quarta-feira, 29 de fevereiro de 2012

MATANDO A GALINHA DOS OVOS DE OURO

Por José Vitor Rack

A telenovela é o gênero que sustenta a programação das duas mais importantes redes de televisão aberta do país. Tanto Globo quanto Record organizam sua programação de maneira a ceder às suas telenovelas espaços privilegiados na grade.



Novela fideliza o telespectador. Se a história prende o telespectador, em condições normais ele sempre sintoniza naquele canal naquele horário para acompanhar o desenrolar da trama. Seja qual for o índice de audiência, ele costuma ser constante e manter um público fiel no canal, o que valoriza os intervalos comerciais daquele horário.

Se tudo isso não bastasse, a telenovela ainda é muito lucrativa. A emissora monta cenários, figurinos, contrata gente para trabalhar, enfim. Quase todos os investimentos financeiros numa telenovela são feitos antes da estréia. Lá por volta do capítulo 100 a novela já se pagou completamente e a partir deste ponto o que se cobrar por seus intervalos comerciais representa puro lucro. E é aí que a porca torce o rabo...

Com voracidade de dar inveja a qualquer ícone do capitalismo, as emissoras foram estendendo a duração das novelas na horizontal e na vertical. Com isso, hoje temos novelas com cerca de 200 capítulos ficando no ar diariamente por até mais de uma hora.



Ao meu ver é uma maneira eficiente de se matar a galinha dos ovos de ouro.

Muitos profissionais da TV já se manifestaram nesse sentido, com especial destaque para Lauro César Muniz. É certo que algumas iniciativas já foram feitas no sentido de encurtar as novelas. Exemplos claros são os das faixas das 18 e das 23 na Globo e das novelas da Record, que há algum tempo já não tem mais o capítulo de sábado. Mas no geral, o que vemos é que a novela que dá certo é esticada, procurando sugar até a última gota de autores, atores e equipe.

Novela longa demais desgasta os autores, que recorrem a colaboradores para dar conta do trabalho. Nem sempre a qualidade do texto é preservada. Muitos atores se recusam a fazer novelas por conta dessa overdose de trabalho. Ou alguém imagina outro motivo para atores como Eduardo Moscovis, Selton Mello e Rodrigo Santoro recusarem convite após convite?

Uma novela no ar de segunda a sexta feira, com 40 minutos de arte (sem contar os intervalos) e durando, no máximo, 120 capítulos, utilizaria muito menos personagens que as novelas atuais. Com menos personagens, seriam necessários menos cenários, menos figurinos, menos salários seriam pagos... Ou seja: o investimento inicial das emissoras seria muito menor, o que faria com que a novela se pagasse lá pelo capítulo 50 ou 60.

Com novelas menores, não faltaria emprego para autores, atores e diretores. Pelo contrário! A rotatividade delas no ar seria maior, ocasionando mais oportunidades para todos. Poderíamos até ter mais faixas de exibição. Todos trabalhariam mais estimulados, com um horizonte mais amigável à frente. A qualidade da telenovela brasileira subiria consideravelmente.

Sonho? Delírio? Insensatez?

Ou uma simples constatação da realidade?

José Vitor Rack
@josevitorrack

terça-feira, 28 de fevereiro de 2012

Um Mito Vivo da Sétima Arte


Por Emerson Felipe

E na 84ª cerimônia de entrega do Oscar, o prêmio máximo do cinema, a atriz norte-americana Meryl Streep fez história: após um jejum de quase 30 anos, ganhou a tão almejada terceira estatueta de melhor atriz  pela elogiado atuação como a ex-primeira ministra britânica Margareth Tatcher no longa "A Dama de Ferro". Conhecida por desempenhos meticulosamente estudados, pela incrível presença e expressão em cena, Meryl Streep é considerada por muitos críticos como a maior atriz em atividade, consagrando-se com interpretações que vão desde a comédia ao mais denso drama, construindo uma respeitável trajetória cinematográfica de 35 anos que atrai fidelíssimos fãs de várias gerações.

Meryl Streep ganha o terceiro Oscar com filme A Dama de Ferro.
A atriz detém o recorde de nomeações ao Oscar, seja de atriz principal, seja de coadjuvante, totalizando 17 indicações compreendidas entre 1978 e 2012. Marca esta superior a de  grandes mitos do cinema como Katharine Hepburn (12 indicações) e Bette Davis (10 indicações). Foi também indicada 26 vezes ao Globo de Ouro, tendo faturado oito prêmios, entre papéis dramáticos e cômicos. Constam ainda do estelar currículo da atriz outros prêmios importantes da indústria do entretenimento, como 02 Emmy, 02 BAFTA, 05 indicações ao Grammy e 01 Tony.

Meryl Streep empunha o Oscar recebido por Kramer vs Kramer.
Após um bem sucedido começo no teatro,  posterior à  graduação na Escola de Drama da Universidade de Yale, Meryl Streep estreou na telona em 1977 com uma ponta no filme "Julia", dirigido por Fred Zinnemann, estrelado por Jane Fonda e Vanessa Redgrave. Em 1978, no drama sobre A Guerra do Vietnã "O Franco Atirador", recebeu sua primeira indicação ao Oscar de melhor atriz coadjuvante. No ano seguinte, recebe a segunda indicação e o primeiro Oscar, de melhor atriz coadjuvante, pelo papel de Joanna Kramer em "Kramer vs Kramer", a esposa que abandona o marido (Dustin Hoffman) e o filho, e posteriormente retorna, exigindo perante a Justiça a guarda da criança.

  Em 1983, com o Oscar recebido por A Escolha de Sofia.
Em 1982 recebe sua primeira indicação para o Oscar de melhor atriz principal pelo filme "A Mulher do Tenente Francês", adaptado do romance de John Fowles, contracenando com Jeremy Irons, tendo perdido para a consagrada Katharine Hepburn em "Num Lago Dourado".

Mas, ainda naquele ano, viria aquela que é considerada a grande atuação da carreira de Meryl Streep e uma das maiores intepretações femininas da história: "A Escolha de Sofia", dirigido por Alan J. Pakulla. Neste intenso e doloroso drama sobre traumas, sentimento de culpa e autodestruição, Meryl faz o papel de Sophie Zawistowski, uma polonesa sobrevivente de um campo de concentração, que tenta reconstruir sua vida nos Estados Unidos da América. Uma interpretação emocionante que lhe rendeu o primeiro Oscar de atriz principal em 1983, e que demandou intenso trabalho de pesquisa e caracterização - a atriz precisou aprender polonês e alemão, bem como emagrecer e cortar os cabelos para realizar as cenas  do campo de concentração. A contundente cena que justifica o título do filme é de um assombro e emoção tremenda por parte de Meryl Streep, que protagonizou uma das momentos mais intensos e dramáticos já vistos no cinema.
Meryl Streep em magnífica interpretação no longa A Escolha de Sofia.
Meryl retornaria ao tapete vermelho do Oscar em outras ocasiões, como em 1984 por "Silkwood"(filme baseado em fatos reais em que a artista intepreta uma funcionária que é perseguida ao denunciar a falta de segurança de uma usina nuclear); em 1986 pela super produção "Entre Dois Amores", de Sidney Pollack (que narra a paixão da escritora Karen Blixen pelo continente africano e pelo piloto do exército britânico Denys Finch Hatton, vivido por Robert Redford); em 1988 pelo drama "Ironweed" (em que vive uma alcóolatra ao lado de Jack Nicholson) e em 1989 por "Gritos no Escuro" (no papel da mãe que tenta provar sua inocência ao ser acusada da morte da filha, sofrendo, ainda, com a pressão sensacionalista da mídia). Não ganhou a estatueta por nenhum desses.

Meryl Streep como Karen Blixen na super produção Entre Dois Amores.
Nos anos 90, a aparição de Meryl Streep na cerimônia do prêmio mais cobiçado do cinema foi bissexta, se comparada às constantes indicações dos anos 80. Destaca-se nesse período a sensível atuação no drama romântico"As Pontes de Madison", de 1995, em que foi dirigida e contracenou com Clint Eastwood, no papel de uma imigrante italiana casada e com filhos que vive um intenso caso extraconjugal com um fotógrafo de Washington. A emocionante atuação de Meryl Streep, no entanto, não foi agraciada com o Oscar, que acabou sendo concedido à também excelente interpretação de Susan Saradon em "Os Últimos Passos de um Homem". Outras indicações ocorreram pelos filmes "Lembranças de Hollywood" e "Um Amor Verdadeiro". 

Meryl Streep contracenando com Clint Eastwood no sensível As Pontes de Madison.
Já no ano 2000, Meryl retorna ao tapete vermelho indicada como atriz principal pelo filme "Música do Coração" (em que teve de aprender a tocar violino), perdendo para Hilary Swank em "Meninos Não Choram". Outras nomeações sem vitória aconteceram por "Adaptação" (2003), "O Diabo Veste Prada" (onde Meryl deu o que falar com a arrogante e autoritária editora de uma conceituada revista de moda, Miranda Priestley, em 2007), "Dúvida" (a atriz brilhou com uma meticulosa interpetação de um conservadora e implacável freira que promove uma campanha contra um padre de quem suspeita ser pedófilo, em 2009) e "Julie & Julia (2011). Finalmente em 2012, após 29 anos de espera, sob uma impressionante maquiagem e reproduzindo perfeitamente os trejeitos de Margareth Tatcher, Meryl Streep ganha o terceiro Oscar da carreira pelo filme "A Dama de Ferro": super emocionada, foi ovacionada de pé pela plateia e no discurso agradeceu a todos os colegas e fãs, encerrando-o dizendo "acho que nunca mais estarei aqui de novo”.

Meryl Streep em impressionante caracterização como Margareth Tatcher em A Dama de Ferro.
As 17 indicações de Meryl Streep, incrível marca que dificilmente será alcançada durante um bom tempo por outra atriz, corroboram a credibilidade e prestígio que a atriz goza como profissional e como pessoa junto à indústria cinematográfica. E os três Oscars recebidos fizeram história: Meryl Streep iguala a sua marca de prêmios à do mito Indrig Bergman (a eterna Ilsa Lund do clássico "Casablanca"), também agraciada com 02 estatuetas de melhor atriz e 01 de atriz coadjuvante, ficando atrás apenas da iconoclástica Katharine Hepburn, detentora de 04 Oscars.

Meryl Streep, a arrogante Miranda Priestly de O Diabo Veste Prada.
Com um carisma inconfundível e um talento descomunal, Meryl Streep se consagra como uma das grandes/ maiores atrizes da história do cinema, arrebatando fãs de todo o mundo. Uma atriz que ilumina a tela e irradia emoção, seja em papéis dramáticos ou românticos, seja em personagens cômicos ou de caráter duvidoso. Meryl Streep é mais que uma atriz de cinema: é um mito, uma lenda viva da sétima arte.

segunda-feira, 27 de fevereiro de 2012

Um homem, duas mulheres: o clássico triângulo à la Nelson Rodrigues


Por FÁBIO COSTA

O último capítulo de Terras do Sem Fim, adaptação de três romances de Jorge Amado por Walter George Durst, foi ao ar no horário das 18h da Rede Globo no sábado, 27 de fevereiro de 1982, e para a segunda-feira, dia 1. de março, estava marcada a estreia de O Homem Proibido, outra adaptação literária dando prosseguimento à orientação da faixa das seis, desta vez com base numa obra de Nelson Rodrigues, assinada por ele com o pseudônimo Suzana Flag na década de 1950. No entanto, a Censura interveio e adiou a apresentação do primeiro capítulo da novela em um dia, preocupada com os rumos que poderia ter num horário tão assistido por crianças e jovens uma história baseada em Nelson Rodrigues e que trazia em seu elenco figuras frequentes nas chamadas pornochanchadas do cinema nacional, como David Cardoso e Alba Valéria. A solução encontrada pela emissora, além de garantir que a novela não ultrapassaria os limites determinados para as novelas das seis, foi reprisar um especial de fim de ano de Roberto Carlos. A estreia da novela ficou para o dia seguinte, terça, 2 de março.

Capa da trilha sonora nacional da novela.
Mas a novela nada tinha de mais, nada que o horário não permitisse. Uma simples história de amor, contada ao estilo dramalhão do adaptador Teixeira Filho - que assinara, entre outras, Ídolo de Pano (Tupi, 1974/75), Um Dia, o Amor (Tupi, 1975/76) e Ciranda de Pedra (Globo, 1981). As protagonistas eram duas primas, criadas como irmãs: Sônia (Elizabeth Savalla) e Joyce (Lídia Brondi). Uma ligação muito forte de amor une as duas jovens, e pela primeira vez a relação é ameaçada quando o médico Paulo Villani (David Cardoso), o "homem proibido" do título, se envolve com elas. Ele se apaixona por Sônia e esta por ele, mas Joyce encasqueta com o rapaz e decide conquistá-lo, ignorando o amor que Carlos (Edson Celulari), um rapaz de origem humilde, tem por ela.

Lilian Lemmertz, que viveu Flávia.
Joyce é sobrinha dos pais de Sônia, Dr. Dario Rodrigues (Leonardo Villar) e Flávia (Lilian Lemmertz), e foi criada por eles em razão da morte de sua mãe, Senhorinha Pereira Santiago (Mira Palheta), irmã de Flávia, e do desaparecimento de seu pai. Na juventude, Senhorinha e Flávia disputaram o amor de Dario e a segunda levara a melhor; agora, anos depois, Sônia e Joyce, oficialmente primas e irmãs na prática, repetem a história em relação a Paulo. Dario trabalha como advogado no escritório que herdou do pai. Simpático e íntegro, tende a defender os mais fracos e por isso perde clientes. Gosta muito da sobrinha, ao contrário de Flávia, que enxerga na menina uma nova versão de Senhorinha sem tirar nem pôr e por isso a trata com hostilidade. De família aristocrática e orgulhosa do luxo e da ostentação em que sempre vivera, Flávia procura reconquistar os clientes do escritório perdidos por Dario, e para tanto faz-se figura fácil em quaisquer eventos a que a sociedade carioca compareça.

David Cardoso, o "homem proibido" Paulo Villani.
Paulo, por sua vez, é filho de Antônio Villani (Castro Gonzaga) e Sulema (Cleyde Blota), que também são pais de Rogério (Marcelo Picchi). Conhece as duas primas quando tem de atender a um chamado em lugar de seu tio Valdir (José Augusto Branco), e desde o começo divide seu interesse entre as duas, sem que consiga decidir de qual delas gosta mais. Carlos, apaixonado por Joyce e frustrado a cada tentativa de conquistá-la, trabalha como bancário e é filho da costureira Cláudia (Aracy Cardoso) e de Getúlio (Milton Moraes), motorista dos Villani. Para conquistar Joyce, menina rica, ele decide esconder sua origem, mas ela se mostra cada vez mais interessada em Paulo, mostrando-se como vilã da história desde o princípio e chegando mesmo a passar-se por cega após sofrer um acidente de automóvel, apenas para afastar o médico de Sônia. Ou seja, para separar o casal e tirar a prima do caminho Joyce demonstra ser capaz de qualquer coisa. Uma trama paralela interessante envolvia Rogério e Arminda (Narjara Turetta), dividida entre o amor pelo rapaz e a vocação que acredita ter para ser freira.

Lídia Brondi em cena da abertura da novela.
O desenrolar da história revela que na verdade Paulo é filho de um irmão de Antônio, o mau caráter Alberto Villani (John Herbert), e de Amélia (Maria Pompeu), com quem Alberto vivera um romance no passado. Amélia é assassinada e Paulo é apontado como o principal suspeito do crime; Joyce, que a essa altura está se passando por cega, vê quem comete o crime, (Alberto), mas caso revele a verdade coloca em xeque sua própria posição. Outra surpresa é o aparecimento de Jocemar (Gilberto Martinho), o rancoroso pai de Joyce, que extorque dinheiro da família Rodrigues em nome da manutenção de seu silêncio acerca de assuntos do passado. Ao final, com Joyce deixando de fingir ser cega, a verdade sobre o passado dos Rodrigues colocado em pratos limpos e a opção de Paulo entre as primas, as duas jovens enfim fazem as pazes, resolvem as diferenças e se casam na mesma cerimônia: Sônia com Paulo e Joyce com Carlos, que enfim consegue conquistá-la.

Capa da revista Amiga com Elizabeth Savalla e David Cardoso ao final da novela.
Publicado pela primeira vez no jornal carioca Última Hora em 1951 em formato folhetim, o romance O Homem Proibido não dava sustentação a uma telenovela, que dura meses e exige diversos personagens e situações. Assim, Teixeira Filho desenvolveu outros personagens e tramas para "rechear" a história principal do triângulo amoroso entre as primas e o médico e a nebulosidade do passado de Flávia, Dario e Senhorinha. O personagem Carlos e seu núcleo são alguns exemplos de criações de Teixeira. Uma curiosidade é que a Rede Globo exibira outra novela com o mesmo título, mas sem nada mais a ver com esta, em 1967. A primeira O Homem Proibido tornou-se conhecida fora do Rio de Janeiro como Demian, o Justiceiro, e tinha como protagonistas Carlos Alberto e Yoná Magalhães. Passava-se na Índia e seu herói, Demian, era uma espécie de Zorro do Oriente. Uma das rocambolescas criações da cubana Glória Magadan. Outra curiosidade diz respeito ao tema de abertura, a bela "Queixa", de Caetano Veloso. No decorrer da novela a abertura passou a apresentar não mais a versão cantada pelo baiano, mas uma gravação instrumental em seu lugar.

O último dos 146 capítulos de O Homem Proibido foi ao ar em 20 de agosto de 1982. Dirigida por Gonzaga Blota, Reynaldo Boury e Ary Coslov e tendo em seu elenco ainda as presenças de Stepan Nercessian, Nelson Dantas, Ana Lúcia Torre, Monah Delacy, Sônia Regina, Nestor de Montemar, Cleston Teixeira, Alzira Andrade, Solange França e Rita de Cássia, entre outros, foi a última atração do horário na linha contínua de adaptações literárias adotada desde sua implantação em 1975. Se por acaso fosse revisitada hoje em dia, aproveitando-se o clima rodrigueano e o conflito que envolve as duas primas (e também a geração anterior da família), poderia resultar numa interessante minissérie, quem sabe.

domingo, 26 de fevereiro de 2012

Palpites Oscar 2012 – Quem vencerá?

É Hoje... dia 26 de fevereiro, as apostas pelos favoritos ao prêmio máximo do cinema começam a ficar à flor da pele. Como nunca deixamos de fazer, seguem abaixo os palpites para os vencedores das principais categorias do Oscar 2012!

Por Raphael Camacho

Melhor Filme

*Cavalo de Guerra *O Artista *Moneyball – O Homem Que Mudou o Jogo *Os Descendentes *A Árvore da Vida *Meia-Noite em Paris *Histórias Cruzadas *A Invenção de Hugo Cabret *Tão Forte e Tão Perto

É uma disputa em aberto. ‘O Artista’ vem ganhando muitos prêmios em outras premiações importantes e desponta como favorito ao maior prêmio do ano. Por fora, correm o filme de Alexander Payne (‘Os Descendentes’), o queridinho americano ‘Histórias Cruzadas’ e o maravilhoso filme de Martin Scorsese (‘A Invenção de Hugo Cabret’). O melhor do ano, não vencerá mas em nossos corações sabemos que ‘A Árvore da Vida’ não tem concorrentes.

Quem vencerá: O Artista
Quem deveria vencer: A Árvore da Vida



Melhor Direção

Michel Hazanavicius *Alexander Payne *Martin Scorsese *Woody Allen *Terrence Malick

Categoria que deve ser vencida por Michel Hazanavicius, pelo seu ótimo trabalho em ‘O Artista’.  Martin Scorsese também vem forte após vencer o Globo de Ouro, corre por fora. Malick fez um trabalho fenomenal em ‘A Árvore da Vida’ mas dificilmente subirá ao palco para receber o prêmio.

Quem vencerá: Michel Hazanavicius
Quem deveria vencer: Terrence Malick



Melhor Ator

Demián Bichir (‘A Better Life’)
George Clooney (‘Os Descendentes’)
Jean Dujardin em (‘O Artista’)
Gary Oldman em (‘O Espião Que Sabia Demais’)
Brad Pitt em (‘Moneyball – O Homem Que Mudou o Jogo’)

Categoria que mostra cinco ótimos trabalhos, uma surpresa e quase uma certeza de vitória. Com o SAG ganho nas últimas semanas, Jean Dujardin dificilmente perderá o Oscar de Melhor ator esse ano. George Clooney parece ser o único a ter alguma condição de tirar o prêmio das mãos do francês. A indicação de Demián Bichir foi uma grata surpresa, porém, Leonardo DiCaprio, Michael Fassbender ou Ryan Gosling deveriam ficar com essa vaga. Esse último não figurou entre os cinco indicados pelo fato de ter feito duas ótimas atuações (nos filmes ‘ Amor a Toda Prova’, ‘Tudo pelo Poder’ e ‘Drive’) isso, com certeza, dividiu seus votos e assim prejudicou sua eminente indicação.

Quem vencerá: Jean Dujardin

Quem deveria vencer: Ryan Gosling (isso mesmo, mesmo sem ser indicado, a atuação dele em ‘Tudo pelo Poder’ ou ‘Drive’ são dignas do prêmio)



Melhor Atriz

Glenn Close (‘Albert Nobbs’)
Viola Davis (‘Histórias Cruzadas’)
Rooney Mara (‘Millenium – Os Homens Que Não Amavam As Mulheres’)
Meryl Streep (‘A Dama de Ferro’)
Michelle Williams (‘My Week With Marilyn’)

A categoria mais disputada nesse ano. 5 ótimos trabalhos. A veterana Glenn Close tem uma boa participação em Albert Nobbs, mas perde muita força por ter sido, muitas vezes, ofuscada pela excelente atuação de Janet Mcteer.  Viola Davis é uma das favorita, um papel muito intenso e muito bem executado pela maravilhosa atriz. Rooney Mara está fabulosa na pele de Lisbeth Salander, ‘Millenium já é um dos melhores filmes do ano, viva Fincher! Michelle Williams, confesso que ainda não vi o filme, mas dizem estar muito bem como Marilyn Monroe . Mas, sem dúvidas, a favorita dos cinéfilos é Meryl Streep. Sua atuação como Margaret Thatcher é excepcional.

Quem vencerá: Meryl Streep

Quem deveria vencer: Meryl Streep



Melhor Ator Coadjuvante

Kenneth Branagh (‘My Week With Marilyn’)
Jonah Hill em (‘Moneyball – O Homem que Mudou o Jogo’)
Nick Nolte (‘Warrior’)
Christopher Plummer (‘Beginners’)
Max Von Sydow (‘Tão Forte e Tão Perto’)

Acho que é unânime: ‘Christopher Plummer’ vencerá com sobras. Um trabalho maravilhoso desse talentoso artista. Jonah Hill mereceu a indicação, está muito bem em ‘Moneyball’. Sempre bom comentar quando a Academia acerta em uma indicação que ninguém esperava, Nick Nolte mereceu essa indicação pelo ótimo trabalho em ‘Warrior’.

Quem vencerá: Christopher Plummer

Quem deveria vencer: Christopher Plummer



Melhor Atriz Coadjuvante

Bérénice Bejo (‘O Artista’)
Jessica Chastain (‘Histórias Cruzadas’)
Melissa Mccarthy (‘Missão Madrinha de Casamento’)
Janet McTeer (‘Albert Nobbs’)
Octavia Spencer (‘Histórias Cruzadas’)

Começo falando da atriz que mais evoluiu nos últimos anos, Jessica Chastain, teve pelo menos três trabalhos que poderiam ser premiados com uma indicação. Bérénice Bejo vem na onda de entusiasmo de ‘O Artista’, não levará o prêmio, a indicação já foi um belo presente. Melissa Mccarthy tem momentos engraçados em ‘Missão Madrinha de Casamento’ mas não entendi o porquê dessa indicação ao Oscar. Janet McTeer e Octavia Spencer para mim foram as melhores nessa categoria. A primeira ofusca Glenn Close em quase todas as cenas de ‘Albert Nobbs’ e a segunda tem um ótimo trabalho em ‘Histórias Cruzadas’.

Quem vencerá: Octavia Spencer

Quem deveria vencer: Janet McTeer



Melhor Roteiro Original

*O Artista *Missão Madrinha de Casamento *Margin Call  *Meia Noite em Paris  *A Separação

Acredito que Woody Allen levará esse prêmio, merece! ‘A Separação’ tem um ótimo roteiro também e pode ser decretado vencedor também. ‘Missão Madrinha de Casamento’ estar entre os indicados dessa categoria é muito esquisito.

Quem vencerá: Meia Noite em Paris 

Quem deveria vencer: Meia Noite em Paris 



Melhor Roteiro Adaptado

Os Descendentes *A Invenção de Hugo Cabret *Tudo Pelo Poder *Moneyball – O Homem que Mudou o Jogo *O Espião Que Sabia Demais

Categoria equilibrada. Ótimos trabalhos. Steven Zaillian e Aaron Sorkin fizeram um excelente trabalho com o ‘Moneyball’, porém, quem deve levar é  Alexander Payne, Nat Faxon, Jim Rash por ‘Os Descendentes’.

Quem vencerá: Os Descendentes

Quem deveria vencer: O Homem que Mudou o Jogo



Melhor Animação

A Cat In Paris *Chico & Rita *Kung Fu Panda 2 *Gato de Botas *Rango

Acho que é unânime: ‘Rango’ vencerá com sobras.

Quem vencerá: Rango

Quem deveria vencer: Rango



Melhor Filme Estrangeiro

*Bullhead *Footnote *In Darkness *Monsieur Lazhar *A Separação

Acho que é unânime: ‘A Separação’ vencerá com sobras.

Quem vencerá: A Separação

Quem deveria vencer: A Separação



Melhor Trilha Sonora

*As Aventuras de Tintin *O Artista *A Invenção de Hugo Cabret *O Espião Que Sabia Demais *Cavalo de Guerra

Categoria bem equilibrada. Acredito que ‘O Artista’ é o favorito por conta do sucesso de crítica lá fora. Não descarto também a vitória de John Williams com ‘Cavalo de Guerra’.

Quem vencerá: O Artista

Quem deveria vencer: O Artista


sábado, 25 de fevereiro de 2012

"... Olha nós outra vez no ar..."

Brunno Duprat

“... A saudade apertou
E eu voltei, e eu voltei
Pra ficar ao teu lado...”

Bem na cadência gostosa deste samba-exaltação Gabriel Braga Nunes, Cassia Kiss (não consigo, não quero e muito menos gosto do 'Magro' - então pra mim eternamente será Cassia Kiss e morre o assunto!) e Ana Lucia Torre surgirão em nossa telinha a partir do dia 05 de Março, defendendo com aquele empenho de sempre seus respectivos personagens na nova novela das 18 horas, Amor Eterno Amor.


A trinca retorna ao batente após três bem sucedidos trabalhos e uma breve ausência: Gabriel e Ana saíram de Insensato Coração (onde foram um dos poucos aspectos positivos) e Cassia vem de uma interpretação avassaladora com a surpreendente simplicidade e sabedoria da doce e humilde Dulce em Morde e Assopra. Na trama assinada por Elizabeth Jhim, esse talentoso trio terá a possibilidade de mostrar toda a sua versatilidade dando vida a personagens absolutamente distantes dos últimos papéis que interpretaram, uma oportunidade que todo ator quer de mostrar uma nova vertente e sair do lugar comum, estereótipo, exorcizando definitivamente o papel anterior. Um brinde a todos nós que apreciamos a 'arte de iludir' quando feita por gente que sabe e sem canastrices. 

Há quem não goste da escalação de profissionais recém saídos de outras produções, sob afirmação de ser necessário um tempo para descanso da imagem e tals, mas eu discordo plenamente. Quando há capacidade de se renovar e personagens distintos e bem calçados, essa 'regra' cai por terra.

Além de voltarem na mesma novela e com personagens bem diferentes dos antecessores, em comum ainda o fato de juntos carregarem um dos principais enredos do folhetim: Gabriel será o filho desaparecido de Ana e Cássia a responsável por dificultar essa reaproximação, além de ser a grande vilã da novela.


Após uma passagem de luxo pela Rede Record e uma volta triunfal à Rede Globo sendo o principal nome da última novela de Gilberto Braga no horário nobre, Gabriel é escolhido para protagonizar a próxima novela das 18. Carlos, seu personagem, é um domador de búfalos criado por Angélica e Virgílio (Osmar Prado) após ser separado de sua verdadeira mãe (Verbena) num passado bem distante. Bom caráter e carismático, Carlos carrega em si o dom de se comunicar de forma mediúnica com os animais, acalmando-os de modo impressionante e diferente dos demais domadores. Tal dom vem de infância e foi alvo da exploração por parte de seu vil padrasto. Com o passar do tempo se liberta da influência de Virgílio e vai em busca de sua verdadeira identidade e de entender sua vocação.

Íntegra, elegante, discretíssima e dona de uma fé incrível. Assim pode ser definida a Verbena de Ana Lucia Torres. Completamente antagônica à ordinária, porém irresistível Tia Neném de Insensato Coração. Verbena é uma mulher rica repleta de sentimentos nobres e muito bondosa. Apesar de ter um filho desaparecido há quase trinta anos, fez do que seria para muitos um motivo de tristeza, uma causa nobre: Criou uma fundação que ajuda a recuperar crianças desaparecidas. Seu comportamento correto e seus muitos bens despertam a inveja de seus próprios familiares. Sua irmã, seu cunhado e seu sobrinho são cobras prontas a dar o bote em sua fortuna custe o que custar. Mas verbena conta com a proteção de seus amigos fiéis: a governanta Teresa (Rosi Campos) e os cozinheiros Antônio (Tony Tornado) e Deolinda (Nica Bonfim).



A simplicidade e candura de Dulce dão lugar a frieza e soberba de Melissa, a grande megera da trama dirigida por Rogério Gomes, vulgo Papinha. Casada com Dimas (Luis Melo) e mãe de Fernando (Carmo Dalla Vecchia), a peste deste folhetim não medirá esforços para se apoderar da fortuna de sua irmã Verbena. Invejosa e egoísta tem em casa os parceiros ideais para concretizar seus golpes e armações. Só não esperava que surgisse uma pedra em seu caminho: Carlos, o filho biológico de Verbena que há muitos anos fora levado para longe de sua mãe é descoberto. Claro que essa alma sem luz não se dará por vencida e junto aos seus moverá céus e terras para acabar de uma vez por todas com essa ameaça às suas pretensões. É aguardar para conferir! 


Particularmente estou muito ansioso pela estreia desta novela, pois desde Escrito nas Estrelas sou fã de Elizabeth Jhim, que aborda com muita sutileza e realismo as questões espirituais. Tem tudo para ser mais um sucesso das 18, recuperando a boa audiência que Cordel Encantado deixou, mas que A Vida da Gente não foi capaz de segurar. Um belo texto, direção sempre correta de Papinha e ainda no elenco atores experimentados e capazes.
Eu acredito no Amor Eterno Amor!

sexta-feira, 24 de fevereiro de 2012

A NARRATIVA NO TEATRO MUSICAL

Por Romulo Barros 

Curiosamente mesmo sendo um país muito rico musicalmente falando, o Brasil é pobre em se tratando de espetáculos musicais. 





Contamos nos dedos os espetáculos desse gênero como: Gota d’água, Ópera do malandro, de Chico Buarque de Holanda, Sete, de Cláudio Botelho e Ed Motta, Ô Abre alas, Império, entre outros. Mas normalmente importamos grandes espetáculos da Broadway, rua que concentra os grandes teatros em Nova York ou do West End Londrino, bairro dos teatros ingleses.



Talvez isso se deva às especificações do autor que precisa aliar ao talento de dramaturgo as qualidades de compositor, letrista e fino poeta. Parabéns para aqueles que conseguem congregar todas essas qualidades.

O musical é um estilo de teatro que congrega música, canções, dança e diálogos falados. Só nessa frase vemos a complexidade que pode ser a criação e escritura desse espetáculo. Ele está intimamente ligado a ópera e ao cabaré. Os três apresentam estilos singulares, mas estão intimamente integrados.


O cabaret nasceu nas tavernas e com os menestréis medievais. Depois invadiu a Europa no início do século XIX. Posteriormente se transformou no chamado teatro de bolso, pequeno teatro feito em pequenos espaços. Em seguida se transformou em pequenos shows noturnos com novas expressões musicais que chamamos de alternativos.

Já o grande musical é uma dissidência da ópera clássica. A estrutura que conhecemos hoje foi estabelecida em 1943 com a estreia de “Oklahoma!”, de Richard Rodgers e Oscar Hammerstein II. 


O que passou a ser diferente? A narrativa não parava para ser executada uma canção, a história seguia firme dentro das canções e com isso o tema fluía sem problemas. Ficou mais interessante. Os personagens eram bem desenvolvidos, assim como as coreografias que ajudavam a contar o enredo sem a desculpa para colocar mulheres com roupas reduzidas no palco.


Rodgers e Hammerstein desafiaram a convenção dos musicais ao colocar uma voz fora do palco cantando em vez de um coro de garotas no primeiro ato. Oklahoma! foi o primeiro “blockbuster”, grande sucesso dos shows na Broadway feito para a família americana.

Junto criaram uma coleção extraordinária de clássicos mais amados e duradouros musicais: Carrousel (1945), South Pacific (1949), The king and I (1951), Cinderella (1957) e The sound of music (1959). Mas para que o sucesso de um musical aconteça antes é preciso um imenso trabalho colaborativo.

Normalmente existem vários autores em um musical, os escritos por uma pessoa só são quase raros. O roteirista de musicais cuida da estrutura do tema, o compositor da música, o letrista da parte lírica ou todas essas partes podem ficar sob a responsabilidade de uma só pessoa, o escritor/compositor.

Não existe uma regra para o que vem primeiro, se é a música ou a letra. Às vezes a melodia inspira uma letra ou a letra a melodia. Contudo a maior inspiração para todos os roteiristas de musicais é o tema da história principal.

A ideia para um espetáculo musical pode vir dos próprios autores ou pode vir de quem os contratou para a composição do espetáculo. O teatro musical tem a tradição de converter livros e outros materiais para o gênero. A mais conhecida transposição de livro para musicais é O fantasma da ópera de Andrew Lloyd Webber.

Nunca esquecer que a história de um musical segue uma linha dramática teatral pura.E mesmo que seja uma comédia ou drama, sempre terá uma inflexão romântica.

quinta-feira, 23 de fevereiro de 2012

O Humor!


Texto de André Comte-Sponville*

"Que ele seja uma virtude poderá surpreender. Mas é que toda a seriedade é condenável, referindo-se a nós mesmos. O humor nos preserva dela, além do prazer que sentimos com ele.

É impolido dar-se ares de importância.

Não ter humor é não ter humildade, é não ter lucidez, é não ter leveza, é ser demasiado cheio de si, é quase sempre carecer de generosidade, de doçura, de misericórdia...

Porém não exageramos a importância do humor. Um canalha pode ter humor; um herói pode não ter. Um irresponsável pode ter; um responsável pode não ter. Mas isso não prova nada contra o humor.

Humor não é sinônimo de irresponsabilidade, infantilidade, alheamento ... ou falta de bom senso, pelo contrário, no humor sempre tem que haver bom senso, caso contrário, cai no ridículo, no vulgar, na idiotice.

É uma virtude engraçada em certo sentido, pois caçoa da moral, mas é uma grande qualidade que pode faltar a um homem de bem, sem que isso atinja a estima que temos por ele, inclusive a estima moral.

O humor não impede a seriedade, ou nossos compromissos, nossas responsabilidades, até mesmo no que diz respeito à condução de nossa própria existência. Mas impede de nos iludirmos ou de ficarmos demasiado satisfeitos.


Que valeria o amor sem alegria? Que valeria a alegria sem o humor? Tudo que não é trágico é irrisório. Eis o que a lucidez ensina. E o humor acrescenta, num sorriso, que não é trágico... Verdade do humor. A situação é desesperadora, mas não é grave.

Por certo não faltam motivos para rir ou chorar. Mas qual é a melhor atitude? Riso ou lágrimas, riso e lágrimas. Nós oscilamos entre esses dois pólos, uns pendendo mais para isso, outros mais para aquilo... Melancolia ou alegria?

Mas há rir e rir, e cumpre distinguir aqui o HUMOR da IRONIA.

A ironia não é uma virtude, é uma arma - voltada quase sempre contra alguém. É o riso mau, sarcástico, destruidor, o riso da zombaria, o riso que fere, que pode matar. É o riso do ódio, é o riso do combate. Quantos não usam essa arma? Útil? Como não, quando necessário! Que arma não o é? Algumas vezes se combate a ironia com ironia. Mas nem uma arma é a paz, nenhuma ironia é humor.

A linguagem pode enganar. Os humoristas não passam deironistas, de satiristas - e por certo, são necessários. Mas os melhores misturam os dois gêneros: mais ironista quando fala da direita, mais humorista quando fala da esquerda, puro humorista quando fala de si mesmo e de nós todos.

A ironia é um riso que se leva a sério, um riso que zomba, mas não de si, é um riso que goza da cara dos outros. A ironia despreza, acusa, condena, desconfia do outro. A ironia ri do outro, o humor ri de si, ou do outro, mas si incluindo.

Não que o humorista não leve nada a sério (humor não é frivolidade), simplesmente ele recusa levar a sério a si mesmo, sua angústia. A ironia procura fazer-se valer, o humor, abolir-se.

Não há orgulho sem seriedade, o humor quebra a seriedade. É isso que é essencial ao humor, ser reflexivo, ou pelo menos englobar-se no riso que ele acarreta ou no sorriso mesmo amargo que ele suscita. É questão de estado de espírito. A mesma brincadeira pode mudar de natureza segundo a disposição de quem enuncia: o que será ironia em um, poderá ser humor no outro. Aristófanes faz ironia em As nuvens, quando zomba de Sócrates. Mas Sócrates (grande ironista) dá prova de humor quando assistindo a apresentação, ri gostosamente com os outros.


Mas o tom e o contexto podem mudar o sentido da brincadeira. Assim quando Groucho Marx declara: "Tive uma noitada excelente, mas não foi esta." Se ele diz isso à dona da casa, depois de uma noitada malograda, é ironia. Se diz ao público, no fim de um de seus espetáculos, será humor.

Podemos gracejar de tudo: sobre fracasso, guerra, morte, amor, doença...Mas é preciso que esse riso acrescente um pouco de alegria, um pouco de doçura ou de leveza à miséria do mundo, e não mais sofrimento, desprezo. Podemos rir de tudo, mas não de qualquer maneira. Uma piada de judeu nunca será humorística na boca de um anti-semita.

O riso não é tudo e não desculpa nada. Tratando-se de males que não podemos impedir ou combater, seria condenável gracejar. O humor não substitui a ação e a insensibilidade diante do sofrimento dos outros, é uma falta. Assim como é condenável levar demasiado a sério seus próprios bons sentimentos, suas próprias angústias... Lucidez começa por si mesmo. Daí o humor, que pode fazer rir de tudo contanto que ria primeiro de si mesmo.

"A única coisa que lamento, é não ser outra pessoa", diz WoodyAllen. Mas com isso, ele também o aceita. O humor é uma conduta de luto - trata-se de aceitar aquilo que nos faz sofrer - (conseguir superar seu sofrimento e ainda brincar com ele). A ironia fere, o humor cura. a ironia pode matar, o humor ajuda a viver. A ironia quer dominar, o humor liberta. A ironia é implacável, o humor é misericordioso. A ironia é humilhante, o humor é humilde.

O humor transmuta a tristeza em alegria, ele desarma a seriedade. Rir de si primeiro, mas sem ódio. Ou de tudo, mas apenas enquanto se inclui nesse tudo e se o aceita. A ironia diz não (muitas vezes fingindo dizer sim). O humor diz sim, sim apesar de tudo, sim apesar dos pesares. Duplicidade, quase sempre na ironia ( não há ironia sem simulação, sem uma parte de má-fé); quase nunca no humor.


É Pierre Desproges anunciando seu câncer: " Mais canceroso que eu, você morre! " É Woody Allen encenando suas angústias seus fracassos... É a eterna tríplice questão e sem resposta eternamente: " Quem somos? De onde viemos? Para onde vamos?" , respondo: " No que me diz respeito, eu sou eu, venho da minha casa e volto para ela."

Famosa fórmula de Spinoza: " Não ridicularizar, não deplorar, não amaldiçoar, mas compreender." Sim, mas e se não houver nada a compreender? Resta rir, não contra mas de, com (humor).

"Humor, triunfo do narcisismo", escreve Freud,  que o ego se afirma vitoriosamente e acaba desfrutando exatamente daquilo que o ofende e que ele supera. " Triunfo do prazer, mas que só é possível desde que se aceite, que seja para rir da realidade como é ", diz ainda Freud.

É como aquele condenado à morte que levam à forca numa segunda-feira e que exclama: " A semana está começando bem!" Há coragem no humor, grandeza, generosidade. Com ele o eu é como que libertado de si mesmo.

A ironia que sempre rebaixa, nunca é sublime, nunca é generosa. É uma manifestação de avareza. " Uma crispação da inteligência, que prefere cerrar os dentes a soltar uma só palavra de elogio", segundo Bobin. O humor ao contrário é uma manifestação de generosidade: sorrir daquilo que amamos é amá-lo melhor. A ironia ao contrário, sabe apenas odiar, criticar, desprezar, zombar.

Humor é amor, ironia é desprezo. Em todo caso, não há humor sem um mínimo de simpatia, justamente por sempre conter uma dor oculta. O humor também comporta uma simpatia de que a ironia é desprovida... Simpatia na dor, simpatia na fragilidade, na angústia, na vaidade... o humor tem a ver com o absurdo, com ononsense. Não claro que uma afirmação absurda seja sempre engraçada, só podemos rir, ao contrário, do sentindo das coisas. O humor está entre o sentido e o disparate.

O humor não é nem a seriedade (para a qual tudo faz sentido), nem a frivolidade (para a qual nada tem sentido). Mas é um meio-termo instável, ou equívoco, ou contraditório, que desvenda o que há de frívolo em toda a seriedade, e de sério em toda frivolidade. O homem de humor, diria Aristóteles, ri como se deve (nem mais nem menos), quando se deve e do que se deve.

O humor é uma desilusão alegre, desilusão tem a ver com lucidez, como alegria tem a ver com amor e com tudo.



O espírito zomba de tudo. Quando zomba do que detesta e despreza é ironia. Quando zomba do que ama ou estima é humor. O que mais amo, mais estimo facilmente? Eu mesmo. Isso diz tudo sobre a grandeza do humor e sobre sua raridade."

trecho do Programa Faça Humor Não Faça Guerra

Fotos: Google Imagens
Vídeo: You Tube
*André Comte-Sponville é um filósofo materialista francês.

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