Folhetim de Lucas Andrade
CAPÍTULO 4
CENA 01. HOSPITAL. QUARTO DE DONATO. INTERIOR. DIA.
Continuação imediata da cena anterior. Estela aproxima-se do
homem misterioso, cujo nome é Donato.
Donato - (ansioso) Descobriu algo?
Estela - Algumas coisas. Mas o seu passado não é digno
de ser memorado.
Donato - Não importa. Eu quero a verdade! Mas antes, eu
quero agradecer toda a atenção que você tem me dado. Durante todos esses meses,
você sem nem me conhecer, vem me visitar!
Estela - É que o nosso passado se cruzou num determinado
momento. E agora que você está prestes a sair do hospital, preciso que o nosso
futuro se cruze também.
Donato - Como assim?
Estela - Você me deve uma vida, Donato!
Donato fica ansioso com a descoberta de seu nome e na
expectativa para conhecer o seu passado. Corta para:
CENA 02. CASA DE VIRGÍNIA. QUARTO DE CASAL. INTERIOR. DIA.
Amoroso e Virgínia caem na cama, exaustos.
Virgínia - Uau!
Amoroso - Nossa, assim você me mata!
Virgínia - E a vergonha, onde foi parar?
Amoroso - (dá um beijinho na esposa) Acho que ficou na
Sex Shop!
Eles sorriem. Beijam-se novamente e Virgínia levanta. Ouvem um
barulho.
Virgínia - O que foi isso?
Amoroso - Deve ser
o Freddy, chegando do plantão.
Virgínia - (rindo)
Imagina o nosso filho descobrindo que a gente anda frequentando Sex Shop!
Amoroso - Pior se
ele descobre o que a gente faz aqui. E com o quê!
Virgínia -
(maliciosa) Nem comenta! Eu vou dar uma conferida e já volto!
Virgínia levanta,
dá um beijinho em Amoroso e o deixa na cama. Sai do quarto. Corta para:
CENA 03. CASA DE
VIRGÍNIA. QUARTO DE FREDDY / CORREDOR. INTERIOR. DIA.
Virgínia entra no quarto de Freddy e percebe que ele está no
banheiro. Dá uma olhada no quarto e vê o notebook ligado. Vai até o notebook e vê
várias radiografias cerebrais. Mexe um pouco mais no computador e encontra uma
foto de Yuri. Percebe que o filho está saindo do banho e dirige-se até o
corredor, ouvindo a conversa que segue através da webcam entre Freddy e Yuri.
Yuri - (cam) Ah, tava tomando banho!
Freddy - (cam) Só o que me faltava, você me ver de
toalha pela webcam!
Yuri - Vai sair?
Freddy - Tenho
que dar uma volta. Semana que vem vou praí, hein!
Yuri - Não vejo
a hora!
Freddy - Vou
acertar com o Lúcio direitinho pra não precisar ir pro hospital.
Yuri - Acha que
vai dar certo?
Freddy - Confia que
vai! Eu preciso muito de ti, Yuri! Muito mesmo!
Yuri - Não mais
do que eu, tenha certeza!
Risos entre os
dois. Virgínia não sabe se acredita no que está ouvindo.
Freddy - Me passa
teu endereço de novo, eu anoto aqui!
Yuri - Ok!
Virgínia percebe
que Freddy vai sair do quarto e entra numa das portas do corredor. Ao ver que o
quarto está vazio, ela volta ao quarto e anota o endereço de Yuri num outro
papel. Corta para:
CENA 04. CASA DE VIRGÍNIA. QUARTO DE CASAL. INTERIOR. DIA.
Virgínia entra no quarto, ainda anestesiada. Amoroso ainda no
clima de intimidade.
Amoroso - Vem logo!
Virgínia - (séria)
Eu tenho uma coisa pra falar contigo, mas pelo amor de Deus, preciso que você
seja compreensivo!
Amoroso -
(assustado) O que aconteceu?
Virgínia - É com o
Freddy!
Amoroso - O que
tem o nosso filho?
Virgínia - (respira
fundo) Por favor, ele não sabe que eu descobri. Ele não vai me perdoar se ele
souber que eu te contei, mas é demais carregar sozinha isso!
Amoroso -
(sensato) O que está acontecendo, Virgínia?
Virgínia - O Freddy
é gay!
Amoroso fica sem palavras. Olha para Virgínia sem acreditar na
revelação.
Amoroso - O quê?
Virgínia - Antes de
tudo, lembra que ele é nosso filho... Lembra de tudo que ele passou com a
Luana/
Amoroso -
(interrompe) Calma aí... Deixa eu assimilar... Como... Como você descobriu?
Virgínia - Eu ouvi
ele falando com um rapaz pela webcam. O nome dele é Yuri, ele mora em Curitiba.
Eu anotei o endereço! Olha, eu não sei o que pensar... Eu tô besta!
No clima entre os
dois, corta para:
CENA 05. HOSPITAL. QUARTO DE DONATO. INTERIOR. DIA.
Estela demonstra raiva, tristeza e frieza enquanto observa a
reação de Donato. São muitos os sentimentos dessa mulher que agora é vítima e
algoz de seu próprio destino.
Donato - Quer dizer que eu me chamo Donato? E que eu
acabei com a sua vida?
Estela - Eu vi
você a primeira vez durante... Durante um assalto. Um assalto num posto de
gasolina. A minha filha morreu nesse assalto. Foi você!
Donato - Não! Eu
não posso ter causado isso!
Estela - Pois
causou! A vida da minha Luana foi ceifada por sua culpa! Ela só tinha ido
abastecer o carro com o namorado e um amigo. Uma estupidez da sua parte, da
parte dos homens que estavam contigo... Acabara m com a minha vida!
Donato - Mas eu
não me lembro de nada!
Estela - Pode não
se lembrar do que fez, mas agora nunca mais vai esquecer onde a sua vida está
enraizada. Enraizada em cima da minha desgraça! Minha vida que acabou com a
morte da Luana, quando meu casamento com o Lúcio foi por água abaixo... Tudo
acabou desde aquela noite! Tudo acabou
Donato - Se eu
fui tão cruel com você, porque se dedicou esse tempo todo vindo ao hospital me
ver?
Estela - Como eu
já disse, você me deve uma vida! E vai me pagar!
Donato fica sem
entender Estela. Corta para:
CENA 06. GRAMADO. EXTERIOR. DIA.
Estela sai do hospital e caminha em direção a um café. O
garçom entrega o cardápio e ela observa, na rua, Freddy caminhando ao lado de
uma jovem.
Estela - Não pode ser!
Estela associa a jovem com Luana. Tensão. Corta para:
ABERTURA
CENA 07. GRAMADO. EXTERIOR. DIA.
Estela presta mais atenção na jovem, acredita se tratar de
Luana. Vai em direção a Freddy, mas acaba se encontrando com Lúcio no meio do
caminho.
Lúcio - Estela!
Estela - Lúcio,
quem estava com o Freddy? Você viu?
Lúcio - Calma! O
que está acontecendo?
Estela - Era a
Luana! Era a nossa filha, eu vi!
Lúcio - Estela,
você não está bem!
Estela - Chega de
dizer que eu não estou bem! Você já me deixou, você já está morando com a
Celina! Quer me impedir agora de recuperar a minha filha?
Lúcio - Eu vou
chamar o Freddy pra conversar com você!
Estela - Não! Não
é o Freddy que eu quero... É a minha filha! É a Luana! Ah, Lúcio, eu estou
desesperada! Você não sabe a emoção que eu estou sentindo! A minha filha está
viva! Eu vi ela! Preciso avisar a Fabiana! Ela tem que vir, ela é minha amiga,
vai me apoiar porque, se depender de você, nunca vou ter apoio na minha vida!
Nunca!
Tensão. Lúcio continua impedindo que Estela vá atrás de Freddy
e da jovem. Corta para:
CENA 08. SALA DA CASA DE VIRGÍNIA. INTERIOR. DIA.
Amoroso e Virgínia se olham sem saber o que um fala para o
outro.
Amoroso - Não sei com o que eu me surpreendo mais: com o
fato da gente ter vergonha de entrar na Sex Shop ou com o fato do meu filho ser
gay.
Virgínia - Eu tenho
medo que seja um engano!
Amoroso - (pensa
rápido) Você disse que ele vai se encontrar com o Yuri, não disse?
Virgínia - Sim, o
Freddy vai ir pra Curitiba!
Amoroso - Ainda
bem que você pegou o endereço. A gente vai lá, conhece o rapaz. Quer dizer?
Olha só, eu já nem sei o que estou dizendo! O Freddy é um adulto, não tem como
a gente impedir esse namoro!
Virgínia - Verdade.
Mas nós dois ir pra Curitiba vai ser estranho. Eu pego o carro, vou pra Porto
Alegre, dou um pulo em Curitiba e amanhã tô de volta! O que acha?
Amoroso - E como
eu vou encarar ele? Fingir que eu não sei?
Virgínia - Ele vai
ficar no hospital o dia e a noite toda. Dá bem pra fazer isso. Até porque não
quero que meu filho se meta em furada. (pensa) Sabe... você me surpreendeu com
a compreensão.
Amoroso - Não é
compreensão. É choque mesmo!
No clima, corta para:
CENA 09. HOSPITAL. QUARTO DE DONATO. INTERIOR. DIA.
Dominique faz alguns exames em Donato.
Dominique - Amanhã mesmo você já pode sair!
Donato - E pra
onde eu vou?
Dominique - A
assistência social conseguiu uma casa albergue para você. Mas só por uns três
dias!
Donato - E quanto
à minha família?
Dominique - Ainda
não temos notícia!
Donato - E a dona
Estela? Ela veio conversar comigo, descobriu quem eu sou.
Dominique - O que
foi que ela te disse?
Donato - Que eu
me chamo Donato.
Dominique - Ela
falou algo mais?
Donato - (pensa)
Não. Mais nada.
Dominique - Hum...
(pensa) Eu já volto!
Dominique sai. Donato fica pensativo. Corta para:
CENA 10. CONSULTÓRIO DE LÚCIO. INTERIOR. DIA.
Lúcio observa algumas tomografias.
Freddy - (ansioso) Então?
Lúcio - A
literatura médica desconhece um caso como esse. Eu também andei pesquisando!
Freddy - Acha que
vai me ajudar a conseguir o estágio no exterior?
Lúcio - Não
tenho dúvidas. Só fico chateado por deixar meu pupilo ir embora!
Freddy - Não vai
ser por muito tempo!
Lúcio - Eu sei.
Eu tô pensando em colocar o Declan no seu lugar.
Freddy -
(satisfeito) Sério?
Lúcio - Ele vai
se dar bem. E vai poder voltar pra Inglaterra com uma boa bagagem. Esse
programa de estágios de vocês é um dos melhores. Intercâmbio é muito bom, a
gente precisa trocar figurinhas.
Freddy - Também
acho!
Lúcio - Mudando
de assunto... Estela viu você hoje, cruzando por um café!
Freddy - O que
ela comentou?
Lúcio - Eu
acabei trazendo ela para o hospital. Essa depressão dela me preocupa. Aliás, já
deixou de ser apenas depressão há um bom tempo! É uma situação bem complicada!
Freddy - Eu
lamento!
Lúcio - Ela me
disse que viu você e a Luana. Sinceramente, eu não sei até quando ela vai viver
atormentada com isso. A Celina estava certa: eu precisava me livrar desse
tormento. A melhor coisa que eu fiz, mas eu sinto tanta pena da Estela. No
fundo, ela é muito infeliz!
Corta para:
CENA 11. HOSPITAL. SALA DE ESPERA. INTERIOR. DIA.
Dominique chega com um comprimido para Estela.
Dominique - (entrega) Vai te fazer bem!
Estela - Porque
vocês fazem isso comigo? Que horas a Fabiana vai vir me pegar pra me levar pra
casa? Tudo que eu quero é dormir!
Dominique - Eu posso
chamar um táxi, ele te deixa em casa, você toma um banho, descansa...
Estela - Eu quero
a minha filha. Eu vi, ela está viva!
Dominique -
(sensata) Eu vou chamar um táxi!
Corta para:
CENA 12. HOSPITAL / GRAMADO. EXTERIOR. ANOITECER.
Dominique ajuda Estela a entrar no táxi.
Dominique - Deixa ela no endereço certinho, ok?
O taxista dá segue
seu caminho. Estela olha para a cidade, perdida em pensamentos.
Estela - Não
quero ir pra casa, não!
Taxista - Para
onde então?
Estela - Por
enquanto, segue nessa rua!
Corta para:
CENA 13. FACHADA DA CASA DE CELINA. EXTERIOR. NOITE.
Atrás de uma árvore, Estela observa Lúcio estacionando. Da
casa, saem Celina e uma jovem com roupa de festa, mas não é possível ver o
rosto. Estela está apreensiva. Presta atenção no rosto da menina.
Estela - (para si) Não pode ser! A Luana! É a minha
filha! Ele sempre soube que minha filha estava viva!
Com Estela chocada ao ver Luana ao longe, corta.
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