Por Paulo Lannes
Bolshoi, em russo, significa “grande”. E realmente é grande a fama da escola que leva esse nome. Criado no século XVIII, atrai até os dias um público vasto e fiel. Para o orgulho dos brasileiros, ganhamos uma “sucursal” dessa escola em nosso solo verde e amarelo. Nos anos 90, Joinville foi a cidade escolhida para sediar a única academia de Bolshoi fora da Rússia. E isso por quê? Os russos ficaram admirados com a receptividade do público brasileiro que aplaudiam e pediam por mais e mais turnês pelo país.
Então, não era de se admirar que ao trazerem a trupe do Bolshoi brasileiro (dá para acreditar que podemos falar assim?) para Brasília, houvesse uma fila quilométrica em busca de ingressos para a apresentação. Ainda por cima, o espetáculo em cartaz é o Dom Quixote, um dos clássicos da dança (e da literatura). Como isso não bastasse, esse grande evento é de graça! Veio em comemoração aos dez anos de Ministério do Turismo, instituição decisiva no acordo de trazer a academia para o Brasil.
A polícia foi reforçada e os amigos, ao invés de divulgarem o espetáculo aos quatro ventos, guardaram para si, na esperança de que conseguissem ao menos uma entrada. A compra era feita por CPF da pessoa presente, para não abrir espaço para cambistas e trambiqueiros. Porém, o interessante mesmo é prestar atenção em cada uma das pessoas que estavam na fila.
Eram jovens fardados, idosas, cadeirantes, estudantes skatistas e casais apaixonados, bem arrumados ou não. Encontramos também senhores revoltados com a fila preferencial. “Veja esse jovem bonitinho. E essa linda menina. Quais são os problemas deles?”, dizia agressivo. O pessoal da organização calmamente dizia que cada um será avaliado para receber o ingresso preferencial enquanto os próprios da fila mostravam seus problemas (que não eram tão visíveis). Entre eles, retardo mental e deficiência auditiva. Em outro canto, pessoas gritavam contra um garotinho que furou a fila. “Entrei aqui na fila às 9h30 da manhã, poxa!” dizia uma delas. Já era 13h quando isso aconteceu. Todos declarando a vontade de ter a chance de assistir o Bolshoi nacional. No final, percebe-se que balé não é coisa de menininha e muito menos dança para riquinho degustar. Não é a toa que a dança se mantém como um dos maiores espetáculos mundiais.
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