Por Paulo Lannes
Brasília
chamou a atenção do mundo nos anos 50 com a sua construção no meio do cerrado e
hoje é um dos nove patrimônios da humanidade pela Unesco situados no Brasil,
mas mesmo assim poucas vezes é retratada no cinema nacional. E quando o é,
acontece de maneira superficial pegando algumas características que podem até
serem corretas, mas que não indicam o que é ser brasiliense como um todo. Vamos
averiguar.
Cartaz do Filme Brasília 18% |
Brasília
18%, filme de Nelson Pereira dos Santos, retrata uma capital política
completamente corrupta, onde vale tudo pelo dinheiro. Malu Mader é uma deputada
que usa a beleza e o sexo para conseguir o que quer. Karine Carvalho é a
concursada que trabalhava na Comissão do Orçamento e foi (presumidamente) morta
por isso. Todos os outros são personagens políticos que só tem ganas por
dinheiro e fazem de tudo para que o legista, interpretado por Carlos Alberto
Riccelli, faça o relatório do jeito que eles querem. Lembrando que esse
especialista vive em Los Angeles, EUA, e é único que corre atrás da verdade. Já
deu pra sacar né? A cidade não tem ninguém que preste (até o motorista é
corrupto). O mocinho da história vem de fora e só assim para sê-lo.
As atrizes Karine Carvalho e Malu Mader |
Cartaz do filme Insolação |
Já
o filme Insolação, dirigido por Felipe Hirsch e Daniela Thomas, tem um enfoque
completamente diferente. A política não é sequer comentada. Na verdade, a
cidade é vista como um antro de solidão seco e quente. As pessoas que vivem por
lá, além de serem poucas na cidade, não se ligam umas a outras. Então, quando a
estação da seca chega a seu auge, o calor acaba sendo confundindo com paixão,
trazendo um motivo para essas pessoas se comunicarem. Simone Spoladore é a
protagonista da película. O sofrimento dela chega aos extremos. Se sente tão
solitária que uma conversa banal numa barraca de lanches toma toda sua atenção,
e a paixão (que na verdade era calor na sua mais agonizante forma) chega nela
com tanta força que ela acaba por transar e se humilhar pra um completo
estranho.
A atriz Simone Spoladore como protagonista |
Apesar
de Brasília 18% e Insolação abordarem pontos completamente opostos, é possível
perceber que não há um olhar atencioso sobre a capital. Ela é muito mais do que
corrupção e já não pode ser considerada um lugar vazio. O Distrito Federal
conta com mais de dois milhões de habitantes que vieram de todas as partes do
Brasil, se tornando múltiplo em sua cultura. Além disso, a corrupção é um
problema nacional, sendo muito mais exposto nas regiões do Norte e do Nordeste
do que na capital do Brasil. Claro que críticas sobre esses assuntos são
pertinentes e devem ser feitas. Mas só isso?
Cartaz do Festival de 2012 |
Além
disso, não há como dizer que não há uma cultura de cinema na cidade. A capital
abriga o Festival de Brasília do Cinema Brasileiro, o mais antigo do segmento em todo o país e um
dos mais importantes. O público que vai ao cinema só perde em quantidade para
Porto Alegre, capital do Rio Grande do Sul. Inclusive, foi criado um centro
multivisual de cinema no Sobradinho (uma das regiões administrativas do DF) que
caiu aos pedaços por falta de uso e manutenção. Talvez, se um dia pararmos de
olhar para a cidade como se ela fosse a verdadeira Sodoma e Gomorra ela poderia
se transformar em algo grande. Mas é a tal versão bíblica que perdura na
cidade. Enquanto isso, no calor eles irão continuar a se apaixonar. Mas e no
frio?
Sei bem o que significa Brasília. Morei lá por 18 anos e não gosto nenhum um pouco daquele lugar, apesar que, os meus melhores amigos estão lá. Mas quanto às observações, Brasília mistura essa coisa do calor, da seca, da corrupção, de Sodoma e Gomorra, mas existe um outro ponto importante: a cidade é muito espiritualizada. Os espíritas e evangélicos tomam conta da cidade. Tenho um sonho, escrever uma novela sobre o Planalto Central com todos os ingredientes de uma "Avenida Brasil".
ResponderExcluirBela estréia no blog, meu caro... Fiquei curioso pelos filmes citados.
ResponderExcluirAté o próximo post. Abração!!!