segunda-feira, 11 de março de 2013

Nossos ídolos (não) são os mesmos.



Por Vanessa Carvalho

Assistindo Wall-E (2008, Pixar) fiquei pensando no que anda acontecendo com os heróis e heroínas nos livros e filmes ultimamente. São homens perfeitos demais (Tão perfeitos que chegam à beira do inverossímil) e mulheres desastradas demais, bobas demais para poder ser verdade. Fiquei me perguntando onde estão aqueles heróis imperfeitos (Como o Wall-E) e aquela heroína que, mesmo tendo uma dose de tolice consegue ser encantadora (Como a Eva).

Há algum tempo somos bombardeados por histórias em que as mulheres não conseguem dar um passo sem esbarrar em alguma coisa e homens ricos, misteriosos, lindos, perfeitos... E loucos. 

A mania agora, depois da Saga Crepúsculo (Em que Bella Swan além de não poder dar um passo sem bater em uma árvore, lata, ou cair, ficava com uma insegurança de que Edward Cullen era demais pra ela) temos 50 tons de cinza em que a personagem, além de ter todas as características (ruins) da Bella, é ingênua o suficiente para conseguir ser envolvida nas loucuras de um homem tão inseguro quanto, que só consegue sentir prazer com rituais sadomasoquistas insanos.

Não quero repetir o mesmo texto do Felipe Neto, mas ele tem toda razão. Não é somente em 50 tons que vemos personagens assim. Outra saga que parece que vai fazer sucesso entre a garotada é a saga da Maldição do Tigre. Infinitamente superior a Crepúsculo, a história peca na insegurança exacerbada da personagem principal. Mesmo compreensível que o medo dela seja em decorrência de uma grande tragédia em seu passado, ficar repetindo todas as vezes que determinada personagem não se interessaria por ela, quando vemos claramente o contrário, é pedir demais.

Essa característica feminina ficou nos anos 30, 40, 50, onde princesas como Branca de Neve e Cinderela ficavam esperando um príncipe encantado que a salvaria de uma vida de servidão e tristezas. 

Vendo que a sociedade evoluiu, a Disney tratou de mudar essa característica em suas princesas. Mesmo Cinderela, em seus novos filmes, passa a ter mais atitude. Em A bela adormecida, por exemplo, vemos que Aurora é uma princesa de personalidade, mesmo com sonhos de um grande amor.
Tudo muda a partir de A pequena Sereia. Ariel sonha em conhecer o mundo e no processo acaba se apaixonando. Bela, de A bela e a fera, chega a confrontar a fera em vários momentos da história não abaixando a cabeça a ele. Jasmim é a mesma coisa, querendo uma vida de igualdade, se rebelando contra os costumes do reinado de seu pai.
Fui criada em uma época em que as meninas sonhavam encontrar um Han Solo. Um caçador de recompensas com sérios problemas de personalidade, sem se importar com muita coisa, nem com ninguém, mas que acaba mostrando seu valor... Mesmo que pra isso, não mude essa característica. 

Han Solo é egoísta, ciumento, indiferente a qualquer coisa a sua volta, mas que se apaixona por uma princesa rebelde, mandona, durona e líder de um movimento que tenta derrubar a ordem até então imposta por seu próprio pai (Claro, mesmo que ela não saiba desse detalhe). Ele não era perfeito, nem seu papel era este, e mesmo assim e talvez por isto mesmo, é um dos personagens mais encantadores da história. É fácil se apaixonar por ele. E é muito mais fácil se encantar com ela.

Então fico me perguntando, onde estão esses personagens imperfeitos, mas que trazem tanta emoção quando vistos ou lidos? O que se fez deles? Ter uma personagem que você admira que seja imperfeita, é o autor falar que “Ei, espera, eles não são perfeitos e são amados, então... Você também pode ser assim”.

Mais Leias e Hans e menos Bella Swan e Edwards, Christian Grey e afins. Vivemos em um mundo em que precisamos nos completar um com o outro, se encontramos a pessoa perfeita, dificilmente nos encaixamos a elas. Afinal de contas, só podemos falar que amamos alguém, quando conhecemos seus defeitos e não nos importamos com eles. 

Um comentário:

  1. Adorei o texto, muito bom e verdadeiro, descreve muito bem como está o patamar das história que fazem sucesso atualmente. Quem dera voltarmos para as boas e antigas histórias com personagens de personalidade forte e super carismáticos. Há ainda algumas histórias boas, como Jogos Vorazes, Harry Potter, Percy Jackson que fogem um pouco a essa regra.

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