sábado, 21 de abril de 2012

Os novos tempos musicais e as trilhas sonoras



Por Guilherme Fernandes

Diversos são os fatores que contribuem para o sucesso de uma telenovela. O texto do autor, uma direção afinada, o elenco entrosado e também as trilhas sonoras. Um bom personagem tem uma trilha que o carrega. Escutamos a música tema e logo nos lembramos de um determinado casal de personagens. Você seria capaz de recordar de algum?
A utilização de trilhas sonoras em telenovelas aconteceu de maneira gradual. Nos anos 1950 e 1960, eram usados arranjos instrumentais de músicas famosas. Em meados dos anos 1960, já havia trilhas cantadas (a primeira foi para “Gabriela cravo e canela”, novela não diária da TV Tupi carioca, 1961). A comercialização destas trilhas - em forma de compacto com apenas duas músicas - começou em 1964 com as telenovelas “Renúncia” (TV Record), “Melodia Fatal” (TV Excelsior) e “O direito de nascer” (TV Tupi de São Paulo). “Véu de Noiva” da TV Globo foi a pioneira, portanto, em comercializar um disco long-play com músicas gravadas especialmente para exibição na trama – a chamada trilha sonora original. Na década de 1970, especialmente no âmbito da Rede Globo, as novelas tinham suas trilhas sonoras originas e também as com músicas famosas de grandes nomes da MPB.

Chega os anos de 1980 e o Brasil vivia um momento de efervescência musical com o rock nacional, que unia bandas como Barão Vermelho, Kid Abelha e Legião Urbana e também grupos tidos como trashs, como Sempre Livre, Metrô, Tremendo, Trio Los Angeles, Dominó, entre outros, que alcançaram as paradas de sucesso com inúmeras canções.
O (bom) momento musical brasileiro refletia nas produções cinematográficas e de telenovela. Os sucessos dessas bandas eram tocados demasiadamente em quase todas as telenovelas globais. Certamente, os que não gostavam desse estilo nutriam um sentimento de popularização da trilha sonora, visando, sobretudo, sua comercialização. Músicas de qualidade duvidosa como “Tipo one way” do grupo Ciclone, por exemplo, estava na trilha de “A Gata Comeu” que ainda contava com sucessos do Ritchie, Barão Vermelho, Biafra, Sandra de Sá, Fábio Jr. e Magazine com o tema de abertura. Esse boom de músicas do momento também foi expresso em diversas outras telenovelas desse período.

Esse rápido histórico só foi inserido com o intuito de refletir para as atuais trilhas sonoras, especialmente as das recentes telenovelas “Avenida Brasil” e “Cheias de Charme” que reúnem os cantores brasileiros mais populares na atualidade. É claro que o momento surgido nos anos de 1980, em que muitos criticaram essa popularização da trilha sonora se repete nos dias de hoje. As críticas são em torno da tão falada nova classe C. Concordo e discordo com algumas dessas críticas, mas na questão das trilhas sonoras não creio que sejam tão relevantes. O movimento similar que vemos hoje é o de apenas inserir (e valorizar) o novo cenário musical brasileiro nas telenovelas.
Em minha opinião, “Vem dançar com tudo” entoada por Robson Moura e Lino Krizz da abertura de “Avenida Brasil” e a divertida “Ex my Love” de Gaby Amarantos em nada diferem do momento musical de outrora que permitiu o grupo Frenéticas fazer sucesso cantando “Dancin’Days” na telenovela homônima de 1978 e que Sidney Magal rebolasse ao ritmo da Lambada em “Me chama que eu vou” na abertura de ‘Rainha da Sucata”, em 1990. É a nova realidade musical sendo refletida na teledramaturgia.

Na contramão das tramas globais, a telenovela “Máscaras” da Rede Record prima uma trilha sonora mais robusta, com músicas instrumentais e com regravações de clássicos da MPB. “Máscaras” e “Cheias de Charme” apresentam estilos musicais completamente diferentes, mas ambos com foco na atual realidade musical. O espectador tem o poder de escolha em definir qual das trilhas levará para sua casa. Você já escolheu a sua?

Foto: Google Imagens
Vídeos: You Tube

3 comentários:

  1. Gui, texto pertinente ao momento musical das telenovelas, meu caro. Mas eu sou desses que se curtir uma trilha sonora, nem tá aí pra quem vai criticar, ou menosprezar... Sou classe Z e faço jus a ela. (risos)

    Mas brincadeiras a parte, não tem que se ficar defendendo este ou aquilo estilo musical, baseando-se apenas num gosto particular. Tem que se considerar sim a preferência popular, respeitando-a, e obviamente, observando se esta ou aquela música ratifica a proposta da novela, a história das personagens.

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  2. Acho que, infelizmente, hoje em dia as trilhas sonoras não são bem aproveitadas nas novelas. Até uns 10 anos atrás elas eram marcantes. Escutávamos uma canção e rapidamente ela nos fazia lembrar de um personagem, uma situação ou uma cena. Nos anos 80 isso era muito forte. As trilhas eram encomendadas e compostas para os personagens e as novelas. A última trilha marcante da qual me lembro foi a de "Mulheres Apaixonadas" em 2003. Os 2 CDs lançados mesclavam músicas nacionais e internacionais que foram muitíssimo bem utilizadas ao longo de toda a novela. E olha que não foram músicas feitas especificamente para a novela, mas caíram como uma luva. O problema é que hoje o ritmo das novelas mudou drasticamente. Tudo é rápido demais. E o número de personagens triplicou. Não dá mais para cada um ter seu tema. O público nem tem tempo de deixar as músicas grudarem na memória. Por isso as trilhas são mal utilizadas hoje, salvo raríssimas exceções. Acho uma pena porque até hoje, ao ouvir canções de novelas que assisti na infância, ainda me lembro nitidamente de personagens, lugares e cenas. Talvez a própria desvalorização do CD tenha contribuído também para o mal aproveitamento das trilhas das novelas. Hoje todo mundo baixa tudo da internet, são poucos os que ainda vão a uma loja atrás de um CD (eu sou um desses poucos). As trilhas das novelas não são mais produtos lucrativos como eram nos anos 70, 80 e 90. Por essas e outras que até hoje ainda escuto meus discos antigos de novelas.

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  3. ontem mesmo eu ouvi de manhã o tipo one way rsssss acho que a graça das novelas é terem essas surpresas, músicas bregas, cult, internacionais, internacionais brazucas....não tenho preconceito qdo o negócio é trilha,mas adoro qdo vejo trilhas que têm a ver com personagens , podendo ser da Kelly Key ou da Bethânia. Contanto que a música funcione...acho chato a falta de memória ou cuidado com músicas que migram magicamente de um personagem pra outro e a preguiça das trilhas incidentais, todas com a trilha do pé na jaca ou tempos modernos.... o povo da tv acha que a gente não repara. Muito bom texto...adorei.

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