Por Eduardo Vieira
Estúpido Cupido, uma novela de Mário Prata que foi ar em 1976, foi uma bela surpresa aos espectadores. Geralmente novelas de época reportavam-se sempre a períodos bem mais longínquos, especialmente aquelas adaptadas de obras da literatura brasileira, veiculadas sempre às 18:00.
Mário Prata trouxe uma surpresa ao horário das 19:00, uma história um tanto autobiográfica que nos leva a sua cidade, a mítica Alburquerque, revista em Bang Bang e em outras de suas obras. Na cidade residem personagens que na época caíram na boca do povo, como a desquitada feita pela bissexta atriz de televisão, Maria Della Costa, e o ator também mais afeito aos palcos, Leonardo Villar, que imprimiam um ar de maior seriedade. Junto a esse polêmico romance, estava a história de Maria Teresa, filha dessa mulher que também tinha um namoro com João, o então galã Ricardo Blat.
Mesmo não sendo uma beleza padrão, Françoise Fourton, com seu charme e sobretudo, talento, nos convencia que ela sim poderia galgar o título de Miss Brasil, o que colocaria a perder o seu romance juvenil. E é nessa expectativa que a já miss Albuquerque e nós passamos toda a novela. Para ilustrar tais romances, também havia a turma dos estudantes que se transformam em motoqueiros e paqueradores que assombravam a cidade. Eles, além de Ricardo Blat, eram interpretados por João Carlos Barroso, Tião Dávila e aquele que roubava todas as cenas, o impagável Mederiques, vivido por um mais versátil, Ney Latorraca. O Personagem fez tanto sucesso que acabou ofuscando o par central. Até arrumaram um amor para o personagem, a linda Betina, vivida por Heloisa Milet, atriz que sempre brilhava em papéis no horário das 19:00, como em Te contei? e em Marrom Glacê.
A novela era uma delícia, em uma época em que podia haver temas engraçados aliados aos mais sérios, que precisavam ser sufocados como por exemplo , pela voz de um personagem louco, Belchior ( Luis Armando Queiroz), que vivia numa praça e criava uma rádio imaginária em momentos de insanidade em que criticava a hipocrisia social, tema igualmente visto por um outro lado, desta vez bem mais cômico, pela figura das fofoqueiras vividas maravilhosamente, por Célia Biar e Kleber Macedo, cujas línguas não poupavam nenhum personagem da novela, nem mesmo as freiras que por sinal também enfrentavam uma crise de valores, pois viviam sob o jugo da temida Madre Encarnacion, uma perfeita Ida Gomes em um dos muitos papéis de freiras em sua carreira. As freiras mais jovens, Elizabeth Savalla e Suely Franco sempre tentavam esconder as diabruras das meninas que não eram tão santas como a madre desejava. Uma cena clássica da novela é a personagem de Suely Franco de hábito aprendendo a dançar o twiste.
O autor fez um painel, como em Os Boas Vidas, de Federico Fellini, desses personagens que sonhavam sair de Albuquerque e ganhar a cidade grande, mostrando todos os ritos de passagem da época, assim como os costumes ingênuos e muitas vezes maldosos de um tempo em que a aparência valia muito mais que a essência.
No final da novela, esta ganha um salto e o que era preto e branco fica colorido... e mostra os principais personagens já no Rio de Janeiro, nos anos 70 da contracultura e com uma ideia metalingüística muito original pra época. Eles vendo o capítulo da novela em que o personagem Caniço (João Carlos Barroso) escrevera, funcionando como um alter-ego do próprio Prata.
Um fato à parte do sucesso da novela foram as duas grandes trilhas sonoras, uma das mais vendidas na história das novelas, com sucessos dos anos 60, como Biquíni de Bolinha Amarelinha, em que até aparecia uma personagem para ilustrar a música, a jovem Ana Maria, vivida por Heloísa Raso até temas mais sérios como Meu Mundo Caiu, de Maysa Matarazzo que ilustrava o romance proibido do viúvo com a desquitada.
Acredito que deveria haver mais idéias de histórias passadas em décadas nem tão antigas, como a década de 70, por exemplo, a década de ouro para essas telenovelas, mas vistas sob o ponto de vista de hoje, como por exemplo, uma história que conte como era feita uma novela naquela época.
Eu tinha a trilha! Quase furei o disco de tanto ouvir rsrsrsrs Não perdia um capítulo e daria tudo prá rever!
ResponderExcluirTexto super detalhista, repleto de informações interessantes e belas lembranças da emblemática novela Estúpido Cupido! Gostei bastante Eduardo: é daqueles textos que, além de informativos, aguçam a curiosidade acerca do assunto tratado.
ResponderExcluirEstúpido Cúpido é uma novela que pelo visto marcou bastante quem a vivenciou nos anos 70, sempre ouço relatos carinhosos e apaixonados de quem a viu; deve ter retratado muito bem os costumes e a juventude dos anos 60.
É uma pena que tenha poucos registros dela na internet, e boatos de que não está preservada adequadamente nos arquivos da Globo, restando apenas alguns trechos.
Parabéns Eduardo, continue compartilhando conosco suas memórias televisivas!
O Eduardo é um profundo conhecedor dos clássicos da nossa teledramaturgia, e desta vez, nos presenteia com esse texto magnífico sobre Estúpido Cupido... ratifico o comentário do Lip. Valeu, Edu, que venham outros com a mesma qualidade!!!
ResponderExcluirSÓ ERROU NA DATA,ESTÚPIDO CUPIDO FOI DE 76
ResponderExcluirGostei do texto pela riqueza de detalhes sobre a novela, muito bom a opinião de quem viveu o período e assistiu Estúpido Cupido.
ResponderExcluirDeve ter sido interessante ver Ney Latorraca num papel não afetado, de galã, e muitos outros atores hoje já consagrados bem novinhos na epoca.
E também já tinha ouvido falar nesses boatos que citaram nos comentários de que Estúpido Cúpido não existe mais completa, triste mesmo uma obra clássica dessas ter sido desgravada, descartada ou sumir nos incêncios. Só resta torcer pra que sejam boatos, já que em 1979 parece ela foi reprisada, conforme consta no site Teledramaturgia - então, pelo menos material para lançar em DVD dela pode existir, como aconteceu com Irmaos Coragem.
Muito bem construido seu texto. E a formatação perfeita!
ResponderExcluiré, errei, desculpem a nossa falha...não sei o que me deu ...essa novela tem ainda mais o que ser falado, foi a ascenção de Celly Campello, depois da jovem guarda....no primeiro capítulo aparece o Louzadinha mexendo num gravador...ele desejava se comunicar com sua falecida por meio dele...isso mexia muito com a nossa imaginação rsssss
ResponderExcluirAi, que deu uma saudade dessa novela, Edu!
ResponderExcluirAmei!!!
Beijos.
Ana Paula, essa merecia um remake, né?
ResponderExcluirOlá Isaac, adorei o post!
ResponderExcluirTomara que um dia essa marcante novela volte no Canal Viva ou ainda no Vale a Pena Ver de Novo.
Abraços e boa semana!
Jéfferson Balbino
www.jeffersonbalbino.zip.net
Além de Cassiano Gabus Mendes, Braúlio Pedroso e Silvio de Abreu, o único que me fez parar para assistir uma novela das sete foi Mario Prata. Ainda assim, essa foi a única vez, que ele acertou a mão.
ResponderExcluirAntônio Costa
Texto muito bom sobre esta novela que é símbolo de duas épocas (a retratada por ela e a que teve uma ideia de como tinha sido aquele passado tão recente e ao mesmo tão longínquo) e deixou bastante saudade. Merecia mesmo um remake, e seu autor, Mário Prata, faz falta no rol dos novelistas. Quem conhece suas novelas e suas crônicas sabe bem do que falo. Parabéns, Eduardo! Abraço
ResponderExcluirFrançoise Forton, muito linda perfeita.
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