Por André Araújo
Dono de um humor próprio e com senso crítico
político acima da média, Dias Gomes mais uma vez inovou/renovou a linguagem da
teledramaturgia ao criar e escrever, com a luxuosa colaboração de Ferreira
Gullar, a novela “O FIM DO MUNDO”. Levada ao ar pela Rede Globo entre 06 de
Maio e 14 de Junho de 1996, substituiu a bem-sucedida “EXPLODE CORAÇÃO”, trama
de Glória Perez que teve de ser encurtada a pedido da própria autora devido a
problemas pessoais.
“O FIM DO MUNDO”, exibida em 35 capítulos discutia a
questão do juízo final e traçava o perfil do ser humano diante de uma
inevitável tragédia. O resultado? Uma histeria com todas as improváveis
proporções que deixou todo mundo de cabelo em pé. E tudo começa quando o
vidente Joãozinho da Dagmar, responsável pelo turismo da pequena cidade de
Tabacópolis na Bahia anuncia que o que mundo vai se acabar em três meses.
Poucos levaram a sério as previsões do sensitivo, mas
quando fortes temporais, acompanhados de raios e trovões começam a cair, inundando
as galerias de esgoto e espalhando um fétido odor por toda a cidade, a
população histérica se deu conta de que Joãozinho da Dagmar não estava
blefando. Não havia mais dúvidas: Chegava a hora do Apocalipse.
Acreditando que a qualquer momento tudo fosse mesmo
se acabar, grande parte dos personagens da trama decidiu extravasar seus
desejos mais secretos. O personagem de José Wilker, o Tião Socó, por exemplo, era
impotente. Para acabar com seu drama sexual decidiu violentar a gostosa cunhada
Gardênia, vivida por Bruna Lombardi. A filha caçula dele, Letícia (Paloma
Duarte), noiva do belo Josias (Guilherme Fontes), resolve perder a virgindade
não com o noivo, mas com o peão bonitão Rosalvo (Maurício Mattar).
Dr. Pestana (Carlos Vereza) dono do hospital local, incrédulo
sobre o assunto loucura, decide abrir as portas do manicômio e “libertar” todos
os pacientes, instalando de vez o caos em Tabacópolis.
Mas como nem todos se deixaram levar pelas previsões
do sensitivo Joãozinho da Dagmar, alguns habitantes resolveram tirar proveito
da situação. Como o jornalista esperto Tonico das Laranjeiras (Otávio Augusto),
esposo ciumento e obsessivo de Gardênia. O malando Vadeco (Tato Gabus Mendes), que
nunca quis nada com a vida, resolveu faturar, vendendo lotes de terreno no céu.
Nisso a autoridade máxima da cidade, a prefeita esquisitona Florisbela (Vera
Holtz), se revelou uma grande apaziguadora, quando decidiu manter a paz e a
ordem na cidade, apesar do caos que crescia a cada instante; ou melhor, a cada
capítulo.
Embora tivesse sido criada para ser exibida em
formato de minissérie, “O FIM DO MUNDO” estreou com 51 pontos no ibope, o que jamais teria acontecido se
tivesse sido exibida às 23h, e terminou com 48, um recorde para o horário. O
Brasil parou para assistir a essa mini novela que agradou a todos.
E há uma grande curiosidade envolvendo essa obra:
Pela primeira vez num folhetim foram criados objetos e animais virtuais em três
plataformas de computadores para dar “veracidade” ao que seria exibido na tela.
Para registrar os efeitos do cataclismo, foi feita uma maquete dez vezes menor
que a cidade cenográfica de “O FIM DO MUNDO”, que ocupava 35 metros quadrados
no Projac.
A novela terminou com uma homenagem ao câmera
Custódio Ferreira, conhecido como “NEGÃO”, que morreu em desastre de automóvel
após gravar o último capítulo da história. Querido por todos, o profissional
recebeu uma homenagem mais que justa.
“O FIM DO MUNDO” não estreou após “Explode Coração”
com a “missão” de manter o nível do horário nobre da Rede Globo, como disse
Dias Gomes na época, mas mesmo sem essa “intenção”, a trama agradou e seus 35
capítulos foram poucos para uma obra tão grandiosa.
Em “O FIM DO MUNDO”, todos os personagens tiveram
destaques relevantes. Patrícia França, por exemplo, na pele da dramática
LUCILENE, roubou a atenção para si em determinados capítulos. Lima Duarte, como
sempre, na pele do todo-poderoso coronel Hildázio Junqueira, trouxe de volta
sua interpretação irônica e ao mesmo tempo nazista, que nos lembrou, mesmo que
de longe o inesquecível Sinhozinho Malta. Bruna Lombardi, sensual como de
costume enfeitou a tela com sua beleza estonteante e uma interpretação que em
nada nos lembrou de suas personagens anteriores. Isso tudo sem esquecermos a
maravilhosa atuação de Paulo Betti, que roubou a cena de si mesmo em todas as
suas aparições.
Com esse texto beirando o absurdo e recheado de
metáforas inteligentes, sua marca, Dias Gomes revelou mais uma vez que não era
por mero acaso o sexto ocupante da cadeira 21 da Academia Brasileira de Letras.
Claro que alguns críticos torceram o nariz para mais
esta obra de Dias Gomes, “acusado” de criar uma novela pegando um pouquinho de
cada trama que já havia escrito. E daí? Os grandes autores se repetem mesmo,
mas cada um inclui algo que ainda não havia mostrado. Isso, como se viu na
novela, o autor soube fazer como ninguém.
A trilha sonora também foi especial. Com um único
CD, a produção caprichou nas canções e só tivemos ouro em cada faixa. Como “O
último dia”, do Paulinho Moska, tema de abertura; “Solidão”, com Alceu Valença,
“E o mundo não se acabou”, com Adriana Calcanhoto, e “Profetas”, com Zé
Ramalho, entre outras pérolas.
Além de Paulo Betti, José Wilker, Bruna Lombardi, Paloma
Duarte, Lima Duarte e Maurício Mattar à frente do elenco, ainda participaram Lucia
Alves, Tato Gabus Mendes, Vera Holtz, Patrícia França, Marcos Winter, Bernadete
Lízio (Esposa do autor), Pedro Paulo Rangel, Totia Meirelles, Angela Vieira,
sempre sensual, até mesmo vestida de freira, entre outros.
Serviu apenas como tapa-buraco na programação da Globo. A novela seguia o mesmo padrão das tramas regionalistas do Dias e do Aguinaldo. Sinceramente, não vi nada demais.
ResponderExcluirDias gomes, excelente romancista, dramaturgo, autor de telenovelas.
ResponderExcluirIsaura Fernandez
Não à toa ele e Janete mudaram a história das novelas com sua escrita ímpar!
ResponderExcluirCristiano Rulka