RAIO LASER
NOVELA DE DAVI
VALLÉRIO E ALEX SPINOLA
ESCRITA
POR ALEX SPINOLA
CAPÍTULO
10
CENA 01.
TORRENTES. ESTRADA DE TERRA. EXTERIOR. DIA
Continuação
imediata da última cena do capítulo anterior. Chuva fortíssima.
Temporal. Lídia ainda de joelhos diante Lauro. Breves instantes na surpresa de
Lauro, que a abraça.
LAURO: Lídia?!
LÍDIA: (fraca, ofegante) Lauro?
Socorro, Lauro. Me tira daqui.
LAURO: (emocionado) O que
aconteceu? (olha para o estado dela) Quem fez isso em você?
Lídia o abraça com força e fecha os olhos. E
nisso, CORTE BRUSCO para a memória dela.
CENA 02.
CASA DOS JUAREZ SALA. INTERIOR. DIA
Flashback.
Lídia
no chão. Neco, quase nu, sobre ela. Ela grita. Ele a silencia com uma das mãos.
Pavor nos olhos dela, que varrem a casa em busca de ajuda. Sobre a mesinha de
centro, Lídia nota um pesado cinzeiro de bronze. Ela o alcança. Corte
descontínuo para Neco desfalecendo, desmoronando sobre ela.
CORTA PARA:
CENA 03.
CHÁCARA DE LAURO. MANSÃO. QUARTO. INT. DIA
Lídia sem forças, um pouco grogue, sobre a cama
de Lauro. Ele e Roger a parte, enquanto doutor Miguel a medica.
ROGER: (passado) Gente, a garota
apagou geral.
LAURO: (preocupado) No carro,
ela tava baratinada. Não tava falando coisa com coisa. Não conseguia me
explicar o que aconteceu.
ROGER: Sorte você lembrar que o
doutor tem casa aqui perto.
LAURO: Sorte foi ele estar em
casa.
Doutor Miguel termina a medicação.
LAURO: E então, doutor? Precisa de internação?
DOUTOR
MIGUEL:
Por enquanto, não. Foi um pico de pressão, talvez por stress. É perigoso, mas
ela está fora de risco. Com essa
medicação, logo estabiliza. Dei um calmante também. Com um tempinho, ela vai
ficar um pouco sonolenta.
LAURO: Muito obrigado. (para Roger) Roger, por
favor, acerte a consulta com o doutor.
DOUTOR
MIGUEL:
Imagina, Lauro. Bom te ver por aqui. Confesso que fiquei surpreso. Vou estar em
casa. Se precisar de alguma coisa, é só ligar.
ROGER: (descontraindo) Já botei
seu número na agenda, doutor. Emoção é o que não vai faltar por aqui.
LAURO: (para Miguel) E por falar
em emoções, doutor, eu gostaria que...
DOUTOR
MIGUEL:
(antecipa) Eu sei. Pode ficar tranquilo, pra todos os efeitos, a Lídia nunca
esteve aqui. Bem, já vou indo.
Doutor Miguel sai, acompanhado por Roger. Lauro
senta-se ao lado de Lídia e acaricia o rosto dela. Ela sorri e, aos poucos,
adormece.
CORTA PARA:
CENA 04.
SEDE DE PARTIDO POLÍTICO. SALA. INT. TARDE
Sebastião esmurra a mesa diante dele. Um
CORRELIGIONÁRIO se assusta.
SEBASTIÃO: Moleque desgraçado! Filho
de uma égua! Você tem certeza, disso, ô
cabra?!
CORRELIGIONÁRIO: (temeroso) Tenho, sim
senhor. A notícia já tá correndo. O tal de Lauro se filiou naquele outro
partido que formaram na cidade.
SEBASTIÃO: Cambada de filhos da
puta! Vai, sujeito, se mexe! Liga aí pra meio mundo. Chama o meu genro também!
E no ódio de Sebastião,
CORTA PARA:
CENA 05.
CASA DOS JUAREZ. SALA. INTERIOR. TARDE
Telefone toca sem parar. Zonzo, Neco engatinha.
Ele nota gotas de sangue no chão, leva uma das mãos à cabeça e percebe o
ferimento.
NECO: (levanta, sai cambaleando
pela casa) Eu mato aquela desgraçada! (só agora ele ouve a campainha do
telefone, atende) Alô? O quê?
CORTA PARA:
CENA 06.
MANSÃO DE LAURO. ESCRITÓRIO. INTERIOR. TARDE
Lauro e Roger diante uma papelada sem fim. Lauro
a analisa.
ROGER: É, o detetive trabalhou
bem.
LAURO: E você também, Roger.
ROGER: Nem me fale! Que só de
lembrar que andei por essa cidade bancando a Mata Hari, me dá arrepios. Cruzes!
LAURO: (empunha a papelada) Isso
aqui é munição pra acabar com aqueles dois, pelas próximas duas gerações.
ROGER: E sem contar isso. (ele
aponta para um envelope pardo, de conteúdo volumoso) A última pá de cal.
LAURO: (frio) Sim, mas não
agora. Antes, eu quero gozar com a cara deles.
ROGER: Adoro. Mas mudando de assunto,
e a Lídia?
LAURO: (tenta manter a frieza)
Não tem outro jeito: vou mandar voltar pra fazenda.
LÍDIA: (chegando) O quê?
Clima. Closes alternados de Lídia e Lauro.
CORTA PARA:
CENA 07.
CLÍNICA PSIQUIÁTRICA DE ALECRIM. PÁTIO. INT. TARDE
Pacientes zanzando por ali. Enfermeiros a
observá-los. Afastadas deles, Eva e Marion em conversa avançada.
MARION: Mas a senhora tem
certeza, dona Eva? Na minha opinião, a senhora não deveria fazer isso não.
EVA: E desde quando eu te pago
pra você ter opinião, Marion? Vou levar a velha e ponto final.
MARION: Mas dona Eva, quando essa
velha entrou aqui, até que ela não tava tão doida assim, mas agora...
EVA: (corta) Quanto mais
doida, melhor.
MARION: (ressabiada) Sei não. Foi
tanto sossega-leão que a senhora mandou... (Eva a repreende com um olhar
fulminante) quero dizer, que a dona Sofia tomou. Acho que o doutor não vai
liberar não.
EVA: E quem foi que te disse
que ele precisa liberar alguma coisa?
CORTA BRUSCO PARA:
CENA 08.
CIDADE DE ALECRIM. RUA. EXT. TARDE
Marion escolta dona Sofia até a caminhonete
preta de Eva. A velha vem trançando as pernas. Eva a empurra para o interior do
veículo.
EVA: (já entrando na
caminhonete) Toma! (abre a bolsa e entrega um bom maço de notas) Pega aí. É
mais do que você ganha num ano. Dá o combinado lá pros enfermeiros. E quando o
doutorzinho der por falta da velha, você já sabe o que dizer.
A caminhonete preta já se afasta. E na expressão
feliz de Marion a guardar o suborno no sutiã e a dar um adeusinho,
CORTA PARA:
CENA 09.
MANSÃO DE LAURO. QUARTO. INTERIOR. TARDE
Lídia diante Lauro. Clima de discussão.
LÍDIA: Depois de tudo o que eu
te contei, você vai me arrastar pra aquela fazenda, Lauro?!
LAURO: Escuta, Lídia! Não dá pra
gente ficar junto agora!
LÍDIA: Eu fui muito burra mesmo
em pensar que você iria fazer alguma coisa por mim, em pensar que você tinha
voltado pra gente ficar junto!
LAURO: (a segura pelos ombros)
Calma! Escuta! É claro que eu voltei pra você!
LÍDIA: Mentira!
LAURO: Claro que voltei, meu
amor! Só que não dá pra ser assim, desse jeito!
LÍDIA: (se livra dele) Covarde!
LAURO: Não diz isso.
LÍDIA: Digo, sim! Afinal de
contas, o que eu podia esperar de você? Hein?! Fala! Você me fez de palhaça,
fez o seu amigo Beto de palhaço. A gente lá, naquele cemitério, e nem sombra de
você.
LAURO: O quê?! Eu é que fiquei
lá plantado, esperando o Beto te trazer, e a única coisa que eu recebi foi o
recado que você mandou pela Amanda.
LÍDIA: Recado?! Que recado?!
LAURO: (despeja tudo) Que você
tinha rasgado o meu bilhete, que você disse que eu tinha acabado com sua vida,
que culpa da morte do Sidney era minha, (lágrimas brotam nos olhos dele), que
você não iria pra lugar nenhum comigo! Você tá aí, falando de tudo o que você
passou... E eu, Lídia, o que eu passei?!
Breve silêncio. Os dois se encaram. Ela desaba
sobre a cama.
LAURO: Acho que você esqueceu
esse lado da história, não é?
LÍDIA: Não, eu não esqueci...
Porque esse lado da história não existe. Eu não mandei recado nenhum.
LAURO: O quê? A Amanda chegou
lá, despejando tudo isso na minha cara...
LÍDIA: (encara) A Amanda mentiu,
Lauro.
CORTA PARA:
CENA 10.
CENTRO DE TORRENTES. PRAÇA. EXT. TARDE
Beto, impaciente, aguarda Amanda que vem do
outro lado da rua.
BETO: Já era pra gente tá na
fazenda, Amanda! Onde é que você tava enfiada?
AMANDA: (irritada) Ai, Beto, que
saco. Fui lá na danceteria, pra ver se via o Laurinho.
BETO: E você acha que ele ia tá
lá agora, numa hora dessas? Eu sei onde é a chácara dele. Depois a gente vai
lá.
AMANDA: E como é que você sabe?
Ele te falou?
BETO: Não! É que eu ando por aí
lendo pensamento dos outros.
AMANDA: Cavalo!
BETO: Jumenta!
E neles, trocando elogios e seguindo pela praça,
CORTA PARA:
CENA 11.
MANSÃO DE LAURO. QUARTO. INTERIOR. TARDE
Lauro digerindo o que Lídia acabou de falar.
LAURO: Então foi isso?
LÍDIA: Foi.
LAURO: (pensa em Eva)
Desgraçada!
LÍDIA: Isso não foi coisa da
cabeça da Amanda, Lauro.
LAURO: Claro que não. Eu sei
disso.
LÍDIA: Aqueles dois armaram
tudo.
LAURO: (sente-se ao lado dela)
Pode ser.
LÍDIA: Pode ser, não! É claro
que tem o dedo sujo daqueles dois nessa história.
LAURO: Tem tanta sujeira nessa
história, tanta coisa que você não sabe...
LÍDIA: (corta) Do que você tá
falando, Lauro? O que eu não sei? Me fala!
Lídia se põe diante de Lauro. Espera por uma
resposta. Ele respira fundo.
CORTA PARA:
CENA 12.
RODOVIA QUE CORTA TORRENTES. EXT. TARDE
A caminhonete preta a toda velocidade. Eva ao
volante, tensa. Sofia ao lado dela, letárgica.
EVA: Segura firme aí, velha.
Que hoje o dia vai ser cheio.
A caminhonete faz uma curva brusca e alcança uma
estrada de terra.
CORTA PARA:
CENA 13.
TRECHO DE MATA. EXTERIOR. TARDE
Caminhonete estacionada. Sofia trancafiada
dentro dela, no mesmo estado de letargia. A CAMÊRA segue pela vegetação densa
da mata e nos mostra Eva em conversa adiantada com seu amante.
EVA: A gente não pode perder
tempo, cara! Tem que ser tudo muito rápido. Vou botar a cidade contra aquele
infeliz. Você sabe o que tem que fazer.
CORTA PARA:
CENA 14.
RODOVIA QUE CORTA TORRENTES. EXT. TARDE
Um Escort desliza pela estrada. Malu está ao
volante. Tensa, ela acende um cigarro.
CORTA PARA:
CENA 15.
ESTRADA DE TERRA. EXTERIOR. ANOITECER
O Alfa Romeo Spider de Lauro estacionado no
mesmo ponto onde ele encontrou Lídia. Os dois muito emocionados. Tom de
despedida.
LAURO: (acaricia o rosto dela,
abraça) Eu não queria que fosse assim, meu amor. Eu não queria.
LÍDIA: Nem eu. Mas você tem
razão. A gente não pode ficar junto agora, a gente tem que tomar cuidado.
LAURO: Eles devem estar se
armando contra mim, numa hora dessas. Eu não posso te botar na mira deles.
LÍDIA: Eu sei.
LAURO: (beija o rosto, as mãos
dela) Eu te amo. Vai dar tudo certo, meu amor! Confia em mim!
LÍDIA: (abraça forte) Eu confio,
meu amor. Eu vou te ajudar. Nós vamos acabar com a raça deles.
LAURO: (desfaz o abraço, com carinho,
olha fundo nos olhos dela) Você não precisa fazer nada. Eu não quero você nesse
rolo. Isso é coisa minha.
LÍDIA: Não. Isso é coisa nossa.
Tempo na emoção deles. Troca de olhares. Um
acaricia o rosto do outro.
LÍDIA: Eles não conseguiram
matar o nosso amor. Você vai ser meu. Pra sempre!
LAURO: Pro resto da vida!
LÍDIA: (esperançosa) Acho que o
resto da vida ainda vai ser pouco.
LAURO: (sorri) Meu Deus! Como eu
te amo!
E nesse clima, um longo e apaixonado beijo.
CORTA PARA:
CENA 16.
RODOVIA QUE CORTA TORRENTES. EXT. ANOITECER
Nuvens negras se acumulam no horizonte.
Caminhonete preta a cem por hora. Eva, ao volante, percebe a tempestade que se
forma.
EVA: (para Sofia) Tá vendo,
velha? Foi só aquele maldito voltar que até Deus se revoltou.
CORTA PARA:
CENA 17.
ESTRADA DE TERRA. EXTERIOR. ANOITECER
Lauro, dentro de seu carro, acompanha a
solitária jornada de Lídia de volta para a fazenda. Os olhos dele se enchem de
lágrimas.
LAURO: Não. Eu não posso deixar
isso acontecer. Eu não posso ficar mais longe dela, (ele sai do carro, começa a
gritar), Lídia! Lídia!
Ela ouve o chamado dele, para. Começa a chover.
Lauro corre ao encontro dela. E já sobre a pesada tempestade, trocam beijos e
abraços.
CORTA PARA:
CENA 18.
ALFA ROMEO SPIDER DE LAURO. INTERIOR. NOITE
“EVERY BREATH YOU TAKE”, do The Police, tocando no rádio do
carro. Lauro e Lídia fazem amor.
CORTA PARA:
CENA 19.
ESCORT DE MALU. INTERIOR. NOITE
Malu ao volante. Visão embaçada pela chuva.
Rádio do carro começa a falhar.
MALU: Ah, não! Viagem até o fim
do mundo, sem trilha sonora, não dá!
Malu alcança uma fita cassete no porta-luvas. “ON THE ROCKS”, de Rita Lee,
invade a cena. Malu
sorri. Um forte ESTRONDO encobre a canção.
CORTE BRUSCO PARA:
CENA 20.
RODOVIA QUE CORTA TORRENTES. EXT. NOITE
Chuva pesadíssima. A CAMÊRA vence a cortina de
água e registra a colisão entre a caminhonete preta de Eva e o Escort de Malu.
E sobre essa imagem a eletrizante canção de Rita Lee.
CORTA PARA:
FIM DO
CAPÍTULO 10
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