sábado, 27 de abril de 2013

Pedido de Ilusão - Capítulo IV



Folhetim de Lucas Andrade

CAPÍTULO 4

CENA 01. HOSPITAL. QUARTO DE DONATO. INTERIOR. DIA.

Continuação imediata da cena anterior. Estela aproxima-se do homem misterioso, cujo nome é Donato.

Donato      - (ansioso) Descobriu algo?
Estela      - Algumas coisas. Mas o seu passado não é digno de ser memorado.
Donato      - Não importa. Eu quero a verdade! Mas antes, eu quero agradecer toda a atenção que você tem me dado. Durante todos esses meses, você sem nem me conhecer, vem me visitar!
Estela      - É que o nosso passado se cruzou num determinado momento. E agora que você está prestes a sair do hospital, preciso que o nosso futuro se cruze também.
Donato      - Como assim?
Estela      - Você me deve uma vida, Donato!

Donato fica ansioso com a descoberta de seu nome e na expectativa para conhecer o seu passado. Corta para:

CENA 02. CASA DE VIRGÍNIA. QUARTO DE CASAL. INTERIOR. DIA.

Amoroso e Virgínia caem na cama, exaustos.

Virgínia    - Uau!
Amoroso     - Nossa, assim você me mata!
Virgínia    - E a vergonha, onde foi parar?
Amoroso     - (dá um beijinho na esposa) Acho que ficou na Sex Shop!

Eles sorriem. Beijam-se novamente e Virgínia levanta. Ouvem um barulho.

Virgínia    - O que foi isso?
Amoroso     - Deve ser o Freddy, chegando do plantão.
Virgínia    - (rindo) Imagina o nosso filho descobrindo que a gente anda frequentando Sex Shop!
Amoroso     - Pior se ele descobre o que a gente faz aqui. E com o quê!
Virgínia    - (maliciosa) Nem comenta! Eu vou dar uma conferida e já volto!

Virgínia levanta, dá um beijinho em Amoroso e o deixa na cama. Sai do quarto. Corta para:

CENA 03. CASA DE VIRGÍNIA. QUARTO DE FREDDY / CORREDOR. INTERIOR. DIA.

Virgínia entra no quarto de Freddy e percebe que ele está no banheiro. Dá uma olhada no quarto e vê o notebook ligado. Vai até o notebook e vê várias radiografias cerebrais. Mexe um pouco mais no computador e encontra uma foto de Yuri. Percebe que o filho está saindo do banho e dirige-se até o corredor, ouvindo a conversa que segue através da webcam entre Freddy e Yuri.

Yuri        - (cam) Ah, tava tomando banho!
Freddy      - (cam) Só o que me faltava, você me ver de toalha pela webcam!
Yuri        - Vai sair?
Freddy      - Tenho que dar uma volta. Semana que vem vou praí, hein!
Yuri        - Não vejo a hora!
Freddy      - Vou acertar com o Lúcio direitinho pra não precisar ir pro hospital.
Yuri        - Acha que vai dar certo?
Freddy      - Confia que vai! Eu preciso muito de ti, Yuri! Muito mesmo!
Yuri        - Não mais do que eu, tenha certeza!

Risos entre os dois. Virgínia não sabe se acredita no que está ouvindo.

Freddy      - Me passa teu endereço de novo, eu anoto aqui!
Yuri        - Ok!

Virgínia percebe que Freddy vai sair do quarto e entra numa das portas do corredor. Ao ver que o quarto está vazio, ela volta ao quarto e anota o endereço de Yuri num outro papel. Corta para:

CENA 04. CASA DE VIRGÍNIA. QUARTO DE CASAL. INTERIOR. DIA.

Virgínia entra no quarto, ainda anestesiada. Amoroso ainda no clima de intimidade.

Amoroso     - Vem logo!
Virgínia    - (séria) Eu tenho uma coisa pra falar contigo, mas pelo amor de Deus, preciso que você seja compreensivo!
Amoroso     - (assustado) O que aconteceu?
Virgínia    - É com o Freddy!
Amoroso     - O que tem o nosso filho?
Virgínia    - (respira fundo) Por favor, ele não sabe que eu descobri. Ele não vai me perdoar se ele souber que eu te contei, mas é demais carregar sozinha isso!
Amoroso     - (sensato) O que está acontecendo, Virgínia?
Virgínia    - O Freddy é gay!

Amoroso fica sem palavras. Olha para Virgínia sem acreditar na revelação.

Amoroso     - O quê?
Virgínia    - Antes de tudo, lembra que ele é nosso filho... Lembra de tudo que ele passou com a Luana/
Amoroso     - (interrompe) Calma aí... Deixa eu assimilar... Como... Como você descobriu?
Virgínia    - Eu ouvi ele falando com um rapaz pela webcam. O nome dele é Yuri, ele mora em Curitiba. Eu anotei o endereço! Olha, eu não sei o que pensar... Eu tô besta!

No clima entre os dois, corta para:

CENA 05. HOSPITAL. QUARTO DE DONATO. INTERIOR. DIA.

Estela demonstra raiva, tristeza e frieza enquanto observa a reação de Donato. São muitos os sentimentos dessa mulher que agora é vítima e algoz de seu próprio destino.

Donato      - Quer dizer que eu me chamo Donato? E que eu acabei com a sua vida?
Estela      - Eu vi você a primeira vez durante... Durante um assalto. Um assalto num posto de gasolina. A minha filha morreu nesse assalto. Foi você!
Donato      - Não! Eu não posso ter causado isso!
Estela      - Pois causou! A vida da minha Luana foi ceifada por sua culpa! Ela só tinha ido abastecer o carro com o namorado e um amigo. Uma estupidez da sua parte, da parte dos homens que estavam contigo... Acabara m com a minha vida!
Donato      - Mas eu não me lembro de nada!
Estela      - Pode não se lembrar do que fez, mas agora nunca mais vai esquecer onde a sua vida está enraizada. Enraizada em cima da minha desgraça! Minha vida que acabou com a morte da Luana, quando meu casamento com o Lúcio foi por água abaixo... Tudo acabou desde aquela noite! Tudo acabou
Donato      - Se eu fui tão cruel com você, porque se dedicou esse tempo todo vindo ao hospital me ver?
Estela      - Como eu já disse, você me deve uma vida! E vai me pagar!

Donato fica sem entender Estela. Corta para:

CENA 06. GRAMADO. EXTERIOR. DIA.

Estela sai do hospital e caminha em direção a um café. O garçom entrega o cardápio e ela observa, na rua, Freddy caminhando ao lado de uma jovem.

Estela      - Não pode ser!

Estela associa a jovem com Luana. Tensão. Corta para:

ABERTURA

CENA 07. GRAMADO. EXTERIOR. DIA.

Estela presta mais atenção na jovem, acredita se tratar de Luana. Vai em direção a Freddy, mas acaba se encontrando com Lúcio no meio do caminho.

Lúcio       - Estela!
Estela      - Lúcio, quem estava com o Freddy? Você viu?
Lúcio       - Calma! O que está acontecendo?
Estela      - Era a Luana! Era a nossa filha, eu vi!
Lúcio       - Estela, você não está bem!
Estela      - Chega de dizer que eu não estou bem! Você já me deixou, você já está morando com a Celina! Quer me impedir agora de recuperar a minha filha?
Lúcio       - Eu vou chamar o Freddy pra conversar com você!
Estela      - Não! Não é o Freddy que eu quero... É a minha filha! É a Luana! Ah, Lúcio, eu estou desesperada! Você não sabe a emoção que eu estou sentindo! A minha filha está viva! Eu vi ela! Preciso avisar a Fabiana! Ela tem que vir, ela é minha amiga, vai me apoiar porque, se depender de você, nunca vou ter apoio na minha vida! Nunca!

Tensão. Lúcio continua impedindo que Estela vá atrás de Freddy e da jovem. Corta para:

CENA 08. SALA DA CASA DE VIRGÍNIA. INTERIOR. DIA.

Amoroso e Virgínia se olham sem saber o que um fala para o outro.

Amoroso     - Não sei com o que eu me surpreendo mais: com o fato da gente ter vergonha de entrar na Sex Shop ou com o fato do meu filho ser gay.
Virgínia    - Eu tenho medo que seja um engano!
Amoroso     - (pensa rápido) Você disse que ele vai se encontrar com o Yuri, não disse?
Virgínia    - Sim, o Freddy vai ir pra Curitiba!
Amoroso     - Ainda bem que você pegou o endereço. A gente vai lá, conhece o rapaz. Quer dizer? Olha só, eu já nem sei o que estou dizendo! O Freddy é um adulto, não tem como a gente impedir esse namoro!
Virgínia    - Verdade. Mas nós dois ir pra Curitiba vai ser estranho. Eu pego o carro, vou pra Porto Alegre, dou um pulo em Curitiba e amanhã tô de volta! O que acha?
Amoroso     - E como eu vou encarar ele? Fingir que eu não sei?
Virgínia    - Ele vai ficar no hospital o dia e a noite toda. Dá bem pra fazer isso. Até porque não quero que meu filho se meta em furada. (pensa) Sabe... você me surpreendeu com a compreensão.
Amoroso     - Não é compreensão. É choque mesmo!

No clima, corta para:

CENA 09. HOSPITAL. QUARTO DE DONATO. INTERIOR. DIA.

Dominique faz alguns exames em Donato.

Dominique   - Amanhã mesmo você já pode sair!
Donato      - E pra onde eu vou?
Dominique   - A assistência social conseguiu uma casa albergue para você. Mas só por uns três dias!
Donato      - E quanto à minha família?
Dominique   - Ainda não temos notícia!
Donato      - E a dona Estela? Ela veio conversar comigo, descobriu quem eu sou.
Dominique   - O que foi que ela te disse?
Donato      - Que eu me chamo Donato.
Dominique   - Ela falou algo mais?
Donato      - (pensa) Não. Mais nada.
Dominique   - Hum... (pensa) Eu já volto!

Dominique sai. Donato fica pensativo. Corta para:

CENA 10. CONSULTÓRIO DE LÚCIO. INTERIOR. DIA.

Lúcio observa algumas tomografias.

Freddy      - (ansioso) Então?
Lúcio       - A literatura médica desconhece um caso como esse. Eu também andei pesquisando!
Freddy      - Acha que vai me ajudar a conseguir o estágio no exterior?
Lúcio       - Não tenho dúvidas. Só fico chateado por deixar meu pupilo ir embora!
Freddy      - Não vai ser por muito tempo!
Lúcio       - Eu sei. Eu tô pensando em colocar o Declan no seu lugar.
Freddy      - (satisfeito) Sério?
Lúcio       - Ele vai se dar bem. E vai poder voltar pra Inglaterra com uma boa bagagem. Esse programa de estágios de vocês é um dos melhores. Intercâmbio é muito bom, a gente precisa trocar figurinhas.
Freddy      - Também acho!
Lúcio       - Mudando de assunto... Estela viu você hoje, cruzando por um café!
Freddy      - O que ela comentou?
Lúcio       - Eu acabei trazendo ela para o hospital. Essa depressão dela me preocupa. Aliás, já deixou de ser apenas depressão há um bom tempo! É uma situação bem complicada!
Freddy      - Eu lamento!
Lúcio       - Ela me disse que viu você e a Luana. Sinceramente, eu não sei até quando ela vai viver atormentada com isso. A Celina estava certa: eu precisava me livrar desse tormento. A melhor coisa que eu fiz, mas eu sinto tanta pena da Estela. No fundo, ela é muito infeliz!

Corta para:

CENA 11. HOSPITAL. SALA DE ESPERA. INTERIOR. DIA.

Dominique chega com um comprimido para Estela.

Dominique   - (entrega) Vai te fazer bem!
Estela      - Porque vocês fazem isso comigo? Que horas a Fabiana vai vir me pegar pra me levar pra casa? Tudo que eu quero é dormir!
Dominique   - Eu posso chamar um táxi, ele te deixa em casa, você toma um banho, descansa...
Estela      - Eu quero a minha filha. Eu vi, ela está viva!
Dominique   - (sensata) Eu vou chamar um táxi!

Corta para:

CENA 12. HOSPITAL / GRAMADO. EXTERIOR. ANOITECER.

Dominique ajuda Estela a entrar no táxi.
Dominique   - Deixa ela no endereço certinho, ok?
O taxista dá segue seu caminho. Estela olha para a cidade, perdida em pensamentos.
Estela      - Não quero ir pra casa, não!
Taxista     - Para onde então?
Estela      - Por enquanto, segue nessa rua!

Corta para:

CENA 13. FACHADA DA CASA DE CELINA. EXTERIOR. NOITE.

Atrás de uma árvore, Estela observa Lúcio estacionando. Da casa, saem Celina e uma jovem com roupa de festa, mas não é possível ver o rosto. Estela está apreensiva. Presta atenção no rosto da menina.

Estela      - (para si) Não pode ser! A Luana! É a minha filha! Ele sempre soube que minha filha estava viva!

Com Estela chocada ao ver Luana ao longe, corta.

FIM DO CAPÍTULO 4

Confira o Capítulo 5 (último) aqui

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