Por Isaac Santos
Prestes a completar 25 anos, Raphael Scire, formado em jornalismo pela Faculdade Cásper Líbero, dramaturgo, roteirista, é um dos escritores mais prestigiados nas últimas
semanas. Ele acaba de lançar o livro “Crimes no Horário Nobre – Um Passeio pela
Obra de Silvio de Abreu”. Competente, talentoso, mostra-se mesurado ao falar da
carreira. Eu o convidei para uma entrevista, ele gentilmente aceitou. Desde já
o agradeço. Confiram!
Jornalista jovem, iniciando a carreira
de modo tão bem sucedido. Você teve que fazer abdicações?
Raphael Scire – Não,
de modo algum. Acho que a única abdicação que eu fiz foi ter deixado de lado o
jornalismo propriamente dito, aquele de redação, de escrever reportagens
factuais. Mas isso foi uma escolha deliberada, um direcionamento de carreira.
Não considerando o seu recente trabalho
sobre o autor Silvo de Abreu. Contente com a profissão escolhida?
Raphael Scire – Sim,
apesar de não exercer o jornalismo. Eu trabalho com produção audiovisual, para
cinema e televisão, na criação e formatação de projetos, algo já bem direcionado
para o futuro da minha carreira de roteirista.
Jornalista com pretensões na área de
dramaturgia ou já desenvolvendo atividades nesse sentido?
Raphael Scire – Além
do que eu respondi na pergunta anterior, eu também escrevo dramaturgia. Tenho
uma peça que foi selecionada pelo concurso ‘Dramaturgias Urgentes’, do CCBB, no
ano passado, chamada “Sucesso com C”, sobre a nova classe média brasileira.
Também tenho algumas histórias iniciadas, mas nada ainda foi produzido. Vontade
não me falta.
“Crimes no Horário Nobre – Um Passeio
pela Obra de Silvio de Abreu” não é necessariamente um registro biográfico. Sua
intenção era desde o princípio destacar a obra do novelista ou optou-se por um
distanciamento do que já havia sido publicado sobre a vida dele?
Raphael Scire – Sim,
desde o início eu quis abordar a obra do Silvio, que tem uma vida interessante
justamente pelo profissional que é. É claro que abordo questões privadas dele,
como o casamento, o nascimento da única filha e o falecimento do irmão, mas são
questões que estão inseridas dentro do contexto da obra dele. Eu brinco que o
livro não é uma revista de fofocas. E também o Silvio já tinha uma biografia
publicada, escrita pelo jornalista Vilmar Ledesma, e que me serviu de base para
esse livro. Eu considero “Crimes no horário nobre” uma ‘biografia memorialista
sobre a obra do autor’.
Como se deu o processo de elaboração,
desenvolvimento, lançamento do livro?
Raphael Scire – O
livro, na verdade, foi minha tese de conclusão do curso de jornalismo, da
Faculdade Cásper Líbero. Durante o último ano da faculdade, eu fui atrás dos
atores, diretores, autores, além do próprio Silvio. A primeira parte foi a
seleção de material já publicado sobre ele. O que foi bastante complicado,
porque novela no Brasil é muito comentada, mas pouco documentada. Depois, segui
para as entrevistas. Aí veio a parte mais legal, que foi escrever, selecionar
os trechos das entrevistas, costurar tudo. Foi uma delícia. Depois que a tese
estava escrita, enviei um exemplar para o Silvio, que adorou. Ele me
disponibilizou o arquivo pessoal para que eu pudesse complementar minha
pesquisa. Foi então que eu conheci o Alex Giostri, da Giostri Editora, que tem
um olhar muito voltado para a preservação da dramaturgia brasileira, publicando
grandes nomes do nosso teatro, como Maria Adelaide Amaral, Alcides Nogueira,
Lauro Cesar Muniz, além de autores mais novos, como Célia Forte e Mario Viana.
Ele leu, gostou e decidiu publicar. ‘Crimes’ é o primeiro livro voltado para a
preservação da memória da teledramaturgia brasileira publicado pela Giostri.
Da fase de realização de entrevistas que
serviram de base para a escrita do livro, houve alguém que decepcionasse por
evidenciar uma postura destoante?
Raphael Scire – Não,
de modo algum. Todos foram receptivos e solícitos. O mais complicado foi a
produção para conciliar com a agenda de alguns entrevistados, mas nada que me
tirasse o sono.
Certamente está sendo vendido em todas
as livrarias do país. Mas onde adquiri-lo virtualmente?
Raphael Scire – Em
qualquer rede de livrarias esse serviço é possível. É comprar e receber em
casa!
Identificação com o biografado é
critério imprescindível para o sucesso de uma obra como a sua?
Raphael Scire – Sem
dúvidas. Se eu não apreciasse o trabalho do Silvio seria incapaz de escrever
sobre ele. Não existe nada pior do que escrever sobre algo de que não gostamos.
Sabendo de sua admiração pela Malu
Mader, imagino que o nome da atriz possa despertar seu interesse num projeto
futuro. É exeqüível?
Raphael Scire – Exequível
é, mas depende dela também. Na verdade, nunca cogitei essa possibilidade, para
falar a verdade. Malu é uma atriz com múltiplos talentos, além de uma reservada
vida privada. Acredito que, se eu um dia vier a escrever sobre ela, será algo
no estilo que fiz com o Silvio, sobre a carreira, não sobre a vida.
Tititi, versão de Maria Adelaide Amaral
[ela também está entre os seus prediletos] e Vincent Villari, é um dos recentes
sucessos da Rede Globo. A dupla está mais uma vez no ar no horário das sete.
Quais as suas impressões sobre Sangue Bom?
Raphael Scire – Sou
muito grato aos dois. Vincent escreveu a orelha do livro, além de ter
participado da banca da minha tese, sem nem ao menos me conhecer pessoalmente.
Quanto a “Sangue Bom”, eu gosto da novela, me identifico com a linguagem ácida
que eles criticam a indústria midiática. Adoro a personagem da Marisa Orth, pra
mim uma prima da tresloucada Jaqueline (Claudia Raia) de “Tititi”. Também está
sendo uma ótima surpresa o trabalho do Joaquim Lopes, o Lucindo, um tipo que eu
constantemente vejo nas ruas aqui em São Paulo. Isabelle Drummond tem um
presente em mãos, Giane está sendo um processo de amadurecimento na carreira
dessa atriz que em breve veremos protagonista no horário nobre. Fora que não é
sempre que vemos Malu Mader na telinha e a transformação pela qual a personagem
atualmente passa está sendo deliciosa de acompanhar.
De modo mais abrangente, qual a sua
observação sobre o cenário da teledramaturgia atual?
Raphael Scire – Acho
que o espaço dado a novos autores é muito bom. Essa renovação é necessária e o
próprio Silvio faz um trabalho interessante ao revelar novos talentos. Gilberto
Braga é outro que faz. O João Ximenes Braga, que escreveu ‘Lado a Lado’ logo
logo assinará uma novela das nove junto com Gilberto e Ricardo Linhares. Estou
ansioso para ver o Lombardi na Record. E essa retomada do SBT em investir em
novela, ainda que com temáticas infantis, é muito boa para o mercado.
Uma enquete pertinente foi lançada pelo
Canal Viva. O público tomou conhecimento do resultado há algumas horas, mas
aproveito para “reproduzi-la” aqui e obter um pouco mais de sua opinião. Eis a
pergunta: Água Viva, O Dono do Mundo, Fera Ferida ou A Indomada. Qual novela você
escolheria como substituta para Rainha da Sucata na faixa da meia noite?
Raphael Scire – Interessante,
mas meu voto é [seria] para ‘O dono do mundo’, não só pela Malu Mader, mas
gostaria de ver uma novela que foi tão rechaçada na época que foi exibida. E eu
não guardo lembrança alguma de “O dono do mundo”, tinha apenas quatro anos na
época.
Já abriu espaço para algum novo projeto?
Raphael Scire – Sempre,
mas o que eu preciso agora é de férias.
Obrigado pela solicitude. Desejo
realizações plenas. Felicidades!
Raphael Scire – Eu
que agradeço a oportunidade. Sucesso!
Entrevista bem feita e obra bem realizada... Parabéns...
ResponderExcluirMauro Gianfrancesco
Obrigado, Mauro... sempre bom tê-lo por aqui.
ExcluirParabéns, Isaac, pela entrevista, super em cima da marca, apurada e num ótimo momento. Raphael Scire, da novíssima da geração, acertou em cheio na iniciativa de inventariar o trabalho de um dos grandes autores da televisão!
ResponderExcluirValeu, bee!
Excluir