O texto abaixo foi originalmente postado numa rede social, em formato de comentário sobre a tão criticada passagem da cantora Lady Gaga, pelo Brasil. Não tive dúvida de que poderia ser transformado numa bela postagem aqui no blog. De autoria do amigo Robério Silva, que mais uma vez nos dá a honra. Desde já o agradeço. Divirtam-se! :D
A foto tem sabor de
vingança. Mas após assistir à entrevista dessa pobre moça - que não tem o tino
comercial e empresarial da biscate mor de Detroit - no Fantástico, fiquei
pensando algumas coisas. Não é necessário ficar comparando-a com Madonna.
Primeiro porque a diferença de grandezas é gritante. Segundo e principalmente,
porque Lady Gaga é a voz e a cara de uma outra geração, duas vezes posterior à
de Madonna (lançada para o mundo em 1983, antes de Gaga nascer), 25 anos marcam
a distância entre o surgimento de cada uma.
Madonna, como já disseram, é herdeira da última geração modernista (ou da transição para a coisa pós): conviveu com Warhol, namorou Basquiat, largou uma carreira segura de bailarina via mundo acadêmico, frequentou Studio 54, e com essa bagagem, além de vastas e lendárias aventuras, encarou a cena pop. Sua geração é marcada pela tragédia coletiva da Aids, por conquistas a serem completadas pelas mulheres, e aqui Madonna foi a grande voz que se lançou contra o conservadorismo e reacionarismo acachapantes que surgiram nos anos 80. Sua postura e suas canções não apenas faziam as pessoas dançarem, como faziam com que todos questionassem, ao mesmo tempo em que se divertiam, o estado de coisas. Depois, talvez tenha ido longe demais, navegando em praias que não eram a sua; mas soube recuar e dar a volta por cima, provando como poucos sua longevidade na indústria (concordo que o último disco não seja seu momento mais feliz, mas mesmo assim, ela continua no comando).
Lady Gaga surge em 2008, pós muitas coisas. Conheço pouco a biografia da moça. Implicava, e implico, com o fato de não poder ver seu rosto tal como é - o que já devia ter sido sintomático para mim, afinal. Não gosto daquela história do "Born this way". Preciso explicar? Mas acho "Bad romance" e "Poker face" bobagens saborosíssimas. E só. Pensando nessas coisas, a partir da entrevista no Fantástico, vejo uma moça meio tonta (apesar da "fortuna"... mas é melhor não comparar, rsrsrs), preocupada em se mirar na televisão todo o tempo. Daí me veio o insight: "Lady Gaga é outra geração!".
A geração pós top models, pós histeria da Aids, pós propaganda
como leitura do mundo, pós ascensão dos neopentecostais e outros grupos
conservadores, pós Giulliani na prefeitura de Nova York, pós gangsta rappers,
pós tanta coisa que veio e que passou depois que Madonna surgiu para os olhos e
ouvidos mundiais. A geração de Gaga é a das meninas que fazem operações
plásticas aos 13 anos de idade. Dos meninos, gays ou não, que ficam com a
cabeça torta (e problemas na cervical, imagino) tentando parecer Justin Bieber.
De todos, crianças, adolescentes, jovens e adultos, que ficam aprisionados no
mundo das imagens, da exposição da vida privada e das transformações do corpo
(aqui, Madonna e Gaga se aproximam: se a outrora saudável e viçosa moça de
Michigan transformou-se na encarnação da paranoia pela forma física através de
ashtanga yoga, muita malhação e severas restrições alimentares, a garota de NY
encarna o papel de adolescente problemática, com problemas de peso e de
autoaceitação diante do espelho - daí tanta máscara? - e me parece que é justamente
desse papel que Gaga não consegue se libertar, ao
contrário da camaleônica Madonna, cuja maturidade e evolução nós acompanhamos
em seus videoclipes, filmes e documentários ensaiados).
Gaga tem 26 anos, mas ainda se comporta como uma menina insegura de 13 anos querendo chamar atenção na escola. Muito diferente da fálica, ambígua e assertiva Madonna, que assombrou o mundo na performance de "Like a Virgin", na MTV, em 1985. Lady Gaga tem que tomar muito Neston, se não quiser ser engolida pela máquina, que ela pensa já dominar.
Robério Silva é professor universitário, Doutor em Literatura pela UFF. |
Ai, ai, ai, ulalá!
ResponderExcluireu fiquei decepcionado ao ver a chamada da entrevista com a ga ga, onde ela parecia uma boneca de cera enquanto orepórter falava que ela estaria no programa. Vendo a entrevista, outra decepção....ela falando dos monstrinhos e se mirando toda hora no vídeo....pra quem deve se contentar com a imagem que tem, soa muito fake. De bom, bad romance, que pra mim é um clássico. Lady ga ga tá mal de época mesmo...coitada!!! Madonna foi o último ícone mesmo do mundo pop.
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