quarta-feira, 18 de janeiro de 2012

INGRATOS MERECEM O INFERNO

Vi uma entrevista do Boni no Canal Livre da TV Bandeirantes, onde quando o assunto passou a ser novela, ele foi metralhado por uma série de questões que denegriam o gênero. Os três entrevistadores, acostumados a entrevistarem políticos, demonstraram todo o desprezo que a “inteligência” brasileira sente pela telenovela.
Isso não é novidade. Muitos atores de cinema e teatro se sentem superiores aos colegas que trabalham em televisão. O mesmo se passa com realizadores e dramaturgos. Mas o que mais estranho é o fato de muitos profissionais que vivem de TV a desprezarem em declarações públicas.
Acho que a ingratidão é um dos piores defeitos que um ser humano pode ter, até pelo fato dela ser sintoma de uma série de outras falhas de caráter igualmente detestáveis, porém ocultas. Um exemplo muito claro disso foi levantado por Manoel Carlos, em entrevista à revista VEJA em 2004:



“Acho engraçado quando vejo atores de televisão dizendo que não vêem novelas. A maioria declara que só assiste ao Boris Casoy e ao Jô. Como ator de novela não gosta de ver novela? Tem ator que diz: ‘Meu negócio é teatro’. Mas, quando você vai olhar, ele fez uma única peça em dez anos e nunca parou de trabalhar em novela. Acho que é até uma ingratidão, porque eles vivem essencialmente do salário da televisão. Ao aparecer numa novela, ganham projeção. Quando está no ar, ator faz baile de debutantes, cobra para ir a um show. O teatro não tem esses subprodutos. E eles não levam em conta que ator de teatro tem de ter uma formação cultural que a televisão não exige. É difícil um ator de teatro ser absolutamente inculto e desinformado. Na televisão, uma boa parte dos atores nunca leu um livro. Na TV, tem gente que sonha com as capas, mas nem lê as revistas.”

Concordo plenamente com ele. E esse exemplo dos atores serve para outros profissionais envolvidos com a telenovela. Diretores, autores, etc. Muitos fazem televisão e, especificamente novelas, única e exclusivamente pelo dinheiro e exposição na mídia. Retiram muito da televisão e devolvem muito pouco.

Esse comportamento empobrece o produto. A queda de audiência e de qualidade da telenovela tem origem em uma gama de fatores em que com certeza também se insere a mesmice e preguiça criativa de muitos de seus realizadores.

Lembro-me da dignidade de Vinícius de Morais, defendendo as letras que fez para música popular, não as diminuindo quando comparadas à sua brilhante poesia. Pra ele era tudo a mesma coisa. Tudo arte. Jorge Andrade e Dias Gomes fizeram o mesmo ao trocar o teatro pela telinha.

Ninguém é obrigado a gostar de TV. Mas os que nela trabalham deveriam colocar mais amor no trabalho que fazem. Amar o público e a ele oferecer o melhor. Ingratidão me enoja.

Ingratos merecem o inferno.

JOSÉ VITOR RACK
MSN - jrack@walla.com

8 comentários:

  1. Adorei o texto!

    Pura verdade... Sinceramente, a pior coisa que existe na humanidade é o "culticismo"...

    Televisão só por ser de massa é sinônimo de baixa? Sinceramente.

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  2. Concordo plenamente, Zé Vitor. Outro autor que sempre fez bonito no teatro, mas que dá ao veículo Televisão o merecido valor, é o Lauro Cesar Muniz, também por isso, um dos meus favoritos.

    Adorei a objetividade do texto... gostinho de quero mais. Até a próxima, querido e seja muito bem vindo!

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  3. Simplesmente concordo em GENERO, NUMERO E GRAU!

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  4. eu acho decepcionante qdo um ator que faz o veículo o desprestigia mesmo. Atores só de teatro têm uma certa resistência mesmo, porque queira ou não, a televisão aprisiona um pouco o ator na preguiça da escolha e na repetição de tipos. Mesmo assim, acho que isso mudou bastante...só acho chato qdo há atores que não fazem mesmo teatro falam que têm projetos, que estão lendo peças...besteira...tb acho que a televisão tm tido mais influência do cinema do que da literatura por exemplo.Mudança dos tempos.

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  5. Disse tudo. Não é preciso acrescentar mais nada. Parabéns pela reflexão!

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  6. Dias Gomes e Jorge Andrade, citados no texto pelo José Vitor e saudados pela qualidade de suas obras, declararam coisa parecida quando indagados a respeito dessa relação conflituosa entre os profissionais do palco e os da televisão: seria um preconceito imbecil, uma burrice, desprezar o poder de penetração que a televisão daria para suas mensagens e suas manifestações artísticas, que chegariam ao mesmo tempo a um público que não seria atingido jamais em uma vida inteira de teatro apenas com peças de casa cheia em cartaz o tempo todo. Infelizmente há quem trabalhe em televisão por simples obrigação e tenha hoje as mesmas reservas que havia antigamente, seja por questões dramatúrgicas, comerciais, ideológicas ou quais sejam. Entre os atores principalmente, há os que se valem da telenovela apenas como vitrine para que se exponham e chamem gente para o teatro, e do salário da televisão tenham como produzir suas peças. Infelizmente, há quem renegue a telenovela que sustenta sua fama e sua vida profissional.

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  7. Concordo super...
    Alem dos já citados lembro de outro dramaturgo tanto de teatro quanto de novelas: Alcides Nogueira, ele arrebenta nos dois veiculos!!

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  8. Concordo com todos os aspectos do texto, e realmente é decepcionante ver artistas que conseguem fama e visibilidade na televisão e depois, numa postura pseudointelectual, desdenham do veículo, ''inferior ao cinema e ao teatro".
    Parabéns, José Victor!

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