quarta-feira, 9 de novembro de 2011

GOLPE BAIXO - Novela de David Vallério e Lucas Nobre (2º Capítulo)



CAPÍTULO 2

CENA 01 – Cemitério de São Barreto – Ext – Dia.

Gisele e Zezé caminham pelo cemitério em direção à multidão que está perto do túmulo.

GISELE – Bah, Zezé... (chora soluçando) Seu Tarcísio não merecia morrer daquele jeito.
ZEZÉ – Cada um tem sua hora, minha guriazinha. (abraça Gisele) O Patrão Véio lá de cima quis assim.
GISELE – Seu Tarcísio era como se fosse um pai para mim, o pai que nunca tive.

Zezé fica pensativa, incerta se fala ou não e desfaz o abraço. 

ZEZÉ – Tenho certeza que o Seu Tarcísio tinha estima mui grande por ti. Ele te considerava como uma... (hesita), uma filha mui, pero mui amorosa mesmo, melhor que a Dona Bruna e Seu Francisco por certo. (suspira) Maldito o dia que a Dona Maitê chegou no palacete.
GISELE – Até hoje ninguém me contou porque essas duas viventes se odeiam tanto. São cunhadas, vivem na mesma casa. Chinelagem isso!
ZEZÉ – Isso não é da nossa conta, tchê. Sou uma simples e mera empregada. E tu, uma agregada do palacete.
GISELE – E daí? Mesmo assim não me conformo! Se aquelas duas bruxas não tivessem feito aquele entrevero ontem...que barraco! (chora de raiva) Dona Bruna tem razão quando chama Dona Maitê de cadela siliconada.
ZEZÉ – Cala a boca, guria, mais respeito!

Gisele e Zezé chegam na multidão.

GISELE - (seca lágrimas) Zezé, tu imagina o que Seu Tarcísio queria revelar ontem e não teve tempo?

Zezé desconversa e aponta para a entrada do cemitério. Marcha fúnebre. Aparece o cortejo com Francisco e outras pessoas que carregam o caixão de Tarcísio até o túmulo. Padre (75) se posiciona.

PADRE – Irmãos e irmãs, estamos aqui hoje reunidos para nos despedir do irmão Tarcísio Lima de Menezes. Sua partida repentina deixou enlutada toda a nossa cidade de São Barreto, em especial seu filho Francisco, sua filha Bruna e sua nora Maitê.

GISELE – (para Zezé) E cadê-lhe essas duas?

Zezé responde negativamente. Padre continua o sermão fora de áudio. Gisele olha para o lado e enxega Bruna chegando com vestes simples. Bruna se aproxima do caixão e chora desesperada. Sofrimento. Zezé vai consolá-la. Gisele olha para a entrada.

GISELE – (surpresa) Alapuxa, tchê, o que é aquilo?

Maitê se aproxima lenta e imponente com um vestido de funeral britânico escandaloso. Bruna percebe a presença de Maitê e a encara. Maitê levanta a tela do chapéu que cobre o seu rosto e lacrimeja. Trégua. Maitê faz menção de abrir os braços para Bruna. Bruna se sensibiliza e corresponde. Bruna e Maitê se abraçam. Emoção. Paz.

Corta para:

CENA 02 – Cidade de São Barreto – Ext – Dia

Planos gerais de localização e de passagem de tempo. Corta para:

CENA 03 – Palacete dos Lima de Menezes – Sala – Int - Dia

Bruna, Maitê e Francisco estão com muitos documentos na mesa. Maitê está de vestido. Conversa a meio.

BRUNA – Acho que só falta eu assinar este aqui papelzito aqui...
FRANCISCO – Deixa eu conferir. (t) Ah, tem este também, dá uma conferida e assina.
BRUNA – Bah, bem capaz! Me nego, tô vesga já. Vou assinar direto. (assina documentos) Confio em ti, meu irmão. São tantos documentos e burocracia que acabo ficando mais perdida que cusco em tiroteio.

Gisele entra e entrega uma cuia de chimarrão e uma garrafa térmica para Francisco.

GISELE - Seu chimarrão.
FRANCISCO - Gracias, Gisele.

Gisele e Francisco trocam olhares discretos. Francisco toma o primeiro chimarrão.

MAITÊ – Tô estressadíssima... aposto que se meu sogro soubesse que bater as botas dá tanto trabalho, ele ainda estaria aqui com a gente. (para Francisco) Mas o pior tu não sabe o que euzinha percebi no meio dessa papelada toda?
 FRANCISCO (tenso): - O que?
MAITÊ – Minha unha, momozão!
GISELE – (ri) É mesmo, ando notando que tá um pouquito descascada.
MAITÊ – (desesperada) Bah, Momozão, viu só? Todo mundo tá reparando nisso! Prefiro tá morta do que ter unha mal feita!
FRANCISCO (aliviado) – Momozinha, olha só, com unha pintada pela metade, o que importa é que eu te amo por inteiro minha chinoquinha!

Maitê e Francisco se beijam. Gisele repara que Bruna está distante.

GISELE – Dona Bruna, posso ajudar em mais alguma coisa?
BRUNA – Veja se todas minhas camisas brancas tão engomadas.
GISELE – Vou fazer mais tarde isso porque tenho que.../
BRUNA – (seca) Faça agora! (t) Ah, espera... infelizmente tua festa de 18 anos vai coincidir com a missa de 30 dias do Papai. Não temos clima para isso aqui em casa.
GISELE – (triste) Sim senhora. Dá licença.

Gisele sai. Francisco alcança um chimarrão para Bruna.

BRUNA – Francisco, quando tu volta de viagem?
FRANCISCO – Em poucos dias.
BRUNA – Mas tu volta a tempo para a missa de 30 dias do papai?
FRANCISCO – Por supuesto, né tchê!
BRUNA – Ah, bueno. Menos mal
MAITÊ – Momozão, eu vou contigo e não abro. Preciso renovar meu guardarroupa ur-gen-te!

Bruna deixa a cuia de chimarrão sobre a mesa sai enojada com o diálogo.

FRANCISCO – Não dá, Momozinha. Eu tenho que ir resolver uns negócios que meu pai deixou pendente e entregar essa papelada do inventário. Não quero te deixar sozinha por lá!
MAITÊ - Mas eu vou ficar morrendo de saudades tuas!
FRANCISCO – Eu também. (beija Maitê) Tenho que ir agora. Tchau.

Francisco faz menção de sair. Francisco olha com satisfação para os documentos assinados.

MAITÊ – Momozão!

Francisco se vira e é acertado no rosto pela calcinha de Maitê.

FRANCISCO – (malicioso) De novo?
MAITÊ – (provocante) Nossa, nem tinha reparado que tinha perdido a minha calcinha. Ainda bem que foi tu que achou.
FRANCISCO – (fingindo fúria) Ah, então outros andam achando?
MAITÊ – (fingindo pânico) Não Momozão... é só contigo que eu me descuido e perco as (maliciosa) minhas coisinha
FRANCISCO – Teus pais não te ensinaram a cuidar melhor das suas coisinha?
MAITÊ – Meus pais não me ensinaram nada, mas no colégio de freiras aprendi sim.
FRANCISCO - O que por exemplo?
MAITÊ - Não usar calcinha.
FRANCISCO – Ah, mas vou te ensinar a usar agora. Mas antes...
MAITÊ – Mas antes...?
FRANCISCO – Vou te dar um castigo!
MAITÊ – Oba... adoro levar castigo?
FRANCISCO – Gosta é?
MAITÊ – Sim, (corrige) mas só castigos seus Momozão.
FRANCISCO – Então vou te dar o maior castigo da sua vida... agora!
MAITÊ – Então vamo lá pro quarto?
FRANCISCO – Quarto?

Francisco pega Maitê pelos braços e a joga violentamente para cima da mesa. Cuia de chimarrão cai no chão e esparrama erva-mate. Maitê sorri. Francisco e Maitê começam a transar na mesa da sala. Em um canto próximo dos documentos, vemos que Gisele espia tudo. Francisco olha para o lado e percebe que Gisele está presente. Francisco faz Maitê ficar de costas para ele em cima da mesa e a enloquece.

GISELE - (para si) Essa cadela siliconada não merece o Seu Francisco. Não merece mesmo!

Francisco olha em direção a Gisele novamente. Gisele nota que foi percebida e se esconde das vistas de Francisco. Gisele consegue olhar para os papéis e tenta ler alguma coisa à distância. Francisco tapa a boca de Maitê e os dois chegam ao orgasmo, silenciosos. Vemos Francisco e Maitê se recompondo ao fundo e os papéis em primeiro plano. Gisele não está mais por perto.

Corta para:

CENA 04 – São Barreto – Ext – Dia/Noite.

Planos gerais de localização e passagem de tempo. Série de imagens e dias e noites em sequência. Encerra com imagem da frente da igreja de São Barreto de dia.

Fusão para:

CENA 05 – Igreja de São Barreto – Int – Dia

BRUNA – 30 dias sem papai.
MAITÊ – Olha pelo lado positivo, cunhada. (Bruna estranha) São 30 dias sem peleias no palacete.
BRUNA – É verdade. Com a morte do papai, percebi que algumas coisas que aconteceram no passado devem ser esquecidas, não é mesmo Maitê?

Bruna olha para Maitê. Maitê não dá a mínima atenção para Bruna.

BRUNA – O que foi, cunhada?
MAITÊ – O meu Momozão não chega de viagem nunca. Vai perder a missa!
BRUNA – Poderia parar de chamar meu irmão de Momozão na frente dos outros? Bah, é muito ridículo.
MAITÊ – Mas vou fazer o que se ele é meu Momozão?
BRUNA – Maitê, é por isso que eu e tu nunca nos acertemo. Tu nunca tem noção das coisas!
MAITÊ – (altera voz) Tu que é uma sem noção!
BRUNA – Olha quem tá falando, alguém que fica alterando a voz em uma igreja, (para outras pessoas) não respeita nem a memória do próprio sogro! Baita noção essa que tu tem!

Padre intervém.

PADRE – (para as duas) Dona Bruna, Dona Maitê, por favor.. vamos nos acalmar. Aqui é um lugar sagrado.../
MAITÊ – (para Bruna) Não foge do assunto não cunhadinha, que eu te conheço muito bem há ó... muito tempo! (grita) Tu é uma infeliz porque gostaria de ser uma mulher que nem eu e nunca teve coragem de ir atrás do que quis.
BRUNA – Escuta aqui, tu acha que eu vou ter inveja de ti depois de tudo o que tu fez comigo anos atrás?
MAITÊ – Eu? Mas o que foi que eu fiz que tu sempre vem com esse papinho? (t) Admite logo cunhadinha, tu tem inveja de mim. 
BRUNA – Desde quando eu teria inveja de uma mulher que nem tu: burra, fútil e que não sabe cuidar do próprio marido?
MAITÊ – (grita) Alapuxa, tchê! Alto lá! Pro teu governo eu sei cuidar muito bem do meu marido, meu Mo-mo-zão!.
MARIANTE (65) - (comenta para pessoa ao lado) Imagina se não cuidasse!

A discussão cessa.Silêncio.

MAITÊ – Seu Mariante,  o que foi que tu falou?
MARIANTE – (constrangido) Eu? Nada não...
MAITÊ – Seu Mariante, o senhor é o maior fofoqueiro de São Barreto e do sul do Brasil. Se eu descobrir que o senhor tá sabendo de alguma coisa e não me contou eu juro Seu Mariante, eu juro que eu../
MARIANTE – Tá bom, tá bom... mas ó, eu vou falar porque a senhora tá me obrigando e não porque eu queira falar, ok?
MAITÊ – Fala logo língua de trapo!
MARIANTE - Eu tava vindo pra igreja e vi um carrão de rico que nunca vi aqui por São Barreto chegando a toda velocidade. Estacionou beeem despacito e consegui ver de relance que era Seu Francisco. Daí entrou uma menina com uma mala enorme e os dois pegaram a estrada pra fora da cidade.
MAITÊ – E quem era a sirigaita, cretina, desgraçada, vagabunda?
PADRE – (aponta para o crucifixo) Mais respeito na casa do Senhor!

Mariante disfarça que está tímido para falar.

MAITÊ - Mas que barbaridade, é hoje que eu mato um! (para Mariante, aos berros) Fala, tchê!
MARIANTE – (para Maitê) Era a menina Gisele.

Presentes na Igreja cochicham. Surpresa geral.

MAITÊ – O que? Gisele? Não acredito... céus...
BRUNA – (chocada) Gisele, quem diria... (para Maitê) O que tu vai fazer?
MAITÊ – Vou matar aqueles dois pra fazer churrasquinho na Semana Farroupilha!
MARIANTE – (disfarçando deboche) Daí a senhora vai presa.
MAITÊ – Isso.. isso mesmo... vou dar queixa agora à polícia para prender esses safados!
BRUNA – Queixa do quê sua cadela siliconada?
MAITÊ – Ela é de menor!
BRUNA – Ela era menor de idade. Esqueceu que hoje ela faz 18 anos? Essa você perdeu... cunhadinha!

Corta para:

CENA 06 – Palacete dos Lima de Menezes – Sala – Int – Dia

Bruna e Maitê chegam brigando. Zezé está aguardando junto com Pompeo (48), que veste terno e gravata.

MAITÊ – Quero distância de ti.
BRUNA – Com a senhora guampa que tu levou, é impossível chegar perto de ti! (risos)
ZEZÉ – (interrompe risos de Bruna) Dona Bruna, este senhor quer bater uma prosear com vocês.
POMPEO– Bom dia Dona Bruna, prazer, sou Pompeo Ludifierro.
BRUNA – Olha, seu...?
POMPEO - Pompeo!
BRUNA - Desculpe. Hum... olha só Seu Pompeo, não sei o que traz o senhor aqui, mas chegou em uma hora errada. Acabamos de chegar da missa de 30 dias do meu pai e meu irmão que cuida dos negócios tá fora e... /

Bruna nota que Pompeo olha tudo ao redor sem prestar atenção ao que ela está falando.

POMPEO- Belo palacete! Já estive aqui algumas outras vezes com o seu pai e a senhora.../
BRUNA – (corrige) Senhorita.
MAITÊ – Bota senhorita nisso...
BRUNA – Cala boca cadela siliconada!
POMPEO– Como eu estava dizendo, a senhorita nunca estava por aqui toda vez que eu vinha. Tenho certeza que eu e minha família seremos muito felizes neste lugar.

Bruna, Maitê e Zezé se olham tentando entender.

POMPEO- Mas vejo que as senhoras não retiraram seus objetos pessoais do palacete. Precisam de mais um prazo?
BRUNA – Como é que é?
MAITÊ - Cada louco que me aparece! Nós saindo do palacete, imagina só.
POMPEO– Comprei esse imóvel há três semanas e o antigo dono me disse que hoje estaria tudo desocupado, que não era preciso dos trinta dias.
MAITÊ –Peraí que tem boi na linha! (para Zezé) Meu sogro morreu há um mês, certo?
ZEZÉ - Certo.
MAITÊ - Então como ele pode ter vendido há três semanas este palacete e não ter nos falado nada?
BRUNA – (para Zezé) Será que foi isso que ele queria nos falar naquela noite?
POMPEO– (constrangido) Estranho, ele parece ter sido bem claro na negociação.
MAITÊ – Ele quem?
POMPEO– Deixa eu ver o nome completo dele aqui no contrato de venda, peraí: (coloca os óculos) Francisco? (aproxima o documento) Isso mesmo, Francisco Lima de Menezes!
BRUNA – Peraí, deixa eu ver esse contrato. (t) Sim, é a assinatura do meu irmão.
MAITÊ – Deixa eu ver esse papel. (confere documento) Sim, esta é a assinatura do meu marido, meu Momozão! (para Bruna) Isso quer dizer o que?
BRUNA – Que estamos na rua da amargura!

FIM DO CAPÍTULO 02

E Agora, o que farão Bruna e Maitê?

Façam suas apostas!
GOLPE BAIXO é uma obra aberta e os autores (David Vallério e Lucas Nobre) vão analisar as
sugestões de melhorias e críticas, mas APENAS aquelas feitas no espaço
destinado aos comentários do "Posso Contar Contigo?"


8 comentários:

  1. Muito boa essa ideia da novela. Um espaço para quem gosta de escrever, e para aqueles que querem conhecer novos talentos. Parabéns.

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  2. Xiii o Franscisco não podia ter vendido, ele é casado com a Maite, precisa da assinatura dela... Mesmo que tenha trapaceado a irmã, esqueceu da mulher...

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  3. Vixe, pior que é mesmo... o Francisco é casado como pode vender algo que também é da mulher dele?

    Se bem, Maira, que se ele usou a irmã pode ter feito o mesmo com a esposa. Quer dizer, eu acho.

    Vamo ver, né?

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  4. Fiquei sabendo que esses caras, o David Valério e o Lucas Nobre são alunos do Aguinaldo Silva. Sério isso? Responsabilidade ainda maior, mas até agora tão tirando de letra.

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  5. Adorei o segundo capítulo!
    E o final sempre com ótimos ganchos!
    Parabéns Lucas e David!
    Aguardando o de hoje!

    Abraço


    Fábio Dias
    www.ocabidefala.com

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  6. Eu e o Davi preparando um SENHOR terceiro capítulo. O quarto e o quinto então... apertem os cintos! Maira e Márcia, a dúvida de vocês procede e tenho certeza que posso falar pelo Davi que ADORAMOS que vocês manifestaram isso. Porém, temos uma surpresa para vocês. Aguardem! Ah, Pâmela, sim, eu e o Davi fomos alunos do Mestre (falo esse termo porque é verdade, não de bajulação!) Aguinaldo Silva e aprendemos muito com ele. Espero que vocês estejam curtindo essa nossa webnovela e, se gostaram, que compartilhem em suas redes sociais. Um forte abraço e SIGAM FAZENDO COMENTÁRIOS de todo tipo.

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  7. Gisele faz a linha maldita... Adooooooooro!!!

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  8. "Cadela siliconada": adoro essas tiradas, bem como as futilidades de provocante Maitê! Cena mui caliente a transa na sala com o Momozão, com direito a Gisele de voyeur...
    Continuam ótimas as rivalidades entre Bruna e Maitê, e mais uma vez um gancho bem folhetinesco de prender a atenção para o terceiro capítulo!

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