Recordar é Viver - 20 anos de Barriga de Aluguel

Nesse 2011 que já está mais para o fim do que para o meio, faz 20 anos do fim de uma sensacional novela brasileira: "Bariga de Aluguel". De autoria de Gloria Perez e direção geral de Wolf Maya, a trama que contou com 243 capítulos, contava a história da jovem menina Clara, brilhantemente vivida pela então pouco experiente mas não menos talentosa Claudia Abreu.

Clara uma jovem sonhadora, durante o dia trabalha como balconista e à noite é dançarina, sua grande paixão. Vê no aluguel de sua barriga ao casal estéril Ana (Cassia Kiss Magro) e Zeca (Vitor Fasano) a possibilidade de conseguir uma boa quantia em dinheiro. Este é o eixo principal da  novela.

 A princípio Clara entende a ideia como um simples negócio e tenta manter segredo sobre o assunto. Com o passar do tempo a verdade vem à tona e junto com ela o fim de seu namoro com Bruno (Humberto Martins) e a expulsão de casa pelo próprio pai, numa atuação espetacular de Leonardo Villar. A medida que que avança a gravidez, a relação do trio protagonista acaba se conflitando. Ana sente-se triste e frustrada por não sentir a emoção da gravidez, de ter um ser vivo dentro de si. Ao mesmo tempo Claro começa a desenvolver um certo afeto pela bebe que está gerando e começa a sofrer por ter de abandoná-lo assim que este nascer. 

Com o nascimento da criança, a relação entre Clara e Ana fica cada vez mais difícil e as duas vão para a Justiça lutar pela guarda do bebê. Na época a autora Gloria Perez consultou alguns juízes e pediu que eles dessem sentenças para que ela , da melhor forma pudesse solucionar o caso. Na novela cada uma das mães venceu a disputa uma vez!Outros personagens também foram destaque na trama entre eles os médicos Miss Brown( Beatriz Seagall) e Molina (Mario Lago). O gay vivido por Eri Johnson, a sofrida Aída, interpretada por René de Velmond, entre outros. 

Foi um mega sucesso de audiência, sendo uma novela das 18 horas teve média geral de 48 pontos consagrando assim a autora Gloria Prez, que mesmo tendo que aumentar o nº final de capítulos, não deixou cair a qualidade nem a coerência no decorrer do trabalho, feito raro naquela época e ainda mais raro nos dias atuais, onde mesmo sem ter de esticar a novelas alguns autores acabam se perdendo...

A abertura é antológica, uma perfeita união entre a tecnologia e a emoção de uma música que traduzia bem o enredo contado:

Não menos emocionante foi o lindo desfecho dado à trama, a cena final, com as duas mães seguindo em frente de mãos dados junto ao bebê  é ainda hoje muito lembrada e bonita de se ver!

Com a palavra a criadora: 

Achei importante levar para as ruas uma discussão até então restrita ao mundo acadêmico. Nenhum código antigo define o que é maternidade. Ela sempre foi uma evidência: mãe era a mulher que paria, que carregava a barriga. A partir do momento em que esse deixou de ser o critério de identificação, tudo mudou. O interessante em Barriga de aluguel era focalizar uma experiência da qual não tínhamos referência alguma no passado. Como é ser mãe sem sentir a barriga crescer? Como é não se sentir mãe carregando uma barriga durante nove meses e vivendo um parto? É uma situação psicológica difícil. Em Barriga de aluguel, introduzi, mais uma vez, a realidade na fantasia. Quando a disputa entre as mães explodiu na novela, criei uma repórter que entrevistava as pessoas nas ruas, o povão mesmo, sobre quem era a verdadeira mãe da criança, a Clara ou a Ana, o útero ou o óvulo. Também foram entrevistados médicos, psicólogos, padres e personalidades populares, como a Dona Zica da Mangueira. A polêmica foi grande. Lembro que um dos entrevistados, um médico, respondeu: “Como médico, eu sei que a mãe é a que deu o óvulo, mas, como ser humano, para mim, é a que gerou a criança”.

Glória Perez, autora da Rede Globo.

Ai ai, que num sábado frio como este nada mal relembrar um dos melhores trabalhos da teledramaturgia brasileira e se deixar levar pelas recordações... Espero que gostem, fiz com muito carinho. Bjô!