sábado, 15 de junho de 2013

Revisitando Jorge Andrade e seu Ninho da Serpente

Convidei o amigo Aladim Miguel a relembrar um dos maiores sucessos do dramaturgo Jorge Andrade: Ninho da Serpente. Ele topou . Desde já o agradeço. 


Jorge Andrade (1922-1984) foi um dos maiores dramaturgos brasileiros. Grande nome do teatro, escreveu peças de suma relevância vide A Moratória; Vereda da Salvação; Pedreira das Almas, entre outras. Passou a escrever também para a televisão em 1973, quando estreou na TV Globo, a telenovela Os Ossos do Barão, protagonizada pelo saudoso Paulo Gracindo (1911-1995), e que na verdade era a fusão de duas de suas peças teatrais: Os Ossos do Barão e A Escada. Em 1975, mais uma telenovela que deu o que falar na TV Globo: O Grito, sua repercussão chegou até o Congresso Federal, que considerou a telenovela uma distorção da cidade de São Paulo. Em 1979, teve uma rápida passagem pela TV Tupi, quando escreveu a telenovela Gaivotas, que lhe deu o prêmio de melhor escritor de televisão do ano, conferido pela Associação Paulista dos Críticos de Arte.

Na década de 1980, Jorge Andrade trocou a TV Globo pela TV Bandeirantes. Escreveu Os Adolescentes, em substituição a saudosa Ivani Ribeiro (1916-1995), que se desentendeu com a emissora e deixou a telenovela em suas mãos. Fez ainda Sabor de Mel e Ninho da Serpente, um de seus maiores sucessos em teledramaturgia.

Ninho da Serpente foi exibida em dois horários. Estreou em 05 de Abril de 1982 às 21h15min, depois foi transferida para as 20h, permanecendo até o seu final em 27 de Agosto daquele mesmo ano.

Sua trama era toda centrada na tradicional família paulista Taques Penteado, numa mansão situada no Jardins, bairro nobre de São Paulo. No comando da família estava a poderosa Guilhermina Penteado (belíssimo trabalho da saudosa Cleyde Yáconis (1923-2013), que comandava a todos com braço de ferro. Com a morte de Cândido, irmão de Guilhermina, começa uma grande disputa em família, por uma parcela da fortuna deixada pelo patriarca, que vivia isolado de todos no terceiro andar da suntuosa mansão. Um jogo de interesses, falsidades e falta de escrúpulos dominava os herdeiros, que no intuito de se darem bem tentavam cada vez mais se aproximar de Guilhermina. No final da trama, o enfermeiro Mateus (Kito Junqueira), que cuidou do velho Cândido até a sua morte, foi o beneficiado com a abertura do testamento.


A telenovela teve um bom desempenho na audiência e contou com um elenco de primeira. Destaque para Beatriz Segall, Laura Cardoso, Carmem Silva, Eliane Giardini, Othon Bastos, Selma Egrey, Antônio Petrin, Juca de Oliveira, Imara Reis, Júlia Lemmertz, Raymundo de Souza, Mayara Magri. Também contou com a participação inusitada de Denise Stoklos, figura do teatro, que raramente participa de telenovelas. Ninho da Serpente ganhou reprise entre Março e Setembro de 1991 no período da manhã. Na direção da novela estavam Henrique Martins e Antônio Abujamra.


A trilha sonora nacional contava com grandes sucessos como Atrás da Porta (Elis Regina), Baby (Gal Costa e Caetano Veloso), Como é Grande Meu Amor Por Você (Claudete Soares), As Rosas Não Falam (Emílio Santiago) e Bilhete (Fafá de Belém).
A Internacional trazia Perhaps Love com Plácido Domingo & John Denver, Shine On com George Duke, L'espoir com Richard Clayderman, Wordy Rappingood com Tom Tom Club e Memory com Barbra Streisand.
A novela mereceu uma terceira trilha sonora, esta, dedicada aos temas instrumentais. Músicas clássicas de Beethoven, Chopin, Bach, Shumann e Verdi. Era nessa seleção que se encontrava Yosaku (Kiminori Nanasawa), o misterioso tema de abertura.


Uma baixa muito triste no elenco aconteceu com a morte prematura da atriz Márcia de Windsor (1933-1982), aos 49 anos. Ela sofreu um infarto agudo em um hotel de SP, onde estava hospedada para gravar os últimos cinco capítulos da trama. Toda a sua participação já havia sido gravada antes de sua morte. Uma grande perda para a teledramaturgia brasileira.



Essa telenovela deu um fôlego à produção de dramaturgia da TV Bandeirantes que, infelizmente, até hoje não conseguiu manter-se entre as produtoras de telenovelas no Brasil. Não há sequência de lançamentos, fazendo com que o público perca o interesse em acompanhar suas tramas. Lamentável, porque suas telenovelas sempre foram de muito bom gosto, charmosas e tinham sempre bons temas a serem desenvolvidos em suas tramas.


Aladim Miguel é colaborador na autoria do livro A Hollywood Brasileira - Panorama da Telenovela no Brasil, de Mauro Alencar.
Blogueiro, um dos mais assíduos quando o assunto é teledramaturgia.
Criador do site sobre [em homenagem] a carreira da atriz Lucélia Santos. Veja aqui.

5 comentários:

  1. Vlw Isaac Abda. Muito bom participar do seu blog. Abraços!

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  2. bela matéria. NINHO DA SERPENTE e O GRITO são duas obras primas, que eu, como aspirante a novelista, queria muito fazer um remake. O desempenho de Cleide Yáconis foi brilhante, tal como Márcia de Windsor que tinha um romance velado com um personagem negro, vivido pelo então estreante em novelas, Norton Nascimento, já falecido.

    Uma das cenas mais emblemáticas que esquecestes de citar, foi o assassinato da personagem de Mayara Magri perto de se casar com o personagem de Paulo César Grande, e o corte da censura na cena em que a personagem de Márcia (Jerusa) é violentada sexualmente.

    O quadro que a personagem de Denise Stoklos pintava, também causou mistério na trama.

    Bem que a BANDEIRANTES poderia exibir um compacto dessa novela e também de CAVALO AMARELO e O MEU PÉ DE LARANJA LIMA (versão de 1980) que também amei

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  3. Uma pequena correção: não foi no final da trama que Mateus foi beneficiado pelo testamento. A abertura do testamento foi peça chave para todo o desenrolar da história.

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  4. Gistaria que publicass o enigma da novela cuja rrsposta fora exibida no ultimo capitulo. Eu era criança na época e nao me lembro da resposta certa. Obrigada!

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  5. Set 2024 ..me lembro da Eliane Giardone na escada..olhos verdes na câmera.. tocava.."né me quitte pa"..icônico.. eu tinha 15 anos..ganhei o disco de presente..eu não assisti..mas..vi essa cena de relance.

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