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quarta-feira, 9 de outubro de 2013

A Arte de “Remakear”

Por Leonardo Mello de Oliveira

Nunca na história da televisão, os remakes de telenovelas ficaram tão em evidência, chegando até mesmo a ter um horário próprio só pra eles. Odiados por uns, amados por outros, remakes sempre parecem causar mais burburinho que novelas originais. Talvez porque o remake venha com dois objetivos a cumprir: repercutir, assim como qualquer novela, e fazer igual, ou até melhor, que a sua primeira versão. Ele vai causar mais discussão, pois todos vão prestar mais atenção ao elenco (que deve honrar o nome do elenco original), à história (sempre mais vigiada, pois agora estamos em outro tempo, geralmente bem além de quando se passou a primeira versão) e à audiência.


Um dos primeiros remakes de novelas brasileiras foi O Direito de Nascer, em 1978. A Tupi havia criado um verdadeiro fanatismo aos atores de novelas com a primeira versão deste clássico em 1964, e pretendia repetir o sucesso com este remake, reunindo boa parte de seu melhor casting. Porém o sucesso desta não podia nem ser comparado ao da original. Lembrando que a versão de 64 já era baseada na radionovela já exibida no Brasil que era um texto do cubano Félix Caignet já exibido no país de origem de seu autor. O Direito de Nascer ainda ganharia mais uma versão em 2001, dessa vez pelo SBT, porém passou quase que despercebida pelo público.


Talvez o primeiro remake a ser um grande sucesso foi Amor com Amor se Paga (1984), de Ivani Ribeiro, adaptação de Camomila e Bem-me-quer (1972), de mesma autoria. A partir desta lembrada obra, onde Ary Fontoura deitou e rolou com seu Nonô Correia, Ivani passou a apenas adaptar suas antigas novelas, a maioria com títulos diferentes das originais. Em 1985 veio A Gata Comeu, adaptação de A Barba Azul (1974), em 1987 veio Hipertensão, adaptação de Nossa Filha Gabriela (1971), em 89, O Sexo dos Anjos, adaptada de O Terceiro Pecado (1968), em 1993 vem Mulheres de Areia, adaptação homônima de 1973, e em 1994, tivemos A Viagem, remake também homônimo da novela de 1975. Todas alcançaram relevante sucesso, porém A Gata Comeu, Mulheres de Areia e A Viagem superaram o sucesso de suas primeiras versões, estourando na audiência e tendo direito a duas reprises no Vale a Pena Ver de Novo posteriormente.


Janete Clair foi outra autora que teve suas melhores obras adaptadas. Selva de Pedra foi uma das novelas que ganharam remake pouco tempo depois do término da original. A primeira versão foi em 1972, e a segunda em 86. Adaptada por Regina Braga e Eloy Araújo, foi o único remake no horário nobre global, alcançando um relativo sucesso. Em 95 e 98 foi a vez de Irmãos Coragem (1970) e Pecado Capital (1975) ganharem uma nova cara. Porém, não alcançaram as metas esperadas. Além de terem sido muito modificadas pelos adaptadores, foram exibidas no horário das seis, o que descaracterizou as obras. Em 2011, O Astro (1977) ganhou seu remake, inaugurando o horário das onze. A obra, muito bem escrita, interpretada e dirigida, ganhou a crítica e o público e ainda homenageou o jeito Janete Clair de se fazer novela, com muitas cenas de casais apaixonados e clima kitsch.


Nos anos 90, a TV se viu inundada pelos remakes. Além dos já citados de obras de Janete Clair, o SBT resolveu investir pesado em teledramaturgia e começou a produzir belíssimos remakes de época. O primeiro experimento, Éramos Seis, em 1994, conquistou a todos e tudo parecia seguir corretamente para o novo projeto da emissora de Sílvio Santos. Continuou-se a produzir belíssimos remakes, como As Pupilas do Senhor Reitor (1995), Sangue do Meu Sangue (1996) e Os Ossos do Barão (1997), porém, não acompanharam o sucesso de Éramos Seis. Vale lembrar ainda Anjo Mau (1997), adaptação muito bem feita por Maria Adelaide Amaral da original de Cassiano Gabus Mendes.


Nos mais recentes anos 2000, outros remakes foram exibidos, porém nenhum marcou realmente a história da TV. Podemos citar alguns, como as adaptações de Edmara e Edilene Barbosa para as obras de seu pai Benedito: Cabocla (2004), Sinhá Moça (2006) e Paraíso (2009). Há também O Profeta (2006), remake da obra de Ivani Ribeiro feita pela dupla Thelma Guedes e Duca Rachid, e A Escrava Isaura (2004), remake de Thiago Santiago do clássico de 1976, feita pela Record.


Foi em 2010 que os remakes voltaram com tudo, com Tititi. Maria Adelaide Amaral fusionou Tititi (1985) e Plumas & Paetês (1980), duas novelas de Cassiano Gabus Mendes.  O grande êxito desta obra abriu portas para outros remakes e, porque não dizer, para o horário das onze, exclusivo dos remakes. Estreando com O Astro (2011), o horário ainda trouxe duas grandes e bem feitas obras, remakes de clássicos dos anos 70: Gabriela (2012) e Saramandaia (2013). Ainda tivemos Guerra dos Sexos (2012), adaptada da clássica comédia de 83, escrita pelo autor original, Sílvio de Abreu. Diferente dos outros remakes de seu tempo, não obteve êxito nem na crítica nem no público por praticamente ter mantido o mesmo roteiro, que não cabia para os tempos atuais.


Muitos dizem que o remake estraga a obra original. Mas eu lhes pergunto: o que o remake vai interferir no êxito já obtido pela sua primeira versão? Se ele der certo, ótimo, temos mais uma boa novela na história da nossa teledramaturgia, se não der, é uma pena. Cada um tire sua própria conclusão. A obra original continua lá, continua sendo um clássico, lembrada do mesmo jeito. Outros ainda falam que nunca o remake irá superar o primeiro. Mas este nem mesmo é o objetivo. O objetivo é usar uma história já conhecida e criar algo novo a partir disso. Com uma “batalha” de novelas que podem ganhar remake no horário das onze em 2014 e com mais um remake de Benedito Ruy Barbosa, Meu Pedacinho de Chão, para o mesmo ano, esperamos cada vez mais remakes de qualidade e que possam nos agradar tanto quanto suas versões originais.

quinta-feira, 26 de setembro de 2013

Dona Xepa, uma nova novela

Por Eduardo Vieira

Existem dois tipos de remakes – aqueles que respeitam o máximo possível o original e outros que passam longe, ou seja, tornam-se outra história.
Esse segundo é o caso da novela de Gustavo Ruiz, Dona Xepa, adaptação livre da peça de Pedro Bloch já levada ao ar como teledramaturgia em 78, em uma brilhante adaptação do autor Gilberto Braga.
Não é à toa que tal trama ainda resista aos dias de hoje, mesmo o núcleo principal – jovem com vergonha da mãe deseja ascensão social a todo custo – esteja em quase todos os folhetins. O plot ainda emociona pela figura redentora da mãe coragem impregnada de honestidade por todos os lados.

No papel imortalizado por Yara Cortes, na TV Globo, houve uma excelente escolha, dando o primeiro papel central a uma atriz sempre muito competente, hoje mais conhecida por ser a mãe de outra ótima atriz, Leandra Leal - Ângela Leal que sempre se destacou na tevê; podemos até comprovar isso com a reprise de Água Viva, em que ela faz a sofrida Sueli.
Para quem se queixa da falta de papéis para mulheres mais velhas, a feirante iletrada e super espontânea que trabalha a vida inteira apenas para ajudar os filhos é um prato cheio. E a atriz arrebenta, seja em cenas cômicas, com seus bordões... “os problema tudo”, “expressoroso” ou em cenas de verdadeira humilhação, com a filha e também com os personagens de Angelina Muniz e Luiza Thomé.

O remake da Record apresenta como núcleo uns 4 personagens iguais à primeira trama, Xepa, Rosália, Edson e a fiel escudeira de Xepa, a agregada Camila. Aliás, quanto a Rosália, não é mais possível comentar esse papel sem notar que ela é projeto de um personagem que já se tornou um arquétipo  teledramatúrgico, Maria de Fátima,  feito  por Glória Pires em Vale Tudo, não por coincidência também de Gilberto Braga.
Aliás, nesse remake vemos que Rosália, feita com perfeição por Thaís Fersoza (e a Globo ainda perde tempo com Mariana Rios!) tem muito mais tintas da personagem de Glória do que a original feita pela atriz Nívea Maria.

Também se sente uma agilidade na costura da novela que lembra de longe outro remake da casa, Betty, a feia, pois as duas giram em torno de uma empresa. No caso da nova D. Xepa, temos uma de produtos alimentícios, a Sabor& Luxo, que vem fundir os núcleos da novela.
Ainda, como na versão original também se tem os núcleos tanto de drama quanto os mais cômicos. Os personagens da fictícia vila paulista do antigo bonde são responsáveis por essa trama, com destaque pra ótima atuação de Manoelita Lustosa, aquela que foi a avó desalmada em Mulheres Apaixonadas, como uma brasileira que diz ser japonesa (talvez uma homenagem a Beatrice Lillle em Positivamente Millie?) e outros menos inspirados como o da mulher fruta para dar um ar de atualização ao remake.

Outra atriz que também não havia dito ao que veio na globo e esteve muito angelical foi Pérola Faria, fazendo a aspirante a estilista, Yasmin.
Assim como Pérola, outros atores jovens deram bastante conta do recado, como os ex-Rebelde Arthur Aguiar, como o filho Edson e Rayana Carvalho, como Lis.


O autor e sua equipe mostraram inteligência em mudar o contexto, já que se sabe que hoje os valores e gostos de pobres e ricos confundem-se e há maior consumo de elementos unicamente considerados de uma classe mais baixa. Isso se percebe quando é industrializada a comida típica da vila, a chamada entulhada da Xepa, dando à personagem uma estabilidade social. Com isso nota-se claramente que o preconceito é mais comportamental do que puramente social como na versão anterior em que o dinheiro era a grande muralha que separava o ambiente da feira da riqueza dos personagens da classe A, classe, aliás, inexistente nessa adaptação.


Claro que os personagens coadjuvantes da versão de 78 eram bem mais consistentes e serviram mais à trama principal. Nesse novo arranjo há também tramas mais interessantes e outras descartáveis. Luiza Thomé destacou-se como a socialite Meg Pantaleão, a atriz esteve muito inspirada como uma espécie de Tereza Cristina do bem com sua Crô, Lidiane Cristina (Ana Zettel), uma governanta atrapalhada que deseja ser um clone da patroa, e como ela, adora tomar uma “champa” e repetindo à exaustão o bordão “adoooooro”.


Também funcionou o triângulo entre Júlio César, Meg e Pérola, personagem de Angelina Muniz às voltas com a procura de um filho roubado na sua juventude. Aliás, tal trama nos ofereceu uma boa solução dramatúrgica: enquanto todos pensavam que este seria um dos mocinhos da história, ele aparece na figura de um dos maiores inimigos dos próprios pais, François, papel de Gabriel Gracindo, mostrando personalidade em um personagem bem dúbio.


Também no remake aparece o estereótipo do político corrupto, que deseja destruir a vila e a feira para construir um grande centro comercial, feito de modo igualmente estereotipado pelo ator Giuseppe Oristânio, o que talvez tenha sido um dos pontos fracos da trama.


Gustavo Reiz ainda ousou em seu remake, matando a sua mocinha, a doce Isabela, feita com muita verdade pela linda e excelente Gabriela Durlo. Sempre é bom recordar que personagens centrais não costumam mais morrer em tramas.


Talvez o fato de ter passado num horário avançado, 23h, tenha afugentado o público-alvo da novela, o que é um fato a se pensar numa emissora que prenuncia uma superprodução e deseja incrementar os caminhos da teledramaturgia.

Mesmo assim, foi um belo exercício de como se fazer um remake sem se ver obrigado a fazer uma cópia, com uma boa atualização e, sobretudo com uma história bem contada.

capítulo de estréia [completo]
último capítulo [completo]

domingo, 4 de agosto de 2013

Sétimo Sentido - Por que não um remake?

Por Isaac Santos

O Astro abriu o horário de novelas das onze da TV Globo e até o momento se mantém como o projeto melhor sucedido em crítica e audiência. Vale destacar que a produção ganhou o prêmio de melhor telenovela no Emmy Internacional de 2012, o segundo conquistado pela emissora. O Astro foi feita com capricho textual e visual.


Gabriela e Saramandaia [ainda em exibição] ratificam a intenção da Globo de firmar o horário com versões atualizadas de seus grandes sucessos. Mas, estranhamente, o remake do original de Dias Gomes parece não estar sendo correspondido pelo público como se pretendia. É importante reconhecer que Saramandaia tem qualidades, elenco primoroso, imagens belíssimas e texto inteligente. Talvez tenham pecado pelo excesso de “modernização” da novela.


A mídia tem falado enfaticamente sobre a possibilidade de a Globo apostar nos remakes de Tieta, Pantanal e Xica da Silva, nos próximos anos.

Aguinaldo Silva, autor responsável pela adaptação do romance de Jorge Amado em 1989, não vê com bons olhos a ideia e descarta qualquer envolvimento seu com um remake de Tieta. O novelista já está trabalhando em sua próxima novela inédita, prevista para ir ao ar no segundo semestre de 2014.

Benedito Rui Barbosa, talvez o único autor de um grande sucesso [considerando audiência e repercussão] fora da TV Globo, também está às voltas com a escrita de sua próxima novela na emissora. Mas destoa da opinião de seu colega Aguinaldo Silva sobre escrever remake de uma de suas maiores obras. O novelista não esconde de ninguém o seu desejo de refazer a novela Pantanal, originalmente exibida na TV Manchete. Contudo, sempre ocorre algum impedimento e o projeto é engavetado.  

Walcyr Carrasco, um dos autores mais atuantes nos últimos anos, recentemente estreou a sua primeira novela das oito [Amor à Vida] na TV Globo. Mas não sem antes ter passado pelo horário das onze. É dele a autoria de Gabriela.

Em concordância com o pensamento de Benedito Rui Barbosa, o autor também se mostra bem disposto ao desenvolvimento de um remake de seu maior sucesso fora da Globo. Usando o pseudônimo de Ádamo Angel escreveu a novela Xica da Silva, exibida originalmente pela TV Manchete em 1996.

É aguardar pra ver!

No entanto, aproveito para compartilhar com vocês a impressão que tive ao ler uma postagem recente de André Araújo aqui no blog. Ele relembrava a novela Sétimo Sentido, exibida pela TV Globo no ano em que eu nasci, 1982. [leia aqui]


Inédita para mim. Vi com curiosidade poucos capítulos da novela pela internet. Pois bem... Por que não um remake de Sétimo SentidoJanete Clair, mais uma vez inspiradíssima ao escrever a trama. A história gira em torno de Luana Camará, uma jovem marroquina que volta ao Brasil para tentar recuperar a fortuna de sua família. E o que poderia ser uma novela desenvolvida sobre tramas óbvias se revela numa efervescência de acontecimentos. Sétimo Sentido é opulenta, instigante. Também por isso, a novela me parece ser uma ótima opção para um remake.


Tramas com reviravoltas, abordagens sobre paranormalidade, paixão arrebatadora, ambição, vingança, traição, clima de mistério, enfim, elementos que quando bem reunidos numa história são facilmente bem recebidos pelo público.


A novelista Janete Clair sempre teve que contar com os cortes feitos pela censura. Sétimo Sentido num remake não enfrentaria a mesma dificuldade. Hoje, fosse proposto fazê-lo, a equipe responsável teria muito maior liberdade de criação. Poderia ousar mais, sem perder, obviamente, a essência das tramas da autora.


E se a equipe responsável pelo remake de O Astro foi tão feliz em atualizar uma trama de Janete Clair, por que não reuni-la novamente num novo projeto com todas as condições de repetir o feito de 2011?

Bom... Antes que pareça presunçoso, o texto é apenas sugestivo.

terça-feira, 16 de abril de 2013

Janete Clair: a artesã da emoção em revista

“Nossa Senhora das Oito” é homenageada em DVDs, reprises e fan page no Facebook

Por Júlio César Martins



Se estivesse entre nós, Janete Clair completaria 88 anos em 25 de abril. E sem dúvida, estaria a pleno vapor fazendo o que mais lhe dava prazer na vida: escrevendo novela. Infelizmente, Janete teve sua vida precocemente interrompida em 1983. E mesmo debilitada, no leito do hospital, foi incapaz de abandonar sua grande paixão. A paixão que ela própria tornou nacional. Um motivo de orgulho para o Brasil que já era o país do futebol e do carnaval, e incorporou mais um adjetivo: o de país da telenovela.

Trinta anos se passaram, e ela continua viva na memória dos que conheceram sua obra. Seu nome é o mais importante dentro do processo de consolidação da teledramaturgia brasileira. E se hoje a telenovela é considerada paixão nacional e carro-chefe da programação da maior emissora do país, isso se deve em grande parte a sua entrega, a sua intuição e a comunicabilidade precisa das suas criações. Impossível falar de telenovela no Brasil e não citar Janete Clair como principal referência. E por mais que possa soar injusto com grandes dramaturgos merecidamente reconhecidos como Ivani Ribeiro, Walter George Durst, Vicente Sesso, Bráulio Pedroso e até mesmo o próprio marido, o premiado Dias Gomes, o fato é que o nome de Janete se estabeleceu como sinônimo do gênero telenovela.


      Véu de Noiva”, “Irmãos Coragem”, “Selva de Pedra”, “Pecado Capital”, “O Astro”, “Pai Herói”: novelas emblemáticas que consolidaram a liderança da TV Globo no horário nobre e fizeram de Janete Clair um ícone imortal. Sua ótica atemporal segue rendendo releituras que, se não alcançam a mesma repercussão de antigamente, nunca passam despercebidas aos olhos dos telespectadores. Recentemente, duas de suas novelas mais importantes foram relançadas em DVD pela Globo Marcas: “Irmãos Coragem” e “Selva de Pedra”, surpreendendo pelas vendas expressivas. Em paralelo, o Canal Viva programou para este ano a reprise de dois remakes de criações da autora: “Pecado Capital”, de 1998, e “Selva de Pedra” exibida em 1986. E em nota recente, a TV Globo anunciou para o horário das 23h uma nova versão de "O Semideus", escrita por Maria Adelaide Amaral. O projeto está previsto para a grade de 2015, ano em que Janete Clair comemoraria 90 anos.

E em tempos de redes sociais, nada mais justo do que a criação de uma fan page idealizada para exaltar a memória desta verdadeira operária da ficção. Criada pela neta Renata Dias Gomes a pedido do pai – ela é filha do músico Alfredo Dias Gomes e da atriz Neuza Caribé – a fan page resgata páginas de revistas, entrevistas, fotos da autora, fotos e vídeos de cenas das novelas e até páginas de textos que constam no acervo da família. Renata, que tem 29 anos e é roteirista de TV contratada pela Globo, não chegou a conhecer a avó: “Eu não tinha a noção exata do quão importante ela foi. Eu sabia por ter ouvido falar, mas não vivenciei isso, então senti essa necessidade de descobrir a minha avó. E tem sido maravilhoso pra mim. A minha geração não sabe exatamente quem foi Janete Clair e a fan page surgiu a partir desta preocupação em resgatar a sua importância.”

Renata Dias Gomes
André Araújo, de 42 anos e colaborador da fan page, cresceu diante da TV e era fã das novelas de Janete Clair. “As pessoas se referiam a Janete Clair como sinônimo de novela boa, uma marca registrada. Depois que ela morreu, as novelas perderam a graça.”

Eduardo Dias, 49 anos, também vivenciou a “era de ouro” de Janete Clair: “A programação da TV era bem restrita. Tinham poucos canais. A primeira novela que eu assisti foi “Véu de Noiva”. A novela foi marcante, pois perto do final rolava um julgamento, e isso mobilizou o país. Foi uma coisa de louco! Eu estava no pré-primario e as crianças daquela época já trocavam idéias sobre novelas. Mas a minha preferida mesmo foi Pecado Capital.”

Thávolo Henriques, que nasceu em 1987 e tem, portanto, 26 anos, se encantou pela personalidade e pela obra da autora a partir de pesquisas que fez ao longo da infância e adolescência. “Sou fã dos ensinamentos e filosofia de Janete Clair, considero-a uma espécie de mentora. Decidi investir na carreira de roteirista influenciado pela mesma paixão que ela tinha pelo gênero, me identifico com ela.”

A fan page compartilha verdadeiras raridades: um vasto acervo de fotografias, entrevistas raras de publicações extintas (como as revistas Cartaz, Manchete e Amiga), vídeos com cenas e capítulos das novelas e até trechos do depoimento da autora ao MIS – Museu da Imagem e do Som – estão disponíveis através das publicações na página. É o avanço tecnológico a serviço da memória da novelista de maior importância da história da televisão. Homenagem mais do que merecida àquela que, por tantas vezes, hipnotizou o Brasil às oito da noite, e que pode ser considerada a “padroeira” da telenovela brasileira.

O endereço da fan page no Facebook é:
http://www.facebook.com/janeteclairoficial

domingo, 7 de outubro de 2012

Na onda dos Remakes!



Texto: Vinícius Sylvestre

Criticado em outros tempos, o remake nunca teve tanta força como agora. Para os mais pessimistas, a safra recorde de novas versões de novelas de sucesso representa a falência da criatividade ou, pior, a não renovação dos talentos. Mas tramas originais como Avenida Brasil , Cordel Encantado e Cheias de Charme e releituras inventivas como Ti-Ti-Ti (2010) estão aí para provar que não é nada disso.

Há uma certa nostalgia no ar, que se sente nas redes sociais, na moda vintage e até no sucesso das Spice Girls no encerramento dos Jogos Olímpicos de Londres, que a novela tratou de captar. Daí as releituras , como a kitsch O Astro, que Alcides Nogueira escreveu no ano passado sob a inspiração de Janete Clair, e Ti-Ti-Ti, na qual Maria Adelaide Amaral que fez o que seria impensável tempos atrás, trazendo de volta Jaques Leclair (Alexandre Borges) e Victor Valentim (Murilo Benício), personagens criados por Cassiano Gabus Mendes em 1985.

Agora, no ar, temos Gabriela, de Walcyr Carrasco, a terceira adaptação do livro de Jorge Amado, Carrossel, no SBT, e Guerra dos Sexos, de Silvio de Abreu, ele mesmo reescrevendo seu grande sucesso de 1983. Para o ano que vem, já está programada a nova Saramandaia, e há ainda o projeto de uma versão de Dancin’ Days. Na TV americana, a despeito do declínio econômico, J.R. (Larry Hagman) tirou poeira do chapéu e volta a ser um dos personagens do momento com a nova versão do novelão Dallas, que já sobreviveu 14 temporadas no ar entre 1978 e 1991.

“Se um filme ou uma peça teatral podem ter vários remakes, por que não uma novela?”, questiona Silvio de Abreu em conversa com o blog. “Isso não é falta de criatividade como muitos gostam de taxar, mas simplesmente o reaproveitamento de um trabalho que resultou bem no passado e que conserva ainda aspectos interessantes para o público. Não acredito que haja vantagem ou desvantagem em se fazer um remake. A história sendo boa, conservando suas características principais, mas trazendo novidades para não se tornar apenas uma cópia do que já foi feito, é o que importa”, defende.

Diferentemente do teatro, onde um texto atravessa o tempo sendo montado e remontado sem alterações, na teledramaturgia é preciso reescrever uma obra para levá-la novamente ao ar – com raras exceções reservas às novelas de época. Mais do que isso, é preciso reinventá-la, como Maria Adelaide fez com Ti-Ti-Ti, juntando duas novelas de Gabus Mendes (Plumas e Paetês era a outra) e criando situações totalmente novas.


É o que Silvio faz também com Guerra dos Sexos, cuja nova versão é uma continuação da trama de 1983. Os protagonistas Charlô (Irene Ravache) e Otávio (Tony Ramos) são sobrinhos da Charlô de Fernanda Montenegro e do Otávio de Paulo Autran. O autor vive uma situação curiosa uma vez que, em geral, os remakes não costumam ser escritos pelo autor do original.

"Em trinta anos o país mudou, a língua mudou, as gírias mudaram, a relação homem/mulher mudou e, claro, eu mudei. Incorporar todas essas mudanças no texto está sendo um excelente exercício de criatividade. O trabalho tem sido cheio de boas lembranças." Mas  o autor procura substituí-las por novos estímulos. Sílvio é um novelista que gosta de escrever diretamente para os atores e assim foram concebidos os personagens da primeira versão. Ele acho justo que o novo elenco tenha de se adaptar ao que foi feito pelo antigo, então também esta reescrevendo com os novos intérpretes na cabeça, para não trair a sua nova criação nem desrespeitar o talento dos astros e estrelas que compõem o remake das 19h. Muitas gags e situações cômicas e dramáticas são conservadas, mas estão todas sendo reescritas. Por isso tudo, reluta um pouco em chamar esse trabalho de remake.

Silvio já brincou que depois de 20 novelas, estaria na hora de entrar numa “fase Ivani Ribeiro”, um dos grandes nomes da telenovela brasileira, que tratou de reciclar suas tramas com muito sucesso – A Viagem, a famosa trama espírita de 1994, já era um remake, da novela que Ivani escrevera na TV Tupi em 1975.


O remake, é importante dizer, não é coisa exclusiva do nosso tempo, está presente em toda a história da teledramaturgia. Basta dizer que nos primórdios as tramas eram criadas a partir de histórias já contadas no rádio. Renovado e aprovado pelo público, o formato não deve cair em desuso tão fácil. Alguém pode ter dúvida de que, daqui a uns 10 anos, estaremos assistindo a uma nova versão de Avenida Brasil?
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