segunda-feira, 16 de janeiro de 2012

Sensual, Passional, Amargo - As Vilãs e seus marcantes Temas Musicais!!!



 Por Eduardo Vieira

Geralmente nas comunidades ou blogues sobre teledramaturgia há uma tendência de se reverenciar mais o passado, o que não se viu. Tentamos suprir isso por meio da memória e pesquisa de cada um dos aficcionados pelo gênero telenovela. Um dos elementos sempre citados, para o bem e para o mal, são as trilhas sonoras que acompanham essas novelas, hoje em dia, cada vez mais feitas de retalhos musicais de outras histórias já conhecidas, o que dói no coração de quem as assiste há mais tempo.
Contudo, algumas vezes, temos excelentes surpresas que nos fazem ter esperança quanto ao cuidado com tão importante componente, como a trilha da novela Cordel Encantado, muito bem escolhida, com os temas bem próximos das descrições das personagens.
Pensando nesses temas que nos acompanham, veio-me a ideia de fazer uma espécie de linha de tempo de temas musicais. Porém como seria possível enumerar de modo geral temas e personagens? Resolvi optar por afunilá-los, ressaltando um tipo muito adorado entre os amantes do gênero, as vilãs das telenovelas.

Nota-se que hoje em dia, grandes personagens muitas vezes não têm temas específicos. Grandes nomes como Nazaré, Laura, Maria Altiva e atualmente Tereza Cristina, por exemplo, para citar a bola da vez, pois há controvérsias quanto à notoriedade de uma ou de outra, exibem apenas temas incidentais ou temas sem relação à verdadeira característica dessas personas.

Refiro-me a temas nacionais, aqueles que por meio da nossa música e língua expressam características desses personagens, tão comuns nas histórias, mas que exibem sempre um diferencial entre si, seja na interpretação do ator que o faz ou por que não dizer, na música que os acompanha.

Na trilha da novela citada, de Duca Rachid e Thelma Guedes, a qual teve como vilã uma condessa, uma espécie de "Morgana" que vem parar no agreste (Débora Bloch), não se pode deixar de ressaltar a letra do cantor singular e compositor estreante Filipe Catto, a metalingüística e soberba "Saga", que exibe uma letra intrincada, contando a história de um ser bem mais afeito à maldade, que não sabe lidar com um sentimento tão puro como o amor, traduzido em versos da canção que diz "Enquanto andava maldizendo a poesia, eu contei história minha pr’uma noite que rompeu" ou no refrão "...E nessa saga venho com pedras e brasas", o que ajuda bastante a moldar essa diabólica e dúbia mulher.



Do mesmo modo, ao assistir a um capítulo da reprise da novela Mulheres de Areia, observei o tema das personagens das gêmeas, tão distintos quanto elas, a linda canção "Figura", acertado tema feito por Orlando Moraes, e a outra canção, " Ai, ai, ai, ai , ai ", a mais perfeita tradução de Raquel, a gêmea má, feita por Ivan Lins, uma composição inspiradíssima que diz na letra... "nosso amor é uma vereda"... e finalmente o refrão que resume a personagem "É as vezes tudo é lindo às vezes tudo engana... mas basta um beijo teu e eu, ai ai ai ai ai ai", o que sintetiza o canto de sereia e o caráter sinuoso dessa mulher.



Como já se faz bastante tempo desse excelente folhetim de Ivani Ribeiro, passou-me pela cabeça tentar lembrar-me da primeira personagem com aspectos vilanescos a que assisti e me veio à cabeça a figura de Fernanda, Dina Sfat, criação de Janete Clair no clássico Selva de Pedra, e curiosamente descobri que seu tema nacional tem o irônico título de "Corpo sano em mente sã", uma composição de Marcos Valle, que fala de uma mulher que pratica esportes e "joga tênis de manhã ", mas por outro lado, joga igualmente com a vida das pessoas, o que nos permite ter uma dica do que pode vir a ser esse personagem.



Já, no remake, em 1986, o mesmo personagem, agora feito por Christiane Torlone, recebeu um tema bem mais direto que mostrava mais claramente o caráter sedutor e caprichoso da personagem, a bela "Perigo", de Nico Resende, imortalizada por Zizi Possi, que dizia "Perigo é ter você perto dos olhos, mas longe do coração", ressaltando a possessividade dessa personagem marcante.

Também algumas vezes esses temas foram mais associados ao romantismo ou até ao lado mais carnal, pois de modo um tanto clichê, associou-se muitas vezes o sexo à vilania, como é o caso do tema de Catucha Karany (Débora Duarte), em Coração Alado, mulher rejeitada, mas líder da relação que vai caçar o ser amado "na cama sem segredos", como diz a música "Momentos" de Joanna e Sara Benchimol, cantada pela primeira.

Falando ainda em personagens rejeitados temos ainda em Alma gêmea a inesquecível "Diz nos meus olhos" (Inclemência), que combina muito com a personagem sempre enjeitada Cristina feita perfeitamente por Flávia Alessandra. Um verso demonstra a que vem a ser a personagem "devolve meus dias, minha alegria, diz nos meus olhos, verdades ruins..." cantado sofregamente por uma cândida Zélia Duncan .Outra canção relacionada à sensualidade desse tipo de personagem é a versão de Nelson Motta de um compositor italiano, que serviu de tema à charmosa vilã feita pela ótima atriz Dora Pellegrino, em Livre pra voar, a sibilante "Veneno", cantada de forma um tanto lasciva pela voz igualmente sensualizada e moderna de Marina Lima.



Quando se fala em vilãs não se pode deixar de mencionar uma que é a amoralidade em pessoa, Maria de Fátima Acciolly (Vale Tudo), outra vez Glória Pires, com seu tema, "Pense e dance", do grupo Barão Vermelho, rock pop que representava em seu andamento a velocidade com que a personagem agia no inicio da história para atingir seus escusos objetivos.



Entretanto há vezes uma certa falta de imaginação; isso pode ser dito pelo fato da música "Erva Venenosa", do grupo Erva Doce, ter sido usada pelo menos duas vezes: há pouco como tema das vilãs cômicas de Escrito nas estrelas, Sofia e Beatriz (Zezé Polessa e Débora Fallabella) e antes em 2001, tema absoluto da vilã Laila, de Um anjo caiu do céu, outra criação de Christiane Torlone, dessa vez mais cômica que a ensandecida Fernanda.



Por falar em comicidade, é curioso recordar o tema da vilãníssima Andrea Souza e Silva, vivida magistralmente por Natália do Valle em Cambalacho, de Silvio de Abreu. Era o rock "Perigosa", da obscura banda Syndicatto. A música virou uma grande brincadeira, como uma espécie de prefixo musical toda vez que a personagem agia de modo cruel, com seu refrão "Perigoooosa" .



Tivemos ainda bolas furadas como em A Favorita. A música de Lenine, "É o que me interessa", uma canção triste e delicada de certo modo esvaziou-se quando se soube que a dona do tema era na verdade uma psicopata. Talvez nesse caso uma música instrumental neutra fosse melhor.

Já, um ano depois, vemos do mesmo Lenine, a excelente "Martelo Bigorna", que casa perfeitamente à personagem da ambiciosa Ivone (Letícia Sabatella), em Caminho das índias. Curioso é que se pode afirmar até que a música nesse caso ajudou muito a melhorar a personagem, com seus volteios de arranjo marcado por violinos, o que combinava com as idas e vindas da misteriosa e cínica vilã de fala doce.

Já, voltando um pouco no tempo, muito mais direto é o tema da vilã absoluta do sucesso de Silvio de Abreu, Guerra dos Sexos, Carolina, vivida excepcionalmente por Lucélia Santos. Temos um autor/ cantor bissexto em novelas, Raul Seixas, cujo eu lírico descreve a amada com desígnios "românticos" como " megera do amor", "vil caipora" e "jiboia do amor" em sua linda música "Lua Cheia"... que cai como uma luva para a amoral personagem que brinca com o amor do homem vivido por José Mayer, o heroico lutador Ulisses. Também outro tema marcante da mesma atriz é o de sua primeira vilã, Fernanda, de "Locomotivas", o soul "Coleção", cantado por Cassiano, que diz "sei que você gosta de brincar de amor" e "um dia você vai sentir por alguém o que hoje eu senti", o que denota a inconsequência da personagem , uma menina mimada, vilã de uma novela mais leve, mas um personagem muito bem escrito pelo saudoso Cassiano Gabus Mendes.

Porém ainda, além da já citada "Saga", tivemos dois bons exemplares de temas muito bem aproveitados nos folhetins. A cruel e amarga "Além do paraíso", tema de Judite em Caras e Bocas (Débora Evelyn) a qual diz em seus "puros versos" "perversa serpente do mal, mentirosa e traidora"... vestida nas vestes mais lindas, quem vê diz que é boa pessoa " e por aí vai destrinchando todas as qualidades dessa vilã , ora tipo, ora humanizada pelo desprezo sofrido, em uma letra quilométrica de Totonho Villeroy e cantada pela excelente Jussara Silveira.

E, por "fim", ao o tema daquela vilã que mereceu uma cena final apenas para ela na trama de Sílvio de Abreu, "Passione", a vilã/mocinha/ Clara com a ótima Fogo e Gasolina, composição de Pedro Luis e do letrista Carlos Rennó, que continha versos como "Você é um avião, eu sou um edíficio, eu sou um abrigo, você é um míssil" que denota a perfeita combinação entre a vilã e seu parceiro. Porém, também dessa vez a composição foi mais adequada do que o casal em si, que naufragou devido a uma composição inadequada do ator.

Claro que muitas outras canções poderiam ser citadas, das vilãs que amamos odiar, por isso convido vocês que lerem esse post a enumerar as que vocês gostam, juntamente com o tema, seja ele passional, sensual , amargo etc.

A vilania apresenta muitas faces, por isso sempre queremos expiar nossas pequenas maldades e atos nem tão corretos por meio da ficção.


Fotos: Google imagens
Vídeos: You Tube.

14 comentários:

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  3. Muito boas as relações entre os temas e as personagens. Ao ler o texto, deu até saudade dessas serpentes do paraíso e suas tramas e trilhas.
    Sim, Edu, quando a direção acerta na trilha para uma personagem seu desenho diante do público fica muito mais rico. Esse é um dos elementos que não pode ser negligenciado, pois traz riqueza e complexidade a essas personagens tão amadas/odiadas por nós e que, na maioria das vezes, são o centro da trama: as vilãs!

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  4. Pra mim, o tema da cachorra Laura, interpretada divinamente por Cláudia Abreu em "Celebridade", foi bem marcante. "Sympathy For The Devil" (Simpatia Para o Diabo) tem uma pegada gostosa e uma letra bem condizente com o perfil vingativo da personagem de Gilberto Braga. O arremate dessa canção, aliás, marcava as passagens de bloco no início da trama, mas logo foi trocado. Devo concordar que vilãs memoráveis como Altiva, Flora e Nazaré mereciam uma música digna para chamar de sua. Ah, impossível ouvir a deliciosa "Erva Venenosa" e não lembrar da Laila. Tô curtindo nesse exato minuto. Hehehehe... Abrs!

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  5. Adorei Edu... O mais marcante pra mim é “Pense e Dance” da inesquecível Maria de Fátima...

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  6. sim, a Laura teve mesmo um bom tema com a música da Natasha, mas sinto falta de um tema nacional...aliás, lembrando , a Norma , feita pro Carolina Ferraz teve um belo tema do Frejat, Dois lados.

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  7. Muito bom, Edu, texto delicioso que nos faz rememorar esses temas que sempre nos levam de volta às tramas. Eu acho que vilãs têm que ter temas marcantes. Você falou do tema da Raquel de Mulheres de Areia e do tema da Maria de Fátima, dois momentos da Glória Pires que sempre me vem à cabeça ao ouvir essas músicas. Pense e dance faz parte da minha playlist, escuto sempre e sempre me remete à vilã do Gilberto Braga.

    E, lá no início do seu texto, você falou de " tendência de se reverenciar mais o passado, o que não se viu". Sempre achei que eu não era disso, mas, no momento que vi o título do seu texto lá no facebook, a música que me veio à mente foi "Erva Venenosa" mesmo que Um Anjo Caiu do Céu seja uma novela com mais de 10 anos.

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  8. Maravilhoso Edu!!!!!!
    Eu já sabia do tema que ele iria abordar há algum tempo e fiquei aguardando ansioso pela leitura do texto. E confesso, superou as minhas expectativas, pois não só falou um pouco sobre as trilhas sonoras, como específicamente sobre trilhas sonoras das vilãs que eu particularmente adoro.
    Sempre ao assistir uma nova novela fico esperando para saber qual o tema escolhido para os vilões, já que costumam muito mais caprichar nas músicas destes personagens do que dos chamados mocinhos, até mesmo por quê são personagens mais complexos. Um casal de mocinhos pode receber qualquer trilha romântica sem desvirtuar suas características, agora um tema mal escolhido para um vilão pode sepultá-lo de vez no imaginário do público.
    Por isto Edu, acho que você foi no ponto! Gostei muito da clareza de idéias e das altas lembranças que você me despertou ao ler teu escrito!!!!!!
    Ahhhh, gostaria só que você tivesse lembrado da minha vilã preferida, a grande, a´única e insuperável Laurinha Figueiroa. Afinal que vilã tem um tema cantado por Maria Bethânia???? "Não solidão, hoje não, quero me retocar, neste salão de tristezas, onde as outras penteam mágoas..."

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  9. Que delícia essa postagem! Sabia que "Coleção" é especial prá mim até hoje, porque era o tema da Fernanda? Eu ADORAVA a personagem!!!

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  10. Que texto delicioso! Que viagem lembrar as vilãs e suas músicas. O tema de Raquel é muito bom, baixei a música do Ivan Lins. Eu não conhecia. A da Cristina de "Alma Gêmea" me marcou. Abraço!
    Lucas - www.cascudeando.zip.net

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  11. Eu não tenho nenhuma trilha marcante de uma vilã que eu tenha amado... Revi Vale Tudo e o tema de Maria de Fátima por mim passou batido. Também não me lembro do tema de Cacau em Celebridade, mas foi inesquecível a sua Cachorra Laura Prudente da Costa.

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  12. Ótimo o paralelo entre as personalidades das vilãs e seus respectivos temas musicais. Apesar de eu não ter assistido a Cambalacho, invariavelmente Natália do Vale me vem à mente ao lembrar da música "Perigosa": que poder uma trilha sonora tem não é?

    Parabéns Edu, adorei o tema e os exemplos citados.

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  13. Eduardo, vc nao escreveu um texto, voce definitivamente produziu um compêndio sócio-musical a respeito da musica nas novelas.
    Fiquei pensando que a emissora que produz a novela, além de encaixar o tema ao personagem, ainda cria ídolos e hits que multiplicam o montante dos valores arrecadados nisso tudo. E olha que nem sou tão noveleiro assim pra pensar nisso. Parabéns, achei incrível. Grande abraço!

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