De Isaac Santos
Capítulo 10
Cena 1. Casa de Alexandro. Quintal. Exterior. Dia.
Todos os convidados sentados, se servindo de uma
deliciosa maniçoba. Clotilde faz questão de demonstrar o seu contentamento por
estar se relacionando com Alexandro. Os dois são só carinhos. Olga tenta
controlar-se, disfarçar o seu ciúme. Davi parece gostar da situação. Estão em
conversa adiantada.
Adelaide – E no fim ele caiu com as pernas pra cima...
(todos gargalhando)
Antero – Essa foi boa, Adelaide. (mudando de assunto) Vitor,
que tal falar daquela sua ideia pro Alexandro?
Vitor – Alexandro, eu acho que falta um casamento vocal
pra Clotilde. Algo que dará ainda mais beleza às suas apresentações. (Davi está
olhando fixamente pra Vitor)
Durval – Antero, se eu bem lhe conheço, você já tá de
olho no talento da moça, né?
Antero (rindo) – Digamos que podemos fazer uma bela
parceria. A minha rádio tá mesmo precisando de um evento. O Vitor sugeriu que
fizéssemos algo que já acontece lá no sudeste.
Davi (a Antero) – Problemas com a sua rádio?
Antero – Quero acompanhar o ritmo de outras emissoras bem
sucedidas, Davi.
Vitor – A ideia é abrirmos um concurso musical lá na
rádio.
Antero – A escolhida faria dupla com a Clotilde.
Durval – E o bar do hotel entraria como nessa história?
Antero – Nós vincularíamos o concurso ao bar. A Clotilde
ganharia um status bem maior.
Alexandro – É, eu não vejo problema na proposta.
Durval – Só não vá querer bancar a famosa e pedir
aumento, Clotilde. (descontrai)
Cena 2. Casa de Alexandro. Quintal. Exterior. Dia.
Clima de descontração, conversa descompromissada. Os
convidados estão espalhados pelo quintal.
Há num canto uma mesa de frutas e sobremesas diversas. Olga e Davi estão
por ali se servindo.
Olga – Você sabia de tudo, né?
Davi – Do que você tá falando?
Olga – Não se faça de desentendido, Davi.
Davi – Esqueça essa menina, Olga.
Clotilde se aproxima.
Clotilde – Tão gostando da salada de frutas? (se
mostrando segura de si)
Davi – Tá mesmo uma delícia. Com licença, vou ali falar
com o Alexandro. (sai)
Clotilde (discretamente) – Eu quero você bem longe de mim
e do meu amor.
Olga – O mundo não gira em torno de você, queridinha...
Clotilde – Então o que é que você tá fazendo aqui? Você
não percebeu que está na casa do meu namorado?
Olga (venenosa) – Uma bela casa, um belo carro. Acho até
demais prum gerente de hotel.
Clotilde – Essa palhaçada de você ser prima do amigo do
Alexandro... Não dê uma de esperta que você pode se arrepender!
Olga – Nem venha com ameaças. Não banque a toda poderosa
pra cima de mim. Viva a sua vida e não ouse se meter em nada que tenha a ver
com a minha.
Antero e Alexandro vão se aproximando.
Antero – Aí estão as duas. Parece até que já se
conheciam.
Clotilde – Claro que não. Estávamos falando bobagens de
mulher.
Olga – Sua namorada é um doce, Alexandro.
Alexandro – Concordo, Olga. (para Clotilde) Vamos mais
pra perto do restante do pessoal, meu amor. Todos querem que você cante alguma
música.
Cena 3. Casa de Alexandro. Quintal. Interior. Dia.
Clotilde termina de cantar e é aplaudida por todos.
Olga – Não sei quais os critérios, mas se não houver
impedimento, eu quero me inscrever nesse concurso que vocês estavam falando.
Antero disfarça a sua desaprovação. Clotilde encara como
provocação. Davi e Vitor se entreolham. Todos os demais estão surpresos.
Dulcina – Não sabia que sua prima também tinha vocação
pra música, Davi...
Davi – Ela canta muito bem. Eu faço gosto que ela
participe. (para Antero) O senhor concorda?
Antero – Eu não sei exatamente como será...
Vitor – (a Olga) Pelo que disse o Davi, você não terá
problema algum. Por mim já tá inscrita.
Alexandro – Já temos a primeira candidata. (Clotilde dá
um sorriso falso)
Vitor – Agora tem que cantar uma música, Olga. (sorri)
Olga não se faz de rogada e canta “Saia do Caminho”
[Aracy de Almeida]
♪♫♪♫♪
Junte tudo que é seu, seu amor, seus trapinhos
Junte tudo o que é seu e saia do meu caminho
Nada tenho de meu
Mas prefiro viver sozinha
Nosso amor já morreu
E a saudade se existe é minha
Fiz até um projeto, no futuro, um dia
No nosso mesmo teto
Mais uma vida vingaria
Fracassei novamente
Pois sonhei, mas sonhei em vão
E você francamente, decididamente
Não tem coração
♪♫♪♫♪
Cena 4. Stock-Shot. Exterior. Noite.
A cidade anoitecendo.
Cena 5. Casa de Telma. Cozinha. Interior. Noite.
Clotilde fazendo mingau. Entra Telma.
Clotilde – E a Cristina?
Telma – Só fez tomar banho e cair na cama. Eu tinha que
ir lá naquela central telefônica, nem pude ir hoje.
Clotilde – Você e esses telefonemas misteriosos. (muda de
assunto) Eu tenho tanta coisa pra te contar sobre o almoço. Tu senta pra não
cair.
Telma – Será que é pior do que o que eu tenho pra te
contar?
Clotilde – Quem começa? (descontrai)
Cena 6. Casa de Davi Valério. Sala. Interior. Noite.
A vitrola toca um disco em som ambiente. Olga e Davi
conversam. Ele está sentado no sofá. Olga deitada com a cabeça sobre as pernas
dele.
Olga – Quem começou foi ela...
Davi – Mas eu te conheço...
Olga – Se aquela sonsa pensa que vai dar uma de esnobe
pra cima de mim, tá muito enganada... Eu vou dar uma chance ao velho.
Davi (empolgadíssimo) – Assim que se fala.
Olga – De agora em diante eu quero tudo que tenho
direito.
Cena 7. Vários Ambientes. Interior/Exterior. Dia/Noite.
Passagem de tempo.
1 – Hotel Palace. Bar. Noite. Clotilde se apresentando
sob o olhar apaixonado de Alexandro.
2 – Rua. Noite. Telma e Clotilde comprando acarajé no
tabuleiro de uma baiana.
3 – Fazenda Princesa do Sertão. Dia. Antero observando
Cristina e Olga aprendendo a cavalgar.
4 – Fazenda Princesa do Sertão. Casarão. Sala de Jantar.
Noite. Antero, Cristina e Olga jantando.
5 – Praia. Dia. Alexandro e Clotilde tomando banho de
mar.
6 – Rua. Dia. Várias moças em fila na frente da Rádio
Capital.
7 – Casa Branca do Engenho Velho. Noite. Davi tocando
atabaque e Olga incorporando uma pombagira.
8 – Casa Branca do Engenho Velho. Dia. Mãe Zaida jogando
búzios pra Clotilde.
9 – Rádio Capital. Estúdio. Dia. Olga participando do
concurso musical.
10 – Central Telefônica. Dia. Telma comprando fichas e
entrando na fila de um dos telefones.
11 – Rádio Capital. Estúdio. Dia. Olga chorando diante de
Vitor.
12 – Hotel Palace. Dia. Telma chegando pra trabalhar.
13 – Casa/Banheiro de Davi. Dia. Davi e Vitor tomando
banho juntos.
14 – Rua Chile. Loja. Dia. Davi ajudando Olga a se
decidir por um vestido de noiva.
Cena 8. Fazenda Princesa do Sertão. Exterior. Dia.
Dia do casamento de Antero e Olga. A criadagem está às
voltas com os preparativos. Uma equipe cuida da decoração pra que tudo fique
impecável. Os tons predominantes são vermelho, marrom e rosa. Antero e Cristina
observam tudo.
Cristina – O senhor tá que tá de ansiedade, hein
padrinho?
Antero – E não é pra tá, minha filha? Parece até que é a
primeira vez que passo por isso...
Cristina – O senhor tem que ir com calma, já não é mais
nenhum jovenzinho. Eu não vi o senhor tomando nenhum de seus remédios...
Antero – E eu lá quero saber de remédio no dia do meu
casamento. Só tomo mesmo por insistência do Hermínio.
Cristina – Por isso mesmo, padrinho. O doutor Hermínio
não ia passar remédio se não precisasse.
Antero (desinteressado) – Tá, tá bem, minha filha. (muda
de assunto) É de hoje que to procurando o Davi e o Vitor. Você viu eles?
Cristina (venenosa) – Já tem um tempão que foram cavalgar
lá pelas bandas do rio... Tá um calor, né? Podem ter resolvido tomar um
banho...
Na voz de Cristina, Fusão para
Cena 9. Fazenda Princesa do Sertão. Rio. Exterior. Dia.
Davi e Vitor tomando banho de rio, nus. Os dois brincam
como crianças.
Cena 10. Fazenda Princesa do Sertão. Exterior. Dia.
Cristina – Padrinho, eu vou ver se o pessoal ali tá
precisando de ajuda. O senhor deveria ir descansar um pouco antes do almoço.
Antero – Como é que eu vou descansar com tanta coisa
ainda sem resolver? A Olga foi inventar de comprar vestido em São Paulo, e
ainda por cima vai junto com a Adelaide, que é outra deslumbrada.
Cristina – Se despreocupe, daqui a pouco tão aí. (vai
saindo)
Cena 11. Fazenda Princesa do Sertão. Exterior. Dia.
Davi e Vitor, ainda nus, estão sob uma mangueira perto do
rio. As roupas num canto qualquer. E os cavalos amarrados numa outra árvore.
Davi – To com desejo de manga, Vitinho. Será que to
grávido? (sorri)
Vitor – Eu não vou subir aí não.
Davi – Quero só ver se você vai querer que seu filho
nasça com cara de manga.
Vitor – Seu bobo. (sorri) Se eu cair daí você vai ver...
Me ajuda aqui. (tentando subir)
Davi (dando risada) – Óia, eu falei brincando e tu vai
mesmo subir assim pelado? Vê se desce com tudo intacto... (Mudando de assunto)
Será que tua mulher já chegou com a Olga?
Vitor (já em cima da árvore) – Tem mais ou menos meia
hora que o Augusto foi lá em Salvador buscar elas no aeroporto.
Davi (agarrando as mangas jogadas) – Tomara que só
cheguem perto da hora do casamento. (gargalha)
Vitor (dando risada) – A Olga tá numa chatice, né?
Davi – (limpando uma manga com as mãos) Essa tá com cara
de docinha. (morde)
Vitor – Vem cá. (puxa Davi pela cintura)
Davi (se fazendo de difícil) – Vai querer se sujar?
Vitor (apaixonado) – Vou... Eu quero me lambuzar com
você. (chupando a manga de Davi). Eu não me imagino mais sem você. (beija Davi
com delicadeza)
Davi atira longe o caroço da manga. Os dois começam a se
beijar ardentemente. A excitação de ambos é sentida na fricção de seus corpos
nus. Vitor pega Davi no colo. Davi é rápido em enlaçar o corpo de seu amante
com pernas e braços. Num movimento frenético se entregam ao prazer.
Cena 12. Hotel Palace. Sala do Gerente. Interior. Dia.
Alexandro – Nada disso, Clotilde... Por mim a gente teria
ido, mas você ficou com história de que a Olga não te suporta...
Telma – A Olga não tem motivo pra ficar com raiva de
você. O velho Antero foi quem decidiu cortá-la do concurso.
Alexandro – E ela, ambiciosa, acabou abrindo mão de ser
artista pra poder casar com o velho.
Telma – Ainda bem que esse negócio de dupla nem deu
certo. O público prefere você cantando sozinha mesmo.
Clotilde – Mas não é nada disso, o papo agora é outro.
Essa história foi longe demais, gente...
Alexandro – Como assim, amor?
Clotilde – Será que vocês não percebem que a Olga vai
infernizar minha vida depois que estiver casada com o velho?
Telma – Agora é que você vem pensar nisso?
Clotilde – Eu não pensei que isso fosse pra valer.
(temerosa) Ela prometeu que ia acabar comigo...
Alexandro – Calma, amor...
Clotilde – Calma não, Alexandro... Eu quero ir lá naquela
fazenda e contar tudo pro velho...
Alexandro – E você acha que o velho vai nos dar ouvido?
Eu mesmo quase não acreditei quando vocês me contaram.
Cena 13. Estrada. Exterior. Dia.
Carro de Alexandro parado na saída de Salvador para o
interior. Clotilde e Telma dentro do automóvel enquanto Alexandro tenta
consertá-lo.
Cena 14. Estrada. Exterior. Dia.
Carro de Alexandro ainda parado. Ele não consegue
identificar o problema.
Alexandro – Dormiram aí?
Clotilde – Adianta aí,
amor...
Alexandro – Falando sério agora, não to dando jeito não.
Telma – Deve ser essa estrada de terra. Teu carro não tá
acostumado.
Augusto passa por ali no veículo conduzindo Olga e
Adelaide para a fazenda.
Cena 15. Estrada. Carro de Antero. Interior. Dia.
Adelaide – Você viu quem era com aquele carro quebrado,
Olga?
Olga – Não, eu não to enxergando mais nada na minha
frente, Adelaide. Só penso em meu casamento. (dissimulada) Quem era mesmo?
Augusto – O senhor Alexandro, a namorada dele e a mãe da
Cristina. Eu até pensei em parar, mas a senhora não falou nada...
Olga (interrompendo) – Estou falando com a Adelaide,
Augusto... Se concentre aí na direção.
Augusto – Perdão!
Adelaide – É, tem razão... Todos os convidados já devem
estar chegando lá na fazenda.
Olga – A sorte é que a noiva sempre se atrasa mesmo.
Cena 16. Fazenda Princesa do Sertão. Casarão. Quarto de
Hóspedes. Dia.
Adelaide ajudando Olga a colocar o vestido de noiva. Davi
entra.
Davi – Adelaide, você tá elegante e discreta como
sempre. Diferente de umas peruas que meu olho clínico já viu lá fora.
Adelaide – Você é hilário, Davi.
Olga – Eu não poderia ter escolhido padrinhos melhores.
Davi (venenoso) – O Vitor que deve ter ficado mordido de
ciúmes. (pisca discretamente pra Olga).
Adelaide – De tu ele não tem ciúme.
(mudando o assunto) Davi, foi tua a ideia de a Olga entrar de vestido vermelho?
Davi (analisa da cabeça aos pés de Olga) – Eu to
adorando. (gargalha)
Cena 17. Fazenda Princesa do Sertão. Casarão. Sala. Dia.
Davi, Adelaide e Olga caminham em direção à porta
principal. Há duas Charretes esperando por eles na frente do Casarão. Continuam
a conversa anterior.
Olga – Eu não to nem aí. Se quiserem me olhar torto que
olhem... Hipócritas.
Adelaide – Já imaginou, você entrando ao som de
atabaques?! (sorri)
Cena 18. Estrada. Exterior. Dia.
Alexandro, Telma e Clotilde de carona numa carroça. Ouvem
uns “causos” de um generoso senhor.
Carroceiro – “nunquinha nessa minha vida que esse jegue
me dexô na mão meus fio... Ói, ôceis num havera de...”
Alexandro dando atenção. Clotilde e Telma com pensamento
distante.
Cena 19. Fazenda Princesa do Sertão. Exterior. Dia.
O Juiz de paz anuncia a “entrada” da noiva. Os músicos
tocam a marcha nupcial de Mendelssohn. Todos os convidados se colocam de pé.
Observa-se um buchicho de alguns convidados. Olga não esboça estar
emocionada, muito menos se importando pelo julgamento de quem quer que seja.
Antero, vestido numa blusa branca de manga longa, tecido fino, sob um colete
marrom e calça no mesmo tom, está emocionado, alegre. Vai ao encontro da noiva
e ambos voltam à presença do Juiz. Lá estão Durval e Dulcina, padrinhos do
noivo, e Davi e Adelaide, padrinhos da noiva. Num canto reservado está
Cristina, vestida encantadoramente, ansiosa para entregar as alianças aos
noivos.
Cena 20. Fazenda Princesa do Sertão. Casarão. Cozinha.
Interior. Dia.
Alguns criados preparando os quitutes que serão servidos
aos convidados. Tudo sob o comando de Dora, a criada mais antiga da fazenda.
Alexandro, Clotilde e Telma entram pelos fundos. Clotilde dando alguns
espirros.
Dora – Ave Maria... Que susto, dona Telma.
Telma – Dorinha, meu amor... saudades de tu.
Clotilde – Desculpem a gente entrar assim, mas é que
passamos por uns perrengues de Salvador pra cá.
Dora – Poeirão brabo, num foi? Cês querem tomar
banho?
Alexandro – Não, obrigado. Nem ia adiantar, a gente não
tem roupa pra trocar. E a demora é pouca.
Clotilde – (para Alexandro) Ô mô, tu não tá vendo que a
gente vai ter que esperar o Antero aparecer aqui? (para Dora) O Casamento já
começou, né?
Dora – Oxente, já deve tá é no fim.
Clotilde – É, chegamos tarde. (dá outro espirro) Eu to
agoniada, nariz coçando. Aquela poeira toda na cara. Eu vou aceitar o convite
pro banho.
Telma – Eu
também quero um banho. Pra mim o pior não foi nem a poeira, foi o sol na cara.
To morrendo de dor de cabeça.
Alexandro – Ai, ai, não digo nada... Os donos da casa nem sabem que a gente tá
aqui.
Dora – Cês são tudo convidado, né? E dona Telma é da
casa.
Telma – A gente toma banho lá no banheiro da Cristina,
pra evitar problemas. (saem)
Entra um criado, esbaforido.
Criado – Dora, Dona Olga mandou começar a servir os
convidados. Deu pressa.
Cena 21. Fazenda Princesa do Sertão. Exterior. Dia.
Antero e Olga caminham entre as mesas dos convidados que
já estão sendo servidos. Cristina se aproxima de Antero.
Cristina (contente) – Padrinho, minha mãe não conseguiu
chegar pro casamento, mas tá aí com o Alexandro e a Clotilde.
Olga – Pode deixar, meu amor, eu vou lá recebê-los. (fala
discretamente com Antero) Você sabe lidar melhor com esse povo todo. (Antero
sorri) Eu já volto. (para Cristina) Dá uma ajuda pro teu padrinho.
Davi está numa mesa com Vitor e Adelaide.
Davi – Com licença. Já venho.
Cena 22. Fazenda Princesa do Sertão. Casarão. Sala.
Interior. Dia.
Davi e Olga. Em conversa avançada.
Davi (segura Olga pelo braço) – Calma, Olga... Você já tá
casada.
Olga – Me larga! (Davi a solta) E vê se volta pro evento.
Eu não vou demorar aqui não.
Davi volta e Olga segue em direção aos demais cômodos do
Casarão.
Cena 23. Fazenda Princesa do Sertão. Casarão. Quarto de
Cristina. Interior. Dia.
Telma, vestida num roupão de Cristina, está secando os
cabelos com uma toalha. Clotilde, enrolada numa toalha, está penteando os
cabelos na frente de um espelho. Alexandro acabou de ir pro banho. Olga abre a
porta e vai entrando.
Olga – Muito bem... Vergonha na cara mandou lembranças,
suas cadelas...
Susto de Telma e Clotilde.
Olga – Vocês vão sair daqui agora mesmo. E caladinhas.
Não vou permitir escândalo na minha festa.
Telma – A gente não tá aqui de penetra, Olga. Também fomos
convidados.
Clotilde – Mas nem se preocupe, a demora é pouca. Só
estamos dependendo do seu marido pra autorizar o chofer a nos levar de volta
pra capital.
Cena 24. Fazenda Princesa do Sertão. Casarão. Corredor.
Interior. Dia.
Cristina está escutando a conversa e resolve ir chamar
Antero.
Cena 25. Fazenda Princesa do Sertão. Casarão. Quarto de
Cristina. Interior. Dia.
Telma – (ironizando) Cê deve tá lembrada que passou por
um carro quebrado na estrada...
Clotilde – (no embalo da ironia) Mas claro que ela não ia
querer que o motorista parasse pra dar socorro a umas cadelas...
Olga de costas pra Telma e Clotilde, está de braços
cruzados, perto da janela. Tenta conter a raiva, não quer entrar no jogo. Alexandro sai do banheiro vestido com a mesma roupa de antes
do banho.
Alexandro – Vamos
parando com esse clima. (para Olga) Você agora é a esposa do Antero, ele tá lá
com os convidados. Será que dá pra você liberar o Augusto pra nos levar ou me
emprestar um dos carros.
Olga – (se vira para Alexandro, cínica) É claro que
posso, Alexandro. Você é um homem tão educado, amigo do meu marido.
Clotilde – Não! Não, Alexandro. Você não vai se rebaixar
assim pra essa ordinária. A gente vai embora quando o próprio Antero
aparecer aqui pra nos ajudar.
Olga (não dando ouvidos) – Alexandro, eu vou agora mesmo
mandar o chofer preparar um carro pra vocês.
Olga vai saindo. Clotilde, com raiva, lhe puxa pelo
braço.
Clotilde – Escute aqui! (dedo em riste) Cê tá aí toda se
fazendo de mudada (se aproxima do ouvido de Olga), e você bem sabe do que eu to
falando, mas não venha com a sua gira jogar charminho pra cima do Alexandro que
eu te sento a mão.
Olga – (se desvencilhando) Me largue, sua vagabunda!
(empurra Clotilde)
Clotilde cai na cama, a toalha se desenrola. Por um
instante é possível notar o olhar de desejo contido de Olga sobre o corpo nu de
Clotilde. Alexandro e Telma são rápidos em socorrê-la.
Cena 26. Fazenda Princesa do Sertão. Exterior. Dia.
Antero dando atenção aos convidados. A ausência de Olga
já é sentida e comentada por alguns. Cristina se aproxima de Antero e lhe fala
ao ouvido. Ele sai discretamente.
Cena 27. Fazenda Princesa do Sertão. Casarão. Corredor.
Interior. Dia.
Antero vai se aproximando do quarto sem ser percebido.
Cena 28. Fazenda Princesa do Sertão. Casarão. Quarto de
Cristina. Interior. Dia.
Olga – (rindo) Engraçado, isso já aconteceu antes. Quase
a mesma cena. Ela adora se exibir de toalhas. (para Alexandro) Você precisava
conhecer melhor a sua noivinha. Não é justo te enganarem desse jeito.
Alexandro – Não sei do que você falando, nem me
interessa. Você é mesmo estranha, garota.
Olga – Sim, eu sou mais estranha do que você imagina. Mas
essas duas aí também. Tão te fazendo de trouxa e você nem percebe.
Clotilde – (encarando Olga) A única farsante aqui é você,
sua leviana. Casando com um senhor de idade por puro interesse. Armando pra
cima do velho...
Telma – Golpe do baú... Vocês armaram pra ficar com tudo
do velho. Sabem que mais cedo ou mais tarde ele bate as botas e fica tudo pra
você, né?
Alexandro – Inventar que é prima do Davi?! Vocês nem bem
se conheciam. E eu não entendo a razão de omitir uma parte tão importante de
sua vida. Será que o Antero ia gostar menos de você pelo simples fato de ter
sido criada num orfanato? Você e Clotilde cresceram juntas, eram praticamente
irmãs.
Gargalhada de Olga
Cena 29. Fazenda Princesa do Sertão. Casarão. Corredor.
Interior. Dia.
Antero começa a passar mal.
Cena 30. Fazenda Princesa do Sertão. Casarão. Quarto de
Cristina. Interior. Dia.
Olga – Irmãs? Praticamente irmãs? Você tá falando
exatamente como ela...
Telma – (para na frente de Olga) Olga, você não ouse...
Olga – (para Telma) Saia da minha frente. (para
Alexandro) Eu e essa sonsa praticamente irmãs, né? E ela e a Telma são o quê?
Amantes, namoradas... Quem é o macho e quem é a fêmea da relação, hã?
(gargalha)
Olga consegue influenciar Alexandro. Ele, perplexo, olha
para Telma e Clotilde. Há uma expressão de asco em seu rosto. Mesmo consciente
de que essa versão dos fatos só existe na mente doentia de Olga, Clotilde
começa a chorar. Telma pensa em confortar a amiga, mas temendo que o gesto
possa ser percebido por Alexandro como uma confirmação ao falso testemunho de
Olga, se contém.
Olga – (sarcástica) Mas também não é assim, Alexandro.
Não precisa desse olhar de repulsa. Eu não gostaria que você me olhasse desse
jeito. (tom) A Clotilde não teve coragem pra te contar que nós não éramos só
irmãs. Mas eu tenho. (incisiva) Nós tínhamos um romance. (amarga, vulgar) Nós
trepávamos!
Clotilde, humilhada, corre para o banheiro e se tranca.
Alexandro, desalentado, se senta na cama. Telma se descontrola e vai pra cima
de Olga.
Cena 31. Fazenda Princesa do Sertão. Casarão. Corredor.
Interior. Dia.
Antero não resiste à dor e cai no chão. Cristina vai
chegando e corre para acudi-lo.
Corta para
Fim do 10º capítulo.
Não perca o 11º capítulo.
Logo no início do capítulo, senti falta de um climão entre Clotilde e Olga, num reencontro depois de tanto tempo, mas cenas depois me deliciei com o entrevero ácido entre elas...findando com a espevitada Olga cantando música de Araci de Almeida. Um belo jeito de sambar na cara da Clotilde.
ResponderExcluir