HEI DE SER FELIZ TAMBÉM DEPOIS

Por JOSÉ VITOR RACK

DEPOIS é uma canção belíssima que Marisa Monte gravou em seu último disco. Já está com ares de hit popular muito por causa da sua inclusão na trilha sonora da novela das nove da Globo, Avenida Brasil. Toca nas rádios, pessoas a cantarolam durante as tarefas diárias, você a ouve nos alto-falantes do Wal-Mart enquanto faz suas compras.

Quando a ouvi pela primeira vez, via YouTube, cheguei a imaginar que se tratava da regravação de algum sucesso antigo de Roberto e Erasmo que eu não conhecia, achei a linha melódica e trechos da letra com a cara dos amigos de fé irmãos camaradas. Fiquei feliz ao saber que a letra era de Arnaldo Antunes, de quem sou fã.

Numa análise primária, concluimos que DEPOIS é uma música comercial, de fácil comunicação com o público, pop. Não há nada de espetacular em sua condição.

Mas sob reflexão, percebemos o que há de diferente nesta música. E em um aspecto mais amplo, entendemos os motivos que fazem da música o veículo ideal para certas mensagens que tocam corações e transformam vidas, marcam época e induzem transformações nos homens.

Emoldurada por um arranjo deslumbrante e pela voz macia e doce de Marisa Monte, a letra escrita pelo Arnaldo fala de amor sob um aspecto completamente inusitado. DEPOIS é uma canção que mostra uma separação feita de modo amoroso, não egoísta, maduro.

Quero que você seja feliz. Hei de ser feliz também depois.

A letra transmite a quem ouve a poderosa mensagem do amor. O amor real, o sentimento, a essência. Algo que resiste às separações, às brigas, ao orgulho. Na letra, os desenganos, abandonos e tristezas do relacionamento são lembrados sem revanchismo, mas apenas como justificativa para o desfecho. Não é uma mensagem de dor de cotovelo piegas nem algo que sustenta o auto-abandono da depressão. O amor que o Arnaldo prega nesta letra é o verdadeiro e único amor. Todo o resto é apego.

Ouvir esta música com atenção é mais poderoso que ler certos livros de auto-ajuda que se pretendem didáticos.

Você pode sair de um relacionamento, de um emprego, de uma sociedade, de qualquer situação infeliz querendo que quem fica seja feliz e siga seu caminho. Tendo consciência de que o fim não mata absolutamente nada de definitivo.

E de todas as coisas definitivas, desconheço alguma mais definitiva que o amor.

DEPOIS, na voz de Marisa Monte, é a prova definitiva de que boa música sempre terá espaço. E que mais que tchu e tchá, as pessoas querem mesmo é algo de bom em suas vidas, seus ouvidos e corações.

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