terça-feira, 28 de maio de 2013

A hora e a vez das trilhas instrumentais

 
                                                                                                                                Por Daniel Pilotto

Estamos vivendo uma época de contradições, de mudanças, o que era bom ontem hoje já não é mais. E não poderia ser diferente dentro daquilo que o brasileiro mais gosta: a novela de TV.
As tramas se modificaram e hoje tem que atingir principalmente a dois públicos bem distintos, os de maior poder aquisitivo que abandonaram as redes abertas e migraram para a tv a cabo e também ao público mais popular ao qual eles costumam classificar como “classe c”. Atualmente estamos assistindo novelas num ritmo cada vez mais ágil semelhantes aos seriados da tv norte-americana, e que ao mesmo tempo contam com ingredientes, personagens e situações consideradas popularescas.
Como não poderia deixar de ser, no meio desta nova realidade a música é uma das principais vitrines da mudança. E para as trilhas sonoras nacionais (as principais vítimas desta tendência) sobrou uma diversidade extravagante de estilos, e que em determinados casos chega a ser gritante vide a irregularidade dos volumes nacionais de AVENIDA BRASIL, por exemplo.

Nesta contradição surgem as trilhas instrumentais ganhando cada vez mais espaço e adquirindo um status nunca antes imaginado diante do cenário descrito logo acima.
A princípio este tipo de música ficava restrito apenas à execução dentro da novela, em sua grande maioria como temas de ação, suspense ou romance tocando no fundo das cenas. Em alguns casos eram adicionadas às trilhas nacionais, em no máximo duas ou três faixas, apenas como complemento. Hoje o cenário é outro e percebeu-se que estas faixas por si só podiam e deviam ganhar um cd próprio, pois havia um público bastante interessado no produto.

Não há um registro preciso da primeira trilha instrumental composta especialmente para uma novela. Elas sempre existiram, principalmente numa época da tv em que ainda não se tinha o hábito de criar temas para os personagens das tramas. Em sua maioria estas trilhas eram executadas por orquestras das próprias emissoras, e os temas eram variações de temas da música clássica ou arranjos instrumentais de músicas americanas. Quase sempre lançadas em vinil, no formato compacto de no máximo quatro faixas. Desta fase são bem conhecidas as trilhas compostas ou executadas por Erlon Chaves e sua orquestra em novelas como O PREÇO DE UMA VIDA (Tupi 1966) entre outras.
É apenas nos anos oitenta que uma trilha instrumental ganha uma edição especialmente composta para a novela, o que consideramos até hoje como trilha complementar, em BAILA COMIGO (1981). Além da trilha nacional e internacional a trama ainda contava com a instrumental composta por Robson Jorge e Lincoln Olivetti, um compacto simples com apenas quatro faixas.

Anos mais tarde a trilha instrumental ganha o destaque que merece pelas mãos do músico e compositor Marcus Vianna. O ano era 1990 e a novela era o grande sucesso PANTANAL da Rede Manchete. Aqui os temas instrumentais tinham tanta importância quanto a história da novela, pois eles eram a síntese das imagens daquele cenário tão fascinante. A trilha foi amplamente executada dentro da trama e foi um grande êxito de vendas ao lado das duas belíssimas trilhas nacionais.
Marcus Vianna ainda compôs as trilhas instrumentais das novelas ANA RAIO E ZÉ TROVÃO (Manchete 1991) que só teve um lançamento oficial em cd com sua reprise recente pelo SBT, da novela A IDADE DA LOBA (Band 1995), XICA DA SILVA (Manchete 1996/97), TERRA NOSTRA (Globo 1999), O CLONE (Globo 2001) e das minisséries CHIQUINHA GONZAGA (1999) e A CASA DAS SETE MULHERES (2002), todas estas lançadas não oficialmente pelas emissoras, apenas pela gravadora do próprio compositor.

 

Na Globo, a primeira novela a ganhar uma trilha instrumental complementar foi ESPERANÇA (2002). Assinada pelo maestro John Neschling a convite do diretor da novela Luís Fernando Carvalho, os trinta temas da trilha foram compostos especialmente para os personagens e as situações de uma novela de época. Executados por uma orquestra completa é um dos maiores exemplos de criação, podendo até ser considerado verdadeiramente um álbum de música clássica tamanha a grandiosidade de sua produção.

Depois de uma breve ausência as trilhas instrumentais voltariam com tudo. A novela BELÍSSIMA (2005) marca este retorno. Composta por Sergio Saraceni (AEIO URCA, A MURALHA, O CRAVO E A ROSA, A PADROEIRA) esta é uma trilha sofisticada com temas de suspense e mistério dignos de uma trilha sonora de filme de Hitchcock. Uma das trilhas instrumentais mais difíceis de ser encontrada. Na própria época de exibição da novela ela já era rara nas lojas, e hoje alcança preços absurdos em sites de vendas.
Este é um detalhe bastante relevante sobre as instrumentais, suas tiragens são bastante limitadas, não passando de mil cópias.




Diversos nomes ficaram conhecidos pelos fãs de novelas por conta das trilhas instrumentais. Além dos já citados Marcus Vianna e Sergio Saraceni, temos Edom Oliveira (ANOS REBELDES, HILDA FURACÃO, SENHORA DO DESTINO) André Sperling (RAINHA DA SUCATA, RIACHO DOCE, VAMP, PEDRA SOBRE PEDRA, DE CORPO E ALMA, OS MAIAS, BELEZA PURA, PARAÍSO),Alberto Rosenblit (AGOSTO, EXPLODE CORAÇÃO, POR AMOR, TORRE DE BABEL, ETERNA MAGIA, MAD MARIA. A FAVORITA) Guilherme Dias Gomes (O FIM DO MUNDO, ANJO DE MIM, DONA FLOR, PORTO DOS MILAGRES), Alexandre Guerra (A VIDA DA GENTE), Victor Pozas (DUAS CARAS, FINA ESTAMPA) Rodolfo Rebuzzi (BELEZA PURA) entre outros.


Com destaque para três nomes bem representativos: Roger Henri, Mu Carvalho e Alexandre de Faria.

Roger Henri é arranjador e produtor musical de trilhas sonoras de programas da Rede Globo desde 1983. Mas com toda a certeza suas composições mais famosas estão na teledramaturgia, somando mais de 1.600 músicas veiculadas em trilhas sonoras da emissora, incluídas em novelas como MEU BEM MEU MAL (1990/91), LUA CHEIA DE AMOR (1990/91), DESPEDIDA DE SOLTEIRO (1992), ANJO MAU (1997), FORÇA DE UM DESEJO (1999), PARAÍSO TROPICAL (2007), INSENSATO CORAÇÃO (2011) e LADO A LADO (2012/13). E em minisséries como O PRIMO BASÍLIO (1988), DESEJO (1990), TEREZA BATISTA (1992), MEMORIAL DE MARIA MOURA (1994), ENGRAÇADINHA (1995), UM SÓ CORAÇÃO (2004).
Com a novela LADO A LADO o compositor ganhou uma trilha instrumental inteira contendo 32 temas especialmente criados para a trama. Suas composições casam muito bem em tramas de época.


Mu carvalho é outro compositor bastante produtivo. Ex-integrante do grupo A Cor do Som, Mu se dedica atualmente apenas á composição de temas para trilhas sonoras de filmes e novelas. É o compositor mais solicitado para as tramas dirigidas por Jorge Fernando, em novelas como ZAZÁ (1997), ERA UMA VEZ (1998), VILA MADALENA (1999), AS FILHAS DA MÃE (2001), CHOCOLATE COM PIMENTA (2003), ALMA GÊMEA (2005), SETE PECADOS (2007), CARAS E BOCAS (2008), TI-TI-TI (2010) e GUERRA DOS SEXOS (2012/13).
Teve suas composições originais lançadas em três cds de trilhas instrumentais, são eles TRÊS IRMÃS (2008), CARAS E BOCAS e GUERRA DOS SEXOS. Seus temas são essencialmente voltados para tramas mais ágeis e com forte influência de comédia.



Alexandre de Faria é um nome novo entre os compositores mais conhecidos, entretanto vem demonstrando uma composição forte e bastante fértil em trilhas sonoras. Está presente nas últimas tramas de Glória Perez, responsável pelos instrumentais da minissérie AMAZÔNIA DE GALVEZ A CHICO MENDES (2007) e das novelas CAMINHO DAS ÍNDIAS (2009) e SALVE JORGE (2012/13). Estas duas últimas com trilhas instrumentais maravilhosas e de uma emoção sem igual. Se forte são os temas étnicos com arranjos épicos e dramáticos, a cara das novelas da autora.




Enfim, as trilhas instrumentais representam uma grande parte do sucesso das novelas, pois dão vida às cenas e aos personagens quando não é possível a utilização dos temas cantados. E que mesmo com a baixa qualidade da música nacional que estas pelo menos tenham vida longa, encantando, emocionando e sendo lançadas cada vez mais.

9 comentários:

  1. Bom, muito bom... super interessante, bem comentado!

    Mauro Gianfrancesco

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. Obrigado querido Mauro Gianfrancesco!!!!!!

      Excluir
  2. Hoje em dia a coisa anda muito feia. As músicas não dão unidade ao disco e, pior de tudo, quase não têm nada a ver nem com os personagens para as quais são escolhidas. Se é que pode ser pior ainda, não dizem nada da novela.
    Acho que a questão da música no folhetim é essencial, mas não sei por que tem perdido tanta importância nos últimos anos. Temos o grande problema da falta de músicas novas, de que uma novela realmente lance uma trilha nunca antes ouvida.
    Eu sei que uma música antiga, conhecida, pela qual as pessoas tenham alguma memória afetiva ou que de cara elas possam saber do que está falando, é sempre mais fácil para ilustrar as dores de amores de algum personagem, nada contra seu uso, mas em pequenas doses.
    Acontece que hoje virou obrigação toda vez que existe uma personagem malvada que se escolha Erva Venenosa como trilha, ou toda vez que uma personagem for sedutora, superfeminina, que se use Puro Êxtase. A próxima vez que uma dessas músicas embalar os sonhos de alguma personagem nos próximos dez anos, eu juro que desligo a televisão na hora, ou mudo de canal. Não suporto mais.

    ResponderExcluir
  3. Ah, Daniel, morsegão minha ou as trilhas incidentais nas novelas êh recente? Falando, claro, das trilhas especialmente compostas para esse fim.
    Tenho impressão que as trilhas incidentais de antigamente usavam trechos melódicos de uma música cantada da trilha sonora normal da novela. Por exemplo, em Vale Tudo, quando os vilões aprontavam, aquele sonzinho que se ouvia estava ou era o meio de uma das musicas da trilha nacional.

    ResponderExcluir
  4. Tenho impressão onde se lê morsegão kkk

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. Querido Tom!!!! Adoro tuas análises sobre minhas postagens pois elas sempre entram com um complemento ao que já escrevi, acrescentando muito mais informação!!!!!
      Pois é, antes as trilhas instrumentais,ou incidentais, eram apenas uma variação orquestrada do tema cantado dos personagens e isto era bastante limitante para as novelas. Agora temos trilhas instrumentais compostas especialmente para as novelas o que já confere um charme especial, principalmente nesta época de música tão ruim não é!
      Obrigado amigo, amei você por aqui!!!!!!!

      Excluir
  5. Um compositor de trilhas instrumentais que também é ótimo e que não foi citado nessa matéria é Renato Ladeira, que compôs músicas para novelas como Gente Fina (1990), Barriga de Aluguel (1990/91), Felicidade (1991/92), Deus nos Acuda (1992/93), A Próxima Vítima (1995), entre outras. Dessas novelas para as quais ele compôs, na minha opinião as de Felicidade são as melhores, para as mais variadas situações: romance, drama, ação, mistério, tensão, maldade... enfim, pras mais diversas situações descritas naquela trama, não é a toa que de tão boas, algumas de Felicidade acabaram voltando em Deus nos Acuda e A Próxima Vítima e quem quiser conferir, procure pelos vídeos daquela novela no Youtube. São maravilhosas, marcantes, inesquecíveis!!!

    ResponderExcluir
  6. Bem que o Alexandre poderia lançar o álbum de #HajaCoração, pois sãos excelentes. Sobre #FinaEstampa o CD de instrumentais de decepicionou, pois a novela tinha tantos bons, dai em um cd, tão esperado, com faixas bestas.

    ResponderExcluir
  7. Por favor gostaria que postasse os instrumentais da novela A Padroeira, mas não os do cd. os instrumentais de fundo que são exclusivos da novela.

    ResponderExcluir

Related Posts Plugin for WordPress, Blogger...