Convidei o amigo Marcos Silvério a analisar os primeiros capítulos da novela Vidas em Jogo, e ele o fez. Agradeço a gentileza! Confira:
Marcos Silvério é webdesigner, apaixonado por novelas e mantém o Blog News Tv |
Não compreendo como o público, que garantiu audiência recorde ao último capítulo de “Ribeirão do Tempo”, não tenha prestigiado a estreia da sua sucessora. A diferença entre as duas obras é enorme. Sucesso mesmo a nova trama fez na internet, onde mereceu muitos elogios por parte dos tuiteiros e conquistou simpatia nas enquetes de sites especializados.
“Vidas em Jogo” começou começando e foi direto ao que é importante: o drama humano de seus personagens. Não apelou para pirotecnias, termo usado para descrever o que se tornou regra nas novelas globais: sequências no exterior, perseguições implacáveis e tudo mais que visa impressionar o telespectador no intuito de captar sua atenção. Nessa época em que muitos sustentam que a teledramaturgia vive uma crise, alguns acreditam que a falta do drama humano é o que mais tem afastado o telespectador. Nesse aspecto a novela acertou desde o primeiro capítulo e continuou apostando nos seguintes. Ponto positivo.
Nos dois momentos em que apelou para a dita pirotecnia, a novela derrapou. A primeira foi logo na cena inicial, gravada nos Lençóis Maranhenses. A sequência foi desnecessária e terminou com vários erros. Francisco (Guilherme Berenguer) chegou à pé ao casebre e ao fugir de dois bandidos, montou em um quadriciclo que havia sido levado por quem? Na perseguição, após atravessar um banhando que encobria as rodas do veículo, surgiu do outro lado absolutamente seco... Como assim? A segunda derrapada foi na cena que o viciado em jogos de azar Ivan (Silvio Guindane) fugia de seus comparsas. A cena foi longa e incluiu saltos espetaculares de pontes e viadutos. Mas, ao final, quando Ivan, exausto, não conseguiu mais correr e foi capturado, um detalhe pôs tudo a perder: como uma pessoa corre metade do centro do Rio de Janeiro, numa fuga desenfreada, e não tem uma única gota de suor no rosto?
Bem, mas isso são detalhes que não comprometem a obra como um todo. E acontece em todas as novelas: nas últimas duas semanas “Insensato Coração” também contabilizou dois erros do gênero.
Cristianne Fridman garante que em sua novela não há personagem principal, mas que este será o bolão e as mudanças que ele trará na vida de cada um dos dez personagens centrais. Apesar disso, a apresentação desses personagens foi meio confusa. Mais de vinte deles desfilaram pelo primeiro capítulo, e muitos outros apareceram já no segundo. De forma que, até o terceiro capítulo ainda não havia conseguido memorizar o nome de todos, seus laços de parentesco e amizade. Nesse emaranhado, quem mais se destacou foi o cãozinho Zé, que roubou praticamente todas as cenas das quais participou.
Chamou a atenção o entrosamento de boa parte do elenco, que pareceu muito à vontade em seus personagens. Isso é pouco comum nos primeiros capítulos de qualquer novela. Muitos ex-globais, de reconhecida competência, integram os núcleos centrais. As interpretações abaixo da média ficaram mesmo por conta dos atores jovens e alguns que, mesmo com décadas de experiência se especializaram em um único tipo de personagem, como o canastrão Mário Gomes.
Nas primeiras cenas, Beth Goulart parecia pouco à vontade com sua vilã humanizada, mas já a partir do segundo capítulo, incorporou bem a temida dona de uma construtora. Num universo onde a maioria dos personagens se alternará entre o bem e o mal, o destaque ficou mesmo com os politicamente incorretos. A alpinista social de Luciana Braga promete boas cenas, assim como a infiel esposa de Vanessa Gerbelli. O rapaz que tem vergonha da mãe, vivido por Rômulo Arantes Neto e o viciado em jogos de azar, de Silvio Guindane, são bem chatinhos. O machista Adalberto, representado por Luiz Guilherme, também promete despertar o ódio do público.
Do lado dos bonzinhos, sobressaiu Juliana Trevisol, que esteve muito bem nas cenas de dança, área que ela domina, já que foi bailarina do Faustão. Ficou evidente também a química entre ela e Guilherme Berenguer, e deste com a outra ponta do triângulo: a patricinha vivida por Taís Fersoza. Aliás, química também não faltou entre Vanessa Gerbelli e Leonardo Vieira. Promessa de bons romances.
Do ponto de vista técnico, a nova trama da Record pode ser considerada mediana. A bela fotografia incluiu muitos ângulos do Rio de Janeiro até então pouco explorados pelas novelas globais. Por outro lado, a trilha sonora e incidental teve cortes abruptos e desnecessários. A sonorização de “Sansão e Dalila” foi bem melhor. A direção foi muito feliz nas cenas de sexo: sensuais, mas sem apelar para a vulgaridade. Muito bonita também a balada no castelinho da Ilha Fiscal. Os cenários dos núcleos pobres foram bem concebidos, porém os da milionária Regina (Beth Goulart) deixaram a desejar. Normalmente ricaços preferem viver em casas, e não em apartamentos. A mesma observação vale para os figurinos. Como a novela está na primeira fase, às vésperas do Natal, pode ser que algo mude quando a trama aportar nos dias atuais.
Por fim, a abertura da novela: muito bonita, clara, luminosa. Bem cantada e em total sintonia com o tema da história. Talvez um pouco curta demais.
Em se tratando de novela, uma avaliação mais apurada só pode ser feita depois de algumas semanas no ar. Mas, a julgar pelo que foi mostrado nos primeiros capítulos, “Vidas em Jogo” começou bem e tende a crescer quando acontecer o sorteio da loteria e os ganhadores firmarem o pacto que mudará de vez suas vidas.
valeu, Silvério! continuemos na torcida pelo sucesso crescente e contínuo de Vidas em Jogo!
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