Texto:
Vinícius Sylvestre
Criticado
em outros tempos, o remake nunca teve tanta força como agora. Para os mais
pessimistas, a safra recorde de novas versões de novelas de sucesso representa
a falência da criatividade ou, pior, a não renovação dos talentos. Mas tramas
originais como Avenida Brasil , Cordel Encantado e Cheias de Charme e
releituras inventivas como Ti-Ti-Ti (2010) estão aí para provar que não é nada
disso.
Há uma certa nostalgia no ar, que se sente nas
redes sociais, na moda vintage e até no sucesso das Spice Girls no encerramento
dos Jogos Olímpicos de Londres, que a novela tratou de captar. Daí as
releituras , como a kitsch O Astro, que Alcides Nogueira escreveu no ano
passado sob a inspiração de Janete Clair, e Ti-Ti-Ti, na qual Maria Adelaide
Amaral que fez o que seria impensável tempos atrás, trazendo de volta Jaques
Leclair (Alexandre Borges) e Victor Valentim (Murilo Benício), personagens
criados por Cassiano Gabus Mendes em 1985.
Agora,
no ar, temos Gabriela, de Walcyr Carrasco, a terceira adaptação do livro de
Jorge Amado, Carrossel, no SBT, e Guerra dos Sexos,
de Silvio de Abreu, ele mesmo reescrevendo seu grande sucesso de 1983. Para o
ano que vem, já está programada a nova Saramandaia, e há ainda o projeto de uma
versão de Dancin’ Days. Na TV americana, a despeito do declínio econômico, J.R.
(Larry Hagman) tirou poeira do chapéu e volta a ser um dos personagens do
momento com a nova versão do novelão Dallas, que já sobreviveu 14 temporadas no
ar entre 1978 e 1991.
“Se
um filme ou uma peça teatral podem ter vários remakes, por que não uma
novela?”, questiona Silvio de Abreu em conversa com o blog. “Isso não é falta
de criatividade como muitos gostam de taxar, mas simplesmente o
reaproveitamento de um trabalho que resultou bem no passado e que conserva
ainda aspectos interessantes para o público. Não acredito que haja vantagem ou
desvantagem em se fazer um remake. A história sendo boa, conservando suas
características principais, mas trazendo novidades para não se tornar apenas
uma cópia do que já foi feito, é o que importa”, defende.
Diferentemente
do teatro, onde um texto atravessa o tempo sendo montado e remontado sem
alterações, na teledramaturgia é preciso reescrever uma obra para levá-la
novamente ao ar – com raras exceções reservas às novelas de época. Mais do que
isso, é preciso reinventá-la, como Maria Adelaide fez com Ti-Ti-Ti, juntando
duas novelas de Gabus Mendes (Plumas e Paetês era a outra) e criando situações
totalmente novas.
É o
que Silvio faz também com Guerra dos Sexos, cuja nova versão é uma
continuação da trama de 1983. Os protagonistas Charlô (Irene Ravache) e Otávio
(Tony Ramos) são sobrinhos da Charlô de Fernanda Montenegro e do Otávio de
Paulo Autran. O autor vive uma situação curiosa uma vez que, em geral, os
remakes não costumam ser escritos pelo autor do original.
"Em
trinta anos o país mudou, a língua mudou, as gírias mudaram, a relação
homem/mulher mudou e, claro, eu mudei. Incorporar todas essas mudanças no texto
está sendo um excelente exercício de criatividade. O trabalho tem sido cheio de
boas lembranças." Mas o autor procura substituí-las
por novos estímulos. Sílvio é um novelista que gosta de escrever diretamente
para os atores e assim foram concebidos os personagens da primeira versão. Ele
acho justo que o novo elenco tenha de se adaptar ao que foi feito pelo antigo,
então também esta reescrevendo com os novos intérpretes na cabeça, para não
trair a sua nova criação nem desrespeitar o talento dos astros e estrelas que
compõem o remake das 19h. Muitas gags e situações cômicas e dramáticas são
conservadas, mas estão todas sendo reescritas. Por isso tudo, reluta um pouco
em chamar esse trabalho de remake.
Silvio
já brincou que depois de 20 novelas, estaria na hora de entrar numa “fase Ivani
Ribeiro”, um dos grandes nomes da telenovela brasileira, que tratou de reciclar
suas tramas com muito sucesso – A Viagem, a famosa trama espírita de 1994, já
era um remake, da novela que Ivani escrevera na TV Tupi em 1975.
O
remake, é importante dizer, não é coisa exclusiva do nosso tempo, está presente
em toda a história da teledramaturgia. Basta dizer que nos primórdios as tramas
eram criadas a partir de histórias já contadas no rádio. Renovado e aprovado
pelo público, o formato não deve cair em desuso tão fácil. Alguém pode ter
dúvida de que, daqui a uns 10 anos, estaremos assistindo a uma nova versão de
Avenida Brasil?
eu sou a favor de remakes, mas vejo que remakear novelas que vi não tem a maior graça pelo menos pra mim...adorei ti ti ti e anjo mau por conta disso..eram outras novelas, com outros finais, mais adequados à época de hoje. Remakes muito literais acho que ficam com cheiro de naftalina, vide Irmãos Coragem, Selva de Pedra, A viagem( talvez eu seja o único não tão fã da novela) mas há coisas maravilhosas já feitas como da própria Ivani, a Gata Comeu pois existia uma relação de curiosidade de uma trama que eu mal me lembrava. infelizmente remakes literais como Paraíso e Guerra dos sexos apesar de terem seu charme me dá uma sensação de reprise piorada. Sou a favor de remakes sim, mas atualizados. E ainda espero por uma terceira versão de A Barba Azul, novela que eu amo.
ResponderExcluirGosto de remakes, de poder assistir novelas que eu só ouvia falar, com um novo elenco e de preferência não totalmente iguais as originais. Amei TITITI, uma das novelas que mais gostei até hoje. Acho que Guerra dos Sexos ainda vai "se encontrar" e ser sucesso também. Gosto também da renovação de autores, que traz frescor às tramas; nada contra os autores já consagrados, mas já tô cansada de "helenas" na tv.
ResponderExcluirpetalasdeliberdade.blogspot.com
Eu gosto de remakes inteligentes, criativos, como aconteceu com TITITI. Eu acho que GUERRA DOS SEXOS é um grande equívoco, pois não existe mais aquela guerrinha entre homens e mulheres. A novela foi icônica e reescrevê-la tem que ser muito acima do que foi apresentado, imagine reescrever ROQUE SANTEIRO? Quem faria a Porcina? Irene Ravache é uma excelente atriz, mas a Charlô da Fernanda era maravilhosa! Lucélia Santos com a sua Carolina, Bianca Bin sofre para interpretar... Gosto da versão de GABRIELA do Walcyr, apesar das críticas. Enfim, vamos fazer remakes, mas muito cuidado na escalação e na contextualização das tramas.
ResponderExcluirNão estou curtindo os primeiros capítulos de Guerra dos Sexos, mas torço pra que a direção encontre o tom "ideal" pra novela.
ResponderExcluirBem vindo ao blog, querido... Excelente análise. Até a próxima!