Por Eduardo Vieira
Inegável o sucesso alcançado
pela novela atual das nove, Avenida Brasil, não deixando para trás o êxito de
sua antecessora, Fina Estampa. A trama foi ganhando o público e também a crítica
com cenas com agilidade e direção cinematográficas (ajudada pelo formato em
película) bem casadas à linguagem televisiva e cenas passadas em um subúrbio
que de tão real torna-se por vezes caricato como só a realidade é em sua
essência.
O autor João Emanuel Carneiro
foi alçado ao horário nobre depois da mão segura, com a supervisão do mestre Silvio
de Abreu, em Da Cor do Pecado, em que mostrava o quanto se podia extrair de uma
trama um tanto batida, sem novidades, com um elenco e locação certos. O romance
interracial de Paco e Preta e a família Sardinha ganharam o grande público,
provando que não há mesmo receita para a química de histórias de amor nas
novelas.
Mesmo com uma trama
posterior menos bem sucedida, mas que também recebeu alguns elogios da crítica,
Cobras e Lagartos, em que estranhamente os coadjuvantes foram mais populares do
que o casal principal, feitos com maestria por Marília Pêra, Lázaro Ramos e Thaís
Araujo, nada o impediu de atingir seu posto de “Ararinha Azul”, apelido dado
pelo autor Aguinaldo Silva aos poucos e bons autores eleitos para o horário
nobre.
Entretanto a costura teledramatúrgica
de João Emanuel exibe imperfeições que paradoxalmente foram fazendo sua marca
registrada: A trama dos coadjuvantes, pouco ou nada aliada ao centro da
história. Foi assim em Da Cor do Pecado com os núcleos do pai Helinho, Matheus Nachtergaele
e outro bastante engraçado composto pelo trio Ney Latorraca, Maitê Proença e Graziela
Moreto.
Por outro lado em sua estréia
no horário das nove, ele trouxe uma história que já começava no curioso teaser,
duas mulheres narrando a mesma história e uma dúvida: Quem falava a verdade, ou
melhor, o que era a verdade? Flora e Donatella
bateram qualquer par romântico, subvertendo um pouco as histórias principais
dos folhetins, ainda mais na escolha não óbvia das atrizes. Claudia Raia e Patricia
Pillar que com seus estereótipos conseguiam enganar o público no início da história.
Porém um personagem fura o bloqueio da história central e merece menção, a
personagem de Lília Cabral que teve tanta atenção quanto à história central que
era bem monopolizadora, como se os principais fossem as peças principais de um
tabuleiro e o restante do elenco, peões e outras peças que se movem para
formação de histórias paralelas que nem sempre são bem resolvidas.
A Favorita também sofreu
certa rejeição por isso e pelo fato de não trazer uma história mais
convencional, personalidades mais claras e por haver uma carga de violência e
sordidez que não eram vistos no horário.
Entretanto como há
detratores do autor há também os seus admiradores pois mesmo não sendo o inventor de um ritmo
mais climático, o autor é hoje responsável por ganchos que nos fazem lembrar as
melhores novelas de Janete Clair e Gilberto Braga, mesmo seu estilo não lembrando nenhum desses clássicos
autores.
Outra que tem sido sua marca
é trazer temas igualmente já vistos na telinha
e colocá-los de cabeça pra baixo, como o mito do amor dos pais, tema
bastante presente desde produções mais
antigas da Excelsior e outras emissoras.
Notamos nesse “tabuleiro”,
que alguns personagens sobressaem na trama central (a ênfase no final do
capítulo nos indica isso, a história pende para tal personagem, hoje está mais
para outro). Isso ficou notório quando personagens como Ivana dominaram a cena (em
uma das reviravoltas mais surpreendentes e críveis da história, quando esta se
mostra amiga da personagem principal na internet), mesmo essa trama sendo
abordada cedo demais, pois parece que as duas mal se conhecem hoje.
Agora vemos uma maior
participação da personagem da excelente Bianca Comparato, a falsa Rita, que
genialmente serve para a personagem principal comprovar com um afastamento que
o alvo de sua vingança ainda merece ser punido.
O que é curioso é que os
personagens maus-caracteres têm uma vida dupla e nem eles sabem mais ao certo o que são e sobretudo o que desejam,
pois se acomodaram no papel da esposa zelosa e do marido escroque. Eles
envolvem-se nos dramas e comédias da família como se fossem integrantes desses
próprios acontecimentos, quando por muitas vezes são os agentes. Esse é o
grande diferencial dessa vilã que já é um clássico pela sua falta de classe, de
humanidade, pela sua vulgaridade explícita. O que diferencia a excelente Carminha
de Flora, mas as duas tendo a alta dissimulação como elementos coincidentes e
também altas competências dramatúrgicas, se bem que isso fica melhor explicado
na segunda, pois foi vítima de um sistema de pobreza, ou seja, não é má por ser
má como a personagem de Patrícia.
Como Lília Cabral em A Favorita,
vemos outro peão sobressair à trama central. Inesperadamente, um papel já meio
requentado, mas que adquiriu fôlego novo pela verossimilhança do texto e boa
interpretação de Isis Valverde que trafega pelos núcleos, indo parar até na
casa da vilã e reconhecendo a essência desta como se fossem almas gêmeas.
Naturalmente que como em
quase toda novela, há um núcleo cansativo do também cansativo Alexandre Borges,
o Seu Quequé de João Emanuel; as historietas são chatas, repetitivas e
percebemos que nem sempre o humor obrigatório para uma novela como essa
funciona. Ponto para Débora Bloch que até em cenas solo dá um toque de classe
com seu texto e personagem engraçados. As tiradas de Verônica em relação à
família de Tufão são sempre muito boas.
E por último, em se tratando
de personagem principal, vemos Tufão como um personagem à primeira vista sem
graça, altamente manipulável, mas sendo redescoberto pela relação intelectual,
sua válvula de escape à obrigatória rotina de chefe e ídolo de futebol, com a
ajuda da heroína Nina, com quem ele se mostra encantado. Mais uma criação de
composição de Murilo Benício que por vezes se camufla atrás do histrionismo de Carminha,
a melhor interpretação da novela, a fênix Adriana Esteves.
Em tempos de cada vez mais
dificuldades de se fazer uma novela que prenda a atenção do espectador, João Emanuel
mais uma vez cumpre sua obrigação com louvor.
João Emanuel Carneiro é o cara, genial, apesar de todos os pontos baixos citados no texto, ele só faz tramas geniais.
ResponderExcluirA que menos gostei foi a primeira DA COR DO PECADO!
Mas mesmo assim, foi ótima tb!
Avenida Brasil está pau a pau com o clássico A FAVORITA.
Atualmente ele escreve as melhores novelas da GLobo. E ponto!
Parabéns Edu pelo ótimo texto!
Fabio
www.ocabidefala.com
Bacanudo né? Parabens Edu!
ResponderExcluirhe he bacanudo...amei!!! tks
ExcluirParabéns, Edu, pelo texto. Só acho que poderias te ater mais a obra atual do que ficar fazendo contrapontos com as anteriores. Digo isso porque não sou mais tão noveleiro como fui um dia. Assim, fazer comparações com as outras obras do autor não me acrescenta muita coisa, até porque não as assisti. Vi coisa e outra, mas não acompanhei de fato. Fora isso, gosto do teu texto. O que tenho visto de Avenida Brasil me agrada. Principalmente pelo formato, essa coisa meio cinematográfica, levada pra telinha/telona (dependendo das polegadas a fotografia fica muito linda mesmo). Sucesso sempre pra ti, guri!
ResponderExcluirCarlos Eduardo Valente
Minha novela favorita dele é A FAVORITA!
ResponderExcluirJEC como já citado é mesmo um gênio!
Texto pertinente. Realmente o autor é fantástico!
ResponderExcluirAvenida Brasil supera todas as novelas anteriores desde....... a última dele:
A FAVORITA!
ÓTIMO TEXTO
Excelente texto,
ResponderExcluirJoão Emanuel Carneiro, é extremamente talentoso, e é um gênio na arte de fazer novelas.
Adoro todas as suas tramas, Da cor do pecado foi a melhor novela das 7 dos anos 2000, cobras e lagartos não fica atrás. A Favorita foi uma maravilha, um respiro de alivio no meio de tantas novelas ruins, as que precederam e sucederam. Avenida Brasil, dá gosto de ver, e para mim é um digno novelão, o melhor trabalho do autor até hoje, ele sabe lhe prender nossa atenção. Concordo com o Comentário do Fábio, no momento ele escreve as melhores novelas da globo. Só discordo no texto, quanto A favorita, não vi violência e sordidez no texto, tínhamos apenas uma vilã capaz de tudo, e isso fez de Flora a vilã mais terrível das historia das telenovelas. Quanto aos núcleos coadjuvantes, para mim JEC nunca decepcionou nas paralelas, e essas tramas não necessariamente precisam estar ligadas a trama central. No caso de da cor do pecado, Pai Helinho era o melhor amigo da protagonista, e Edu e Verinha eram os pais da vilã Barbara, ou seja mesmo tendo suas próprias historias, de certa formam estavam relacionados ao núcleo central. Enfim é isso, João Emanuel Carneiro é o cara, o admiro muito e me espelho nele.
http://brincdeescrever.blogspot.com.br/
Texto maravilhoso e concordo com alguns pontos, mais até agora AVENIDA BRASIL não é essa A FAVORITA toda :P
ResponderExcluirJurandir Dalcin - www.jurandir.dalcin.zip.net & www.jurandirdalcinnovelas.blogspot.com.br
Xeeeeeque Mate,Carneiro nos da a cada produção,adorei o texto edu;]]
ResponderExcluirAdorava assistir A Favorita, umas das novelas que numa época de produções pouco ou nada marcantes, certamente entrou pra lista de clássicos da nossa teledramaturgia, pela ousadia. O João Emanuel Carneiro fez por onde estar entre os principais autores da Rede Globo.
ResponderExcluirQue venha outras grandes obras de sua autoria... ótimo texto, Edu... abração!
Excelente panorama geral sobre Avenida Brasil, mais contrapontos em relação às obras anteriores do JEC. Parabéns Edu!
ResponderExcluirEste comentário foi removido pelo autor.
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