sexta-feira, 17 de abril de 2015

A magia do anti-heroísmo na ficção



Por Henrique Melo

Em minha postagem anterior aqui no blog, falei um pouco sobe os vilões e o fascínio provocado por esses personagens, tão aclamados pelo público. Mas nem só de maldades versus bondades vive o universo ficcional. Existe uma categoria que dança na corda bamba de sombrinha entre a turma do bem e do mal: a dos anti-heróis.

Ao contrário do arquétipo de herói, proveniente da antiguidade grega e cujos personagens são dotados de grandes virtudes, voltando-se sempre contra o mal provocado pelos vilões e se sacrificando em nome de uma razão nobre, os anti-heróis são personagens mais comuns e que agem movidos por interesses pessoais. Muitas vezes se utilizam de métodos pouco aceitáveis, como vingança, roubo e até homicídio. Mesmo diante disso, recebem a torcida popular e ganham admiradores. 


Não podem ser considerados maus ou vilões devido ao seu lado mais humano. Os anti-heróis carregam traumas do passado, como maus tratos na infância, assassinatos dos pais e por aí vai... Também são carismáticos e têm atitudes heroicas, embora visem, quase sempre, o benefício próprio. Nasce daí o jogo dúbio, que tem rendido ótimas produções ultimamente, tanto na literatura, quanto no Cinema e na TV.


Vejamos alguns exemplos:

Beto Rockefeller


Interpretado por Luís Gustavo na saudosa TV Tupi, o personagem Beto Rockefeller foi o responsável por uma grande revolução nas telenovelas brasileiras. O simplório vendedor de sapatos consegue se infiltrar na alta sociedade paulistana, passando-se por herdeiro de uma das famílias mais ricas e influentes dos EUA: os rockefeller.

Odorico Paraguaçu – O Bem Amado


O prefeito de Sucupira adora levar o seu povo no bico. Abusando de neologismos, Odorico Paraguaçu sempre se utiliza de um discurso pouco compreensível e de sua lábia irresistível. Determinado a inaugurar um cemitério em Sucupira, uma cidade onde ninguém morre, Odorico contrata os serviços de um assassino de aluguel.

Comendador José Alfredo – Império


O último sucesso global no horário nobre, Império, tinha como protagonista o garimpeiro José Alfredo que constrói um verdadeiro império ao se tornar traficantes de diamantes. Além disso, o personagem teve um caso com a cunhada, matou, mentiu e traiu a esposa com uma moça bem mais jovem. Sua (suposta) morte no desfecho do folhetim causou rebuliço nas redes sociais, pois muitos a julgaram “injusta”. 

Walter White – Breaking Bad


De professor de química a traficante, Walter White faz de tudo para se curar do câncer e garantir uma vida segura a sua esposa e filho. Na aclamada série americana, ele chega até mesmo a matar friamente. Mas o público o adora.

Dr. House


O mesmo acontece com o arrogante House, personagem de Hugh Laurie na série homônima. Apesar de salvar muitas vidas a cada episódio, seu mau-humor e ego inflado o tornam deliciosamente insuportável.

Malévola


Na readaptação feita pela Disney em 2014, a personagem-título deixa de ser uma vilã para se tornar a anti-heróina da história. Ao se vingar de seu amor do passado, ela lança uma maldição sobre a filha dele. Anos depois, arrependida do que fez, passa a proteger a garota. 

Amora – Sangue Bom


A protagonista de Sangue Bom passou uma infância difícil nas ruas, sem ter ao menos um par de sapatos para calçar. Após ser adotada por uma atriz decadente, Amora virou o jogo e se tornou uma ambiciosa it girl, humilhando e pisando em todo mundo (com um dos milhares de pares de sapatos de seu closet). 

Sister Jude – Asylum (2º temporada de American Horror Story)


Judy atropelou uma menina enquanto dirigia embriagada e fugiu sem prestar socorro. No manicômio católico de Briarcliff encontrou abrigo e se converteu, tornando-se Sister Judy. Mas seu lado freira está longe da santidade, pois ela é sádica e cruel. Após pagar (com juros) por todos os seus pecados nas mãos da literalmente diabólica Sister Mary Eunice, Judy se arrepende de suas maldades e ajuda Lana Banana, que estava internada injustamente no lugar, a fugir.

Severus Snape – Saga Harry Potter


O ranzinza professor de poções sempre pareceu fazer parte da galera do Lorde Voldemort. Mas no fim da história, descobriu-se que o tempo todo Snape se empenhou para proteger Harry Potter, filho de sua grande paixão da adolescência, das maldades do Lorde das Trevas. 

Jacques Laclair e Victor Valentim


No bem sucedido remake de Ti Ti Ti (2010), pudemos nos divertir com as peripécias de dois canalhas: André Spina, vulgo Jacques Laclair, e seu inimigo de morte Ariclenes Martins, que ficou conhecido nos tabloides de fofoca como Victor Valentim. Enquanto um não tinha o menor talento para ser estilista, se aproveitando de sua amante Jacqueline Maldonado para poder criar modelos fashions, o outro nunca tinha pegado em uma agulha na vida, copiando descaradamente os vestidos que a morada de rua Cecília, a quem passa a ajudar, criava para suas bonecas. 

Atualmente, temos um exemplo de anti-heroína clássica na novela das 21h global, a Inês de Babilônia. Determinada a se vingar de sua amiga de adolescência, Beatriz, que se envolveu com seu pai quando as duas ainda eram jovens e foi responsável por sua prisão. Eu, particularmente, estou aguardando com imensa ansiedade o momento em que Inês irá fazer sua rival pagar pelos crimes que cometeu. E espero que isso movimente a audiência da novela que, até agora, tem se mostrado inexpressiva. 


sexta-feira, 3 de abril de 2015

Por que os vilões nos fascinam?


Por Henrique Melo

Mais uma vez o SBT apostou na reprise de A Usurpadora, contando com a ajudinha de Paola Brachio para bater de frente com O Rei do Gado. Diferentemente da trama arrastada, porém emblemática, de Benedito Ruy Barbosa, o sucesso mexicano é profundamente maniqueísta. Um alívio para aqueles que gostam de se deleitar com as maldades dos vilões, verdadeiros promoters do inferno na vida dos mocinhos.
Embora sejam rudes, perversos e traiçoeiros, os antagonistas sempre acabam caindo no gosto popular. Curiosamente exercem magnetismo sobre o espectador que pode não concordar com suas atitudes, mas adora seus trejeitos, bordões e até mesmo o modo como se vestem. Eles são a válvula propulsora da história, tiram os personagens bonzinhos da zona de conforto e raramente demonstram algum sentimento positivo. Como em qualquer obra de ficção, representam o arquétipo do mal e dão vida ao sentimentos mais doentios da essência humana.


Talvez por isso o fascínio por essa galerinha Team Belezú. Eles conversam com características das pessoas que os assistem, de carne e osso. Ao contrário dos protagonistas, que beiram a chatice com discursos e características pouco presentes na realidade, os vilões retratam as aflições da psique humana que precisam ser sufocadas pelos conceitos de ética e moral.

Todos são passíveis do sentimento de inveja, ciúmes, ganância, obsessão por alguém ou alguma coisa. Por não se sentirem representados pelos heróis das histórias, os espectadores encontram nos vilões os seus ídolos. Mesmo assim, não dá para alimentar sentimentos ruins, e a torcida é sempre para que estes personagens paguem por suas maldades no desfecho de tudo. 

Saindo da televisão e cinema, os vilões ganharam também a Internet. Muitos memes são concebidos através de suas frases memoráveis.

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Como afugentar gente chata com elegância.
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Eles são os donos da cultura mainstream, propagando seu estilo e filosofia de vida. E exercem papel fundamental na dramaturgia, o de lembrar que fazer o mal não compensa, que empurrar pessoas escada abaixo não vai te fazer feliz e que cortar a língua e arrancar os olhos daquele colega chato de trabalho pode não ser o ideal. E, principalmente, que seres humanos são dotados de um lado bom e ruim. 



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