quinta-feira, 21 de fevereiro de 2013

Um pouco mais sobre os escritores e seu trabalho insano!

por José Vitor Rack

Eu (de vermelho) e Carlos Lombardi em Fevereiro de 2012 após a entrevista para o filme.

Escrevi o roteiro de um filme que mostra o cotidiano e a vida de quatro autores de telenovelas. O filme está sendo produzido e não sei dizer quando estará na praça.

Para escrever, entrevistamos estes autores. Tomamos parte de seu convívio por algumas horas e ouvimos muitas histórias.

Dá pra resumir o assunto dizendo que escrever é insano.

 Jorge Amado

E quando digo isso não me refiro ao óbvio senso comum de que isso não costuma dar dinheiro além de lhe tornar automaticamente esquisito aos olhos das pessoas ditas normais. Escrever é insano, pois durante o período em que você está ali, em frente ao computador vomitando aquele monte de coisas sobre o teclado, você deixa temporariamente de ter controle sobre o que está pensando.

Você mergulha num fluxo de ideias que vão surgindo diretamente na tela do monitor sem muito filtro. Quantas vezes não reli o que havia escrito sem reconhecer o autor daquilo? É uma espécie de psicografia do inconsciente. Você liga uma chave interior que o conecta a coisas antes adormecidas e nunca sabe o que vai sair dali.

Para quem gosta de escrever por hobby ou para quem identificou no ato de escrever essa deliciosa doença mental incurável, o que posso dizer é que não se deve desistir jamais.

A insistência sempre rende frutos. Neste momento falo de maneira absolutamente geral. Em amplo espectro. Insista em seu texto até ele ficar bom. Estude, pesquise, estude mais, pesquise mais e mais e, quando achar que escreve bem o suficiente, leia ainda mais e estude o dobro. Insista com produtores, editores, leitores até conseguir o que quer. Insista. Seja um cão fiel, defenda seu próprio trabalho e confie nele mesmo quando ele ainda lhe pareça uma merda.

Li certa vez um manual de roteiro que pregava a simplicidade acima de todas as coisas.

Ele dizia que não há nada mais simples e direto do que Shakespeare ou do que a Bíblia Sagrada. Hoje uma afirmação dessas parece estranha, já que o palavreado do teatro de Shakespeare e os enigmas dos evangelhos nos parecem até inacessíveis. Mas em uma perspectiva histórica, dá pra ver que na época se tratavam de textos absolutamente contemporâneos e diretos.


Seja claro em sua proposta. Humor é humor. Romance é romance. Melodrama é melodrama. Não tem muito mistério. Assuma o que quer fazer e faça da maneira mais simples que puder. Não custa lembrar que simples é diferente de simplório.

Seja claro na sua maneira de colocar as coisas e tenha a audácia de ser você mesmo. Você não é Jorge Amado, não é Fellini, não é Janete Clair, não é Albee nem Ibsen. Você é você e deve permanecer assim. Estude, escreva com tenacidade, seja claro e confie no seu jeito de fazer as coisas.

Paulo Coelho não mora na Suíça e ganha com literatura o que muitos não ganharam com petróleo porque resolveu ser erudito e escrever o que a academia curte. Ele é ele mesmo até quando isso significa ser medíocre.

Isso não garante nada. Mas ajuda muito.

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Um comentário:

  1. Ual, texto maravilhoso e estimulante. Principalmente no trecho em que diz "Tenha a audácia de ser você mesmo". Como o Aguinaldo Silva diz: A gente escreve para ser feliz e não para sofrer". Acho que é bem isso, não se prender aos estilos dos grandes escritores, no sentido de ficar se comparando com eles, apenas os tendo como referencia. o Bom é se sentir livre para criar, escrever do seu jeito, sentir prazer em escrever e acreditar no que se escreve.

    Abraços

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