por Júlio César Martins
Gisele Joras e Edson Spinello, autora e diretor de "Balacobaco" |
Duas marginais
adolescentes roubam um carro, levando consigo a moça que estava no banco do
carona. Elas agridem e ameaçam a jovem que, desesperada, se atira para fora do
carro em movimento, em plena Avenida Presidente Vargas. A moça sobrevive, e as
assaltantes perdem o controle do veículo, causando um acidente de pouca
gravidade. As marginais são delatadas pela vítima e ficam um ano presas em um
reformatório, sofrendo toda sorte de humilhações. Obcecadas com a idéia de se
vingar da moça – de quem se consideram vítimas, subvertendo a moral da história
– elas farão de tudo para acabar com a vida da pobre mulher. Esta é – ou pelo
menos parece ser - a trama central de “Balacobaco”, a nova aposta da teledramaturgia
da Record.
“Balacobaco” estreou
com a ingrata tarefa de recuperar a audiência espantada pela antecessora, “Máscaras”.
Elaborada às pressas para conter a vertiginosa
queda de audiência do horário, é notório que a novela não teve o tempo
necessário para maturação. Apesar da trama interessante, o resultado rendeu um capítulo
de estréia confuso, com cenas dispensáveis, diálogos medíocres estruturados a
partir de bajulações, banalidades, bobagens e descrições intermináveis de ações
passadas e personalidades. Personagens superficiais e caricatos que, ao
invés de viverem os dramas que a história precisa contar, passam a maior parte do tempo falando
de si e dos outros.
A Record pecou
na promoção da estréia, com chamadas equivocadas, enaltecendo o tom de comédia
de costumes. Mas não se engane: a novela é composta por um incontável número de
personagens amorais, que de tão absurdos se tornam interessantes. A trama
precisa de pequenos ajustes: visceralidade, diálogos objetivos que privilegiem
a ação e cenas dinâmicas. “Balacobaco” carece de uma narrativa menos
radiofônica e mais cinematográfica – característica que, entre outras, garantiu
o sucesso absoluto de “Avenida Brasil”.
Apesar da
interessante idéia de brincar com a estética de desenho animado, isso é apenas
uma bela cobertura para um bolo de sabor duvidoso. É necessário entender que
novela não pode ser apenas uma avalanche de diálogos piegas. Em muitos momentos, o texto soa inverossímil e subestima
a inteligência do espectador. Queremos assistir a história, mas até o momento – exceto a cena do
acidente – estamos, na maior parte do tempo, ouvindo-a através dos diálogos dos
personagens.
A espinha
dorsal aborda um tema interessante: o medo silencioso que sentimos ao delatar
um criminoso e o estresse posterior provocado pela situação. A doce arquiteta
Isabel (Juliana Silveira) será vítima da vingança das gêmeas más Diva (Bárbara
Borges) e Dóris (Ana Roberta Gualda), duas picaretas de moral distorcida, que
vem a ser filhas da não menos picareta Cremilda (Solange Couto). Diva é
namorada de mais um picareta, o ambicioso Norberto (Bruno Ferrari), que se
corrói de inveja da predileção de sua família pelo irmão de criação, Eduardo (Victor
Pecoraro). Eles são sócios em uma empresa de turismo ecológico, e Norberto não
se conforma de não ser o sócio majoritário. Assim, passa o tempo obcecado em
tirar Eduardo da jogada.
Juliana Silveira, Ana Roberta Gualda e Bárbara Borges |
Por sua vez,
Isabel enfrentará o dissabor de descobrir que o marido Danilo (Roger Gobeth) -
com quem vive um romance cor-de-rosa - é um picareta viciado em jogo, que deve
uma verdadeira fortuna para um cassino, e por conta disso vai deixa-lá em uma
má situação financeira. Como se não bastasse, sua irmã Tereza (Juliana Baroni)
morre e a sobrinha adolescente Taís (Letícia Medina) fica sob sua tutela, e ela terá de lidar
com a situação de aproximar a garota do verdadeiro pai. Em meio a tanta
confusão, ela vai despertar o interesse de Norberto e Eduardo, que, provavelmente, vão disputar sua atenção. Mais um motivo para a gêmea Diva alimentar
ainda mais seu desejo de vingança.
O problema é
que, para compreender essa história, é necessário assistir aos capítulos com
muita boa vontade. O erro maior está no primeiro capítulo, que deveria ter
começado pela sequência do roubo do carro, e não pelo blá blá blá interminável
entre personagens e a picaretice histriônica de Cremilda, personagem de Solange Couto.
Que, aliás, repete a parceria com Silvio Guindane, remetendo-os aos seus
personagens em “O Clone”. Solange repete os berros e os gestos bruscos que a
consagraram doze anos atrás. Resta saber se isso é vantagem ou desvantagem.
Até o momento,
os núcleos da rádio e da pastelaria soam totalmente dispensáveis. Percebo um
excesso de personagens que, ao que tudo indica, só servirão para esvaziar a
força da trama central. Talvez seja mais adequado liberar o elenco para a
produção seguinte.
A propósito, o
Rafael Calomeni não sabe falar. Não entendi praticamente nada do que ele disse.
Apesar de
tudo, “Balacobaco” está longe de ser uma novela desinteressante. Tem muitos
elementos a favor que, adequadamente trabalhados, podem transformar a novela em
um grande êxito da Record. Nós, noveleiros, ficaremos torcendo para que a
autora Gisele Joras e sua equipe consigam afinar o piano o mais rápido possível,
porque a música é boa.
E da próxima vez, que programem a estréia da novela para uma
segunda-feira. A "Tela Quente" é um concorrente menos fidelizado do que
"A Grande Família".
Júlio, você morde e depois assopra, mas gostei dos comentários. Acho muito cedo ainda para se avaliar uma novela e eu fico sempre na torcida pelas produções da Record, pelo investimento e pelos profissionais que ela emprega. Concorda plenamente em relação ao planejamento estratégico, mas, que estratégia? Com bispo no comando da programação, meu caro, o que se esperar?
ResponderExcluirApesar de tudo, eu gostei da novela, dos personagens principais e acredito que vingue. E torço sinceramente por isso. Obrigado, Lalo! abraço!
ExcluirO problema da Record é a ansiedade. Já que Máscaras ia mal mesmo, fica no ar algumas semanas a mais não faria diferença.
ResponderExcluirNo caso, antecipar "Balacobaco" fez diferença negativamente.
Como você disse, a trama parece não ter tido o tempo certo de maturação.
O conceito estético, que era para ser alegre, ficou confuso. E tenho dúvidas com relação ao horário, por que a história tem jeitão de novela das 19.
Tem muita interferência gráfica nas cenas que acaba nos cansando. Vi uma sequência de carros passando na rua e do nada, surge um pac man e "come" os carrinhos. Fiquei pensando: para que isso?
E no afã de ter globais no elenco, a Record contrata na "por quilo": Vitor Pecoraro, Rafael Calomeni e aquele outro locutor da rádio são muito ruins.
Também acho que a Solange Couto com o Guindane (bons atores), mesmo sem intenção, ficou algo meio requentado de "O Clone".
Mas o maior erro de todos foi lançar a novela numa quinta e na reta final de Avenida Brasil.
Mesmo com toda a divulgação na casa, a estreia de "Balacobaco" passou batida.
Todo mundo só quer saber de Max, Carminha e a turma do Divino.
Uma pena, pois a Gisele Joras tem talento.
Tomara que dê tempo de corrigir os erros e dar a volta por cima.
É incrível a critica contra o ator Rafael Calomeni dá para considerar um pouco de inveja? Sim afinal até agora teve só três capítulos desses três ele apareceu no segundo ainda não deu tempo de mostrar a que veio e mais entendi perfeitamente o que ele falou, será que não sera um problema seu? Me desculpa, mas da a impressão que sim. O ator Rafael vem amadurecendo bem tem muito canastrão Global que vivem elogiando.
ResponderExcluirAtt:Luciene
Ainda não vi nenhum capítulo e os comentários não me estimulam á ver. Confesso que achei interessante as chamadas. Acredito que a trama foi preparada as pressas, e a meu ver a trama possui um exagerado apelo popular. Bom quem sabe não nos surpreendemos né!
ResponderExcluirBelo texto!
http://brincdeescrever.blogspot.com.br/
Crítica profissa , hein? eu também gostei mais do que não gostei, mas tb vejo a trama andando numa corda bamba de tão frágil...também concordo que eles gritam muito( as cenas da Simone Spoladore eu botei no mute, confesso) mas torço pela novela e pela teledramaturgia da Record.
ResponderExcluirTambém estou acompanhando Balacobaco. Seu texto é super bem pontuado... Algo que ainda me incomoda nas novelas da Record é essa necessidade de envolver violência, polícia, em suas tramas. Mas continuo torcendo pela sua teledramaturgia.
ResponderExcluirMuito bom tê-lo conosco, queridão. Até a próxima!
Acho que o grande erro aqui tem sido a aposta única na comédia. Gostei dos capítulos que vi, mas está tudo muito forçado. Precisa dosar mais os capítulos, inserir dramaticidade, romance às cenas e tirar o tom pastelão. Gisele joras fez isso muito bem em "Amor e Intrigas". Torço pela Record.
ResponderExcluirApesar da primeira semana apresentar uma história equivocada a segunda já começa a me agradar, vamos ver o que a trama de Gisele Joras nos reserva!
ResponderExcluirJurandir Dalcin - http://jurandirdalcincomenta.blogspot.com.br/
Acho a trama interessante,mas o que me incomoda é a gritaria,muitas vezes desnecessária nas cenas,principalmente das duas irmãs.Espero que a novela engrene,torço pela Record.Guerra dos sexos,pr exemplo,acho pior do que Balacobaco mas como é um produto "global" tem menos crítica e mais audiencia.O povo acostumou em ligar na Globo e esquece do controle remoto.
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