sexta-feira, 8 de abril de 2011

Mergulho na política não esconde limitações de "Amor e Revolução"


Uma boa novela, entre outras qualidades para cair no gosto do público, precisa estar sintonizada com o “espírito do tempo”. Não importa que se passe nos dias de hoje ou no século 18. Basta ser capaz de produzir uma sensação – a de que está tratando de temas próximos, de alguma maneira, ao cotidiano do espectador ou, mais simplesmente, presentes no ar.


Grande investimento do SBT, “Amor e Revolução” conta com esta enorme vantagem. Poucos momentos parecem tão propícios para uma novela ambientada durante os anos mais duros da ditadura militar (1964-1985). Por conta da eleição da presidente Dilma Rousseff, o tema está novamente no ar – assim como esteve, por outras razões, em 1992, quando a Globo exibiu a minissérie “Anos Rebeldes”.
Dilma, como se sabe, participou do combate ao regime numa organização clandestina de esquerda e, por sua atuação, foi presa e torturada barbaramente. Diferentemente do governo Lula, o novo governo dá sinais de que pretende aprovar a chamada Comissão da Verdade, destinada a esclarecer casos de violação de direitos humanos ocorridos durante o regime militar.
Igualmente como “Anos Rebeldes”, “Amor e Revolução” é uma história de amor ambientada nestes anos de chumbo. Mas 2011 não é 1992. Naquele ano, Gilberto Braga foi obrigado a reescrever alguns capítulos a mando do poderoso Boni porque “carregou demais” nas tintas políticas. Hoje, Tiago Santiago parece decidido a, sem perder de vista o “Romeu e Julieta” que imaginou, ir fundo na história política do país.


Essa posição ficou explícita no final do primeiro capítulo, encerrado com o emocionado depoimento da ex-presa política Maria Amélia Teles, cujos filhos, então crianças, a viram ser torturada.


Foi o momento mais impressionante em um capítulo frouxo, que deixou no ar a dúvida se “Amor e Revolução” será capaz, mesmo com todo o vento a seu favor, de seduzir o público.
O texto de Santiago não foi capaz de digerir toda a pesquisa que o embasou. Pareceu, muitas vezes, saído de um livro de história para crianças e, em outras, adotou uma solenidade de discurso de formatura.
Talvez por isso, ou por conta de uma direção pouco inspirada, os atores, em sua maioria, pareciam constrangidos em cena. Apesar do investimento anunciado, as cenas de ação, especialmente as de perseguição aos militantes de esquerda, foram toscas.
Lucia Veríssimo mostrou os seios numa cena romântica e seu companheiro, Licurgo Spínola, foi obrigado a atropelar o bom gosto: “Estamos só nós dois, como Adão e Eva. Vamos pecar no nosso Jardim do Éden”, disse o militante de esquerda para a sua companheira, às vésperas do golpe de 64.
O primeiro capítulo de “Amor e Revolução” foi, enfim, frustrante. Um tema ótimo, num bom momento, não é o suficiente para segurar uma novela.

Texto gentilmente cedido pelo Jornalista Maurício Stycer, repórter especial e crítico do Portal UOL. Publicado originalmente aqui

3 comentários:

  1. agradeço a gentileza do Maurício Stycer! Discordo apenas no que diz respeito à Direção da novela. O Reinaldo Boury, experiente, trabalha dentro do que lhe é possível, não pode fazer milagres!

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  2. Olá!

    Eu achei o texto muito didático, com muitas explicações e informações. Mas, devo admitir que talvez fosse necessário, devido à complexidade do tema.

    No geral eu gostei. Precisamos ver o desenrolar da trama...

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  3. pois é, o didatismo é uma característica do Tiago Santiago, mas ela abusa desse artifício, Marcos!

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