Por José Vitor Rack
A
telenovela moderna nasceu, floresceu e se desenvolveu no Brasil, de modo a
tornar-se o nosso mais importante e difundido produto audiovisual. Na cultura
brasileira ela só perde em relevância e influência para a música, deixando na
poeira o teatro e o cinema.
Com
o mundo sendo sacudido pela revolução digital, o produto telenovela parece ter
perdido fôlego. Como costuma dizer um amigo que trabalha no ramo, novela é língua morta. Sendo mais
radical, a própria grade de programação é algo em desuso.
Eu
posso gravar aquele capítulo que eu estava aguardando na minha HD para ver
depois. Ou posso ver pelo YouTube. Ou ainda no site da própria emissora. Ou
posso fazer como muitos já fizeram e continuam fazendo: para de ver novelas, ao
menos do modo convencional. Pagando menos de R$20,00 mensais eu posso ver
várias novelas e todos os filmes que eu quiser pelo NetFlix. Posso jogar meus
games ou ver meus seriados em DVD.
O
cenário é amplamente desfavorável aos rituais que cercam uma novela. E eles já
foram muitos. Essenciais para a quase que sacralização do gênero no Brasil.
O
capítulo ia ao ar mostrando a última cena do capítulo anterior, o famoso gancho. Este é um dos raros rituais que
se perpetuaram e continuam sendo respeitados.
Depois
desta amostra das emoções que seriam ali apresentadas, entrava a abertura,
ligeiramente maior do que é hoje, e o primeiro intervalo comercial. Aí sim, as
cenas inéditas iam ao ar, com a vinheta apresentando o número daquele capítulo.
Se por acaso o autor da novela estivesse doente ou fosse afastado por algum
motivo qualquer, esta vinheta também informaria quem era o substituto através
da frase “Capítulo escrito por fulano de
tal”.
Findo
o capítulo, entrava outra vinheta dizendo a frase tão famosa: A seguir, cenas dos próximos capítulos.
E tome mais um comercial. E o incrível é que quase ninguém mudava de canal.
Todos seguiam esperando as tais cenas, quase todas mudas, abafadas por alguma
música da trilha sonora que precisava ser promovida.
As
músicas nacionais tocavam até a metade da novela, sendo substituídas pelas
internacionais que seguiam até o fim. Música internacional era quase que
proibida na abertura de uma novela.
Depois
das cenas dos próximos capítulos, a abertura era repetida com os créditos
completos de toda a equipe técnica. A abertura não trazia os nomes de todos os
atores, apenas dos vinte ou trinta mais importantes. Todos os outros vinham no
final, como elenco de apoio.
Em
Mandala (TV Globo, 1987/1988, 20
horas, de Dias Gomes) os nomes de Marcos Breda e Raul Cortez não constavam da
abertura, ainda que Hans (Breda) e Pedro (Cortez) fosse praticamente
co-protagonistas da novela. Motivo? Eles entraram na novela já começada. E,
mais um ritual, não se costumava mexer em abertura de novela.
A
novela das seis começava às 17h50min. A das sete às 18h50min. A das oito às
20h00 em ponto. Igualmente a das dez. Os capítulos eram mais curtos e as cenas
mais longas. Poucas novelas passavam de 180 capítulos.
Era
outro mundo. Um mundo sem internet, com apenas quatro ou cinco opções de canais
de TV e umas dez emissoras de rádio. Um mundo onde as pessoas liam jornais e
revistas de papel e costumava-se mandar cartões de natal.
Um
mundo ainda não extinto, mas que já começa a dar sinais claros de estar em
avançado estado de decomposição.
Acredito na teoria de Lauro César Muniz de que a telenovela nunca vai acabar, mesmo com o advento da internet. Eu acredito, como ele, de que a telenovela se transformará em uma minissérie, pois hoje ninguém tem mais paciência de acompanhar uma obra que dure 9 meses. Com as minisséries no lugar de novela, se abrirá mais campo de trabalho para todos os profissionais de roteiro, atuação, direção, etc.
ResponderExcluirJá se percebe que TV GLOBO - maior produtora de novelas no país - prevê esse fato, e que anda diminuindo o número de capítulos de suas novelas (sobretudo das 6 e das 7, que agora não passam de 150 capítulos, quando uma época chegou a ter mais de 200 - como O CRAVO E A ROSA, atualmente em reexibição)
A leitura estava tão interessante e, de repente, acabou... que pena!... Bons detalhes, muito bem colocados... Parabéns, José Vitor Rack...
ResponderExcluirMauro Gianfrancesco
Obrigado pelo carinho, Mauro!
ExcluirEssa questão de ficarmos esperando as tais cenas dos próximos capítulos, mesmo mudas e abafadas por uma trilha da novela, como bem disse o José Vitor, era algo hipnotizante mesmo. Tanto fascínio assim, só a música mesmo causa!
ResponderExcluirRicardo Anthonyo
A teledramaturgia brasileira é a mais forte e melhor em qualidade do mundo... os estrangeiros ficam doidos!
ResponderExcluirBruno Ferreira
A telenovela hoje, apesar dessa fase tão monótona que atravessa, ainda resiste no Brasil porque está entranhada na cultura de seu povo e a Rede Globo ainda é a grande monopolizadora das massas quando se trata do gênero. Outras emissoras tentam competir neste campo, mas sempre terminam em crise, como a Record vem atravessando desde o início do ano. O que mudou mesmo foi a maneira como as pessoas assistem às novelas. Não há mais aquela ansiedade em ver o capítulo como acontecia há uns 15 anos pelo menos porque agora o público sabe que poderá vê-lo a hora que quiser pela Internet. O grande problema da telenovela hoje, a meu ver, está no horário nobre que insiste com os velhos autores. Sangue novo, apenas João Emanuel Carneiro tem vez. Só haverá renovação de verdade quando esses autores da velha guarda da Globo se aposentarem de vez, porque tudo que eles fazem hoje é reciclar tudo que já criaram antes.
ResponderExcluirMANDALA, UM LIXO DE NOVELA!
ResponderExcluir