quinta-feira, 21 de novembro de 2013

Para quem faz questão de brilhar!

Por Henrique Domingos Melo

Certa vez, há alguns anos, vi um anúncio de um produto de limpeza com o seguinte slogan: “Para quem faz questão de brilhar!”. O reclame não teria me chamado tanto a atenção caso a modelo não fosse ninguém menos que Elizabeth Savalla, no auge de seus 50 anos e a beleza genuína que a consagrou durante quase quatro décadas de telenovelas.

Ignorando a dúbia interpretação que o anúncio comercial exige, e o empregando em seu sentido literal, Elizabeth Savalla Casquel pode não fazer muita questão de brilhar, mas o de cumprir sua tarefa com maestria, o que é inevitável para alguém com tanto talento. Se houver alguma dúvida sobre isso, pode-se comprovar ligando a TV às 21h00min da noite enquanto “Amor à Vida” estiver sendo exibida. Dona de boa parte das cenas, a atriz consegue domar a construção textual farsista de Walcyr Carrasco e fazer da caricata ex-chacrete Márcia, uma personagem humana e de forte apelo popular.  Resultado disso? Savalla teve seu valor reconhecido e ganhou, recentemente, o Prêmio Extra de Melhor Atriz Coadjuvante.  Foi mais que merecido.


Em seu discurso emocionado, a atriz disse fazer parte de uma geração de atores que “sonhava” em mudar o mundo, usando seu trabalho para algo maior do que simplesmente se manter forte na mídia – o que parece ser a prioridade de muitos profissionais de artes cênicas atualmente -, levando para cada lar provocação e reflexão, que gerasse mudanças positivas no telespectador. Frente ao deprimente rumo que a televisão tem tomado, surge o desejo de que esta geração nunca morra. Ou pelo menos deixe suas marcas imortalizadas quando partir.

Ainda em seu agradecimento, Elizabeth declarou sua satisfação de fazer uma “novela das nove” por atingir um número maior de pessoas. Particularmente, nunca entendi a razão de a atriz não emprestar seu brilho ao horário nobre global há mais de vinte anos. Seja lá qual for, Tetê Parachoque e Paralama e seus hot dogs, filha periguete e infame bordão que não pegou, foi uma das poucas coisas que funcionou em Amor à Vida. Prova de que a atriz merece figurar em outras produções desta faixa, brindando o público com mais personagens dignamente Savallianas.

Falando nisso, farei um breve (e um tanto negligente) apanhado da contribuição desta grande diva para o teatro, televisão e cinema. 

Malvina, Gabriela – 1975 


Ainda muito jovem, porém com atuação madura e competente, interpretou a feminista Malvina, na adaptação de Walter George Durst para a TV da obra Gabriela de Jorge Amado

Lili, O Astro – 1977.


Outro personagem extremamente popular da atriz. O jeito desbocado, encantador e batalhador de Lili, não demorou em fisgar o público na novela de Janete Clair.

Marcela, Plumas e Paetês – 1981


Uma anti-heroína singular que, nas mãos de Savalla, se tornou um primor. Arrisco em dizer que Marcela foi a mais interessante protagonista de Cassiano Gabus Mendes.

Bruna, Pão, Pão, Beijo, Beijo – 1982


Calou a boca de todos que duvidaram de sua capacidade de encarar uma vilã. Bruna foi tão odiada, que Savalla quase apanhou na rua pelas vilanias de sua personagem.

Auxiliadora, Quatro por Quatro – 1994 


Na novela de Carlos Lombardi, viveu a dona de casa vingativa Auxiliadora. A suavidade de sua atuação marcou época e arrancou muitos risos de quem acompanhou a trama.

Morgana, Sítio do Picapau Amarelo – 2002


Nem mesmo a temida Cuca foi páreo para suas maldades e brilhante interpretação. As crianças da época passaram a idolatrá-la como uma “mãe”.

Jezebel, Chocolate com Pimenta – 2003


Seu trabalho mais feliz ao lado de Walcyr Carrasco. Uma vilã saborosa como chocolate e ardente como pimenta, munida do antológico refrão “Ai como eu sofro!”

Friziléia, uma esposa a beira de um ataque de nervos! – Peça Teatral


Talentosa também fora da TV, Elizabeth Savalla arrasa nos palcos. No monólogo escrito por seu marido, ela é uma esposa neurótica, que diverte a platéia por mais de uma hora de peça.
Em 2007, deu nome ao troféu do Festival Nacional de Teatro de Juiz de Fora – MG. Ao lado de seu esposo, Camilo Átila, criou o ESCA, grupo teatral. Além de ser incentivadora das Artes Cênicas. 

Mariana, Pra Frente Brasil – Filme de 1982


Nas telonas, Beth Savalla também deu as caras em um filme do início da década de 80. Na produção de Roberto Farias, viveu uma guerrilheira de esquerda, numa clara crítica ao regime político da época. 

Um comentário:

  1. Talentosa, e sempre digna de aplausos. Gosto muito da Elizabeth. Uma das grandes da dramaturgia brasileira.Muito bom o texto. Parabéns.

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