by Sidney Rodrigues
Entra ano e sai ano e as escolas de teatro estão sempre cheias de novos alunos ávidos por se tornarem atores profissionais. Os processos seletivos das escolas de teatro estão cada vez menos pautados no talento e mais pautados na condição do "postulante" a ator em pagar as altas matrículas. Basta olhar o número de reprovações existentes nos cursos de teatro. O número de atores e atrizes que mal sabem ler e interpretar um texto cresce a cada dia. A grande maioria termina os cursos, mas nem sempre chega a exercer a atividade artística.
Muitos estudantes só começam os cursos porque sonham em fazer sucesso na televisão, ou seja, a arte mesmo e o domínio das habilidades necessárias para ser um grande ator ficam em segundo plano. As gravações de TV acabam sendo demoradíssimas porque muitos deles têm "dificuldade" em decorar o texto que precisam falar. Se não entendem a cena, o texto e a sua participação no contexto da cena, o resultado é apenas uma repetição de palavras decoradas.
Claro que em meio a essa nova leva de postulantes a atores e atrizes, existem pessoas repletas de talento, intuição e domínio da palavra, mas ser ator é muito mais do que isso, é preciso saber ler, escrever, interpretar e entender um texto, preparar-se vocal e corporalmente, ou seja, ter artifícios suficientes para exercer de forma correta a profissão e não prostituir a arte brasileira.
Penso que as escolas de formação de atores seriam mais efetivas se as provas seletivas tivessem uma amplitude maior e pudesse escolher entre os candidatos, não apenas aqueles que "gostem" de teatro, mas sim aqueles que saibam ler de forma correta, que não sejam um desastre com a língua portuguesa, tenham raciocínio lógico, bom senso de espaço, afinal não basta decorar um texto e subir ao palco, é preciso conhecer as técnicas, ter domínio de si para saber onde está, conhecer os seus sentimentos e as tantas pessoas que existam dentro de uma só, com as quais irá trabalhar ao longo de uma carreira.
Há um trecho memorável do clássico filme Cantando na Chuva, em que um ator com domínio de espaço, entendimento de cena, habilidades para dançar e cantar lindamente, dá um show. Em resumo, um ator completo. Basta reparar que a cena acima não tem cortes, o diretor conseguiu filmá-la da maneira que provavelmente imaginou. Podia contar com um excelente profissional envolvido no projeto.
Ser ator é bem mais do que ser bonito, decorar e falar um texto, é preciso contracenar, perceber o outro que está em cena com ele, ter noção da técnica e porque está ali. Já vi cenas onde os atores e as atrizes sofriam, choravam e saiam de cena achando que tinham arrasado, quando na verdade a interpretação foi tão rasteira que as palavras mal saiam da boca.
Tem uma coisa que me irrita mais que tudo quando vou ao teatro e este é pequeno, e ainda assim, percebo os atores com microfone em cena. Seria falta de extensão vocal? Não haveria possibilidade de ser ouvido até na última fileira, de forma precisa? Se não tem esse domínio, precisa voltar a estudar. A voz e o corpo são os elementos fundamentais do ator e é preciso que o mesmo tenha consciência disso, caso contrário fará sempre o mesmo personagem ou a representação de si em cada trabalho que fizer.
É comum ver alguns atores criticados de modo bem humorado com a frase "ele/ela estudou na escola CIGANO IGOR de interpretação?!". A explicação para isso é óbvia. O intérprete do personagem Igor, o ator Ricardo Macchi, não estava preparado para o papel. Ele mesmo concorda com isso. Sua participação na novela era pequena, num outro papel, de uma hora para outra o colocaram como protagonista, sem preparação, sem direção efetiva e sem conseguir entender o que era ser ator e o que o papel pedia dele. Claro que o resultado foi uma catástrofe e marcou negativamente a carreira dele, mas o erro não foi dele e sim de quem o escalou para o papel. E isso acontece TODOS os dias no teatro, cinema e TV. Todos os elencos estão sempre às voltas com um ator ou atriz que só foi escalado para o papel porque o produtor, o autor ou o diretor "GOSTA" dele. Nada demais ter simpatia por uma pessoa ou outra, mas achar que só porque ela é bacana pode se dar bem atuando é outra coisa bem diferente.
Tive o prazer de ser aluno da saudosa Célia Helena e ela sempre dizia que nós atores nunca estamos prontos, nunca estamos completos, precisamos aprimorar e estudar sempre, e que sem essa dedicação estaremos sempre fadados ao fracasso ou à interpretações rasas e medianas. O teste para adentrar ao Curso Célia Helena não era dos mais complexos. Antes de me decidir por fazê-lo, eu estudava no Conservatório Carlos Gomes, em Campinas/SP. Neste, o teste durava 5 dias e além do entendimento de 5 peças de teatro clássico, teste vocal, corporal, improviso, era exigido ter noções de história do teatro.
Se quisermos ver trabalhos com mais qualidade precisamos de atores e atrizes que possam se preparar mais para o exercício da profissão!
Não é todo dia que brota um Tony Ramos, um Antonio Fagundes, uma Walderez de Barros ou uma Adriana Esteves, que aliás, sofreu na pele a inexperiência, mas se esforçou e deu a volta por cima, mostrando dedicação, garra, preparação e talento.
Falta auto crítica de muitos e sobra pretensões, tava vendo agora 'Guerra dos Sexos', não acompanho a novela, mas vi uma pequena cena. Vergonhosa as atuações do Giane e Jesus Luz. Giane já tá há um bom tempo e até hoje não conseguiu construir personagens? Jesus Luz nem se fala. Acho que muitos escolhem essa área por vaidade, mas talento que é bom. Adorei seu texto.
ResponderExcluirAnálise precisa e atualíssima. Realmente o que mais falta aos atores novatos é talento e vocação pra arte de interpretar. Sobra beleza, mas muitas vezes nem simpatia há em alguns rostos recém lançados.
ResponderExcluirAté o próximo, Sid. Abração!
Que nada, não tem essa de "talento ". O lance é trabalhar muito! O talento só é usado 10% e o restante é trabalho e D-E-D-I-C-A-ÇÃO! O cara de rostinho bonito acha que é só chegar e ficar de boa. Tsk-tsk...
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