Por Denis Pessoa
Olá, pessoal!
Depois
de algum tempo, volto a postar por aqui, e hoje escrevo para comentar sobre os
atuais meios e veículos utilizados para se contar histórias. Ora, já sabemos
que ficção é quase como oxigênio, e precisamos dela todos os dias de nossas
vidas. Porém, ela está mais presente do que imaginamos em uma primeira
reflexão, e não apenas nos momentos que optamos por relaxar.
Nina, a mais recente vingadora. |
O faz-de-conta é tão
importante em nossas vidas, que, mesmo sem perceber, ocupamos muito de nosso
tempo analisando, comentando, refletindo, como se o que discutimos se tratasse
de algum fato real, sobre as histórias que nos são apresentadas: filmes,
novelas, seriados, livros, peças. Cada um com um jeito singular de prender a
atenção, de entreter e comover, de fixar em seu público a mensagem pretendida.
Norma, de vítima a monstro. |
Pois
bem: a meu ver, pouco se comenta sobre o modo de fazer essas histórias.
Costumamos falar sobre o produto final – se gostamos, odiamos, se compreendemos
ou não. Porém, geralmente ignoramos que o material que estamos acompanhando
possui uma estrutura única, própria para o meio em que é veiculado, e ao seu
público.
Nesse
post quero falar basicamente sobre estrutura e linguagem. Por que o cinema se
comunica de um jeito, TV de outro, se tudo é imagem? Por que não posso escrever
um romance no formato de um roteiro e despertar o mesmo interesse? Por que as
pessoas não leem meu roteiro com a mesma facilidade e interesse que leem um romance?
Emily: vingadora americana. |
Vamos
começar com a TV, já que vivemos em uma sociedade audiovisual. Especificamente,
as novelas: diferentemente do cinema, tiveram, no inicio, como base, as radionovelas,
que já existiam, ou seja, a prioridade, embora hoje, com TV’s maiores e
melhores, que permitem imagens incríveis ainda é do áudio. Precisamos ouvir os
personagens, seja o dizem ou o que pensam. Compreender ações e pensamentos dos
personagens através de gestos singelos e olhares não combina com a telenovela,
onde precisamos saber o que o personagem sabe. Segredos?
Nosso protagonista pode ter com outros personagens, jamais com o publico.
Novela é espiar o cotidiano alheio, é ter acesso diário aqueles personagens, em
todos os instantes de suas vidas, é ter um compromisso com eles, por meses.
Novela, diferente do cinema, é convivência. E descobrir algo desconhecido de
alguém com quem se convive por meses não poderia despertar outra sensação que
não a de traição.
O romance que inspirou nossas atuais justiceiras. |
Novelas, por serem
obras muito mais longas, não permitem muitas sutilezas. Tudo precisa ser
expansivo, suntuoso, ter todo seu potencial dramático explorado até as últimas
consequências e lágrimas.
Edmond Dantés: o vingador mais famoso. |
Diferente das novelas,
que possuem um público mais abrangente, o cinema pode restringir ao extremo os
seus temas, intentos e público alvo, embora evidentemente o cinema como
indústria possa visar exatamente o contrário. O cinema pode dar-se o luxo de
ser subjetivo em suas “morais da história”. Permite com mais facilidade personagens
e desfechos ambíguos. Em novelas isso também é permitido, porém, obra mais
democrática, a telenovela precisa fazer com que sua mensagem seja captada pelo
público em sua totalidade. Embora possa oferecer algumas dúvidas, é obrigada a
proporcionar quantidade superior de certezas.
Famoso e cruel romance epistolar. |
Com os seriados, a
coisa funciona um pouco diferente. Utilizando como base os seriados americanos,
já que a produção de seriados dramáticos no Brasil não é tão prioritária e não
segue os formatos que já estamos acostumados a ver, podemos perceber que nessas
obras, os personagens já podem ser menos lineares. Como a novela pede
personagens mais evidentes – não quer dizer personagens rasos – os personagens
de seriados podem oscilar mais, ser ambíguos. Não há necessidade de ser bom.
Como o seriado abrange um publico mais restrito, fica possível explorar mais
possibilidades, arriscar mais. De uma temporada para outra, um personagem pode
retornar com a personalidade completamente reformulada, sem que isso altere ou
deturpe o produto final. Um vilão pode ser o protagonista. Não há obrigatoriedade
de ter um representante do bem, por exemplo, se a série é sobre mafiosos. Ou o
bem não necessariamente triunfa nestes casos. Isso não choca e revolta o
público. Em seriados, falamos de mundos restritos: polícia, advogados, serial
killers, atores, enfim.
Adaptação do romance em 1989. |
Fica sendo o grande
diferencial dos seriados em relação às novelas. Em parte devido ào tamanho da
obra, um seriado, consideravelmente menor em capítulos e maior em período de
produção que uma novela, tende a ter menos personagens, e se focar mais na
trama central que em tramas paralelas. Nas novelas, o público geral pede uma
grande variedade de personagens na mesma obra: os que fazem rir, os que fazem
chorar, os que dão medo. Em um seriado, os mesmo personagens adquirem todas
essas funções ao mesmo tempo.
Por fim, sua versão teen contemporânea. |
Nos
seriados, assim como nas novelas, existe a convivência com os personagens e seu
universo. Embora só os vejamos em momentos cruciais e marcantes de suas vidas,
diferente de uma novela, onde podemos acompanhar nossos heróis e vilões em todo
tipo de situação corriqueira, em tal ponto, nos sentimos íntimos deles,
especialmente porque geralmente esperamos uma semana para reencontrá-los.
Romance de 1958. |
Depois
disso vem a sétima arte, visual por natureza. O cinema não pede diálogos
obrigatoriamente. Aqui os atores não precisam falar: imagens, expressões e ações
valem mais e dizem mais, pois aqui, o tempo é curto. Por isso, exige-se do
cinema um realismo e verossimilhança maiores. Uma novela sem diálogos cansaria
um telespectador.
Temos
também a literatura, e aqui nos me restrinjo aos romances. Os romances literários
tem incontáveis formatos e estilos e é muito difícil generalizar, sendo talvez
a forma mais livre de todas para se contar uma história. Nem por isso deixa de
ter suas regras. Aqui, prima-se pela narrativa dos acontecimentos, pensamentos
e diálogos. Em literatura, a despeito dos grandes romances e franquias
literárias, dificilmente se exercita a convivência, embora possamos nos sentir
íntimos dos personagens através da exposição, clara ou metafórica dos seus
sentimentos. Algo único, em se comparando à TV e o cinema.
Sônia Braga: Gabriela na TV e no cinema. |
Então,
temos o teatro. Tal qual o cinema, o teatro tem como meio de transmissão de sua
mensagem, a imagem. Porém, não somente isso. Com o contato direto com o ator e
o cenário, o público tem o prazer de imaginar. Ao contrário do cinema e da TV,
que oferece um universo pronto, o teatro, tal qual a literatura, expõe
fragmentos de uma imagem ou pensamento. O resto fica por conta da imaginação de
quem assiste a peça. Assim como o cinema, o teatro tem um tempo muito curto para
passar uma mensagem, ou seja, precisa ser bem incisivo, ou corre o risco de não
mostrar a que veio.
Juliana Paes: nova adaptação. |
Espero
que vocês tenham notado, nessa breve análise, que cada tipo de obra preenche
necessidades únicas, que se completam . Obra completa contada através de um
único meio é algo que não existe. Se pegarmos a mesma história e adaptarmos
para teatro, cinema, TV, literatura ou música, serão diferentes releituras,
novos significados, novas versões. À exemplo, a “Gabriela” de Walcyr Carrasco,
que, tenha sido embora fiel ao livro, precisou de arranjos para se tornar uma
novela com mais de 60 capítulos. Walcyr extraiu cada gota de informação
oferecia pelo livro de Jorge Amado – algo que o autor tem feito muito bem por
sinal. Transformou cada mera citação do romancista em uma trama em potencial
para a novela, e com isso, deu uma nova cara a já louvada obra. Como por
exemplo, o casal Osmundo e Sinhazinha, que quando o livro começa já estão
mortos, na novela tem a oportunidade de viver, em detalhe a sua história de
amor e desfecho trágico.
Pessoal,
vou ficando por aqui, pois acho que vocês já sacaram o que eu quis dizer. Encerro
este post perguntando a vocês por mais exemplos de formatos para se contar uma
historia, além de bons exemplos de histórias que já foram contados em mais de
um formato, as que vocês gostaram, as que não gostaram, e por quê.
Comentem!
Participem!
Um
grande abraço!
formato acho que vc citou todos..temos os chamados gêneros literários romance, crônica, miniconto, agora muito na moda.Confesso que não consigo ler roteiros com prazer como leio uma peça, por exemplo.Acho que a diferença das nossas histórias pra dos americanos cujos seriados são sensacionais mesmo , dando de dez em muitofilme que é feito hoje em dia, é que nós estamos numa tevê aberta e lá apesar de toda caretice eles conseguem expor temas que nós nem sonhamos em abordar...coisas do Brasil.Boa ideia, Dênis.
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