De Leandro Brasil
CAPÍTULO 6 [Último]
CENA 01. ESCRITÓRIO. SALA E
ANTESSALA DE ALEX. INT. DIA.
Continuação do capítulo
anterior. Abre em Beto, muito assustado com o tiro que acabou de dar. Não
vemos Alex. Apenas o ouvimos:
ALEX -(off) Olha o que você fez, Beto. Olha o
que você fez!
Música de tensão cresce. Beto
derruba a arma. Tudo muito rápido: Sônia chega com dois seguranças, que vão
logo levando Beto. Ele não oferece nenhuma resistência. Está em choque. CAM
não mostra a sala. Vemos Beto, Sônia e os seguranças em planos fechados. Reação de susto de Sônia ao olhar para o chão.
SÔNIA - Meu Deus do céu!
Corta
rápido para:
CENA 02. FRENTE DO PRÉDIO DO
ESCRITÓRIO. EXTERIOR. DIA.
Música de tensão. Beto
algemado sendo levado por policiais para uma viatura. Foi preso em flagrante.
Não oferece resistência nenhuma. Muitos curiosos chegando ao redor do prédio.
Observam e cochicham. Beto entra na viatura. Corta para:
CENA 03. ESCRITÓRIO. ANTESSALA
DE ALEX. INTERIOR. DIA.
Algum tempo depois. Alex
sentado numa poltrona, chorando muito. Sua roupa está vermelha de sangue. Sônia
lhe dando um copo d’água. Ele derruba o copo violentamente.
ALEX - Eu não quero nada!
SÔNIA - Não há mais nada que nós possamos fazer,
Dr. Alex. O senhor precisa se acalmar.
ALEX -(sem querer aceitar a verdade) Cala a
boca! Você não sabe de nada, não sabe!
Nesse momento, dois homens
saem da sala, carregando um corpo coberto numa maca. Alex se desespera ainda
mais ao ver o corpo sendo levado. Tenta se aproximar, mas Sônia o impede.
ALEX - Ela não pode ter morrido, Sônia, não
pode!
Muita gente do escritório ao
redor, observando. Alex chora sem parar. Corta para:
CENA 04. FRENTE DO PRÉDIO DO
ESCRITÓRIO. EXTERIOR. DIA.
Música de tensão que começou
na cena 01, volta a crescer aqui. Acompanhamos o desespero de Alex vendo o
corpo ser colocado numa ambulância. Muita gente ao redor. Todos olham chocados
para Alex. Algumas mulheres também choram vendo o desespero dele. Quando a
ambulância vai embora, Alex desaba literalmente no chão chorando cada vez mais.
Música vai morrendo aos poucos, enquanto CAM vai subindo lentamente até
enquadrar Alex do alto caído no chão, com muita gente ao redor. Ouvimos os
soluços angustiados dele.
Corta para:
CENA 05. ÁGUA LINDA.
STOCK-SHOTS. EXTERIOR. DIA.
Planos rápidos da
cidadezinha. Sem som. Corta para:
CENA 06. CASA DE ARTUR E
CIDA. SALA. INTERIOR. DIA.
Cida muito aflita ao
telefone.
CIDA - Como é que é, Judite? (T) Meu Deus!
Você tá falando sério?
Corta rápido para:
CENA 07. LANCHONETE.
INTERIOR. DIA.
Artur já perplexo diante de
Cida.
ARTUR - Peraí, Cida... Eu... Eu acho que não
entendi direito. O Beto... Ele fez o quê?
Corta rápido para:
CENA 08. OFICINA. INTERIOR.
DIA.
A notícia se espalha. O novo
funcionário da oficina já contando tudo a Tiago. Sem interrupção de ritmo de
diálogo entre o final da cena anterior e o início desta.
FUNCIONÁRIO - Matou a moça covardemente!
TIAGO -(perplexo) Não pode ser! O Beto, o meu
amigo Beto... Virou um assassino?
Corta rápido para:
CENA 09. SALÃO DE BELEZA.
INTERIOR. DIA.
Não se fala em outra coisa
no salão. Kátia conversando com uma amiga manicure.
KÁTIA -(chocada) Nunca gostei do Beto. A dona
Adelaide tava certa de não apoiar o casamento da Camila com ele. Parece que ela
já tava adivinhando que tudo ia acabar mal.
MANICURE - Mas foi a Camila quem causou tudo isso.
Onde já se viu, trair o marido com o irmão dele, cunhado dela? Só podia mesmo
acabar de maneira trágica.
Corta rápido para:
CENA 10. RUAS DA CIDADE.
EXTERIOR. DIA.
Claudete conversando com a
mesma amiga do capítulo 1.
CLAUDETE - Pois eu acho bem feito! Bem feito pro Beto,
bem feito pro Alex e bem feito principalmente pra desgraçada da Camila! Bem
feito pra todos eles, pronto!
AMIGA - Que é isso, Clau! O que aconteceu foi
uma tragédia! Tu não tem nem um pouco de pena?
CLAUDETE - E por acaso alguém tem pena da Clauzinha
aqui, amor? Pra todo mundo dessa cidade, eu sou a piriguete, a vagabunda, a
destruidora de lares. Todo mundo me aponta na rua, me olha de nariz em pé. A
Camila mesmo: sempre se achou melhor que eu. O Beto não pensou duas vezes antes
de me trocar por ela. E o que ele ganhou com isso? Um par de chifres! Bem
feito! Agora todo mundo tá sabendo quem é a verdadeira vadia dessa história!
AMIGA - E a dona Adelaide? Como será que ela tá?
Corta rápido para:
CENA 11. CASA DE ADELAIDE.
QUARTO DE ADELAIDE. INT. DIA.
Abre numa foto de Camila
sorrindo. Adelaide olha a foto chorando, sofrendo muito. Ela vai olhando várias
fotos de Camila e sofrendo cada vez mais. Por fim, uma grande fúria toma conta
de Adelaide e ela vai rasgando as fotos furiosamente, espalhando os pedacinhos
em cima da cama. Por fim, ela não aguenta mais e cai na cama, por cima das
fotos rasgadas, chorando cada vez mais. Um tempo no sofrimento de Adelaide e Corta
para:
CENA 12. CEMITÉRIO.
EXTERIOR. DIA.
Em takes rápidos e bem à
distância, acompanhamos um enterro. Música instrumental triste. Poucas pessoas,
o que significa que apenas os mais íntimos da família foram convidados. Não
precisamos identificar ninguém, basta transmitir o clima de desolação em que
todos se encontram. Último plano da cena é de Artur e Cida, caminhando juntos,
bem atrás dos outros, muito consternados. Corta para:
CENA 13. RUA PRÓXIMA AO
CEMITÉRIO. EXTERIOR. DIA.
Alex ansioso em algum ponto
da rua esperando alguém. Do ponto de vista de Alex, vemos Cida e Artur saindo
do enterro. Alex se aproxima dos pais, cauteloso.
ALEX - Pai, mãe.
Reações. Cida muito séria.
Artur com ódio.
ARTUR - Como é que você ainda tem coragem de se
dirigir a nós depois do que fez?
ALEX - Eu também tô sofrendo muito, pai.
ARTUR -(grita furioso) Não me chame de pai! Eu
não sou seu pai! Essa não é mais a sua família! Aliás, essa família não existe
mais! E foi você quem a destruiu!
ALEX - Mãe, eu/
ARTUR -(corta, gritando) Nunca mais nos procure!
Nunca mais! Vamos, Cida!
E Artur vai puxando Cida,
sem olhar para Alex. Cida ainda se vira para o filho, dividida entre a mágoa
que sente dele e o sofrimento de estar abandonando-o para sempre. Cida e Artur
entram no carro. Alex olha muito triste o carro que se afasta. Corta para:
CENA 14. DELEGACIA. CELA.
INTERIOR. DIA.
Beto dividindo uma cela com
vários presos. Cida e Artur visitando o filho. Conversam através das grades.
BETO - Eu não queria que vocês me vissem aqui.
CIDA -(chorando) O quê que você foi fazer da
sua vida, filho?
ARTUR -(sofrendo muito) O nosso filho sempre foi
um bom homem, Cida. A culpa dele ter agido assim, por impulso, foi do Alex e
da... da Camila. (pausa) Você já sabe quando vai ser transferido pra
penitenciaria, Beto?
BETO -(triste) Não. Mas não tô nem aí pra isso.
ARTUR - Você não pode se entregar assim, filho.
Nós tamos do teu lado. Vamos lutar pra você conseguir responder em liberdade,
afinal você não tinha antecedentes criminais e/
BETO -(corta) Não precisa se preocupar com
isso, pai. Eu tenho que pagar pelo que eu fiz. Não tô nem aí pro que vai me
acontecer.
Cida e Artur sofrendo muito
ao ver o filho assim. Na tristeza de Beto, Corta para:
CENA 15. CASA DE ARTUR E
CIDA. EXTERIOR. DIA.
Plano de localização. Corta
para:
CENA 16. CASA DE ARTUR E
CIDA. SALA. INTERIOR. DIA.
Cida e Artur acabaram de
chegar em casa. Estão cansados.
ARTUR - O Beto se entregou completamente.
Desistiu de viver. Parece até outra pessoa.
CIDA - A gente tem que ser forte pra enfrentar
tudo isso ao lado dele, Artur.
Nesse momento Judite entra,
vindo da cozinha.
CIDA - Já voltou, Judite?
JUDITE - Cheguei agora de manhã.
Artur é tomado de verdadeira
fúria ao ver Judite.
ARTUR - O que é que você tá fazendo aqui?
Reações assustadas de Cida e
Judite.
CIDA - Como, o que ela tá fazendo aqui? Ela
mora aqui, Artur!
ARTUR - Não mora mais!
CIDA - Que é isso, Artur? Você tá falando
sério?
ARTUR - E você acha que o momento é pra
brincadeiras, Cida? Ela é tão culpada quanto o Alex. Se não tivesse ido lá
destilar o veneno dela, isso não teria acontecido!
JUDITE - Mas foi o Beto quem me chamou!
ARTUR - E você adorou ir lá se meter na vida
deles, já que a sua é uma merda de tão monótona e você não se conforma de ver
ninguém feliz! Você é uma invejosa! Anda, Judite! Pode arrumar as suas coisas e
sair daqui agora!
CIDA - Artur, por favor, não faça isso!
ARTUR - Não se meta, Cida! Se for defender a
Judite, pode ir com ela!
JUDITE - O senhor não pode fazer isso comigo, pai!
Eu não tenho pra onde ir!
ARTUR - Que vá para o diabo que a carregue, mas
aqui você não fica mais! Sai, Judite!
JUDITE -(atrevida) Não saio! Essa casa também é
minha e daqui ninguém me tira!
ARTUR - Não sai, é? Vamos ver se você não sai!
E Artur pega Judite pelos
cabelos e começa a arrastá-la à força para fora de casa. Ela grita de dor. Cida
tenta intervir. Falam ao mesmo tempo.
JUDITE - Ai, tá me machucando!
ARTUR - Você vai sair de qualquer jeito!
CIDA - Para com isso, Artur!
Seguem falando ao mesmo
tempo, com falas improvisadas até a porta. Corta rápido para:
CENA 17. RUAS. FRENTE DA
CASA DE ARTUR E CIDA. EXT. DIA.
Abre em Judite caindo no
chão, empurrada violentamente por Artur. Pessoas que passam na rua param para olhar.
Corte descontínuo. Artur jogando as roupas e a mala de Judite no meio da
rua. Agora muitas pessoas olham.
ARTUR -(grita furioso) Vai embora daqui e não se
atreva a voltar! Nunca mais!
Cida chora e ainda tenta
ajudar Judite, mas Artur a leva para dentro. Chorando, muito envergonhada,
Judite começa a apanhar suas roupas e vai guardando na mala, enquanto todos a
olham. Corta para:
CENA 18. RIO DE JANEIRO.
STOCK-SHOTS. EXT. NOITE/DIA.
Passagem de tempo. Dias
depois. Corta para:
CENA 19. PENITENCIÁRIA. SALA
RESERVADA. INTERIOR. DIA.
Beto é trazido algemado por
um policial. Alex espera por ele. Beto não demonstra nenhuma reação ao vê-lo.
Alex sofre ao ver o irmão assim. O policial sai. Os dois ficam sós.
ALEX - Eu... Eu nem sei o que dizer.
BETO - Nada que você diga vai mudar o que
aconteceu. Nem devia ter vindo. Eu só topei te receber pra te pedir pra não
voltar a me procurar.
ALEX - Você deve tá me odiando, né?
BETO - Não mais do que a mim mesmo! Eu nunca
vou me perdoar pelo que eu fiz.
ALEX - Mas a culpa disso tudo é minha. Eu
causei tudo isso, eu dei em cima da Camila, fiz ela te trair/
BETO -(corta) Mas eu não tinha o direito de
agir como agi. Eu sou um criminoso, um assassino!
ALEX - Eu só quero que você saiba que eu nunca
tive raiva de você, Beto. Se eu dei em cima da Camila, foi porque eu realmente
gostava muito dela, desde a época em que a gente namorou. Eu até tentei
esquecê-la, porque eu não queria enganar meu próprio irmão, mas a paixão falou
mais alto e/
BETO -(corta) Eu não quero falar sobre isso! Vai
embora. E por favor, não volte mais.
ALEX - Será que um dia você vai conseguir me
perdoar?
Beto olha para Alex, sem
responder.
ALEX - Eu nem devia ter te perguntado isso. Se
eu mesmo não me perdoo pela forma como agi! Acredite, Beto: ninguém tá sofrendo
mais do que eu, com tudo isso. Nunca mais eu vou botar a cabeça no travesseiro
e dormir tranquilo depois de tudo o que eu causei.
BETO - Você pelo menos não matou ninguém. O
peso que eu carrego é muito maior que o seu. Mesmo depois de cumprir pena,
mesmo que eu viva mil anos, a culpa e o peso na consciência vão me acompanhar
pra sempre.
Policial entra informando
que a visita acabou.
BETO - Adeus, Alex.
Beto sai acompanhando o
policial. Close de Alex muito triste. Corta para:
CENA 20. RUAS DE ÁGUA LINDA.
EXTERIOR. NOITE.
Já é tarde da noite. Abre em
dois pés de mulher andando apressada. CAM abre aos poucos até revelar Camila,
muito tensa e ansiosa. Corta para:
CENA 21. CASA DE ADELAIDE.
INTERIOR/EXTERIOR. NOITE.
Adelaide na sala, assistindo
TV. Corta para Camila batendo na porta, do lado de fora. Surpresa e um
pouco assustada, Adelaide se aproxima da porta. Camila continua batendo.
CAMILA - Mãe! Mãe!
Reação de susto de Adelaide.
Nina se aproxima da mãe.
NINA - É a Camila, mãe?
ADELAIDE -(baixo) Shhh! Cala a boca!
CAMILA -(off) Mãe! A senhora tá aí? Nina!
NINA -(aflita) Abre a porta pra ela, mãe!
ADELAIDE - Vai pro seu quarto agora, Nina, se não
quiser apanhar!
Nina sai quase chorando.
Camila continua batendo.
CAMILA - Por favor, mãe, me deixa entrar!
Adelaide chora
silenciosamente, encostada à porta. Camila continua batendo e chamando a mãe.
Mesmo sofrendo muito, Adelaide não responde e não abre a porta. Depois de um
tempo, Camila desiste e vai embora, triste. Fusão lenta:
CENA 22. CASA DE ADELAIDE. INTERIOR.
DIA.
Abre em Adelaide entrando no
quarto de Nina.
ADELAIDE - Nina, você vai se atrasar pra/
Adelaide estranha ao ver que
Nina não está no quarto.
ADELAIDE - Nina! Onde é que você tá?
Adelaide começa a procurar a
filha pelo quarto. Ao abrir o armário, ela leva um susto ao ver que nenhuma das
roupas de Nina está lá. Desesperada, Adelaide sai do quarto. Em Cortes
descontínuos rápidos, ela percorre todos os cômodos da casa chamando pela
filha. Corta rápido para:
CENA 23. RUAS DE ÁGUA LINDA.
EXTERIOR. DIA.
Cada vez mais desesperada,
Adelaide procura a filha pelas ruas da cidade. Cresce música triste. Em Cortes
descontínuos fora de áudio, ela pergunta pela filha a três ou quatro
pessoas diferentes, mas ninguém viu Nina.
ADELAIDE -(grita desesperada) Nina!!!!
Em slow motion, acompanhamos
o desespero de Adelaide a procura da filha. Um tempo no sofrimento dela. No
close de Adelaide chorando muito, fusão lenta:
CENA 24. RIO DE JANEIRO.
STOCK-SHOTS. EXTERIOR. DIA/NOITE.
Música triste vai diminuindo
lentamente, enquanto vemos imagens da cidade. Alguns dias depois. Corta
para:
CENA 25. CALÇADÃO DE
COPACABANA. EXTERIOR. NOITE.
Movimentação habitual de
Copacabana à noite. Em travelling, acompanhamos pessoas passando, gente animada,
casais de namorados etc e também várias garotas de programa e travestis que
fazem ponto no calçadão, todos procurando clientes. Em determinado momento, CAM
acompanha uma das garotas que se dirige ao carro de um homem. Não mostramos o
rosto, só o belo corpo dela, que usa uma roupa curtíssima, mostrando bastante
coisa. Finalmente ela chega ao carro.
HOMEM - Quanto é o programa, gata?
Só então, CAM revela que a
mulher é Judite, linda, toda maquiada, parece até outra pessoa.
JUDITE - 100 reais a hora!
HOMEM -(tenta negociar) Não tá muito caro, não?
JUDITE - Meu cacife é alto! É pegar ou largar. Se
não quiser, tem um monte na fila.
HOMEM - Será que você vale tudo isso?
JUDITE - Quer pagar pra ver? Até hoje ninguém
reclamou no Procon.
HOMEM -(ri) Entra aí, vai!
E Judite entra rindo no
carro, que se afasta, levando-a para se entregar aos prazeres da carne. Corta
para:
CENA 26. PENITENCIÁRIA.
PÁTIO. EXTERIOR. DIA.
Dia de visita. Vários presos
recebendo a família. Em meio a todos eles, vemos Camila sentada num banco.
Tempo. Beto vai se aproximando dela, muito sério. Camila esboça um sorriso, mas
fica séria ao ver que ele não retribui. Ela ainda tenta abraçá-lo, mas ele
rejeita.
BETO - Quê que você veio fazer aqui?
CAMILA - Eu achei que te devia uma explicação.
BETO - Você não me deve explicação nenhuma. Eu
já entendi tudo o que aconteceu.
CAMILA - Não entendeu, não. Você acha que eu sou
uma vadia que sai metendo chifre no marido. Puta, foi como você me chamou, não
é? Mas as coisas não são assim, Beto. Eu te amava. Ou pelo menos achei que te
amava. Por isso eu casei contra a vontade da minha mãe, perdoei a sua traição e
abri mão de tudo pra ficar com você. Eu não tô reclamando, não, porque você é
um homem maravilhoso. Mas o meu desejo pelo Alex falou mais alto e/
BETO -(corta) Desejo, não! Desejo é o que eu
sentia pela Claudete. Você ama o Alex!
CAMILA -(admite) É verdade. Eu amo ele. Sempre
amei, desde a nossa época de namoro.
BETO - Pois agora vocês podem ficar juntos e
viver o grande amor de vocês! Não é isso que você tanto quer?
CAMILA - O que eu quero é que você tente me
entender e não sinta tanta raiva de mim, porque eu gosto muito de você e só
quero a sua felicidade.
BETO -(exaltado) E você acha que eu ainda vou
conseguir ser feliz depois do que fiz? (T) É melhor a gente encerrar essa
conversa. Eu não tenho raiva de você, Camila. Pode acreditar. Nem de você nem
do Alex. Eu olho pra vocês dois e não sinto nada. Absolutamente nada. Só
indiferença. Vai lá, fica com o Alex, faça bom proveito dele. Eu quero que vocês
se danem. (definitivo) Tchau, Camila. Não me procura mais.
Beto se afasta. Camila o
observa, triste. Corta para:
CENA 27. RIO DE JANEIRO.
STOCK-SHOTS. EXTERIOR. TARDINHA.
Imagens bonitas da cidade. Corta
para:
CENA 28. PEDRA DO ARPOADOR.
EXTERIOR. TARDINHA.
Camila triste sentada na
pedra do arpoador, olhando o mar. Sol quase se pondo. Barulho das ondas do mar.
Clima de solidão. Um tempo e Alex chega até ela. Senta-se também.
ALEX - Oi.
CAMILA - Oi. (T) Faz dias que eu tento falar com
você. Não respondeu as minhas ligações...
ALEX - Desculpa. Eu precisava de um tempo
sozinho. Um tempo pra refletir antes de ter essa conversa definitiva com você.
CAMILA - Conversa definitiva?
ALEX - É. (T) Como é que você tá?
CAMILA - Não posso dizer que eu tô bem, né? Minha
irmã desapareceu, minha mãe me odeia...
ALEX - Sinto muito.
CAMILA - Eu deixei o apartamento. Tô morando agora
numa pensão simples na Tijuca. A dona é legal e me deixou ficar em troca de
ajuda nas tarefas domésticas até que eu consiga um trabalho.
ALEX - As coisas também não tão fáceis pra
mim. Fui demitido do escritório e depois desse escândalo vai ser difícil
conseguir outro emprego.
Os dois ficam em silêncio.
Tempo.
ALEX - Sabe, Camila? Naquele dia, quando a
Lígia flagrou nós dois juntos e brigou comigo, eu tive uma reação que eu nunca
imaginei: fiquei com muito medo de perdê-la, me senti sem chão, sem rumo, com a
possibilidade dela me abandonar.
Durante essa fala de Alex, inserir
takes rápidos de Lígia flagrando ele e Camila se beijando, Lígia brigando com
Alex e Alex dirigindo triste (cenas 22, 24 e 26 do capítulo 5).
ALEX - E foi aí que eu me dei conta do quanto
eu a amava, do quanto ela era importante pra mim. Eu não podia ficar sem ela.
Camila sofre com o que ele
diz.
CAMILA - E você chamou ela pra conversar no
escritório, é isso?
ALEX - Foi.
Corta para:
CENA 29. ESCRITÓRIO. SALA DE
ALEX. INT. DIA. FLASHBACK.
Lígia e Alex conversando
fora de áudio. Ela demonstra mais calma. Ouvimos voz de Alex em off:
ALEX -(off) Eu pedi perdão a ela, disse que a
amava muito, que o que tinha acontecido entre eu e você foi uma loucura e
implorei por uma nova chance. E ela... Ela me perdoou, porque também me amava.
Corte descontínuo. Lígia e
Alex de pé, próximos à mesa dele. Ela de costas para a porta.
LÍGIA - Lembra que eu disse uma vez que só
amando muito pra perdoar uma traição? Pois eu acabei de descobrir que te amo de
verdade, Alex, porque vou te dar mais uma chance. Só espero que você saiba
aproveitar bem.
ALEX - Eu prometo que nunca mais vou te
decepcionar.
Lígia e Alex dão um beijo
rápido e se abraçam. Lígia sempre de costas para a porta.
ALEX -(off) Foi quando tudo aconteceu.
No momento em que os dois
estão abraçados, Beto empurra a porta já atirando. O tiro atinge Lígia no peito
esquerdo. Em slow motion, expressão vidrada de Lígia ao receber o disparo. Alex
chocado. Volta à imagem normal.
ALEX - Não!!! Olha o que você fez, Beto! Olha
o que você fez!
Chocado ao ver que atirou em
Lígia, Beto deixa a arma cair. Enquanto Sônia chega com os seguranças que levam
Beto, vemos o que estava acontecendo enquanto a música crescia na cena 01:
Lígia já caída no chão, sangrando muito. Alex tentando animá-la, sujando sua
roupa de sangue. Reação de susto de Sônia:
SÔNIA - Meu Deus do céu!
ALEX -(desesperado) Lígia, por favor, fala
comigo, Lígia!
Lígia já está em choque.
Alex se desespera ainda mais.
ALEX - Por favor, não faz isso comigo, Lígia!
Não me abandona, meu amor! Lígia, fala comigo!
Música cresce, enquanto
Sônia tenta ajudar Alex. Um tempo no desespero de Alex tentando reanimar Lígia
e Corta para:
CENA 30. PEDRA DO ARPOADOR.
EXTERIOR. TARDINHA.
Alex e Camila muito tristes.
ALEX - Aquele tiro era pra você ou pra mim,
Camila. E quem acabou pagando pelos nossos erros foi a Lígia. Eu sou o culpado
da morte dela. Nós somos.
CAMILA - E você acha que não dá pra gente tentar recomeçar
depois disso?
ALEX - Eu amava a Lígia. Precisei perdê-la pra
perceber que o que eu sentia por você era só desejo, atração. E mesmo que fosse
amor, você acha que nós poderíamos ser felizes juntos depois do que aconteceu?
Às custas da destruição da vida da Lígia, do Beto, de tanta gente? (T) Não,
Camila. O melhor que nós fazemos é tentar reconstruir as nossas vidas, longe um
do outro. (pausa) Me perdoa, por favor. Me perdoa por te causar tanto
sofrimento. E... Se for possível... Tenta não sentir raiva de mim.
CAMILA -(sofrendo) Eu não tenho raiva de você.
Pelo contrário, eu te amo. Te amo muito.
ALEX - Tenta me esquecer, Camila. Vai ser
melhor pra você. Eu não presto. Só trago desgraça e sofrimento a quem se
aproxima de mim.
Alex beija Camila no rosto e
levanta.
ALEX - Tchau. Eu desejo do fundo do meu
coração que você reconstrua a sua vida ao lado de outra pessoa e volte a ser
feliz.
CAMILA - Tchau, Alex. Tudo de bom.
Alex e Camila sorriem um
para o outro, cheios de tristeza. Closes alternados. Tristeza, solidão. Os dois
parecem querer falar alguma coisa ainda, mas desistem, pois sentem que não há
mais nada a ser dito. Alex vai se afastando lentamente. Camila olha o lindo e
melancólico pôr do sol com os olhos cheios d’água. Música triste. CAM vai
recuando devagar até vermos de longe Camila olhando o pôr do sol e Alex indo
embora e se afastando cada vez mais dela. Nenhum dos dois olha para trás. Fade
out.
FIM.
A história começa com ares de trama das seis da tarde, mas depois vai tomando proporções de novela das dez/onze, rs...Muito bom poder acompanhá-la!
ResponderExcluirCoisas da Vida tem um texto envolvente, emocionante, adulto, sem perder a leveza.
Parabéns, Leandro Brasil.
Muito legal, amei a trama do triângulo amoroso muito bem, amarrado sem perder o fôlego e a cada capítulo uma surpresa!
ResponderExcluirParabéns, Leandro Brasil.
Ainda quero ver você escrevendo para televisão.