Por Thiago Andrade
Desde Gênesis, primeiro livro da Bíblia, acompanhamos narrativas que
destacam a tensão no relacionamento entre irmãos. Na origem de tudo, a inveja
de Caim motivou o assassinato de seu irmão mais novo, Abel, e inspirou a mente
de diversos autores pelo decorrer dos séculos, retratando a rivalidade
fraternal na mitologia, na literatura popular, nos cinemas e, obviamente, nas
novelas.
Certamente, o embate entre irmãos tem um forte apelo na audiência e, por
isso, serve como um interessante recurso dramático. Nesse sentido, na maioria
dos casos, as duas pontas do elo fraternal são opostas e representam a
dualidade entre o bem e o mal, sendo muito comum a utilização de uma mesma
“imagem física” para reforçar essa fragmentação entre os dois opostos.
Em 1973, na Rede Tupi, entrava em cena um dos mais emblemáticos
confrontos entre irmãos. Ruth e Raquel, interpretadas por Eva Wilma, apesar de
gêmeas, possuíam personalidades complemente distintas, em Mulheres de Areia.
Enquanto Ruth era honesta, sensível, doce e amorosa, Raquel era falsa, cruel,
mentirosa e ambiciosa. Elas disputavam o amor de Marcos, que acabou se casando
com a irmã má. No entanto, as gêmeas sofrem um terrível acidente e Raquel é
dada como morta. Ruth é resgatada, mas fica em coma e Tonho da Lua, seu protegido,
convence a todos que ela, na verdade, é Raquel. Quando sai do coma, mesmo se
sentindo culpada, Ruth aceita assumir o lugar da irmã para poder viver ao lado
do seu grande amor. O que ela não contava era que Raquel estava viva e faria de
tudo para destruí-la e tomar todo o dinheiro da família de Marcos.
Mulheres de Areia ganhou um remake em 1993, na Rede Globo, e foi
protagonizada por Glória Pires. O remake foi um grande sucesso e foi vendido
para mais de 28 países. Além disso, a novela alavancou a carreira de Glória,
que hoje é uma das principais atrizes brasileiras. Mas se engana quem pensa que
ela seria a única a interpretar gêmeas rivais nas novelas do país.
Em 2007, Alessandra Negrini apresentou ao Brasil as gêmeas Paula e Taís,
em Paraíso Tropical. Diferente do contexto de Ruth e Raquel, as duas irmãs não
se conheciam, e Taís queria a todo custo roubar o amado da irmã, o promissor
Daniel Bastos, vivido por Fábio Assunção, por interesses financeiros.
Mas nem sempre a ambição é o fio condutor para a rivalidade entre
irmãos. O amor também pode desencadear a discórdia dentro de casa. Este é o caso dos
irmãos gêmeos Jorge e Miguel, interpretados por Mateus Solano, em Viver a Vida,
de 2010. Comportamentos diferentes, personalidades diversas, mas uma mulher em
comum: Luciana, personagem de Aline Morais. No começo do enredo, Jorge namorava
Luciana, que era modelo, mas ao ficar tetraplégica por causa de um grave
acidente, ela passa a ter mais contato com Miguel, que passa a cuidar e a se
dedicar a ela. A disputa pelo amor fez com os irmãos não conseguissem
conviver sem uns murros e pontapés cada vez que se cruzavam.
O fato é que desentendimentos entre irmãos são normais e acontecem entre
gêmeos ou não. As atuais novelas das 19h e 21h não me deixam mentir. Em Sangue
Bom, Malu e Amora, interpretas por Fernanda Vasconcelos e Sophie Charlotte
respectivamente, vivem em pé de guerra. Amora é uma famosa “it girl” e para ela
tudo que importa é a mídia e a sua reputação. Malu não consegue compreender e
aceitar o estilo de vida fútil da irmã adotiva, uma vez que ela é engajada em
causas sociais e em ações para ajudar os mais necessitados. Tudo se complica
quando Malu se aproxima de Bento, vivido por Marco Pigossi, “namoradinho” de
infância de Amora, na época em que ela vivia, junto com ele, em um lar de
adoção.
Em Amor à Vida, a briga entre irmãos é levada às últimas consequências.
Felix, personagem de Mateus Solano, quer tirar a irmã Paloma, interpreta por
Paola Oliveira, do seu caminho por causa da herança do pai. Além de já ter
sequestrado e jogado a filha da irmã no "lixo" à la Carminha, o gay mais malvado e dissimulado
da televisão brasileira vem roubando o próprio pai e promete fazer muitas
outras vilanias para conquistar seus objetivos.
É claro que nessa postagem eu não poderia deixar de mencionar um
clássico da rivalidade entre irmãs gêmeas. Sucesso em mais de 60 países, A
Usurpadora, trazia a atriz Gabriela Spanic, como Paola Bracho e Paulina Martinez. No Brasil, foi exibida pelo SBT pelo menos cinco vezes. Paola, casada
com Carlos Daniel Bracho quer aproveitar a vida longe dos olhos do marido. Ela
encontra, por acaso, Paulina Martinez e se assusta com a semelhança entre as
duas, sem saber que elas eram irmãs gêmeas. Então, faz uma proposta à humilde moça para que elas troquem de lugar, mas Paulina não aceita. Com a negativa, Paola
arma um falso roubo de uma pulseira sua, coloca na bolsa de Paulina que é
presa. Pressionada e sem muitas alternativas, ela, enfim, aceita viver a
vida de Paola por um ano. Gentil e honesta, o tempo de Paulina como Paola muda
a vida dos Bracho e desperta o amor de Carlos Daniel. Mas a bondade de Paulina não conseguiu ofuscar o brilho de Paola, que se tornou uma das vilãs mais queridas do público.
A Usurpadora, inclusive, serviu de inspiração para a criação de um
seriado norte-americano, Ringer, em que Sarah Michelle Gellar vivia as gêmeas
Bridget e Siobhan. A série foi exibida em 2011, pelo canal The CW, e só teve
uma temporada com 22 episódios.
A disputa entre irmãos parece ser um assunto inesgotável. Ainda
poderíamos citar e relembrar vários outros exemplos de rivalidade entre membros tão próximos de uma mesma família. São várias as motivações para que
surjam esses enfrentamentos e nós, como espectadores, adoramos assistir cada um
deles. E você, lembra de algum episódio marcante dentro desse nosso tema?
gosto da maria clara e ana paula de celebridade...
ResponderExcluirOi Edu, bela lembrança. Gostava bastante de Celebridade. Obrigado pela visita. Um abraço!
ExcluirDisputa entre irmãos é um clichê que sempre dá certo. É como a história de Caim e Abel, simplesmente universal. Agora temos em "Amor à vida" Félix e Paloma. Tenho pra mim que logo essa trama esquenta!
ResponderExcluirwww.cascudeando.zip.net
Eu faço essa mesma aposta, Lucas. Com um mês de novela, já vimos onde essa rivalidade pode chegar. Agora, é aguardar os próximos capítulos. Um abraço!
ExcluirPois é, irmãos sempre rendem um bom caldo... A teledramaturgia tá lotada de histórias assim, como em Dancin' Days, Desejos de Mulher, Um Anjo Caiu do Céu, Eterna Magia, etc... E é algo que mesmo que seja batido, nunca perde aquele gostinho de quero mais...
ResponderExcluirMuito bom, Thiago!
Muito obrigado, Patrick. Ótimos exemplos esses que você citou. Nossa, achava que sou eu que assistia eterna magia... rsrs... Volte sempre por aqui, viu? Um grande abraço.
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