quinta-feira, 26 de junho de 2014

Malévola e a desconstrução do maniqueísmo



Por Henrique Domingos de Melo

Ora, ora... Aos meus poucos e fiéis leitores, tenho a felicidade de dizer que voltei. Pois é, a vida anda corrida, mas aproveitei que estou de férias da faculdade para dar o ar de minha graça por aqui – numa aparição estilo “Malévola chegando ao batizado da princesa Aurora”.
O impressionante em Malévola é que o filme conseguiu criar raízes sólidas na cultura mainstream antes mesmo de seu lançamento. Graças a uma divulgação massiva, é claro, e a popularidade que ganhou nas redes sociais, gerando uma infinidade de gifs, comentários com foto, pages e enfim.  O que imagino ter sido essencial neste alvoroço pré-estreia, foi a presença de Angelina Jolie interpretando o clássico personagem da Disney.  Até mesmo sua caracterização, muito exuberante, foi inspirada na personagem homônima da animação da década de 50, alimentando a curiosidade dos nostálgicos e caindo no gosto da comunidade LGBT, que adora adotar uma vilã para chamar de sua.

É exatamente o vilanismo de Malévola que pode decepcionar alguns, pois ele simplesmente não existe nesta nova versão. Quer dizer, não da maneira alegórica em que é retratado em A Bela Adormecida. A personagem-título é uma fada boa, forte e destemida que sofre uma traição por parte de Stefan, seu amor de adolescência, sendo este o verdadeiro antagonista da história. Uma das referências mais cult do filme é quando ela perde as asas e se torna um ser obscuro e amargurado. Não sei se alguém além de mim notou a semelhança com Lúcifer, o anjo caído, mas achei a conotação bíblica fortíssima. Além dos chifres, que sempre lhe deram uma aparência diabóica, a perda das asas significou a queda de Malévola em um “inferno pessoal”, presente na passagem em que ela transforma o reino dos Mors em um lugar sufocante, tal como seu estado de espírito.

Não estou levantando nenhuma teoria da conspiração contra a Disney, pelo contrário, pois ninguém melhor do que Deus e o Diabo para servir como parâmetro em um filme que questiona a fragilidade entre o bem e o mal. Neste ponto a produção está de parabéns, pela forma como mergulha na desconstrução de maniqueísmos que nos acomodaram desde a infância. As três fadas boas, por exemplo, mostram-se negligentes no cuidado com Aurora, competitivas, invejosas, bajuladoras e rancorosas. Longe do exemplo de virtude de versões anteriores. Rei Stefan também não é mais o pai zeloso dos contos de fadas, mas um rei ambicioso e paranoico (que agride fadas e a própria filha, cadê a Maria da Penha numa hora dessas?).




O príncipe encantando deixa de ser o herói da história e não serve nem para salvar a princesa. Parece mais um adolescente pervertido que sai por ai beijando donzelas amaldiçoadas, coagido por três fadas atrapalhadas. E Aurora cumpre seu papel de princesa sem graça, andando feito uma tonta pelo castelo atrás de espetar o dedo em uma agulha.


Como não sou crítico de cinema, quis deixar aqui minhas impressões sobre a mensagem do filme. Que os vilões talvez não sejam tão maus, mas apenas injustiçados pela vida. Que o amor verdadeiro existe e, às vezes, parte de onde menos esperamos. Talvez você fique decepcionado com a história, mas não poderá deixar de negar que ela propõe uma grande reflexão.  

quinta-feira, 19 de junho de 2014

O que tiver de ser - último capítulo


O QUE TIVER DE SER

CAPÍTULO 6 - ÚLTIMO

WEB NOVELA DE
LEANDRO BRASIL


ESCRITA COM A COLABORAÇÃO DE:

ISAAC SANTOS
RAFAEL BARBOSA
RAUL FELIPE SENNGER


CENA 01. FRENTE DA CASA DE PAOLA. INTERIOR. NOITE.
Júlio muito nervoso falando ao celular. Atrás dele, Delegado perto dos policiais, também falando ao celular.
JÚLIO               - (ao celular) É, mãe, o canalha do Rubens fugiu levando a Paola e o Lucas. Eu não sei onde é que tá o meu filho. (pausa. Júlio impaciente) Tá bom, mãe. Olha, eu não posso falar agora. Qualquer novidade eu te aviso.
Júlio desliga o celular nervoso e vai até o Delegado.
JÚLIO               - Nada ainda, delegado? Nenhuma pista?
DELEGADO    - Ainda não, mas a polícia rodoviária já foi avisada. Fica tranquilo, logo esse safado vai em cana.
JÚLIO               - Quer dizer que eu vou ter que ficar de braços cruzados? Esse desgraçado pode acabar com o meu filho! Vocês têm que fazer alguma coisa!
DELEGADO    - Nós estamos fazendo tudo o que está ao nosso alcance, rapaz! O Rubens não vai conseguir escapar, eu garanto!
Delegado se afasta para conversar com os policiais. Júlio muito angustiado. Corta para:

CENA 02. CARRO DE RUBENS. RUAS. EXTERIOR. NOITE.
Carro passa em alta velocidade. Corta para interior do veículo, onde Paola e Lucas estão muito assustados no banco de trás. Rubens dirige furioso.
PAOLA             - Isso que você tá fazendo é sequestro, sabia?
RUBENS         - Se você acha que vai sair impune depois do que fez, tá muito enganada!
PAOLA             - (muito assustada) Eu já disse que não fiz nada! Não fui eu quem te denunciou! Eu não sou maluca, sei do que você é capaz!
LUCAS             - Do quê que vocês tão falando?
PAOLA             - Nada, filho.  É um assunto nosso! (a Rubens) É verdade, Rubens! Eu não fiz isso! A polícia já devia tá te investigando há muito tempo! Você achou que ia ficar impune pra sempre? Eu e o Lucas não temos nada a ver com isso. Por favor, deixa a gente ir embora!
RUBENS         - (grita, furioso) Cala a boca e para de me encher!
PAOLA             - O que você vai fazer com a gente?
RUBENS         - (irônico) Logo vocês vão saber.
Rubens continua dirigindo. Paola perde a paciência e cai em cima dele, tentando fazê-lo parar.
PAOLA             - Para esse carro!
Lucas olha os dois, muito assustado. Rubens tenta se soltar de Paola e perde o controle do carro, que fica ziguezagueando no meio da pista, quase batendo em postes e outros veículos. Finalmente Rubens dá um murro em Paola, que cai no banco de trás com o nariz sangrando. Rubens recupera o controle da direção e se vira furioso para ela.
RUBENS         - Outra gracinha dessas e você vai ver o que acontece com esse moleque! Eu acabo com ele na tua frente!
Muito assustada, Paola começa a chorar e abraça Lucas, que também chora. O carro segue em alta velocidade. Corta para:

CENA 03. APTO SONINHA. QUARTO. INTERIOR. NOITE.
Abre em Soninha dormindo na cama ainda com o vestido de noiva. Letícia, Rosália, Mila e Sofia a observam, tristes.
LETÍCIA            - O calmante fez efeito.
Corta para:

CENA 04. APTO SONINHA. SALA. INTERIOR. NOITE.
Letícia, Rosália, Mila e Sofia continuam a conversa.
ROSÁLIA         - Espero que o tranco que ela levou também faça efeito. Quem sabe agora a Soninha pense duas vezes antes de se envolver com o primeiro cafajeste que aparecer.
MILA                 - A Soninha é uma mulher que nasceu pra viver mil paixões, dona Rosália. Logo ela se recupera desse baque e parte pra outra!
ROSÁLIA         - Pra outra enrascada, você quer dizer, né? Vocês são duas cabeças de vento!
LETÍCIA            - Não acha que já falou demais por hoje, mamãe?
ROSÁLIA         - Eu só falo a verdade, minha filha! É por isso que vocês se incomodam tanto com o que eu digo!
Letícia suspira, irritada. Corta para:
CENA 05. DELEGACIA. CELA. INTERIOR. NOITE.
Marcelo triste em meio aos outros presos. Ainda está com a roupa do casamento. Tempo nele com cara de derrota e Corta para:

CENA 06. CARRO DE RUBENS. RUAS. EXTERIOR. NOITE.
Rubens continua dirigindo. O carro chega a um semáforo e ele percebe que será obrigado a parar. Paola faz um sinal a Lucas apontando a porta do carro. Rubens para o carro, preocupado e fica esperando o sinal abrir.
PAOLA             - (tenta ganhar tempo) Pra onde você pretende nos levar?
RUBENS         - Isso não é da sua conta! (olha nervoso o sinal) Vai logo, droga!
Rapidamente, enquanto o carro está parado, Paola abre a porta do lado de Lucas. Rubens percebe o que aconteceu e se vira pra eles.
RUBENS         - Opa, que é isso?
Antes que ele dê partida no carro, Paola cai em cima dele e o segura.
PAOLA             - (para Lucas) Vai, filho! Foge e pede ajuda!
Assustado, Lucas sai do carro e corre no meio da rua, em meio aos outros carros. Motoristas e pedestres o observam. Ele começa a gritar, desesperado.
LUCAS             - Socorro! Ajudem a minha mãe!
Um homem e uma mulher que passam na calçada, vêm até ele.
MULHER         - O que foi, menino?
LUCAS             - Minha mãe, moça! Ela tá sendo sequestrada.
HOMEM           - Onde é que tá a sua mãe, garoto?
LUCAS             - (aponta) Ali, naquele carro!
Nesse momento, os gritos de Paola tomam conta da rua.
PAOLA             - (off) Socorro! Alguém me ajuda!
O homem e a mulher correm na direção que Lucas apontou. Corta para o interior do carro, onde Paola desesperada tenta sair pela porta de trás. Rubens a puxa pela perna. Ela grita muito.
PAOLA             - Socorro! Socorro!
O homem e a mulher chegam até o carro no momento em que Rubens consegue puxar Paola e fecha a porta. Rubens dá um tiro para fora do carro. O homem e a mulher se assustam e correm. Pessoas param para olhar. Agitação na rua. Todos ouvem outro tiro dentro do carro e se assustam. O sinal abre e o carro de Rubens sai em alta velocidade.
MULHER         - Meu Deus do céu, será que ele matou ela? (para o marido) Vai, homem, liga pra polícia!
O homem pega o celular e começa a discar. Lucas vem até o casal.
LUCAS             - Cadê a minha mãe?
MULHER         - Fica calmo! Logo ela vai estar aqui. Agora eu vou te levar pra casa. Me dá o seu endereço.
LUCAS             - Eu não lembro o nome da rua, moça.
MULHER         - E o telefone de alguém, de algum parente, você sabe?
LUCAS             - Sei. O telefone do meu pai.
Corta rápido para:

CENA 07. CASA DE VIOLETA. SALA. INTERIOR. NOITE.
Violeta já abraçando o neto, aliviada. Júlio ao lado deles.
VIOLETA          - Graças a Deus, meu querido, que você tá são e salvo!
Continua abraçando e beijando Lucas, que está triste.
JÚLIO               - Tá bom, mãe. Ele precisa agora de um bom banho.
LUCAS             - Eu preciso é da minha mãe.
Lucas sai correndo para o quarto.
VIOLETA          - Como foi que você encontrou ele?
JÚLIO               - Ele conseguiu fugir quando o Rubens parou o carro num sinal. Mas a Paola continua em poder dele.
Em Violeta tensa, Corta para:

CENA 08. RUAS. CARRO DE RUBENS. EXTERIOR. NOITE.
Rubens mais furioso do que nunca. Sentada agora no banco da frente, Paola geme de dor e vemos que sua perna sangra muito por causa do tiro.
RUBENS         - Tá perdendo sangue, é? Desgraçada! Eu devia ter acabado logo com a tua raça!
PAOLA             - (com muita dor) Não tô nem aí pro que vai me acontecer... O importante... O importante é que eu tirei o meu filho das mãos de um bandido como você!
RUBENS         - Pois é, só que ninguém vai te salvar. Você vai morrer se esvaindo em sangue na minha frente, sua vadia!
PAOLA             - Eu não vou te dar esse gostinho! Não vou!
Mesmo sangrando e com muita dor, Paola parte para cima de Rubens e pega o volante, tentando provocar um acidente. Rubens tenta empurrá-la.
RUBENS         - Para com isso. Tá maluca?
PAOLA             - Eu quero logo acabar com isso de uma vez por todas!
Paola continua pegando no volante. Na rua, o carro anda em ziguezague, quase batendo em postes e em outros veículos.
RUBENS         - Para, Paola!
Por mais que tente, Rubens não consegue se livrar de Paola, que parece ter reunido todas as suas forças na tentativa desesperada de se livrar daquela situação. O carro segue descontrolado pelas ruas de São Paulo. Até que num cruzamento, é atingido violentamente por um ônibus, que não conseguiu parar. Paola e Rubens gritam. Devido à força da batida, o carro capota. Na imagem do carro praticamente destruído, Fade out:

CENA 09. HOSPITAL. QUARTO DE PAOLA. INTERIOR. DIA.
Fade in: Ponto de vista de alguém. Visão embaçada. Percebemos que alguém se aproxima da pessoa que olha. Imagem fica nítida e revela Júlio olhando triste para Paola, que está na cama, cheia de aparelhos. Percebemos que sua situação é muito grave. Paola fala com muita dificuldade.
PAOLA             - Jú... Júlio.
JÚLIO               - Por favor, Paola, não faz nenhum esforço. Você passou vários dias inconsciente, tem que descansar.
PAOLA             - Eu... Eu... Eu preciso... Falar com... Com você. O... Lu/
LUCAS             - O Lucas tá bem, não se preocupa com ele não, tá bom? Assim que você ficar boa tudo vai/
PAOLA             - (corta) Eu não... não vou ficar boa, Júlio.
JÚLIO               - Que é isso, não fala assim.
PAOLA             - Me promete... me promete que você vai cuidar do Lucas.
JÚLIO               - Para com isso, Paola.
PAOLA             - Por favor, me promete... Me promete que... nunca vai falar pra... pra ninguém que ele não é... seu filho bioló/
JÚLIO               - Claro que eu não vou contar pra ninguém. O Lucas é meu filho, nosso filho.
PAOLA             - E se um dia... se um dia você... conseguir me... perdoar/
JÚLIO               - Eu já te perdoei, Paola. Você me deu um filho lindo/
PAOLA             - (corta) Então me promete que... vai cuidar dele.
JÚLIO               - Tudo bem, se isso faz você se sentir melhor, eu prometo.
Paola sorri, mais tranquila. Júlio pega na mão dela, com os olhos cheios d’água. Uma enfermeira entra no quarto e vai até eles.
ENFERMEIRA         - Ela precisa descansar.
Triste, Júlio solta aos poucos a mão de Paola e vai saindo do quarto. Antes de sair, olha mais uma vez para o leito dela. Na imagem comovente de Paola, fusão lenta:

CENA 10. CEMITÉRIO. EXTERIOR. DIA.
Alguém coloca uma flor em um túmulo. Imagem abre e vemos que foi Lucas quem colocou a flor e que o túmulo é de Paola. Júlio e Violeta estão ao lado dele, muito emocionados. Lucas olha triste para o túmulo da mãe e vai até o pai e a avó. Violeta e Júlio se entreolham, como se quisessem dizer alguma coisa para Lucas, mas desistem. Os dois dão as mãos a Lucas e vão se afastando do túmulo de Paola. Câmera vai abrindo devagar e mostra o cemitério do alto. O dia bonito, de céu azul, contrasta com a tristeza deles. Na imagem dos três se distanciando cada vez mais do túmulo, corta para:

CENA 11. BANCA DE REVISTAS. EXTERIOR. DIA.
Abre em um jornal com a foto de Rubens saindo do hospital e sendo levado por dois policiais para uma viatura. A Manchete diz: “Traficante sai do hospital direto para a cadeia”. Câmera se afasta, mostrando o movimento na banca. Algumas pessoas olham o jornal e comentam o caso. Corta para:

CENA 12. DELEGACIA. SALA DE VISITAS. INTERIOR. DIA.
Marcelo sendo trazido algemado por um policial.
MARCELO       - (irritado) Eu ainda não entendi quem é que... (leva um susto ao ver quem lhe espera) Soninha!
Só então, vemos Soninha olhando muito séria para Marcelo. Corta para:
CENA 13. APTO LETÍCIA E JÚLIO. SALA. INTERIOR. DIA.
Letícia chegando em casa com sacola de compras e acompanhada de Rosália, que como sempre, está enchendo o saco da filha.
ROSÁLIA         - O que é que você tá esperando pra se acertar de vez com o Gustavo?
LETÍCIA            - O Gustavo não quer mais nada comigo, mãe. E depois... Tem o Júlio.
ROSÁLIA         - Que mané Júlio, que nada, Letícia! Quando é que você vai perceber que o que vocês tiveram não passou de fogo de palha? Você nunca esqueceu o Gustavo e eu sei que ele também te ama. Só tá com essa outra porque/
LETÍCIA            - Para com isso, mamãe! Eu não vou decidir nada enquanto não tiver uma conversa decisiva com o Júlio!
Corta rápido para:

CENA 14. CASA DE VIOLETA. SALA. INTERIOR. DIA.
Sem interrupção de ritmo de diálogo. Violeta e Júlio.
VIOLETA          - E o quê que você tá esperando pra conversar logo com essa moça, filho? Ela liga pra cá quase todos os dias. Vocês tem que resolver logo essa situação.
JÚLIO               - Ainda não é hora, mãe. Eu sinto que a Letícia ainda tá bastante dividida. Eu gosto muito dela, mas não tô a fim de ficar bancando o palhaço, não. Só vou conversar com a Letícia quando ela tiver certeza do que quer.
VIOLETA          - Mas Júlio/
JÚLIO               - (corta) Eu vou indo, que eu já tô atrasado. Não esquece de pegar o Lucas na escola, tá? (beija Violeta) Tchau.
Júlio sai. Violeta pensativa. Corta para:

CENA 15. DELEGACIA. SALA DE VISITAS. INTERIOR. DIA.
O policial já saiu. Soninha encara Marcelo.
SONINHA        - Por quê? Por que você fez isso comigo?
MARCELO       - Vai embora, Soninha! Esse lugar aqui não é pra você.
SONINHA        - Eu tenho o direito de saber, Marcelo. Por que foi que você me escolheu pra dar um golpe?
MARCELO       - Eu não te escolhi pra dar golpe nenhum! Eu não planejei me aproximar de você. A gente se conheceu por acaso.
SONINHA        - Mas quando você soube quem eu sou uma perua idiota que sustenta todos os namorados, tratou logo de me fazer ficar caidinha, não é? Pra você eu sou só um cartão de crédito sem limites! Um cartão que te dava os presentes que você queria, à hora que você queria! É claro que você não ia abrir mão da boa vida que tinha comigo!
MARCELO       - No começo foi por isso mesmo que eu fiquei com você.
Soninha olha furiosa para Marcelo, que resolve ser sincero.
MARCELO       - Mas aos poucos eu fui vendo a pessoa maravilhosa que você é. Descobri que por trás dessa capa de perua fútil há uma mulher generosa, com um grande coração. Eu passei a gostar de ficar com você, a apreciar a tua companhia. Quando eu vi eu tinha me apaixonado.
SONINHA        - Você não espera que eu acredite nisso, não é?
MARCELO       - Você tem todo direito de não acreditar. Mas é verdade. Quando eu te pedi em casamento, eu já tava gostando de você. E eu ia largar esse negócio da boate assim que a gente se casasse. Eu queria muito te fazer feliz.
SONINHA        - Você tá dizendo tudo isso pra ver se eu arranjo um advogado pra te tirar daqui. Mas eu não vou fazer isso. Por mim você apodrece aqui dentro!
MARCELO       - Eu só disse o que eu tava sentindo, Soninha. Eu sei que eu vou pegar uma cana braba e... Eu não mereço você.
SONINHA        - Não merece mesmo! Enquanto você vai ficar anos mofando aqui dentro, sem ver nem a luz do sol, eu vou estar lá fora, curtindo as coisas boas da vida. Porque eu não vou desistir de ser feliz, não vou mesmo. Nem que eu me estrepe mil vezes! Pessoas como você não vão conseguir acabar comigo!
Soninha pega a bolsa e vai até a porta. Vira-se para Marcelo.
SONINHA        - Sabe o que você foi pra mim? Um garoto de programa. Só isso. Me deu vários momentos de prazer e foi muito bem pago por isso. Olhando as coisas por esse prisma, eu vejo que nem tenho motivos pra te odiar. (T) Até nunca mais, Marcelo.
Soninha bate na porta. O policia abre e ela sai. Marcelo triste. Corta para:
CENA 16. CARRO DE SONINHA. RUAS. EXTERIOR. TARDINHA.
Mila dirige o carro para Soninha, que está pensativa.
MILA                 - Eu te falei que era masoquismo da tua parte ir naquele lugar ver aquele pilantra. Agora tá aí, péssima!
SONINHA        - Eu tinha que ir lá, Mila, eu tinha que ir...
As duas ficam em silêncio. Soninha muito triste. Corta para:

CENA 17. APTO GUSTAVO E ANDRÉA. QUARTO. INTERIOR. NOITE.
Quarto escuro. Gustavo e Andréa dormem. O telefone toca e Gustavo acorda, meio atordoado. Acende o abajur e atende, no momento em que Andréa também acorda, mal humorada.
GUSTAVO       - (ao tel) Alô.
Corta para:

CENA 18. APTO LETÍCIA. SALA. INTERIOR. NOITE.
Sofia muito assustada falando ao telefone. Planos alternados dela e Gustavo.
SOFIA               - (ao tel) Alô, pai!
GUSTAVO       - (ao tel) Sofia!
ANDRÉA         - Quê que ela quer a essa hora?
Gustavo faz um sinal para que Andréa se cale.
GUSTAVO       - (ao tel) Aconteceu alguma coisa, filha?
SOFIA               - (ao tel) A mamãe, pai! Ela tá trancada no quarto há horas. Eu já bati várias vezes, mas ela não abre. Tô com medo que ela faça alguma besteira.
GUSTAVO       - (ao tel) Fica calma, minha querida! Eu já tô indo praí!
SOFIA               - (ao tel) Não demora, pai, por favor!
Sofia desliga o telefone, muito assustada. Corta para:

CENA 19. APTO GUSTAVO E ANDRÉA. QUARTO. INTERIOR. NOITE.
Andréa indignada diante de Gustavo, que se veste com pressa.
ANDRÉA         - Mais um chilique dela, tá na cara!
GUSTAVO       - Eu tenho que ir lá. A Sofia tá muito assustada. Eu não posso deixar a minha filha/
ANDRÉA         - (corta) Você não vai a lugar nenhum, Gustavo!
GUSTAVO       - Mas Andréa/
ANDRÉA         - (corta, decidida) Se você sair daqui mais uma vez por causa dos ataques daquela mulher neurótica, não precisa mais voltar!
Em Gustavo surpreso e indeciso diante do ultimato de Andréa, corta para:

CENA 20. APTO LETÍCIA. QUARTO. CORREDOR. INTERIOR. NOITE.
Letícia sentada no chão, com a cabeça entre as mãos chorando muito em mais uma crise de depressão. Tempo na tristeza e solidão dela. Batidas fortes na porta do quarto do lado de fora.
GUSTAVO       - (off) Letícia! Você tá aí?
SOFIA               - (off) Mãe!
GUSTAVO       - (off) Abre, Letícia! Eu tô aqui, vamos conversar.
Letícia olha em direção à porta, mas não se move e continua chorando muito. No corredor, Gustavo e Sofia continuam batendo na porta.
GUSTAVO       - Abre, Letícia, por favor! Sou eu, Gustavo!
Nenhuma resposta. Gustavo toma uma decisão.
GUSTAVO       - (a Sofia) Pra trás, filha!
Sofia se afasta. Gustavo toma distância e arromba a porta. Letícia continua no seu lugar, encolhida, como se tivesse medo de tudo e de todos. Gustavo entra no quarto e fica comovido ao vê-la assim. Ele vai até ela e a abraça. Letícia desaba nos braços dele, chorando cada vez mais.
LETÍCIA            - (voz entrecortada de soluços) Eu... Eu não aguento mais, Gustavo! Não aguento!
GUSTAVO       - Calma, eu tô aqui! Vou te proteger! Calma!
Letícia continua chorando muito, encolhida nos braços de Gustavo, que também está emocionado, quase chorando. Sofia se aproxima dos pais e os observa, comovida. Na imagem dos três, Fusão:

CENA 21. SÃO PAULO. STOCK SHOTS. EXTERIOR. AMANHECER. DIA.
O amanhecer na cidade. Imagens gerais. Corta para:

CENA 22. APTO ANDRÉA E GUSTAVO. SALA. INTERIOR. DIA.
Andréa de camisola, sentada no sofá. Está arrasada. Rosto inchado e vermelho de quem chorou muito e passou a noite em claro. Gustavo chega da rua, com aparência de muito cansaço. Olha desolado para Andréa. Os dois se encaram. Silêncio. Gustavo dá início à conversa.
GUSTAVO       - Andréa, eu/
ANDRÉA         - (corta, seca) Não fala mais nada, Gustavo. É inútil.
GUSTAVO       - Você tem que entender que/
ANDRÉA         - (corta) Por favor, Gustavo! Não torna esse momento ainda mais difícil.
Gustavo olha para o chão. Câmera revela uma mala ao lado do sofá, com todas as roupas dele. Gustavo entende tudo. Percebe que não adianta tentar mais nada. Pega a mala.
GUSTAVO       - Se é isso que você quer...
Gustavo vai saindo com a mala, muito triste. Andréa não olha para ele. Tenta conter as lágrimas. Gustavo sai e fecha a porta. Andréa não aguenta mais e desaba no sofá, chorando muito. Câmera fecha no rosto sofrido dela. Fusão:

CENA 23. APTO ROSÁLIA. SALA. INTERIOR. DIA.
Abre em Rosália, felicíssima, diante de Letícia, Gustavo, Sofia e Soninha.
ROSÁLIA         - Mas que notícia maravilhosa! Eu sabia que vocês iam acabar se entendendo! (a Sofia) Feliz, minha linda?
SOFIA               - Muito, vó!
ROSÁLIA         - (abraça Sofia) Ô, querida! (a Letícia) Espero que você tenha aprendido a lição! Vê se não estraga tudo outra vez!
LETÍCIA            - Pode deixar, mãe. Eu prometo que vou começar a fazer análise!
GUSTAVO       - Essa foi uma das condições que eu impus pra gente tentar outra vez, Rosália. A Letícia precisa se tratar dessa depressão e aprender a controlar os ciúmes.
LETÍCIA            - Eu prometo que não vou te desapontar.
Os dois dão um selinho.
SONINHA        - Vocês vão voltar pro apartamento antigo?
LETÍCIA            - Vamos, mas antes eu preciso conversar com uma pessoa.
Letícia pensativa. Corta para:
CENA 24. LUGAR BONITO E TRANQUILO. EXTERIOR. DIA.
A mesma paisagem onde Júlio e Letícia conversaram no capítulo 1. Júlio diante de Letícia.
LETÍCIA            - Eu fiz questão de falar com você nesse lugar. Afinal foi aqui que a gente conversou pela primeira vez. Eu tava tão abalada naquele dia e você foi tão gentil comigo, me ajudou tanto! (T) Por favor, Júlio, não fica chateado comigo! Eu gostaria muito de continuar contando com a sua amizade!
JÚLIO               - É claro que eu não tô chateado, Letícia. Só tô um pouco triste, porque no fundo eu tinha esperanças que você pensasse e percebesse que não podia viver sem mim. (T) Eu não vou mentir. Eu ainda gosto muito de você, não dá pra simplesmente ser seu amigo e fingir que nada aconteceu. O que a gente viveu foi muito especial, pelo menos pra mim.
LETÍCIA            - Pra mim também, Júlio. Você foi muito importante na minha vida! Me ensinou a ser uma pessoa mais forte.
JÚLIO               - Eu não acho que depender tanto de alguém como você depende do Gustavo, seja típico de uma pessoa forte.
LETÍCIA            - Se você vai mudar o tom da conversa, acho melhor/
JÚLIO               - (corta) Eu tentei te transformar numa pessoa mais independente, quis mostrar que você não precisava de homem nenhum ao seu lado pra ser uma pessoa realizada, que não é porque o seu casamento acabou, que a sua vida ia acabar também. Pelo contrário. Você podia ir à luta, tentar se realizar de outra maneira, exercendo a sua profissão.
LETÍCIA            - Eu tentei, Júlio. Você sabe que eu tentei.  Não foi nada fácil pra mim, mudar praquele apartamento pequeno, levar aquela vida simples do seu lado! Eu tentei me realizar dando aulas, mas eu percebi que aquilo não é pra mim. Eu não tenho paciência pra aguentar aquelas crianças, eu ficava completamente esgotada depois de um dia inteiro com elas. Talvez se eu tivesse começado mais cedo... (T) Eu sempre fui dona de casa, Júlio. Sempre vivi pra cuidar da minha filha e do/
JÚLIO               - (corta) Sempre viveu em função dos outros, como você mesma me disse uma vez.
LETÍCIA            - Que seja! Eu sempre vivi desse jeito, é muito tarde pra tentar mudar agora.
JÚLIO               - Essa é a maior diferença entre nós dois. Pra mim nunca é tarde pra tentar ser feliz, mesmo que pra isso a gente tenha que dar uma virada radical na vida! Mas você prefere ficar presa a um casamento sem amor.
LETÍCIA            - Eu gosto muito do Gustavo, amo ele.
JÚLIO               - Não ama, não. O Gustavo é só um porto seguro pra você, que tem medo de enfrentar a vida e por isso acha mais conveniente ficar com ele e se agarrar à falsa sensação de felicidade que o conforto te dá. Mas com o tempo você verá que isso não é suficiente.
LETÍCIA            - Você não tem o direito de/
JÚLIO               - (corta) Eu só tô te dizendo a forma como eu enxergo as coisas, Letícia. Eu te agradeço por ter me procurado pra me falar da sua decisão. Isso mostra que você tem pelo menos algum respeito por mim e pela história que nós vivemos juntos. Agora eu me sinto livre pra recomeçar a minha vida com o meu filho, que é a pessoa que eu mais amo no mundo. (T) Eu só lamento por você, que tá jogando fora a única chance que tinha de ser feliz de verdade. Tchau, Letícia.
Júlio se afasta. Letícia o observa, triste. Corta para:

CENA 25. SÃO PAULO. STOCK SHOTS. EXTERIOR.
Takes rápidos da cidade. Passagem de tempo. Legenda: Alguns meses depois. Termina na fachada da casa de Violeta. Corta para:

CENA 26. CASA DE VIOLETA. SALA. INTERIOR. DIA.
Violeta assustada diante de Júlio.
VIOLETA          - Tem certeza, filho?
JÚLIO               - Acabou de dar na televisão, mãe. O Rubens conseguiu fugir do presídio. E o parceiro dele, aquele que ia casar com a Soninha, também tentou fugir, mas acabou baleado pela polícia e morreu.
VIOLETA          - E agora, Júlio? Se esse tal de Rubens tentar fazer alguma coisa com você ou com o Lucas?
JÚLIO               - Eu duvido, mãe. O Rubens tá interessado é em salvar a própria pela. À essa hora ele tá longe. Espero nunca mais ter que olhar pra cara dele.
Violeta continua apreensiva. Corta para:

CENA 27. APTO SONINHA. SALA. INTERIOR. DIA.
Soninha séria com um jornal na mão, olhando uma notícia que não vemos. Letícia ao lado dela.
LETÍCIA            - Não vai falar nada?
SONINHA        - Falar o quê? O Marcelo foi quem procurou isso. Quem mandou entrar pra essa vida?
LETÍCIA            - Você é mesmo uma caixinha de surpresas, Soninha.
SONINHA        - Só deixei de ser boba, Letícia. Homem agora é material descartável, minha filha. Eu só uso e jogo fora! (pega o retrato de Giácomo) Eu te juro diante da foto do Giácomo, que era um santo e que foi o único homem da minha vida que prestou: casamento nunca mais! No way!
Corta rápido para:

CENA 28. CASA DE FESTAS. INTERIOR. NOITE.
Abre no Juiz falando.
JUIZ                  - Eu vos declaro marido e mulher.
Soninha muito feliz, beijando seu novo marido, Inácio (33). Entre os convidados que aplaudem: Letícia, Gustavo, Mila e Rosália, abraçada com um rapaz bem jovem, seu namorado. Depois do beijo, Soninha abraça o noivo, emocionada.
SONINHA        - (em pensamento) Desculpa, Giácomo! Eu juro que tentei resistir.
Corta para:

CENA 29. CASA DE FESTAS. INTERIOR. NOITE.
Plano geral. Câmera explora o ambiente, mostrando todo o luxo da festa. Soninha e Inácio andam cumprimentando os convidados. Imprensa tirando fotos, jornalistas entrevistando os convidados, etc. Câmera vai até Mila, que conversa com uma amiga.
MILA                 - Dessa vez a Soninha tirou a sorte grande! O Inácio é dono de um dos maiores escritórios de arquitetura de São Paulo. Podre de rico, menina!
AMIGA              - Pelo menos dessa vez ela tem certeza que o noivo não tá de olho no dinheiro dela, né?
Câmera sai delas e vai até Letícia e Gustavo. Ele bebe.
LETÍCIA            - Se continuar bebendo assim, vai ficar embriagado.
GUSTAVO       - Já vai começar, Letícia? Será que eu não posso beber um pouco nem na festa do casamento da sua irmã?
Gustavo se afasta, irritado. Nesse momento Letícia vê Júlio, que está chegando. Ele parece muito bem. Os dois se olham. Soninha o vê e vai até ele.
SONINHA        - Júlio, que bom te ver!
JÚLIO               - Você insistiu tanto que eu não podia deixar de vir.
SONINHA        - Eu ia cortar relações se você não viesse. Não é porque você não tem mais nada com a Letícia, que a gente ia deixar de ser amigo. E a dona Violeta?
JÚLIO               - Não pôde vir, mas te mandou um beijo. Ficou cuidando do Lucas.
SONINHA        - Ai, me conta, como é que ele tá?
Júlio e Soninha ficam conversando fora de áudio. Câmera vai até Rosália, que se derrete pra cima do namorado.
ROSÁLIA         - Lua de mel em Veneza. A Soninha que escolheu. Quer ficar longe do Brasil durante a copa. Já pensou, que romântico? Algo me diz que em breve eu e você vamos ter o mesmo destino na nossa lua de mel.
NAMORADO   - É tudo que eu mais quero, amor.
Os dois dão um selinho e se abraçam. Namorado vê uma linda loura ao longe e pisca para ela, que também pisca para ele, de modo a deixar claro que os dois planejam dar um golpe em Rosália. Corta para Gustavo andando meio irritado pela festa. Sem querer, ele esbarra em uma mulher.
GUSTAVO       - Desculpa, eu/
A mulher se vira e Gustavo leva um susto ao ver Andréa, que está mais linda do que nunca. Ela sorri para ele.
GUSTAVO       - Andréa?
ANDRÉA         - Como vai, Gustavo?
GUSTAVO       - Pôxa, você sumiu. Eu não tive mais notícias suas depois que você pediu demissão do escritório. Achei até que tinha mudado de cidade.
ANDRÉA         - (ri) Mudei só de escritório. Eu trabalho com o Inácio, marido da Soninha. Tô construindo a casa onde os dois vão morar. E você e a Letícia, como estão?
GUSTAVO       - (sem entusiasmo) Muito bem. Você...
ANDRÉA         - Eu não tô com ninguém, se é isso que você quer saber. Tô inteiramente dedicada ao trabalho. Mas eu fico feliz por você e pela Letícia.
Os dois continuam conversando. Câmera sai deles e vai até Letícia, que os observa de longe, tentando controlar a raiva. Júlio vem até ela.
JÚLIO               - Tudo bem, Letícia?
LETÍCIA            - Tudo ótimo, Júlio. E você, como vai?
JÚLIO               - Vou levando. Você tá mais linda do que nunca.
LETÍCIA            - (corando) Obrigada. Você também tá ótimo.
JÚLIO               - Vejo que voltar pro Gustavo te fez muito bem. Vocês superaram mesmo a crise?
LETÍCIA            - Completamente. Eu e o Gustavo vivemos às mil maravilhas.
JÚLIO               - Fico feliz por vocês.
LETÍCIA            - Obrigada. Bom, eu vou chamar o Gustavo pra ir embora. Tô com um pouco de dor de cabeça. Acho que bebi demais. (T) Foi muito bom te ver, Júlio.
JÚLIO               - Igualmente.
Os dois se abraçam. Letícia se afasta. Júlio a observa sorrindo. Corta para:

CENA 30. APTO LETÍCIA E GUSTAVO. QUARTO. INTERIOR. NOITE.
Quarto quase totalmente escuro. Apenas um abajur aceso ao lado de Letícia, que lê um livro. Gustavo parece dormir, virado de costas para ela. Câmera vai se aproximando aos poucos. Letícia para de ler o livro e fica pensativa um instante. Olha para Gustavo e se aproxima dele, tentando lhe fazer um carinho, mas desiste ao ver que ele dorme. Letícia bebe um copo d’água. Close de Gustavo, que abre os olhos, pois apenas finge que dorme. Ele fica pensativo. Letícia pega o livro e tenta continuar lendo, mas logo desiste. Está triste e muito pensativa. Câmera se afasta devagar da enorme cama, transmitindo o clima de solidão que os dois sentem, apesar de estarem juntos. Completamente infeliz, Letícia desiste de ler e apaga o abajur. Corta para:

CENA 31. FRENTE DA CASA DE FESTAS. EXTERIOR. NOITE.
Cai uma chuvinha fina. Vários convidados saindo da festa do casamento, entre eles Andréa, muito apressada. Está sem capa e tenta se proteger da chuva com a bolsa. Procura um táxi, muito aflita. Finalmente vê um e faz sinal.
ANDRÉA         - Táxi, táxi!
O táxi para um pouco longe e ela corre até lá, mas se decepciona ao ver que o táxi parou para um homem que ela não tinha visto. É Júlio.
ANDRÉA         - Desculpe, eu não tinha visto você. Pode entrar. Eu procuro outro táxi.
JÚLIO               - (ri) Encontrar um táxi a essa hora com essa chuva não vai ser fácil.
ANDRÉA         - (ligeiramente irritada) Pode ser difícil, mas eu vou tentar.
Júlio continua rindo. Andréa se irrita ainda mais.
ANDRÉA         - Posso saber do que você tá rindo?
JÚLIO               - Você acha que eu ia ter coragem de te deixar nessa chuva? Vai, entra aí! A gente divide o táxi.
ANDRÉA         - (indecisa) Melhor não. Foi você quem chamou e/
JÚLIO               - (corta) Se você não entrar, eu também não vou.
Andréa continua indecisa.
JÚLIO               - Vai logo! (e vendo que ela não se mexe) Tudo bem, se você não quer ir comigo, pode ir sozinha, eu me viro.
TAXISTA          - (irritado) Como é que é, vão entrar ou não?
JÚLIO               - Tá vendo? A Gente vai acabar perdendo o táxi.
ANDRÉA         - Mas é que a gente nem se conhece e/
JÚLIO               - (corta) Ah, o velho papo de não sair com estranhos. Por que todas as mulheres têm que ser tão paranoicas, hein?
ANDRÉA         - Olha aqui, paranoica é a/
JÚLIO               - (corta) Se saber quem eu sou é tão importante assim pra você, não seja por isso. (estende a mão) Meu nome é Júlio. E o seu?
Andréa não resiste e acaba rindo. Pega na mão dele.
ANDRÉA         - Prazer, Júlio. Andréa.
Os dois sorriem um para o outro ainda apertando as mãos.
JÚLIO               - Podemos ir agora, Andréa?
ANDRÉA         - Podemos.
Os dois entram no táxi ainda rindo da situação. A chuva aumenta de intensidade. Música suave toma conta da cena. Na imagem do táxi se distanciando cada vez mais, Fade-out.

FIM.

Perdeu o capítulo anterior? Confira aqui.
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