirar tudo o que Maria Clara tem e tomar o lugar dela na sociedade. Na verdade tudo isso faz parte de uma vingança, pois Laura é filha da mulher que foi a verdadeira inspiração para a música Musa do Verão, que tornou Maria Clara famosa, enquanto Laura e sua mãe estavam na miséria. A cena em que Maria Clara dá uma surra em Laura dentro de um banheiro de uma casa de shows é uma das mais marcantes da novela.


7: Família Berdinazzi e Família Mezenga em O Rei do Gado (1996)
 
Aqui a rivalidade atravessou gerações. Tudo começou quando Giuseppe Berdinazzi (Tarcísio Meira) e Antonio Mezenga (Antônio Fagundes) viraram inimigos porque um queria tirar um pedaço de terra do outro, e vice-versa. O conflito piorou quando Giovanna (Letícia Spiller) e Enrico (Leonardo Brício) se apaixonaram e resolveram fugir juntos. E o fruto desse romance, Bruno (Antônio Fagundes) cresceu odiando a família materna por influência do pai. A velha rivalidade volta quando Bruno se apaixona por Luana (Patrícia Pillar), uma boia-fria que na verdade é a sobrinha que Jeremias Berdinazzi (Raul Cortez) tanto procurava.

6: Nina (Débora Falabella) e Carminha (Adriana Esteves) em Avenida Brasil (2012)
 

O maior sucesso dos últimos anos tinha como protagonistas duas personagens fortes e que prenderam a atenção do público. Nina, quando criança, perdeu o pai e logo depois foi jogada por sua madrasta num lixão. Lá, ela é criada por Mãe Lucinda (Vera Holtz) , depois adotada por Martín (Jean Pierre Noher) e se muda pra Argentina. Já adulta, após a morte do pai adotivo, ela decide voltar pro Brasil e se vingar da mulher que lhe fez tão mal. Os capítulos em que Nina finalmente se vinga de Carminha e faz a megera de gato e sapato na mansão do Divino lavaram a alma do público.

5: Charlô (Fernanda Montenegro/Irene Ravache) e Otávio (Paulo Autran/Tony Ramos) em Guerra dos Sexos (1983/2012)


Dizem que ódio, às vezes, pode ser paixão recolhida. E essa expressão cabe perfeitamente nesse caso. Charlô era uma mulher forte, independente, uma feminista. Já Otávio era um homem machista, conservador, que dizia que lugar de mulher é no fogão. E por causa dessas diferenças, os dois, que eram primos, viviam às turras. E pra piorar, por causa de uma herança, os dois são obrigados a morar e trabalhar juntos e se aturar todos os dias. E isso criava situações hilárias, como a clássica cena do café da manhã na primeira versão. Mas no fim eles reconhecem que tudo isso era amor e acabam se casando.


4: Maria do Carmo (Regina Duarte) e Laurinha Figueroa (Glória Menezes) em Rainha da Sucata (1990)


A primeira é uma ex-sucateira que subiu na vida depois que o pai construiu um império. A segunda, uma socialite falida de uma família quatrocentona de São Paulo. As diferenças entre elas já começam aí. E pra piorar, elas são apaixonadas pelo mesmo homem: Eduardo Figueroa (Tony Ramos), enteado de Laurinha. Após muito se enfrentarem, Laurinha, vendo que estava com a vida acabada e que não sairia mais da pior, acaba tirando a própria vida, mas armando para poder incriminar Do Carmo, em uma cena antológica.


3: Jacques Leclair (Reginaldo Faria/Alexandre Borges) e Victor Valentim (Luis Gustavo/Murilo Benício) em Ti Ti Ti (1985/2010)


Inimigos desde quando eram crianças, esses eram os “nomes artísticos” de André Spina e Ariclenes Martins, respectivamente. André já estava há algum tempo no mundo da moda, quando reencontra Ariclenes e aquela velha inimizade volta à tona. Disposto a derrubar André, Ariclenes cria um pseudônimo, Victor Valentim, e usa os vestidos que Cecília (Nathalia Timberg/Regina Braga), uma senhora, faz para suas bonecas para confeccionar os vestidos. Mas o que Ariclenes não sabe é que Cecília é a mãe de André. Os embates entre os dois personagens criava cenas hilárias, tanto na primeira quanto na segunda versão.

2: Maria do Carmo (Susana Vieira) e Nazaré Tedesco (Renata Sorrah) em Senhora do Destino (2004)


Nazaré, ao enganar o marido dizendo que estava grávida, se aproxima de Do Carmo, que tinha um bebê de colo, Lindalva e acabara de chegar no Rio de Janeiro, e com isso rouba o bebê de do Carmo.
Mais de vinte se passam e Do Carmo ainda está disposta a procurar sua filha que lhe foi roubada. Até que ela reencontra Nazaré, e dá a surra que ela merecia. E então as duas travam uma batalha pelo amor de Lindalva, que agora se chama Isabel (Carolina Dieckmann).



1: Flora (Patrícia Pillar) e Donatela (Claudia Raia) em A Favorita (2008)


O destino sempre deu um jeito de unir as duas. Elas tiveram um romance com o mesmo homem no passado, Marcelo (Deco Mansilha). Só que uma das duas o assassinou, e esse é o fio condutor da primeira parte da história, o público descobrir qual das duas matou Marcelo. Flora é presa e condenada pela morte de Marcelo. Dezoito anos depois, flora sai da cadeia e diz que quer reconstruir a vida, reconquistar a filha Lara (Mariana Ximenes) e provar que não matou ninguém. E Flora e Donatela novamente se envolvem com o mesmo homem, Zé Bob (Carmo Dalla Vecchia). Só que na segunda parte da história, Flora se revela a grande vilã da história, e quer acabar de vez com a rival.

Que outras rivalidades você lembra? Comente!
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