Por Eduardo Vieira
Uma trama passada num transatlântico de luxo:
um homem que deseja se curar do trauma do desaparecimento da mulher e do filho
recém nascido, uma prostituta que deseja recomeçar a vida e apaixona-se por um
empresário, duas irmãs que vivem às turras pelo cuidado obsessivo da mais velha
em relação à caçula, um grupo de amigas que pregam uma maior liberdade nos
relacionamentos e pretendem, como no filme de Fellini, “E La Nave Va” jogar no
mar as cinzas de uma amiga que morreu de câncer, um cantor que vive em uma
crise de carreira entre a arte e o dinheiro, um homem casado que vai com a
amante e tem como surpresa a presença e a aprovação da esposa para que esse
romance aconteça, uma mulher que observa a vida do juiz que a condenara por vários
anos por um crime que ela diz não ter cometido, juiz com problemas com o filho
que é desajustado socialmente e um casal que tem um filho imaginário.
Tal trama parece ter vindo daqueles livros de
sinopses de novelas antigas da Tupi ou até com melhor vontade, da própria Globo.
Para quem não sabe essa história é a linha mestra da novela do horário nobre da
Record, substituta da bem sucedida e longa “Vidas em Jogo”, cujo título é “Máscaras”.
Porém a novela divide opiniões: uns acham que ela não tem ritmo, que a história é circular, outros ainda reclamam do certo non sense de algumas tramas e cenas, já ainda outros compartilham da ideia que é uma volta às antigas tramas climáticas que eram exibidas nos anos de ouro das telenovelas.
A novela é dividida pelo plot principal, o sequestro de uma mãe com depressão pós parto, Miriam Freeland, por meio de uma organização que apenas o público fica conhecendo. Essa onda de mistério envolve o marido, o médico e melhor amigo do casal e o irmão sem muito caráter da vítima, Maria, vividos respectivamente por Fernando Pavão, Petrônio Gontijo e Heitor Martinez, este último já expert em vilões na telinha da Record.
A novela tem claramente um aspecto teatral
desde os diálogos nem sempre naturalistas, fruto talvez da origem do autor Lauro
César Muniz, novelista com experiência em teledramaturgia, mas também
dramaturgo, além de contar com o também escritor de teatro Mário Viana, e de
mais dois colaboradores.
O problema é que nem sempre tal fusão, a trama do sequestro junto às várias subtramas, exibe um ritmo ao qual o público de hoje, seja classe a ou d, esteja mais acostumado. Cenas compridas por demais em um único cenário como no início na fazenda com apenas 3 ou 4 atores, ou cenas de gosto duvidoso como o final de uma celebração em uma cena muita bem imaginada: um descasamento (referência ao desaniversário de Alice?) Dos personagens de Beth Coelho e Henri Pagnocnelli, uma agente cultural e um político, que culminará numa comemoração apenas feminina com todas dançando um Rock In Roll para expiar suas culpas e desopilar a influência machista que permeia a vida delas. Nos anos 70, seria uma boa ideia tal final de cena. Hoje soa um tanto ridículo.
Entretanto, há a melhor trama com duas belas atrizes, Daniela Galli e Karen Junqueira. Elas fazem as duas irmãs que rivalizam e ao mesmo tempo mostram um amor uma pela outra, bem fora do usual com cobranças, jogos de sedução, competições. Mais uma vez a figura do homem como elemento repressor, meio surpreendente em um autor que sempre traz os personagens masculinos com grande destaque.
No caso, há um herói debilitado pelos traumas
passados, com a aparência de um Jesus Cristo justiceiro que busca explicação
pelo repentino desaparecimento de sua amada. Tal imagem só vem reforçar certo
clichê que em nada ajuda a trama, pois o ator Fernando Pavão se sai bem num
difícil papel.
Também há uma trama bem comum às histórias de Lauro
Cesar Muniz, uma organização por trás do seqüestro e ligada à figura de Martin,
irmão de Suzana, o principal vilão da história. Essa organização misteriosa
traz como agente um personagem que pretende ser misterioso, mas também termina
por ser outro clichê ambulante, a tal Nameless, bem interpretada pela sempre
talentosa Paloma Duarte, mas que outra vez, vem com uma carga irônica que a sua
Fernanda Lira já tinha na anterior “Poder Paralelo”.
Como essas histórias vão se unir ou não, é difícil pressupor, mas ao menos nota-se cada vez mais uma procura por um ritmo maior nessa trama desse misterioso sequestro e uma troca de identidades que tumultuará a história. Contudo por enquanto, vemos cenas muito bem feitas como gravações de conversas vistas de modo subjetivo, mas também outras cenas constrangedoras com o ator Dado Dollabella como uma espécie de “adulto índigo”.
O ritmo de uma novela não precisa ser vertiginoso com lances rápidos como em “Avenida Brasil”, mas também, e ainda mais numa trama que exige mais ação, não precisa ser tão entremeado de tramas com papos-cabeça pseudo filosóficos.
Mesmo assim a novela traz boas interpretações até inesperadas como de Gisele Itiê, como a garota propaganda Manu, que consegue humanizar bastante a personagem, a já falada Daniela Galli e principalmente de Petrônio Gontijo como a figura dúbia do médico apaixonado pela vítima do sequestro, Dr. Décio.
Não sou adepto da ideia de que toda novela deva
ter o mesmo andamento, os mesmos tipos de personagens, e com isso, espero que
sobressaia na novela o contar da história e que esta utilize os personagens a
contento, pois para fazer uma obra diferente deve se contar com uma boa
escrita. Essa lei é válida para todos os textos, mais ou menos convencionais,
como é o caso de “Máscaras”.
apenas uma ressalva muito bem lembrada pelo Gui Stausch. A novela é escrita também pelo autor Renato Modesto.
ResponderExcluirJá conferi! Ótimo texto do Edu! Discordo de algumas coisas, como a "boa interpretação" de Giselle Itiê. Particularmente, estou gostando da novela depois que a viagem no cruzeiro começou. É a única que vejo todos os dias. E senti falta do nome do Renato Modesto no texto, co-autor da novela, que já foi corrigido.
ResponderExcluirÓtimo texto Edu... O que mais me atraia nessa novela é o nucleo principal, sobre tudo a relação que os personagens do Pavão e do Petronio Gontijo tem com a da Miriam Freeland....
ResponderExcluirA Paloma Duarte também me encanta, o personagem é bom, misterioso, e a atriz dispensa comentários...
Edu, muito bacana o texto! Você conseguiu chamar minha atenção para essa novela, que até agora passou totalmente despercebida. Vi só algumas chamadas antes da estreia, mas nem me interessei em assistir. Lendo seu texto, fiquei curioso para acompanhar algumas tramas da novela. Realmente o que você disse é pertinente: o público atual não está acostumado a cenas e diálogos longos, como era bem comum nos anos 70. As cenas hoje são muito ágeis e ninguém tem paciência para ouvir um diálogo um pouco mais elaborado. Nem tudo funciona, isso é fato. Por exemplo, mesmo Gilberto Braga no megasucesso Dancin' Days pecou ao incluir cenas longas e cansativas de Cacá (Antônio Fagundes) fazendo análise. Ficava aquele monólogo arrastado durante um tempão e a imagem estática de Cacá deitando no divã. Mesmo na época o público não curtiu. Na versão em DVD, lançada ano passado, essa parte arrastada foi varrida na edição, o que só fez ajudar a novela. E não prejudicou em nada a compreensão da trama. Ou seja, é possível dar uma enxugada em 'Máscaras' também. Ainda não assisti a novela, mas pelo que você falou, Edu, é possível limar os excessos de "papos-cabeça pseudo filosóficos".
ResponderExcluirEdu, o texto está muito bom!!! Gostei!!!!
ResponderExcluirConfesso que quando você me avisou que tinha escrito sobre a novela, achei que você só iria detonar. Bom, não sei se você percebeu ou foi intencional, mas você mais chamou a atenção para a novela do que criticou negativamente a trama. Levantou questões interessantes, até mesmo sobre os defeitos mas não depreciou o produto. E eu achei isto ótimo, pois últimamente os críticos tem sido impiedosos com MÁSCARAS, com análises pré-concebidas e uma espécie de ressentimento para com o autor que eu sinceramente não sei explicar.
Você sabe que sou suspeito, gosto da novela e gosto muito do autor, ele ainda é um dos poucos que apesar do tempo que escreve ainda consegue trazer algum frescor ou novidade para este velhíssimo formato que é novela!
Eu acompanhei o começo de Máscaras, despido de qualquer preconceito relativo a emissoras ou coisas similares, em prestígio ao autor que, mesmo não tendo visto por completo muitas de suas novelas, nutro muito respeito e interesse.
ResponderExcluirGostei do texto e da forma misteriosa (que muitos tacham de lenta) como a história se desenvolvia, do pesado clima psicológico da trama central e da atuação de Miriam Freeland. Mas a direção/produção (por vezes não sei diferenciar os substantivos)é pavorosa: cenas mal arquitetadas, figurino tosco, maquiagem risível, uma discrepância tremenda entre texto e direção. E, apesar de gostar muito do texto mais denso do Lauro, houve momentos bem duvidosos em Máscaras: a cena em que a cantora revela às amigas que está com câncer, claramente tinha a intenção de surpreender com uma veia dramática, mas frases como "-Eu vou tocar uma música linda" totalmente desconexa e "-Eu sou a cantora careca", soaram humor involuntário. Ah, e como o texto inteligentemente aponta, bem fora do tom as mulheres ''exorcizando'' o machismo dominante naquela festa.
Não tem roteiro excelente que se segure quando a direção o transforma em cenas equivocadas.
o caso da Cantora careca foi uma alusão até pertinente a meu ver..a uma peça do teatro do absurdo, do eugene ionesco...como a cena era puxada pro non sense, ficou bem cntextualizado....mas acho que a novela é mal dirigida mesmo...no posto do almanaque da tv tem uma crítica espetacular do Jordão Amaral( que pra mim é pseudônimo).
ExcluirEu to gostando da novela, tem algumas cenas dispensáveis!
ResponderExcluirMas qual novela não tem?
Ótimo texto Edu!
Fabio
www.ocabidefala.com