Atriz, diretora, autora, produtora e diretora de teatro, Sura Berditchevsky cursou jornalismo pela Universidade Federal Fluminense no Rio de Janeiro, trocando essa profissão pela formação com a Maria Clara Machado, no Teatro Tablado, onde começou a estudar em 1970. Em mais de 40 anos de carreira fez também Cinema e Televisão, destacando-se nas novelas Dancin Days, Marron Glacê, Plumas e Paetês e Barriga de Aluguel. Confira o nosso bate papo com a solícita atriz, que foi muito gentil conosco.
Por Isaac Abda e Guilherme Fernandes
Colaboração de Evaldino de Sousa
Isaac Abda – Você é formada em jornalismo, mas sua paixão é mesmo a dramaturgia. O que te levou a cursar uma área tão diferente da escolhida como profissão?
Sura Berditchevsky – Não, não sou. Eu cursei alguns semestres de jornalismo, mas como você disse, a minha paixão é mesmo a dramaturgia, então optei por esta.
Isaac Abda – Atriz, Diretora, Escritora, Produtora e Professora de Teatro. Em que se sente mais realizada profissionalmente?
Sura Berditchevsky – Cada área de atuação do profissional tem a sua devida importância à carreira. Eu me realizo em todas elas.
Isaac Abda – Como professora no Tablado, estiveram entre os seus alunos, algumas atrizes, hoje famosas (Fernanda Torres, Cláudia Gimenez, Denise Fraga), mas que à época, talvez nem tivessem esse objetivo traçado. Qual a sua análise sobre o momento atual em que é cada vez maior o número de jovens interessados em despontar na TV?
Sura Berditchevsky – A área artística é bem ampla. Tem gente nova vindo com força, com vontade de fazer uma carreira bonita não só na TV, querendo abraçar também outras áreas, seja como produtor, diretor, cenógrafo, maquiador, roteirista, enfim. Há também aqueles que querem atuar na Televisão, mas sem depreciar o Teatro, e se preparam para ambos. Mas óbvio, uma grande maioria vislumbra o sucesso rápido, o glamour da profissão, a exposição em massa, a fama. Isto é negativo quando colocado como prioridade.
Evaldino de Sousa – Esse reconhecimento ao artista, imagino, seja importante independente do meio de atuação. O que sente ao lembrar o sucesso?
Sura Berditchevsky – Eu tenho o reconhecimento pelo que faço até hoje, esteja na TV, no Teatro ou no Cinema. Sinto o desejo de voltar a atuar na TV, mas adoro o Teatro e continuo a trabalhar.
em cena do filme Os Sete Gatinhos |
Isaac Abda – O Grupo Teatral Irmãos Flagelo, do qual você é uma das fundadoras, foi pioneiro ao levar espetáculos para a Rua. Mas a época era de repressão. Houve algum enfrentamento à ditadura?
Sura Berditchevsky – Não, não houve. Talvez pelo fato de irmos com pretexto de espetáculo infantil. A Maria Clara Machado foi uma grande incentivadora do grupo, nos apresentamos em festas, escolas e em todas as praças do Rio de Janeiro e periferia. Éramos eu, o Milton Dobbin, o Cacá Mourthé e o José Lavigne (foi também diretor do ‘Armação Ilimitada’ e do ‘Casseta e Planeta’).
Isaac Abda – Você teve oportunidade de conviver com a Maria Clara Machado, Mário Lago, Nelson Rodrigues, Ziembinsky entre outros grandes nomes da dramaturgia. Quais as lembranças dessa época?
Sura Berditchevsky – Pessoas importantíssimas na minha formação, e que tornaram possível eu perceber que realmente queria essa carreira. A Maria Clara foi uma mãe pra todos nós, em especial a mim e a Louise Cardoso. Iniciamos como professoras de teatro pelas suas mãos. Ela nos incentivava a não pensar no fracasso, “o fracasso dá caráter”, dizia. Estive com ela até os seus últimos momentos de vida. Guardo boas lembranças.
Sura Berditchevsky – Pessoas importantíssimas na minha formação, e que tornaram possível eu perceber que realmente queria essa carreira. A Maria Clara foi uma mãe pra todos nós, em especial a mim e a Louise Cardoso. Iniciamos como professoras de teatro pelas suas mãos. Ela nos incentivava a não pensar no fracasso, “o fracasso dá caráter”, dizia. Estive com ela até os seus últimos momentos de vida. Guardo boas lembranças.
a saudosa Maria Clara Machado |
Evaldino de Sousa – O público (nós, inclusive) também guarda muitas recordações de suas atuações na TV. Que tipo de personagem te traria de volta às novelas?
Sura Berditchevsky – Sou atriz, gosto do que faço, então não vejo problema algum em voltar às novelas. Uma boa personagem, sem dúvida é um presente a qualquer atriz que se preze.
Guilherme Fernandes – A ‘Vanessa’ foi uma boa personagem. Você foi uma das protagonistas da novela ‘Marron Glacê’ do Cassiano Gabus Mendes. Essa trama é tida como uma das precursoras da chamada “telenovela-comédia”. Contudo, sua personagem era responsável pelos momentos de drama. Como foi fazer essa novela?
Sura Berditchevsky – Foi maravilhoso, tinha tanta comicidade, mas tinha tanto conflito, não era linear. Interpretar a ‘Vanessa’ foi uma experiência muito agradável. ‘Marron Glacê’ foi muito bem sucedida, fico contente por ter participado.
Guilherme Fernandes – Você, como parte do elenco, chegou a observar que estava fazendo algo diferente na TV e que alguns anos depois isso iria virar uma marca registrada do horário das 19h? É possível comparar o humor das telenovelas exibidas hoje, com o das tramas do final da década de 70, início dos anos 80?
Sura Berditchevsky – Não sei se diria “comparação”, mas existe sim certa influência daquilo que se fazia naquela época. O Cassiano Gabus Mendes foi um mestre, sabia fazer, ele foi um dos fundadores da TV brasileira e conseguia atingir ao público. A novela tinha um ibope absurdo, elenco sensacional, só de “feras”. Eu sou de uma época em que o elenco era composto por 80% de atores experientes e 20% de estreantes.
Sura Berditchevsky – Não sei se diria “comparação”, mas existe sim certa influência daquilo que se fazia naquela época. O Cassiano Gabus Mendes foi um mestre, sabia fazer, ele foi um dos fundadores da TV brasileira e conseguia atingir ao público. A novela tinha um ibope absurdo, elenco sensacional, só de “feras”. Eu sou de uma época em que o elenco era composto por 80% de atores experientes e 20% de estreantes.
parte do elenco de Marron Glacê |
Guilherme Fernandes – Ainda na questão do humor nas novelas das 19h, poderíamos afirmar que ‘Plumas e Paetês’, em que sua personagem também teve muito destaque, foi uma radicalização de ‘Marron Glacê’, proposta por Cassiano Gabus Mendes?
Sura Berditchevsky – Não, penso que não. O autor também era o Cassiano, mas numa outra vertente. ‘Plumas e Paetês’ girava em torno do universo da moda, o “merchand”, hoje tão usual nas novelas, começa a crescer.
como a Lídia de Plumas e Paetês |
Isaac Abda – Quais dos trabalhos na TV você destacaria como sendo os prediletos?
Sura Berditchevsky – ‘Dancin Days’ que foi um marco na linguagem das telenovelas, ‘Marron Glacê’ com o seu humor e drama bem dosados, ‘Barriga de Aluguel’, pela proposta diferenciada. Mas cada trabalho tem a sua importância.
Sura Berditchevsky – ‘Dancin Days’ que foi um marco na linguagem das telenovelas, ‘Marron Glacê’ com o seu humor e drama bem dosados, ‘Barriga de Aluguel’, pela proposta diferenciada. Mas cada trabalho tem a sua importância.
Isaac Abda – ‘Barriga de Aluguel’ está sendo reprisada pelo Canal Viva. Você tem acompanhado os capítulos?
Sura Berditchevsky – Sim, gosto de assisti-la, e quando posso vejo às madrugadas. Eu gravei uma participação no programa ‘Reviva’ falando sobre a novela, sobre a ‘Raquel’.
Isaac Abda – A primeira novela da Glória Perez que eu assisti foi ‘Barriga de Aluguel’, um dos trabalhos mais importantes da autora na TV, era muito bem escrita, tramas bem amarradas. Cairia perfeitamente bem no horário das 21h pelo tom da novela. Os núcleos faziam sentido, tinham função. Há ainda algo curioso no núcleo da Vila e que me encanta pelo realismo das cenas. O cenário. Como eram desenvolvidos os trabalhos ali?
Sura Berditchevsky – Não existia o Projac, a Vila funcionava num sítio. Havia também muitas fachadas apenas, eram poucas casas internas, mas de fato, estas davam mais veracidade às cenas. Agora imagine o clima do Rio de Janeiro, aquele calor (risos), mas nos divertíamos, o elenco era prazeroso. Óbvio que tudo era muito mais difícil sem o conforto dos estúdios, nós gravávamos pouco fora dali. Do ponto de vista de produção, o que hoje é feito pelas emissoras de TV é algo mais viável. Mas aquela foi uma experiência que deu certo.
Isaac Abda – O que você tem feito? Fale-nos dos projetos.
Sura Berditchevsky – Eu continuo dando aulas de teatro. E também estou em cartaz com o monólogo ‘Cartas de Amor’, em que atuo e dirijo. ‘Cartas de Maria Julieta e Carlos Drummond de Andrade’ surgiu a partir de um encontro com o Pedro Drummond, neto do Carlos Drummond, quando eu evidenciei o meu desejo de voltar a atuar, e na época eu estava focada na direção de teatro infantil, daí ele fez a sugestão. O monólogo é resultado de correspondências trocadas entre o Carlos Drummond de Andrade e sua filha única, a Maria Julieta, ao longo de seis décadas.
Sura Berditchevsky – Eu continuo dando aulas de teatro. E também estou em cartaz com o monólogo ‘Cartas de Amor’, em que atuo e dirijo. ‘Cartas de Maria Julieta e Carlos Drummond de Andrade’ surgiu a partir de um encontro com o Pedro Drummond, neto do Carlos Drummond, quando eu evidenciei o meu desejo de voltar a atuar, e na época eu estava focada na direção de teatro infantil, daí ele fez a sugestão. O monólogo é resultado de correspondências trocadas entre o Carlos Drummond de Andrade e sua filha única, a Maria Julieta, ao longo de seis décadas.
Isaac Abda – O ‘Posso Contar Contigo?’ agradece a gentileza e deseja a manutenção de sua brilhante carreira.
Sura Berditchevsky – Eu também agradeço a vocês. Sucesso ao Blog.
Fotos: Google Imagens
Blog Sura Berditchevsky
Vídeos: You Tube
Uma materia nota 10, pra um talento e uma personalidade nota 10 . Respeitada Sura Bberditchevsky! PRABÉNS SURA, PARABÉNS AMIGO ISAAC!! ABRAÇOS AOS DOIS, DESDE ARGENTINA!!!
ResponderExcluirEntrevista formidável: perguntas de alto nível e respostas completas e inteligentes por parte da Sura.
ResponderExcluirEstou conhecendo agora com maior maturidade o ótimo trabalhdo da Sura Berditchevsky na TV com a reprise de Barriga de Aluguel e o DVD de Dancin' Days lançado pela Globomarcas. Incrível a versatilidade da atriz: defendeu muito bem uma moça liberal, moderna em Dancin Days e comoveu como uma mulher madura contida e reprimida pela religião e pela moral em Barriga de Aluguel.
Espero que Sura volte o mais rápido possível à TV: num momento em que o veículo precisa urgentemente de atores sérios, competentes e de verdade, Sura Berditchevsky, com seu profissionalismo e amor à arte da atuação, é mais que bem-vinda, é necessária.
Mais sucesso ainda à atriz no teatro e ficam registrados meus votos de que volte logo à TV num ótimo papel.
Parabéns ao blog por mais uma excelente entrevista.
adorei o que ela falou sobre plumas e paetês, o início do merchand...adorava seu jeito carioquíssimo de falar em Dancin Days, a neta cabeça do Alberico...Marrom Glacê é uma novela que eu guardo muito boas recordações. Também gostei dela em Era uma vez, como a ex do Claudio Marzo. Li o livro da Louise Cardoso e vi a importância que ela teve para o teatro da Maria Clara Machado, o Tablado, que erroneamente, alguns achavam ser apenas um trampolim pra Globo.
ResponderExcluirO Tablado só é considerado 'trampolim para a Globo' por pessoas que não freuquentam o ambiente ou que apenas passam ali pela Lagoa e apontam: "Ali que fica o tablado, o trampolim para a Globo'. Quem convive por lá não se preocupa muito com essa questão. É, na verdade, questão de berço.
ExcluirMuito boa a entrevista, adorei.
ResponderExcluirO isaac, bem que podia continuar visitando meu blog.tem uma postagens la que gostaria que visse, ha e eu ficaria muito feliz, se meu blog fizesse parte da sua lista de blogs, rsrsrs. (como sou cara de pau)
Ate mais, aguardo sua visita em, abraço.
http://brincdeescrever.blogspot.com.br/
Olá, Isaac
ResponderExcluirEscrevi para você no Facebook, mas como não obtive resposta, escrevo aqui novamente. Gosto muito dos textos postados aqui, gosto das novelas e gostaria de lhe dar os parabéns pelo belíssimo blog. Aproveito também para lhe pedir uma orientação. Também sou blogueiro, escrevo diversos gêneros, do infantil ao roteiro e desejo saber como fazer meu blog ficar assim como o seu, com bastante espaços de postagens. São utilizados links com outros blogs? Se puder me dar uma dica de como fazer isso, fico-lhe grato. Ah, aproveito também para convidar você e todas as pessoas deste blog para fazer-me uma visita: www.novelaparaler.blogspot.com
Abraço.
Carlos
Sempre fui, mas lendo a entrevista fiquei ainda mais interessado em como foram essas duas experiências fazendo papel de destaque em duas novelas seguidas do Cassinao, no seu clássico horário das sete. Cassiano é chamado por alguns de 'O Mago das Sete', numa referência ao título dado a Janete de Clair de 'Nossa Senhora das Oito'.
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