A postagem de ontem sobre a cantora Rosana foi tão bem recebida [para a noooossa alegria! rs], rendendo comentários curiosos, como os postados pelo amigo Marcelo Ramos. De tão detalhistas, achei merecido publicá-los também aqui para que todos possam apreciá-los. Confiram!
Por Marcelo Ramos
Essa historinha de chamar a Rosana de "brega" foi uma armação de um jornalista muito escroto. Alguns jornalistas adoram espinafrar cultura de massa. Antes desse fulanozinho anônimo soltar por aí essa frase, todo mundo respeitava o glamour dessa diva dos anos 80.
Eu também comecei a curti-la com "Do Nada pra Lugar Nenhum". Lembro ainda da cena de "Hipertensão" (1986), novela emotivo psicológica da Ivani Ribeiro. Nessa, a problemática da protagonista foi a cegueira. Era uma companhia de teatro mambembe, tipo "La Commedia dell'Arte", um caminhão cheio de artistas chegava a uma cidade do interior e os artistas tentavam ganhar espaço. Foi o primeiro trabalho do Antonio Calloni na Globo, se não me engano. Ele gostava da estrela da trupe, a Maria Zilda, estreando um visual neo hippie, paz e amor, aplique nos cabelos, quebrando aquela imagem de pantera "femme fatale" que ela imprimiu com a Veronica de "Vereda Tropical". A Renata (Elizabeth Savalla), outra atriz da companhia, de temperamento firme e forte, gostava, platonicamente, do Sandro (Claudio Cavalcanti), mas ele só tinha olhos pra Carina (Maria Zilda). A primeira vez que ouvi os versos "Lembro de quando tudo era doce / Lembro de quando tudo era vivo..." foi numa cena em que a Renata transitava entre os sentimentos de ciúme e ressentimento por Sandro só ter olhos pra Carina e o ódio de gostar tanto dele e não manifestar seu amor. Ela senta numa pedra e põe a mão no queixo, como "O Pensador", de Rodin. "Que música linda, que cena linda!", eu pensei. Não foi grande hit de sucesso em rádios, ouvi a musica uma ou duas vezes apenas. Nunca consegui ter o LP Nacional de "Hipertensão", pois com 11 anos precisava do aval do meu pai para ter ou não determinada trilha de novela. Só havia como ter os LP's originais. No máximo, gravar em fita k7 o LP original que um filho de Deus viesse a comprar. Não tive essa sorte, a trilha de "Hipertensão - Nacional" é uma das que tem músicas mais belas dessa época.
Depois, veio "Nem um Toque" e a Rosana começou a aparecer publicamente, no Xou da Xuxa, no Globo de Ouro, no Cassino do Chacrinha. Lançou um LP, que vendeu igual água de açude lá em Caruaru (risos). Ela usava um penteado bem anos 80: franjinha, mas a dela era despenteada, arrepiada. Parecia um pica-pau. Essa moda da franjinha dos anos 80 custou pra passar. Nesse disco tinha a música-tema da Jocasta (Vera Fischer), mas criança não vê novela das nove, então eu fiquei na onda do videoclipe de "O Amor e o Poder", que foi exibido uma única vez até surgir o You Tube. Foi no Fantástico e o videoclipe havia sido anunciado em jornais, revistas e chamadas na Globo. Ninguém, absolutamente ninguém perdeu essa exibição no Fantástico. Era uma loucura, uma hecatombe, um sucesso que não existe mais hoje por causa do excesso de informação. Não havia movimento nas ruas. Todo mundo viu a única exibição do videoclipe de "O Amor e o Poder" e essa única exibição do clipe, no Fantástico, legitimou a música. A partir daí, todos tinham o direito de ouvir essa música quando quisessem, onde quisessem e quantas vezes quisessem. Não tinha esse negócio de "Rosana é brega" ainda. Ela ficou p. da vida quando começaram a disseminar essa maligna crítica de jornalista bukowskiano escroto. Falou abertamente sobre esse despudor em programas como o da Xuxa - que a amava de paixão, por sinal. O rótulo a tomou de surpresa (a mim, também), no auge da crista da onda.
Brega ou não, todos continuavam ouvindo Rosana pelo mundo afora. Ela lançou um segundo disco, onde repaginou o visual. Era muito nova e bonita ainda pra fazer isso, mas enfim, o LP novo era todo em cores pop, meio vampiresco, com tons fortes de vermelho e preto contrastando. Não me lembro bem, não tenho esse material em casa.
Então, dois anos depois, em 1989, saiu o tema da Carla Marins em outra novela da Ivani Ribeiro: "O Sexo dos Anjos". Só que, dessa vez, a música tocou na novela até a exaustão.
"Não... Eu digo com certeza
Basta olhar as cartas sobre a mesa
Viver é ter a chance da certeza
Você me perdeu e eu me ganhei
Não... Quando não há jeito
Sobra as razões dentro do peito
Tudo se perdeu, tudo foi feito..."
Basta olhar as cartas sobre a mesa
Viver é ter a chance da certeza
Você me perdeu e eu me ganhei
Não... Quando não há jeito
Sobra as razões dentro do peito
Tudo se perdeu, tudo foi feito..."
A Carla Marins era Gigi, uma simplória caixa de supermercado, humilde, sem maquiagem, cabelos compridos e ralinhos. Um rapaz rico vai ao supermercado e se apaixona por ela, começa a assediá-la da maneira mais pura imaginável. Ela corresponde, mas logo sente o perigo de se envolver com um cara de condição social diferente. Vera (Norma Benguell), a bandidona, a mãe do rapaz, era uma ricaça da Zona Sul. Acho que morava num duplex na Gávea. E Gigi era filha de um borracheiro grosseirão, mas boa-praça, feito pelo Stepan. A Vera infernizou, infernizou tanto o casal que eles tiveram de casar escondido e sumir na lua-de-mel pra um balneário turístico no litoral de algum Estado do Sudeste. Adivinhem o que tocou durante todas as cenas românticas e eróticas na lua-de-mel? (Sim, o Irwing São Paulo estava uma gracinha nessa novela, de sunguinha preta, andando de mãos dadas com a Gigi, escondidos da mãe dele, como duas crianças.)
"Não... Eu digo com certeza
Basta olhar as cartas sobre a mesa
Viver é ter a chance da certeza
Você me perdeu e eu me ganhei
Não... Quando não há jeito
Sobra as razões dentro do peito
Tudo se perdeu, tudo foi feito..."
Basta olhar as cartas sobre a mesa
Viver é ter a chance da certeza
Você me perdeu e eu me ganhei
Não... Quando não há jeito
Sobra as razões dentro do peito
Tudo se perdeu, tudo foi feito..."
Essa música é minha predileta de todas as incontáveis músicas de amor da Rosana "cafona, cafonérrima", mas maravilhosa, que atingia nosso coração de primeira. Era "cafona" porque fazia-nos delirar de paixão, fazia a gente se entregar às cenas românticas da novela. Quem não viveu essa fase e está na faixa dos 20 pôde sentir isso em 2010, na adaptação livre de "Plumas & Paetés", onde ela fez o tema de amor de Marcela (Ísis Valverde) e Edgar (Caio Castro), regravando uma faixa romântica da trilha internacional de Cambalacho" (1986). Puderam sentir um pouquinho que o "amor e o poder" dessa "cafona" tem, oculto e timidamente escondido, como boa pisciana que Rosana é. Doce, meiga, adorável, simpática, fala mansa, inteligente, enfim, precisaria de uma dicionário de adjetivos para descrever a Rosana que o público dos fins da década de 80 e começo da década de 90 teve o deleite de aproveitar.
A terceira faixa de novela que consta entre minhas prediletas é "Direto no Olhar", que consta nas listas de temas de personagens como tema da Camila Sintra (Mayara Magri), em "O Salvador da Pátria". Essa novela alcançou índices de IBOPE nunca dantes visto na teledramaturgia. Acredito, por se passar em Tangará, uma cidade fictícia no interior do País e o protagonista foi um matuto analfabeto, o Sassá Mutema (Lima Duarte). Era uma novela de cunho político, como todas que o Lauro César Muniz vinha fazendo na Globo desde "Escalada" (1975). Acho as novelas do Lauro César, sempre feitas pra um público bem masculino, "normal", apesar de reconhecer o valor político que elas impõem à teledramaturgia alienada. Camila era filha de Marina Sintra (Betty Faria), uma política milionária que militava na oposição do governo coronelista da pequena cidade de Tangará, que era dominada pela influência corrupta do político canalha Severo Toledo Blanco (Francisco Cuoco). Severo era o político de maior influência na região. Sérgio (Maurício Mattar) era o filho varão dele e começava a se relacionar com Camila. Num esquema meio "Romeu e Julieta", casam-se escondidos e vão passar a lua-de-mel num hotel na Delfim Moreira, beira-mar do elegantíssimo e aconchegante bairro do Leblon, na orla marítima do Rio de Janeiro.
"Direto no olhar
Te olho bem direto no olhar
Te quero dentro do meu olhar
Enquanto o amor se faz"
Te olho bem direto no olhar
Te quero dentro do meu olhar
Enquanto o amor se faz"
Foi a segunda novela do Lauro César em que a Mayara Magri teve tema cantado pela Rosana. Em "Roda de Fogo" (1986), três anos antes, "Nem um Toque" foi tema de Helena D'Ávila Villar e do jornalista Gilberto (Rodolfo Bottino). Foram duas novelas muito masculinas, com pouco romantismo, nem sei como a Rosana entrou na trilha das duas.
Em 1989 ninguém sabia que ela se chamava "Rosana Fieengo". Eu, com minhas artimanhas, descobri e fui à lista telefônica, li que ela morava num apto na Av. Atlântica e liguei:
- Alô. A Rosana, por favor.
- É ela.
Caí duro e seco pra trás e deixei a deusa deeva poderosa na linha.
Dentre as faixas de novelas, minhas outras favoritas estão nas trilhas nacionais de "Gente Fina" (que foi tema da Nívea Maria) e de "Salomé" (que foi tema da Flávia Monteiro), mas eu não curtia essas novelas e apenas acompanhei a rebarba do sucesso das músicas nas rádios: "Cidadã do Mundo" e "Riscos do Amor", já do segundo LP da Rosana, aquele da capa mezzo vermelho mezzo negro, à la Andy Warhol.
Fotos: Google Imagens
Vídeos: Canal MofoTV / You Tube
Ai, gente... confesso q n curto Rossana nem debaixo do mar, onde n se escuta nada! Nunca curti, nem na época de "como uma deEEEEEEEeeeeeeuuuuuuusa". Mas, a qualidade do texto ficou excelente. Tá de parabéns!
ResponderExcluirBeijos.
kkk ai Paulinha, decepcionado, morto e enterrado com essa tua revelação, rs, mas você tá perdoada!
Excluirkkk ai Paulinha, decepcionado, morto e enterrado com essa tua revelação, rs, mas você tá perdoada! [2]
ExcluirObrigado, Paulinha. Se você viveu a época de Mandala e não curte, é porque não curte mesmo, não é preconceito derivado de opiniões de jornalistas maldosos. Tá perdoada por mim, também.
ResponderExcluirIsaac, meu velho, amey a postagem. Eu avisei, né? Não conseguiria fazer apenas um comentário sobre minha vida entrelaçãda pelos hits ultraromânticos de Rosana Fiengo. Eu avisei que faria um "testemunho de vida", e eis aí. Prometido e cumprido.
adorei tua participação aqui no blog, Marcelo... abração, amigo!
ExcluirRosana era tudo que eu , moderno musicalmente não podia gostar..lembrava dela gordinha cantando disco nos globos de ouro da vida e depois essa enxurrada de canções pra dançar lenta kkkkk eu gostava escondido, menos o amor e o poder que foi banalizada....aquela da cartas sobre a mesa eu adoro , nenhum toque e riscos do amor, que carinhosamente chamo de a gata arranha....por causa de voz de gata dela....agora essas músicas de agora eu abomino...ela virou uma detratora de lindas músicas como lovin you greatest love of all...Marcelo , o texto está mesmo delicioso, mas o seu passe pra escrita é caro, não? poderia ficar no blog, assim, ficando...adorei mesmo, uma delícia de ler.
ResponderExcluirValeu por mais um elogio, Edu! Estou totalmente "síssi" (se sentindo) hehehe!
ExcluirNão me esqueci do seu texto sobre o surgimento dos atores das novelas, não! Ele é muito reflexivo e abre muito espaço para novas ideias sobre a escalação de atores. Estou saindo pra reunião de trabalho agora, mas estou levando-o impresso na minha pasta.
Só não espero acabar por fazer ourto "testemunho de vida" e o Isaac acabar por se sentir obrigado a transformar ocomentário em um novo post (rs)
Show de bola os comentários transformados em post. Em casa tinha as trilhas de "Hipertensão", todo sábado de aleluia lembro daquela novela rs. Os detalhes (amo demais) me fizeram viajar no tempo. Outras maravilhas daquela novela: "Só pro meu prazer", "Sintonia", "Ha ha uh uh" e o personagem do Cláudio Corrêa e Castro botando a gurizada p/ se exercitar. Bem, como o assunto é Rosana e não "Hipertensão", lembro de uma linda que fez parte da trilha de "Rosa Selvagem" (minha mexicana preferida, rsrsrs) "Música e Lágrima". E ainda teve ela de seios a mostra (sem turbinar) desfilando na Mocidade Independente de Padre Miguel no inesquecível "Sonhar Não Custa Nada" em 1992 - ñ tem nada a ver, mas fica o registro. Em fins de 94 e início de 95 voltando a tocar muito nas rádios graças a "Se eu me paixonar" da trilha de "Quatro por Quatro".
ResponderExcluirO comentário tá saindo meio desconexo pq estou digitando num momento de pressa sem condição de corrigir falhas, rs. No mais, valeu muito Isaac por nos apresentar em destaque esse texto do Marcelo (concorodo em tudo que falou a respeito da "Veja").
Ramis,
ExcluirInfelizmente o post ainda não é sobre "Hipertensão", mas essa novela certamente terá um tópico em breve na comunidade no orkut onde eu apresento meu material de pesquisa pra dissertação de Mestrado ("Memória da TV"). Fique atento. Eu também me lembro de muitas cenas da novela com trechos da trilha sonora, mas não cabe desenvolver aqui, né?
Boa lembrança: Vi toda "Quatro por Quatro" na reprise, ano passado, no Viva e nem me lembrei do tema da Tatiana (Cristiana Oliveira), mas essa versão de "When I Fall in Love" nunca fez a minha cabeça. Curto apenas por associar à doce e carismática personagem.
Não pude acompanhar de perto a carreira dela. Mais sempre ouvi minha mãe cantar "Como uma Deusa"rsrs e gostava da musica. E recentemente em Tititi, adorei aquela canção que embalava o romance de Marcela e Edgard, Greatest love of all. Linda musica. E o texto como sempre ótimo.
ResponderExcluirhttp://brincdeescrever.blogspot.com.br/
Lindo amei tudo!
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