Por Henrique Domingos Melo
Certa vez,
há alguns anos, vi um anúncio de um produto de limpeza com o seguinte
slogan: “Para quem faz questão de brilhar!”. O reclame não teria me chamado
tanto a atenção caso a modelo não fosse ninguém menos que Elizabeth Savalla, no
auge de seus 50 anos e a beleza genuína que a consagrou durante quase quatro
décadas de telenovelas.
Ignorando a
dúbia interpretação que o anúncio comercial exige, e o empregando em seu
sentido literal, Elizabeth Savalla Casquel pode não fazer muita questão de
brilhar, mas o de cumprir sua tarefa com maestria, o que é inevitável para
alguém com tanto talento. Se houver alguma dúvida sobre isso, pode-se comprovar
ligando a TV às 21h00min da noite enquanto “Amor à Vida” estiver sendo exibida.
Dona de boa parte das cenas, a atriz consegue domar a construção textual
farsista de Walcyr Carrasco e fazer da caricata ex-chacrete Márcia, uma
personagem humana e de forte apelo popular.
Resultado disso? Savalla teve seu valor reconhecido e ganhou,
recentemente, o Prêmio Extra de Melhor Atriz Coadjuvante. Foi mais que merecido.
Em seu
discurso emocionado, a atriz disse fazer parte de uma geração de atores que “sonhava”
em mudar o mundo, usando seu trabalho para algo maior do que simplesmente se
manter forte na mídia – o que parece ser a prioridade de muitos profissionais
de artes cênicas atualmente -, levando para cada lar provocação e reflexão, que
gerasse mudanças positivas no telespectador. Frente ao deprimente rumo que a
televisão tem tomado, surge o desejo de que esta geração nunca morra. Ou pelo
menos deixe suas marcas imortalizadas quando partir.
Ainda em seu
agradecimento, Elizabeth declarou sua satisfação de fazer uma “novela das nove”
por atingir um número maior de pessoas. Particularmente, nunca entendi a razão
de a atriz não emprestar seu brilho ao horário nobre global há mais de vinte
anos. Seja lá qual for, Tetê Parachoque e Paralama e seus hot dogs, filha
periguete e infame bordão que não pegou, foi uma das poucas coisas que
funcionou em Amor à Vida. Prova de que a atriz merece figurar em outras
produções desta faixa, brindando o público com mais personagens dignamente
Savallianas.
Falando
nisso, farei um breve (e um tanto negligente) apanhado da contribuição desta
grande diva para o teatro, televisão e cinema.
Malvina, Gabriela – 1975
Ainda muito
jovem, porém com atuação madura e competente, interpretou a feminista Malvina,
na adaptação de Walter George Durst para a TV da obra Gabriela de Jorge Amado
Lili, O Astro – 1977.
Outro
personagem extremamente popular da atriz. O jeito desbocado, encantador e batalhador
de Lili, não demorou em fisgar o público na novela de Janete Clair.
Marcela, Plumas e Paetês – 1981
Uma
anti-heroína singular que, nas mãos de Savalla, se tornou um primor. Arrisco em
dizer que Marcela foi a mais interessante protagonista de Cassiano Gabus
Mendes.
Bruna, Pão, Pão, Beijo, Beijo – 1982
Calou a boca
de todos que duvidaram de sua capacidade de encarar uma vilã. Bruna foi tão
odiada, que Savalla quase apanhou na rua pelas vilanias de sua personagem.
Auxiliadora,
Quatro por Quatro – 1994
Na novela de
Carlos Lombardi, viveu a dona de casa vingativa Auxiliadora. A suavidade de sua
atuação marcou época e arrancou muitos risos de quem acompanhou a trama.
Morgana, Sítio do Picapau Amarelo – 2002
Nem mesmo a
temida Cuca foi páreo para suas maldades e brilhante interpretação. As crianças
da época passaram a idolatrá-la como uma “mãe”.
Jezebel, Chocolate com Pimenta – 2003
Seu trabalho
mais feliz ao lado de Walcyr Carrasco. Uma vilã saborosa como chocolate e
ardente como pimenta, munida do antológico refrão “Ai como eu sofro!”
Friziléia,
uma esposa a beira de um ataque de nervos! – Peça Teatral
Talentosa
também fora da TV, Elizabeth Savalla arrasa nos palcos. No monólogo escrito por
seu marido, ela é uma esposa neurótica, que diverte a platéia por mais de uma
hora de peça.
Em 2007, deu
nome ao troféu do Festival Nacional de Teatro de Juiz de Fora – MG. Ao lado de
seu esposo, Camilo Átila, criou o ESCA, grupo teatral. Além de ser
incentivadora das Artes Cênicas.
Mariana, Pra Frente Brasil – Filme de 1982
Nas telonas,
Beth Savalla também deu as caras em um filme do início da década de 80. Na
produção de Roberto Farias, viveu uma guerrilheira de esquerda, numa clara
crítica ao regime político da época.
Talentosa, e sempre digna de aplausos. Gosto muito da Elizabeth. Uma das grandes da dramaturgia brasileira.Muito bom o texto. Parabéns.
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