por José Vitor Rack
Na TV Record e na TV Globo, a telenovela tem espaço privilegiado na programação. Ambas as emissoras mantém um banco de autores titulares e de colaboradores para escrever este produto. Aliás, esse método de trabalho é um dos grandes atrativos para escritores e roteiristas almejarem chegar à televisão. Uma vez contratados, terão uma renda mensal que lhes permitirá viver de escrever sem mendigar oportunidades no cinema ou ter de fazer outras coisas em outras áreas para sustentar-se.
Na TV Globo especificamente, este processo é muito evidente pela quantidade de produtos no ar. A demanda por escritores é enorme. Dentro da Globo há ainda um fenômeno específico que ocorre com o horário de novelas das 21 horas e que poucos críticos notam.
Aguinaldo Silva sempre fala em suas entrevistas sobre as “ararinhas azuis”: os poucos autores capazes de enfrentar a estiva de escrever uma novela da faixa mais nobre da casa. Neste grupo estão o próprio Aguinaldo, Manoel Carlos, Glória Perez, Gilberto Braga, Benedito Ruy Barbosa, Sílvio de Abreu e João Emanoel Carneiro. Sete cabeças, que podem ser facilmente reduzidas para cinco ao levarmos em conta que Benedito não escreve neste horário desde a década passada e Manoel Carlos, de idade avançada, anunciou que está preparando sua última novela. O mais novo da patota, João Emanoel Carneiro, ali está desde 2008. Não entrava gente neste grupo desde Benedito Ruy Barbosa, em 1993.
Como se dá a escolha de tramas para o horário de novelas mais popular do país?
Aí é que reside o fenômeno que pretendo discutir neste texto. Não há escolha. As novelas são escolhidas pelo autor da vez. O máximo que se faz é vetar uma sinopse que não atenda as expectativas da emissora. Aí chama-se o autor seguinte e esse carrossel de escritores perpetua-se sem direito a nenhuma novidade.
Quando chega sua vez, o autor apresenta um projeto. Se não houver problemas graves de orçamento ou de temática, ele está automaticamente aprovado. Aprova-se pelo nome. É a nova novela de fulano! Sim, é sua nova novela. Mas será que fulano tem algo novo a dizer? Algum público a conquistar, alguma fronteira estética para explorar?
A TV Globo, empresa capitalista, iniciativa privada, inserida no mundo moderno, utiliza métodos típicos do funcionalismo público para selecionar seu melhor produto. Pessoas que sabem que não concorrem com ninguém a não ser elas mesmas, apresentando produtos que não tem o diferencial como ponto de partida. A TV Record, em menor escala, reproduz essa prática. Gisele Joras, Marcílio Moraes, Lauro César Muniz e Cristiane Fridmann revezam-se na faixa das 22 horas há alguns anos.
Globo e Record não seriam mais eficazes na busca por bons projetos se aprovassem as novelas por sua qualidade intrínseca? Abrindo espaço para que todos os seus autores contratados apresentem projetos para seus melhores horários, e os aprovando se forem realmente bons? O interessante é que isso ocorre em outros horários e as coisas funcionam muito bem, obrigado.
Poucos se dão conta, mas Alcides Nogueira, Carlos Lombardi, Walter Negrão, Walcyr Carrasco, Ricardo Linhares, Euclydes Marinho e Maria Adelaide Amaral já passaram pela faixa das 21 horas da Globo de uma forma ou de outra. Todos eles poderiam ter projetos aprovados para esta faixa caso tivessem esta oportunidade, fossem chamados a colaborar. E reparem: não estou falando de estreantes nem de gente inexperiente. Walter Negrão está na televisão desde os anos 1950...
Nem estou levando em conta as dezenas de colaboradores experientes já contratados, além de dezenas de dramaturgos que estão fora da televisão, e que também poderiam dar conta do recado, tendo um autor experiente supervisionando o texto, é óbvio. Não custa lembrar que Aguinaldo Silva e Glória Perez escreveram juntos sua primeira novela solo nesta faixa tão nobre. Partido Alto não foi um sucesso retumbante, mas entre mortos e feridos salvaram-se todos. E hoje, ambos são duas das “ararinhas azuis” mais caras do viveiro.
Nem sempre arriscar dá errado.
A mesmice asfixia, desanima, é perniciosa.
@josevitorrack
Acho que desses que vc falou, só a Maria Adelaide Amaral teria estofo de escrever pras 21:00 ou até a Lícia Manzo com uma história mais forte. O restante não tem perfil, acho..o Walcyr é um tanto ingênuo, a não ser que faça adaptações, o Walter Negrão faz um trivial, Ricardo Linhares eu teho trauma de Meu bem querer e o Euclides Marinho se perdeu desde Quem ama não mata..por isso acho que o João Emanuel foi pro horário nobre mais que merecidamente.Ainda temos o Alcides Nogueira que não é meu preferido, apesar de amar A Força de um desejo, mas seu O Astro foi bem recebido pela maioria da público, penso... excelente abordagem, Zé Vitor... muito legal pensar sobre esse futuro...também acho que autores da Record irão pra Globo e o novo talvez venha da chamada Recópia...ironia, não?
ResponderExcluirTenho que concordar com você, Edu... tenho a impressão de que alguns nomes da Record migrarão de volta a Globo. Lamento por isso, pois acho que o mercado precisa de várias opções de entretenimento e não apenas uma fonte.
ExcluirA Maria Adelaide, Lícia Manzo (temo que ela carregue na tinta e uma novela sua no horário nobre se torne uma Gigantes/Máscaras, então talvez seja melhor ela continuar por um tempo no horário das seis ou até mesmo, diversificar numa trama leve às sete) e o Alcides Nogueira têm potencial para inovar no horário nobre.
Há muito tempo eu vejo é como fórmula falida o investimento em novelas no Brasil, sinceramente. Séries como "A Grande Família" fazem MUITO mais sucesso há anos e não despencam IBOP, e aí?! Não está na hora de MUDAR?! Enquanto isso, o público q não tem opção de tv fechada engole goela abaixo oq a tv aberta QUISER botar no ar.
ResponderExcluirBeijos.
Já tá até mudando isso, Paulinha... daqui a pouco tempo "todos" terão opção de TV fechada, e que de fato, oferece produtos mais rebuscados. Mas as novelas bem escritas/dirigidas ainda terão lugar cativo nesses lares, imagino. É muito nosso isso, povo brasileiro, gostar de se ver retratado na telinha. Precisa urgentemente é injetar sangue novo no horário, intercalando com os já consagrados.
ExcluirJosé Vitor,
ResponderExcluirO carrossel de autores é meio que um direito adquirido por trabalhos realizados, de maneira que a Globo só coloca neste seleto grupo quem lhe dá o retorno esperado, deixou de ser interessante ela saca deste grupo, como já aconteceu com vários autores, e olha, pelo que sei não basta ser a nova novela do fulano, é preciso ter uma série de quesitos para o fulano ter a nova novela, tanto que eles negociam atores antecipadamente, diretores de núcleo, roteiro da nova trama, a escolha não é tão simples assim.
Na Record a coisa deve ser mais complicada, porque os autores com contrato são em um número bem menor, veja que o Tiago Santiago mal tinha descanso entre uma novela e outra, teve que emendar 3 fases de Os Mutantes e o mesmo está acontecendo com REBELDES.
Entendi perfeitamente a proposta do texto do Zé Vitor, e assino em baixo, mas também compreendo o que aqui diz o Sidney, de fato as escolhas não são assim tão automáticas, mas há sim, algo de "acomodação" generalizada, principalmente na Globo. Vale ressaltar que o horário ganhou ares mais "coloridos by povão" a partir de Fina Estampa, pois gostem ou não do Aguinaldo Silva, ele é um autor antenado. O JEC tem cumprido bem o seu papel e não decepciona como autor das 21.
ExcluirEssa característica de improviso na Record, já é passado... Há autores competentes lá e o revezamento poderia ser até maior. A Gisele Joras por exemplo tá há alguns anos sem escrever, a Ana Maria Moretzohn voltou pra Globo, a Cristiane Fridman, dizem que também fará o mesmo caminho de volta. Acho que a Record tem é que saber segurar sua equipe.
Olá, nossa adorei o texto. E concordo plenamente com tudo, me parece que os autores tem autonomia na rede globo, ou seja eles sabem que seu lugar já está garantido, e sua novela mesmo não sendo boa, e não sendo original, vai ser aprovada e produzida, talvez por isso eles não estejam se preocupando tanto em inovar. Penso que esses autores acima citados, os do horário nobre,escrevem porque são competente no que fazem, e gostam do que fazem, mais também, porque a globo pede, e ele sabe que aquela é a vez dele, e ele tem que escrever uma novela de qualquer jeito. Agora um autor novo e inexperiente, esta batalhando por um lugar ao sol, ele quer aquilo mais do que tudo, e escrever uma novela talvez seja o seu maior sonho, por isso seu empenho sera sem duvida melhor, pois ele terá que conquistar um lugar, diferente dos autores que já conhecemos que já conquistaram o seu lugar e já são reconhecidos. Acredito que se não houvesse essa escala, e se a globo desse oportunidade igual a todos os autores, fizessem uma triagem do que é bom ou ruim, sem duvida encontrariam grandes trabalhos, e não estou falando só dos roteiristas contratados não, falo também de grandes dramaturgos que estão ai espalhados pelo Brasil e que ainda não tiveram chance, que escrevem muito bem, é só procurar em sites e blogs, que encontra gente de muito talento, aqui no posso contar contigo, tem dois exemplos: Golpe baixo e Pin-up, duas obras primas, as emissoras deveriam estar atentas a isso, seria a grande chance de inovar as novelas e séries. Apesar de tudo, que fique claro que não acho que os autores ja consagrados devam perder seus lugares, mais sim dividir o espaço com gente nova, isso talvez até os estimularia a tambem procurar oferecer algo novo. Fico por aqui.
ResponderExcluirhttp://brincdeescrever.blogspot.com.br/
Legal seu comentário, Fábio... Você é um querido. Valeu pela referência ao Desafio Novela em Blog, de fato os meninos que participaram, capricharam e vem coisa boa por aí. Você vai participar, né moço?! rs
ExcluirAbraço!
Opa, claro que sim, participarei com muito prazer. KKK, conte sempre comigo.
ExcluirExcelente crítica! Gostaria que a Globo aprovasse as sinopses pela qualidade e não por esse engessamento que encontramos na emissora.
ResponderExcluirLucas - www.cascudeando.zip.net
Onde assino, brother? É isso aí, quando começarem a agir desse modo as novelas ganharão ares mais interessantes. Ficaremos todos contentes e por consequência, também a emissora.
ResponderExcluirValeu pela presença sempre sentida, Lucas. Abração!