quinta-feira, 15 de agosto de 2013

Arbitrário Folhetim - 10º capítulo

De Isaac Santos

Capítulo 10

Cena 1. Casa de Alexandro. Quintal. Exterior. Dia.

Todos os convidados sentados, se servindo de uma deliciosa maniçoba. Clotilde faz questão de demonstrar o seu contentamento por estar se relacionando com Alexandro. Os dois são só carinhos. Olga tenta controlar-se, disfarçar o seu ciúme. Davi parece gostar da situação. Estão em conversa adiantada.

Adelaide – E no fim ele caiu com as pernas pra cima... (todos gargalhando)
Antero – Essa foi boa, Adelaide. (mudando de assunto) Vitor, que tal falar daquela sua ideia pro Alexandro?
Vitor – Alexandro, eu acho que falta um casamento vocal pra Clotilde. Algo que dará ainda mais beleza às suas apresentações. (Davi está olhando fixamente pra Vitor)
Durval – Antero, se eu bem lhe conheço, você já tá de olho no talento da moça, né?
Antero (rindo) – Digamos que podemos fazer uma bela parceria. A minha rádio tá mesmo precisando de um evento. O Vitor sugeriu que fizéssemos algo que já acontece lá no sudeste.
Davi (a Antero) – Problemas com a sua rádio?
Antero – Quero acompanhar o ritmo de outras emissoras bem sucedidas, Davi.
Vitor – A ideia é abrirmos um concurso musical lá na rádio.
Antero – A escolhida faria dupla com a Clotilde.
Durval – E o bar do hotel entraria como nessa história?
Antero – Nós vincularíamos o concurso ao bar. A Clotilde ganharia um status bem maior.
Alexandro – É, eu não vejo problema na proposta.
Durval – Só não vá querer bancar a famosa e pedir aumento, Clotilde. (descontrai)

Cena 2. Casa de Alexandro. Quintal. Exterior. Dia.

Clima de descontração, conversa descompromissada. Os convidados estão espalhados pelo quintal.  Há num canto uma mesa de frutas e sobremesas diversas. Olga e Davi estão por ali se servindo.

Olga – Você sabia de tudo, né?
Davi – Do que você tá falando?
Olga – Não se faça de desentendido, Davi.
Davi – Esqueça essa menina, Olga.

Clotilde se aproxima.

Clotilde – Tão gostando da salada de frutas? (se mostrando segura de si)
Davi – Tá mesmo uma delícia. Com licença, vou ali falar com o Alexandro. (sai)
Clotilde (discretamente) – Eu quero você bem longe de mim e do meu amor.
Olga – O mundo não gira em torno de você, queridinha...
Clotilde – Então o que é que você tá fazendo aqui? Você não percebeu que está na casa do meu namorado?
Olga (venenosa) – Uma bela casa, um belo carro. Acho até demais prum gerente de hotel.
Clotilde – Essa palhaçada de você ser prima do amigo do Alexandro... Não dê uma de esperta que você pode se arrepender!
Olga – Nem venha com ameaças. Não banque a toda poderosa pra cima de mim. Viva a sua vida e não ouse se meter em nada que tenha a ver com a minha.

Antero e Alexandro vão se aproximando.

Antero – Aí estão as duas. Parece até que já se conheciam.
Clotilde – Claro que não. Estávamos falando bobagens de mulher.
Olga – Sua namorada é um doce, Alexandro.
Alexandro – Concordo, Olga. (para Clotilde) Vamos mais pra perto do restante do pessoal, meu amor. Todos querem que você cante alguma música.

Cena 3. Casa de Alexandro. Quintal. Interior. Dia.

Clotilde termina de cantar e é aplaudida por todos.

Olga – Não sei quais os critérios, mas se não houver impedimento, eu quero me inscrever nesse concurso que vocês estavam falando.

Antero disfarça a sua desaprovação. Clotilde encara como provocação. Davi e Vitor se entreolham. Todos os demais estão surpresos.

Dulcina – Não sabia que sua prima também tinha vocação pra música, Davi...
Davi – Ela canta muito bem. Eu faço gosto que ela participe. (para Antero) O senhor concorda?
Antero – Eu não sei exatamente como será...
Vitor – (a Olga) Pelo que disse o Davi, você não terá problema algum. Por mim já tá inscrita.
Alexandro – Já temos a primeira candidata. (Clotilde dá um sorriso falso)
Vitor – Agora tem que cantar uma música, Olga. (sorri)

Olga não se faz de rogada e canta “Saia do Caminho” [Aracy de Almeida]

♪♫♪♫♪
Junte tudo que é seu, seu amor, seus trapinhos
Junte tudo o que é seu e saia do meu caminho
Nada tenho de meu
Mas prefiro viver sozinha
Nosso amor já morreu
E a saudade se existe é minha
Fiz até um projeto, no futuro, um dia
No nosso mesmo teto
Mais uma vida vingaria
Fracassei novamente
Pois sonhei, mas sonhei em vão
E você francamente, decididamente
Não tem coração
♪♫♪♫♪

Cena 4. Stock-Shot. Exterior. Noite.

A cidade anoitecendo.

Cena 5. Casa de Telma. Cozinha. Interior. Noite.

Clotilde fazendo mingau. Entra Telma.

Clotilde – E a Cristina?
Telma – Só fez tomar banho e cair na cama. Eu tinha que ir lá naquela central telefônica, nem pude ir hoje.
Clotilde – Você e esses telefonemas misteriosos. (muda de assunto) Eu tenho tanta coisa pra te contar sobre o almoço. Tu senta pra não cair.
Telma – Será que é pior do que o que eu tenho pra te contar?
Clotilde – Quem começa? (descontrai)

Cena 6. Casa de Davi Valério. Sala. Interior. Noite.

A vitrola toca um disco em som ambiente. Olga e Davi conversam. Ele está sentado no sofá. Olga deitada com a cabeça sobre as pernas dele.

Olga – Quem começou foi ela...
Davi – Mas eu te conheço...
Olga – Se aquela sonsa pensa que vai dar uma de esnobe pra cima de mim, tá muito enganada... Eu vou dar uma chance ao velho.
Davi (empolgadíssimo) – Assim que se fala.
Olga – De agora em diante eu quero tudo que tenho direito.

Cena 7. Vários Ambientes. Interior/Exterior. Dia/Noite.

Passagem de tempo.

1 – Hotel Palace. Bar. Noite. Clotilde se apresentando sob o olhar apaixonado de Alexandro.
2 – Rua. Noite. Telma e Clotilde comprando acarajé no tabuleiro de uma baiana.
3 – Fazenda Princesa do Sertão. Dia. Antero observando Cristina e Olga aprendendo a cavalgar.
4 – Fazenda Princesa do Sertão. Casarão. Sala de Jantar. Noite. Antero, Cristina e Olga jantando.
5 – Praia. Dia. Alexandro e Clotilde tomando banho de mar.
6 – Rua. Dia. Várias moças em fila na frente da Rádio Capital.
7 – Casa Branca do Engenho Velho. Noite. Davi tocando atabaque e Olga incorporando uma pombagira.
8 – Casa Branca do Engenho Velho. Dia. Mãe Zaida jogando búzios pra Clotilde.
9 – Rádio Capital. Estúdio. Dia. Olga participando do concurso musical.
10 – Central Telefônica. Dia. Telma comprando fichas e entrando na fila de um dos telefones.
11 – Rádio Capital. Estúdio. Dia. Olga chorando diante de Vitor.
12 – Hotel Palace. Dia. Telma chegando pra trabalhar.
13 – Casa/Banheiro de Davi. Dia. Davi e Vitor tomando banho juntos.
14 – Rua Chile. Loja. Dia. Davi ajudando Olga a se decidir por um vestido de noiva.

Cena 8. Fazenda Princesa do Sertão. Exterior. Dia.

Dia do casamento de Antero e Olga. A criadagem está às voltas com os preparativos. Uma equipe cuida da decoração pra que tudo fique impecável. Os tons predominantes são vermelho, marrom e rosa. Antero e Cristina observam tudo.

Cristina – O senhor tá que tá de ansiedade, hein padrinho?
Antero – E não é pra tá, minha filha? Parece até que é a primeira vez que passo por isso...
Cristina – O senhor tem que ir com calma, já não é mais nenhum jovenzinho. Eu não vi o senhor tomando nenhum de seus remédios...
Antero – E eu lá quero saber de remédio no dia do meu casamento. Só tomo mesmo por insistência do Hermínio.
Cristina – Por isso mesmo, padrinho. O doutor Hermínio não ia passar remédio se não precisasse.
Antero (desinteressado) – Tá, tá bem, minha filha. (muda de assunto) É de hoje que to procurando o Davi e o Vitor. Você viu eles?
Cristina (venenosa) – Já tem um tempão que foram cavalgar lá pelas bandas do rio... Tá um calor, né? Podem ter resolvido tomar um banho...

Na voz de Cristina, Fusão para

Cena 9. Fazenda Princesa do Sertão. Rio. Exterior. Dia.

Davi e Vitor tomando banho de rio, nus. Os dois brincam como crianças.

Cena 10. Fazenda Princesa do Sertão. Exterior. Dia.

Cristina – Padrinho, eu vou ver se o pessoal ali tá precisando de ajuda. O senhor deveria ir descansar um pouco antes do almoço.
Antero – Como é que eu vou descansar com tanta coisa ainda sem resolver? A Olga foi inventar de comprar vestido em São Paulo, e ainda por cima vai junto com a Adelaide, que é outra deslumbrada.
Cristina – Se despreocupe, daqui a pouco tão aí. (vai saindo)

Cena 11. Fazenda Princesa do Sertão. Exterior. Dia.

Davi e Vitor, ainda nus, estão sob uma mangueira perto do rio. As roupas num canto qualquer. E os cavalos amarrados numa outra árvore.

Davi – To com desejo de manga, Vitinho. Será que to grávido? (sorri)
Vitor – Eu não vou subir aí não.
Davi – Quero só ver se você vai querer que seu filho nasça com cara de manga.
Vitor – Seu bobo. (sorri) Se eu cair daí você vai ver... Me ajuda aqui. (tentando subir)
Davi (dando risada) – Óia, eu falei brincando e tu vai mesmo subir assim pelado? Vê se desce com tudo intacto... (Mudando de assunto) Será que tua mulher já chegou com a Olga?
Vitor (já em cima da árvore) – Tem mais ou menos meia hora que o Augusto foi lá em Salvador buscar elas no aeroporto.
Davi (agarrando as mangas jogadas) – Tomara que só cheguem perto da hora do casamento. (gargalha)
Vitor (dando risada) – A Olga tá numa chatice, né?
Davi – (limpando uma manga com as mãos) Essa tá com cara de docinha. (morde)
Vitor – Vem cá. (puxa Davi pela cintura)
Davi (se fazendo de difícil) – Vai querer se sujar?
Vitor (apaixonado) – Vou... Eu quero me lambuzar com você. (chupando a manga de Davi). Eu não me imagino mais sem você. (beija Davi com delicadeza)

Davi atira longe o caroço da manga. Os dois começam a se beijar ardentemente. A excitação de ambos é sentida na fricção de seus corpos nus. Vitor pega Davi no colo. Davi é rápido em enlaçar o corpo de seu amante com pernas e braços. Num movimento frenético se entregam ao prazer.

Cena 12. Hotel Palace. Sala do Gerente. Interior. Dia.

Alexandro – Nada disso, Clotilde... Por mim a gente teria ido, mas você ficou com história de que a Olga não te suporta...
Telma – A Olga não tem motivo pra ficar com raiva de você. O velho Antero foi quem decidiu cortá-la do concurso.
Alexandro – E ela, ambiciosa, acabou abrindo mão de ser artista pra poder casar com o velho.
Telma – Ainda bem que esse negócio de dupla nem deu certo. O público prefere você cantando sozinha mesmo.
Clotilde – Mas não é nada disso, o papo agora é outro. Essa história foi longe demais, gente...
Alexandro – Como assim, amor?
Clotilde – Será que vocês não percebem que a Olga vai infernizar minha vida depois que estiver casada com o velho?
Telma – Agora é que você vem pensar nisso?
Clotilde – Eu não pensei que isso fosse pra valer. (temerosa) Ela prometeu que ia acabar comigo...
Alexandro – Calma, amor...
Clotilde – Calma não, Alexandro... Eu quero ir lá naquela fazenda e contar tudo pro velho...
Alexandro – E você acha que o velho vai nos dar ouvido? Eu mesmo quase não acreditei quando vocês me contaram.

Cena 13. Estrada. Exterior. Dia.

Carro de Alexandro parado na saída de Salvador para o interior. Clotilde e Telma dentro do automóvel enquanto Alexandro tenta consertá-lo.

Cena 14. Estrada. Exterior. Dia.

Carro de Alexandro ainda parado. Ele não consegue identificar o problema.

Alexandro – Dormiram aí?
Clotilde – Adianta aí, amor...
Alexandro – Falando sério agora, não to dando jeito não. 
Telma – Deve ser essa estrada de terra. Teu carro não tá acostumado.

Augusto passa por ali no veículo conduzindo Olga e Adelaide para a fazenda.

Cena 15. Estrada. Carro de Antero. Interior. Dia.

Adelaide – Você viu quem era com aquele carro quebrado, Olga?
Olga – Não, eu não to enxergando mais nada na minha frente, Adelaide. Só penso em meu casamento. (dissimulada) Quem era mesmo?
Augusto – O senhor Alexandro, a namorada dele e a mãe da Cristina. Eu até pensei em parar, mas a senhora não falou nada...
Olga (interrompendo) – Estou falando com a Adelaide, Augusto... Se concentre aí na direção.
Augusto – Perdão!
Adelaide – É, tem razão... Todos os convidados já devem estar chegando lá na fazenda.
Olga – A sorte é que a noiva sempre se atrasa mesmo.

Cena 16. Fazenda Princesa do Sertão. Casarão. Quarto de Hóspedes. Dia.

Adelaide ajudando Olga a colocar o vestido de noiva. Davi entra.

Davi – Adelaide, você tá elegante e discreta como sempre. Diferente de umas peruas que meu olho clínico já viu lá fora. 
Adelaide – Você é hilário, Davi.
Olga – Eu não poderia ter escolhido padrinhos melhores.
Davi (venenoso) – O Vitor que deve ter ficado mordido de ciúmes. (pisca discretamente pra Olga).
Adelaide – De tu ele não tem ciúme. (mudando o assunto) Davi, foi tua a ideia de a Olga entrar de vestido vermelho?
Davi (analisa da cabeça aos pés de Olga) – Eu to adorando. (gargalha)

Cena 17. Fazenda Princesa do Sertão. Casarão. Sala. Dia.

Davi, Adelaide e Olga caminham em direção à porta principal. Há duas Charretes esperando por eles na frente do Casarão. Continuam a conversa anterior.

Olga – Eu não to nem aí. Se quiserem me olhar torto que olhem... Hipócritas.
Adelaide – Já imaginou, você entrando ao som de atabaques?! (sorri)

Cena 18. Estrada. Exterior. Dia.

Alexandro, Telma e Clotilde de carona numa carroça. Ouvem uns “causos” de um generoso senhor.

Carroceiro – “nunquinha nessa minha vida que esse jegue me dexô na mão meus fio... Ói, ôceis num havera de...”

Alexandro dando atenção. Clotilde e Telma com pensamento distante.

Cena 19. Fazenda Princesa do Sertão. Exterior. Dia.

O Juiz de paz anuncia a “entrada” da noiva. Os músicos tocam a marcha nupcial de Mendelssohn. Todos os convidados se colocam de pé. Observa-se um buchicho de alguns convidados. Olga não esboça estar emocionada, muito menos se importando pelo julgamento de quem quer que seja. Antero, vestido numa blusa branca de manga longa, tecido fino, sob um colete marrom e calça no mesmo tom, está emocionado, alegre. Vai ao encontro da noiva e ambos voltam à presença do Juiz. Lá estão Durval e Dulcina, padrinhos do noivo, e Davi e Adelaide, padrinhos da noiva. Num canto reservado está Cristina, vestida encantadoramente, ansiosa para entregar as alianças aos noivos.

Cena 20. Fazenda Princesa do Sertão. Casarão. Cozinha. Interior. Dia.

Alguns criados preparando os quitutes que serão servidos aos convidados. Tudo sob o comando de Dora, a criada mais antiga da fazenda. Alexandro, Clotilde e Telma entram pelos fundos. Clotilde dando alguns espirros.

Dora – Ave Maria... Que susto, dona Telma.
Telma – Dorinha, meu amor... saudades de tu.
Clotilde – Desculpem a gente entrar assim, mas é que passamos por uns perrengues de Salvador pra cá.
Dora – Poeirão brabo, num foi? Cês querem tomar banho?
Alexandro – Não, obrigado. Nem ia adiantar, a gente não tem roupa pra trocar. E a demora é pouca.
Clotilde – (para Alexandro) Ô mô, tu não tá vendo que a gente vai ter que esperar o Antero aparecer aqui? (para Dora) O Casamento já começou, né?
Dora – Oxente, já deve tá é no fim.
Clotilde – É, chegamos tarde. (dá outro espirro) Eu to agoniada, nariz coçando. Aquela poeira toda na cara. Eu vou aceitar o convite pro banho.
Telma – Eu também quero um banho. Pra mim o pior não foi nem a poeira, foi o sol na cara. To morrendo de dor de cabeça.
Alexandro – Ai, ai, não digo nada...  Os donos da casa nem sabem que a gente tá aqui.
Dora – Cês são tudo convidado, né? E dona Telma é da casa. 
Telma – A gente toma banho lá no banheiro da Cristina, pra evitar problemas. (saem)

Entra um criado, esbaforido.

Criado – Dora, Dona Olga mandou começar a servir os convidados. Deu pressa.

Cena 21. Fazenda Princesa do Sertão. Exterior. Dia.

Antero e Olga caminham entre as mesas dos convidados que já estão sendo servidos. Cristina se aproxima de Antero.

Cristina (contente) – Padrinho, minha mãe não conseguiu chegar pro casamento, mas tá aí com o Alexandro e a Clotilde.
Olga – Pode deixar, meu amor, eu vou lá recebê-los. (fala discretamente com Antero) Você sabe lidar melhor com esse povo todo. (Antero sorri) Eu já volto. (para Cristina) Dá uma ajuda pro teu padrinho.

Davi está numa mesa com Vitor e Adelaide.

Davi – Com licença. Já venho.

Cena 22. Fazenda Princesa do Sertão. Casarão. Sala. Interior. Dia.

Davi e Olga. Em conversa avançada.

Davi (segura Olga pelo braço) – Calma, Olga... Você já tá casada.
Olga – Me larga! (Davi a solta) E vê se volta pro evento. Eu não vou demorar aqui não.

Davi volta e Olga segue em direção aos demais cômodos do Casarão.

Cena 23. Fazenda Princesa do Sertão. Casarão. Quarto de Cristina. Interior. Dia.

Telma, vestida num roupão de Cristina, está secando os cabelos com uma toalha. Clotilde, enrolada numa toalha, está penteando os cabelos na frente de um espelho. Alexandro acabou de ir pro banho. Olga abre a porta e vai entrando.

Olga – Muito bem... Vergonha na cara mandou lembranças, suas cadelas...

Susto de Telma e Clotilde.

Olga – Vocês vão sair daqui agora mesmo. E caladinhas. Não vou permitir escândalo na minha festa.
Telma – A gente não tá aqui de penetra, Olga. Também fomos convidados.
Clotilde – Mas nem se preocupe, a demora é pouca. Só estamos dependendo do seu marido pra autorizar o chofer a nos levar de volta pra capital.

Cena 24. Fazenda Princesa do Sertão. Casarão. Corredor. Interior. Dia.

Cristina está escutando a conversa e resolve ir chamar Antero.

Cena 25. Fazenda Princesa do Sertão. Casarão. Quarto de Cristina. Interior. Dia.

Telma – (ironizando) Cê deve tá lembrada que passou por um carro quebrado na estrada...
Clotilde – (no embalo da ironia) Mas claro que ela não ia querer que o motorista parasse pra dar socorro a umas cadelas...

Olga de costas pra Telma e Clotilde, está de braços cruzados, perto da janela. Tenta conter a raiva, não quer entrar no jogo. Alexandro sai do banheiro vestido com a mesma roupa de antes do banho.

Alexandro – Vamos parando com esse clima. (para Olga) Você agora é a esposa do Antero, ele tá lá com os convidados. Será que dá pra você liberar o Augusto pra nos levar ou me emprestar um dos carros. 
Olga – (se vira para Alexandro, cínica) É claro que posso, Alexandro. Você é um homem tão educado, amigo do meu marido.
Clotilde – Não! Não, Alexandro. Você não vai se rebaixar assim pra essa ordinária. A gente vai embora quando o próprio Antero aparecer aqui pra nos ajudar.
Olga (não dando ouvidos) – Alexandro, eu vou agora mesmo mandar o chofer preparar um carro pra vocês.

Olga vai saindo. Clotilde, com raiva, lhe puxa pelo braço.

Clotilde – Escute aqui! (dedo em riste) Cê tá aí toda se fazendo de mudada (se aproxima do ouvido de Olga), e você bem sabe do que eu to falando, mas não venha com a sua gira jogar charminho pra cima do Alexandro que eu te sento a mão.
Olga – (se desvencilhando) Me largue, sua vagabunda! (empurra Clotilde)

Clotilde cai na cama, a toalha se desenrola. Por um instante é possível notar o olhar de desejo contido de Olga sobre o corpo nu de Clotilde. Alexandro e Telma são rápidos em socorrê-la.

Cena 26. Fazenda Princesa do Sertão. Exterior. Dia.

Antero dando atenção aos convidados. A ausência de Olga já é sentida e comentada por alguns. Cristina se aproxima de Antero e lhe fala ao ouvido. Ele sai discretamente.

Cena 27. Fazenda Princesa do Sertão. Casarão. Corredor. Interior. Dia.

Antero vai se aproximando do quarto sem ser percebido.

Cena 28. Fazenda Princesa do Sertão. Casarão. Quarto de Cristina. Interior. Dia.

Olga – (rindo) Engraçado, isso já aconteceu antes. Quase a mesma cena. Ela adora se exibir de toalhas. (para Alexandro) Você precisava conhecer melhor a sua noivinha. Não é justo te enganarem desse jeito.
Alexandro – Não sei do que você falando, nem me interessa. Você é mesmo estranha, garota.
Olga – Sim, eu sou mais estranha do que você imagina. Mas essas duas aí também. Tão te fazendo de trouxa e você nem percebe.
Clotilde – (encarando Olga) A única farsante aqui é você, sua leviana. Casando com um senhor de idade por puro interesse. Armando pra cima do velho...
Telma – Golpe do baú... Vocês armaram pra ficar com tudo do velho. Sabem que mais cedo ou mais tarde ele bate as botas e fica tudo pra você, né?
Alexandro – Inventar que é prima do Davi?! Vocês nem bem se conheciam. E eu não entendo a razão de omitir uma parte tão importante de sua vida. Será que o Antero ia gostar menos de você pelo simples fato de ter sido criada num orfanato? Você e Clotilde cresceram juntas, eram praticamente irmãs.

Gargalhada de Olga

Cena 29. Fazenda Princesa do Sertão. Casarão. Corredor. Interior. Dia.

Antero começa a passar mal.

Cena 30. Fazenda Princesa do Sertão. Casarão. Quarto de Cristina. Interior. Dia.

Olga – Irmãs? Praticamente irmãs? Você tá falando exatamente como ela...
Telma – (para na frente de Olga) Olga, você não ouse...
Olga – (para Telma) Saia da minha frente. (para Alexandro) Eu e essa sonsa praticamente irmãs, né? E ela e a Telma são o quê? Amantes, namoradas... Quem é o macho e quem é a fêmea da relação, hã? (gargalha)

Olga consegue influenciar Alexandro. Ele, perplexo, olha para Telma e Clotilde. Há uma expressão de asco em seu rosto. Mesmo consciente de que essa versão dos fatos só existe na mente doentia de Olga, Clotilde começa a chorar. Telma pensa em confortar a amiga, mas temendo que o gesto possa ser percebido por Alexandro como uma confirmação ao falso testemunho de Olga, se contém.

Olga – (sarcástica) Mas também não é assim, Alexandro. Não precisa desse olhar de repulsa. Eu não gostaria que você me olhasse desse jeito. (tom) A Clotilde não teve coragem pra te contar que nós não éramos só irmãs. Mas eu tenho. (incisiva) Nós tínhamos um romance. (amarga, vulgar) Nós trepávamos!   

Clotilde, humilhada, corre para o banheiro e se tranca. Alexandro, desalentado, se senta na cama. Telma se descontrola e vai pra cima de Olga.

Cena 31. Fazenda Princesa do Sertão. Casarão. Corredor. Interior. Dia.

Antero não resiste à dor e cai no chão. Cristina vai chegando e corre para acudi-lo.

Corta para


Fim do 10º capítulo.  

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Um comentário:

  1. Logo no início do capítulo, senti falta de um climão entre Clotilde e Olga, num reencontro depois de tanto tempo, mas cenas depois me deliciei com o entrevero ácido entre elas...findando com a espevitada Olga cantando música de Araci de Almeida. Um belo jeito de sambar na cara da Clotilde.

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