sábado, 11 de fevereiro de 2012

"Pin - Up" - Novela de Alex Spinola (Penúltimo Capítulo)


CAPÍTULO 06
CENA 01. INT. OBRA/GUARITA DE CASTRO. NOITE  
MERCEDES ascende um cigarro.
MERCEDES: Cadê minha bebida, camarada?
CASTRO (agitando uma garrafa de licor) Tá aqui, grandona! Bebida doce que puta gosta!
MERCEDES (reconhecendo a garrafa) Roubou do estoque da Adélia, não é, cafajeste?
CASTRO: (já servindo) Lógico!
Mercedes toma de uma só vez. Castro esboça dizer alguma coisa. Ela o silencia com um ardente beijo. Ele estremece.
MERCEDES: Fica quietinho e aproveite, eu sou toda sua! E hoje, eu quero rosetar!
Mercedes livra-se do vestido. Castro admira seu belo corpo, metido numa lingerie estupenda. O sujeito fica emudecido. Mercedes arranca as calças dele, apalpando-lhe as partes. Ele enlouquece e retribui  o gesto despindo-a da lingerie, sugando os seios dela.
E logo podemos ACOMPANHÁ-LHOS rolando sobre o velho colchão, devorando-se mutuamente e apartando-se no chão, exaustos. Mercedes pega outro cigarro. Castro pede-lhe umas tragadas.
CASTRO: (ofegante) Você é o diabo, mulher!
MERCEDES: Você não imagina o quanto.
 Castro levanta-se num pulo, recuperando o raciocínio.
CASTRO: Cai fora! Eu sei o que você quer.
Mercedes apaga o cigarro e veste a lingerie.
MERCEDES: Então, você vai ser bacana comigo?
CASTRO:  Vais ter que rebolar muito, pra ter o que você quer!
MERCEDES: (vasculhando a bolsa) Resposta errada, vigia burro!
CORTE BRUSO PARA:
CENA O2. INT. BORDEL DA SALOMÉ/ SALA DE ESTAR. NOITE
LUZ proveniente de pequenos abajures. Pouco movimento. “Freguês da Meia-Noite”, de Criolo, tocando ao fundo. SALOMÉ apresenta uma de suas MENINAS a um CLIENTE. O homem a aprecia. A cafetina percebe a chegada MERCEDES e aproxima-se dela.
SALOMÉ: (sarcástica) Resolveu aceitar a minha proposta?
Combalida, Mercedes desaba num dos sofás, agarrada ao álbum de Pérola, guardando-o como um tesouro.
MERCEDES: Por hora, eu só preciso de um quarto e de um bom banho, pra clarear as idéias.
SALOMÉ: E eu preciso de clientes, essas camaradas de hoje não sabem prender um homem. Olha pra essa sala, vazia! Bons foram os nossos tempos, o seu tempo.
Salomé retira um apanhado de chaves, preso a alça do sutiã.
SALOMÉ: Toma essa chave, vai pro teu banho, em nome do nosso passado.
CENA 03. INT. BORDEL DA SALOMÉ. QUARTO/BANHEIRO. NOITE
MERCEDES tranca a porta, despe-se e atira-se debaixo do chuveiro. A água parece purificá-la.
MERCEDES: Você fez o que tinha de ser feito, Mercedes Sodré!
Ela sai do banho, ascende um cigarro, abre a janela que dá para rua e fica ali, parada, olhando para o infinito. Um cigarro e depois outro, mais e outro é só percebe que AMANHECEU quando o sinal do BONDE ecoa pelo interior do quarto.
CENA 04. INT. PENSÃO/ COZINHA. MANHÃ
ADÉLIA prepara o café. FELIPE entra.
FELIPE: Bom dia, dona Adélia!
ADÉLIA: Bom dia, Felipe! Seu tio também sempre chega com o cheirinho do meu café!
FELIPE: E não é, cadê o danado tio Castro?
ADÉLIA: Ah, deve ter tomado umas pingas, além da conta, e perdeu a hora de voltar pra casa.
TOCA o telefone.
ADÉLIA: Corre filho, atende pra dona Adélia!
CENA 05. INT. PENSÃO/ SALA. MANHÃ
FELIPE ao telefone, perdendo o chão, olhos cheios de lágrimas.
CENA 06. INT. PALACETE DE ARMANDO/SUÍTE DE PÉROLA. MANHÃ
MERCEDES ascende um cigarro. O cheiro faz PÉROLA despertar. A garota vê a cama forrada por alguns dos seus retratos sensuais. Mercedes abre as cortinas.
MERCEDES: É hora de acordar pra vida, Pérola!
PÉROLA: (assustada) Quem te deixou entrar?
MERCEDES: A governanta mal encarada bem que tentou me impedir! Coitada!
PÉROLA salta da cama e recolhe os retratos.
MERCEDES: Apenas esses já seriam capazes de causar um bom impacto. Aposto que Armando não suportaria o escândalo! Vai ser duro te ver na sarjeta, perdendo a guarda desse estorvo.
PÉROLA: Cala essa boca, sua maldita, não fala do meu bebê!
MERCEDES: (gritando) Estorvo sim! É muita sorte esse velhote de aceitar grávida!
Pérola avança sobre a mãe, derrubando sobre a cama e botando as mãos sobre a boca dela.
PÉROLA: Não grita! Fecha essa matraca, sua bruxa!
Mercedes assusta-se com gesto de Pérola, livra-se da garota e a encara.
MERCEDES: (decifrando o desespero da outra) Ele não sabe?
Pérola desaba numa poltrona, em prantos.
PÉROLA: Chega! Eu não agüento mais esse inferno! Eu não agüento mais!
Mercedes agarra a garota pelos ombros.
INT. SUITE DE PÉROLA/ BANHEIRO
MERCEDES joga PÉROLA sobre a privada.
MERCEDES: O que você não agüenta mais? Anda, desembucha, Pérola!
PÉROLA: (soluçando) Fecha essa porta.
CENA O7. EXT. OBRA/ CANTEIRO. DIA
Burburinho, aglomeração de PEDREIROS. Um deles é interrogado por PEDRO GOMES, um baixinho na casa dos 40 anos, óculos fundo de garrafa.
PEDRO: Era só ele na obra?
PEDREIRO: Sim. O outro vigia foi trabalhar na construção de Brasilia. O Castro vivia reclamando que precisa de folga.
PEDRO: Ele era de briga, de arrumar bode?
PEDREIRO: Era implicante só!
PEDRO: Implicante só?
PEDREIRO: Sim, senhor investigador.
PEDRO: É camarada, retalharam seu amigo implicante. Coisa de quem tava com ódio.
Um SOLDADO DA PM aproxima-se de Pedro. Cochicha em seu ouvido e lhe entrega algo. Trata-se de um retrato de Pérola. O investigador o mostra para o pedreiro.
PEDRO: Conhece? Já viu por aqui?
PEDREIRO: (esmiuçando a fotografia) Ave Maria, investigador, não dá pra ver quase nada aqui, todo manchado de sangue.
PEDRO: O policial disse que tava escondido no colchão do defunto. Mesmo no estado que está não reconhece, nem por um detalhe?
PEDREIRO: (já devolvendo o retrato) Não, senhor.
Mais burburinho entre o pessoal da obra. JOSÉ acaba de chegar.
PEDRO: (aos soldados) Porra! Não disse que ninguém entrava ,nem saia? Quem é o senhor?
JOSÉ: Sou fiscal da Prefeitura! Vim pra inspecionar a obra!
PEDRO: Vem sempre aqui?
JOSÉ: Regularmente.
PEDRO: (mostrando-lhe o retrato) Já viu essa mulher por aqui? Sei que o estado do retrato não ajuda, mas não custa tentar.
José olha para o retrato. Mesmo manchado pelo sangue de Castro, desfocado em alguns trechos, o fiscal reconhece tão familiar figura. José fica mudo, por alguns instantes.
PEDRO: E então, homem, já viu por aqui?
JOSÉ: (camuflando seu estado de choque) Não. Nunca vi por aqui e nem conheço.
PEDRO: Das duas uma: o defunto retalhado, que tá lá na guarita, é obra de algum corno ou de alguma puta!
CENA 08. INT. PALACETE DE ARMANDO/ SUÍTE DE PÉROLA-BANHEIRO. DIA
PÉROLA ainda chora. MERCEDES ascende outro  cigarro.
MERCEDES: Quer dizer que o travesti tá ajudando o amigo da onça, o Ernesto, a derrubar o Armando? E você entra numa barca furada dessa, Pérola? E depois a bruxa sou eu?
PÉROLA: Não é tudo o que sei. O Ernesto sempre disse que  Armando procurava por uma nova garota, uma novidade pra TV.
MERCEDES: Novidade mesmo: A estrelinha prenha.
PÉROLA: Eu não sabia que estava grávida, as regras ainda vinham, pensei que tivesse sofrido um pequeno aborto. Você sabe quando eu descobri.
MERCEDES: Claro que sei. É impossível esquecer o trambolho que aquela aberração carrega no meio das pernas. Agora, mesmo sendo o que é, um monstro, o pederasta tá certo numa coisa: quando o Armando descobrir, não vai poder fazer nada. O escândalo seria péssimo pra imagem dele!
PÉROLA: Eu vou desistir de tudo. Não agüento mais.
Mercedes sorri e acaricia o queixo da filha.
MERCEDES: Você vai desistir da dupla de trapaceiros, mas desse casamento, jamais! Agora é mamãezinha querida que está no controle, Pérola. Você vai fazer tudo o que eu mandar. Tome um banho e enxuga essas lágrimas. Eu preciso respirar.
CENA O9. INT. PALACETE DE ARMANDO/CORREDOR DO PISO SUPERIOR. DIA
MERCEDES diante o início da longa escadaria de mármore  que desemboca na ampla e belíssima sala principal. Ela sorri.
MERCEDES: Não me tornei uma estrela, mas estou m sentindo dentro do filme “O Crepúsculo dos Deuses”. Já é um ótimo começo!
CENA 10. INT. PENSÃO/ SALA. MANHÃ
FELIPE e ADÉLIA acabam de chegar. Ela joga-se no sofá, esticando as pernas.
ADÉLIA: Enterro é coisa triste!
FELIPE: (arrasado) Coitado do meu tio!
ADÉLIA: O Castro era fogo! Tomava as pingas dele, vai ver que se desentendeu com alguém. Só pode ser isso, filho!
FELIPE: To achando que não é isso não, dona Adélia.
ADÉLIA: (intrigada) Como assim, Felipe?
FELIPE: A senhora não viu que aquela desgraça sumiu daqui?
ADÉLIA: Que desgraça, (dando uma risadinha do apelido) a “Merdesgraça”? Ela veio aqui, pego as tralhas dela e disse que tava indo morar com a filha. Coitada da minha uvinha! Ave Maria, que só lembrei agora, o casamento da Pérola já ta aí! Mas espera aí, filho, o que tem uma coisa a ver com a outra? Você tá me embaralhando toda!
FELIPE: Quando eu fui buscar as coisas do meu tio, os pedreiros me disseram que a polícia achou um retrato lá, um retrato de mulher, mas só um! A senhora tá lembrada do álbum da menina Pérola, que meu tio pegou?
ADÉLIA: É mesmo, você me falou.
FELIPE: O álbum sumiu, nem a polícia achou! Eu to desconfiado que foi ela.
ADÉLIA: Jesus amado! Será?
TOCA a campainha. Adélia vai atender.
CENA 11. EXT. FACHADA DA PENSÃO. TARDE
ROCCO aproxima-se do portão.
ROCCO: Boa tarde! A senhora que é a dona Adélia?
ADÉLIA: Sim, sou eu mesma.
ROCCO: A senhora tem vaga?
ADÉLIA: Tenho sim, meu filho! E você, quem é?
ROCCO: Meu nome é Rocco. Acho que senhora já ouviu falar de mim.
Adélia põe-se a vasculhar sua memória. Fica ruminando aquele nome, quando finalmente se lembra.
ADÉLIA: (seca) Chegou tarde demais, meu caro! Pode desistir!
ROCCO: Eu já fiz isso. Não fazer de novo. A senhora pode me alugar um quarto?
CENA 12. INT. BAR O ANTRO/ CAMARIM. TARDE
Desordem geral. Tudo revirado. Descontrolada, LÚCIA desaba diante a penteadeira. Seu rosto reflete no espelho trincado. GABRIEL procura acalmá-la.
LÚCIA: Desgraçada! Maldita!
GABRIEL: Calma, Lúcia, a pequena não tinha saída!
LÚCIA: Eu vou acabar com ela, pode apostar!
FIM DO CAPÍTULO.



Argumento e roteiro de Alex Spinola: 

37 anos, paulistano, capricorniano. Começou na arte da escrita bem cedo, aos doze anos, quando ganhou sua primeira máquina de escrever, um trambolhão da Olivetti. E dela saíram títulos cafonérrimos, "Passado Negro" e "Amor e Poder". Mas a paixão pela escrita surgiu bem antes, da feita que sua mãe o presenteava com inúmeras enciclopédias, para depois sabatiná-lo, é claro! "Mamãezinha Querida"? Talvez. A certeza de que tinha para escrever ganhou força anos depois, quando ganhou um exemplar de o "Manual Do Roteiro", de Syd Field. E tendo esse como bíblia saiu em busca de oficinas de roteiro, terminando na escola do crítico paulista de cinema, Celso Sabadin. Seu Mestre foi o inigualável Galileu Garcia. Produziu, nesse período, inúmeros argumentos. "Pin-Up" é um deles.

Zanzando pela Internet, conheceu um fecundo bando de apaixonas por roteiros, televisão e cinema e amizades se estreitaram. Isaac Abda e David Vallerio dão conta disso. E foi num desses encontros que o responsável pelo blog "Posso Contar Contigo?" lhe lançou um desafio: "Que tal escrever uma novela, um roteiro para ser publicado lá no blog?". Convite feito, convite aceito. O espaço em questão já havia sido inaugurado por David Vallerio e Lucas Nobre, autores da trama "Golpe Baixo". Além de novelas, é apaixonada por cinema - "Sunset Boulevatd e "Cidadão Kane" estão no topo de sua lista. Aprecia moda, Madonna, Marilyn Manson e músicas dos anos 50, 70 e 80. E pelo que se sabe, detesta todo o resto.

Supervisão de texto de David Vallerio: 

Idade desconhecida. Paulistano. Já foi estilista, produtor de moda, figurinista, ilustrador... Sua vida teve uma reviravolta quando foi selecionado pelo novelista Aguinaldo Silva para a segunda edição da Master Class, no Rio de Janeiro. Homenageado pela Master Class 1 com o personagem Crô Vallério, mas a alma é de Nazareth. Ama discotheque, anos 70, novela, filme americano B, pornochanchada, fofoca e BBB. Detesta axé, funk, pagode, futebol e sertanejo. Não confia em evangélicos e nem em quem é muito bonzinho. Quer agradá-lo? Presentei-o com uma Barbie Farrah Fawcett edição de Colecionador.

Veja também o 5º capítulo, aqui.

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