RAIO LASER
NOVELA DE DAVI VALLÉRIO E ALEX
SPINOLA
ESCRITA POR ALEX SPINOLA
CAPÍTULO 08
CENA
01. CASA DOS JUAREZ. COZINHA. INTERIOR. DIA
Continuação imediata da última cena
do capítulo anterior. Televisor ainda ligado. Amanda entra. Traz nas
mãos a mesma travessa na qual levou comida para os peões.
AMANDA: Ave Maria! Acho que esses homi não
viam comida pra mais de semana! (ela nota a ausência de Dona Sofia) ué, cadê a
dona Sofia? Ah, deve ter ido lá pro quartinho dela.
CORTA
PARA:
CENA
02. CASA DOS JUAREZ. QUARTINHO DE SOFIA. INT. DIA
Dona
Sofia entra, tranca a porta e liga a televisão. Tempo. Parece ruminar alguma
ideia. Ela olha pela janela do quarto e VÊ um matagal que se inicia nos fundos
da casa e também os PEÕES e JAGUNÇOS da fazenda que estão entretidos com a
comilança. Sofia respira fundo, se enche de coragem, pula a janela e se
embrenha mato adentro.
CORTA
PARA:
CENA 03. CIDADE DE NOVA IORQUE. EUA.
EXTERIOR. NOITE
Imagens
aéreas a ilustrar a Big Apple ao som de "NEW YORK, NEW YORK" de Nina
Hagen.
CORTA
PARA:
CENA 04. APARTAMENTO DE CONRADO EM
NY. SALA. INT. NOITE
Conversa
adianta entre Conrado, Malu, Roger e Lauro. Conrado nota as carinhas
apreensivas deles.
CONRADO: Que é isso, meus queridos? Ânimo!
Nós estamos em Nova Iorque! Isso é sempre motivo de celebração! Os exames em
Boston já estão marcados. Vamos amanhã. Retornamos na quinta porque tenho
entrevista agendada com a Leda Nagle, e com ela não dou furo por nada nessa vida.
É uma querida!
ROGER: Agendei tudo com ela, antes da
gente deixar o Rio! Amo a Leda!
CONRADO: Ah, Lauro, quero você comigo na
entrevista, hein! Pelo pouco que já te conheço, sei que não é muito dado a
isso, mas faço questão!
LAURO: Claro, Conrado. Pode contar
comigo.
Malu,
meio alheia ao papo, olha pela janela. Seu PONTO DE VISTA nos revela um trecho
do bairro onde o apartamento se localiza: na 72 em Manhattan. Ela avista as
ruas molhadas pela chuva fina de inverno.
CONRADO: (nota Malu) E então, Malu, minha
little diva, vai ficar apenas com a vista da janela?
MALU (ri) Tava olhando o Dakota. E
pensar que John Lennon foi assassinado bem ali.
ROGER: No mesmo prédio que a Rosemary
teve filho com o capeta. Esse lugar merecia uma visita da minha mãe de santo!
CONRADO: (olha para os amigos, ar sapeca)
Acho esse lugar deslumbrante. E nós estamos vivos. Alegria! Joguem-se na vida,
meus amores!
Tempo.
Lauro, Malu e Roger trocam olhares.
ROGER: Eu adoraria, gente, mas estou
MORTA!
MALU: (pisca para Lauro) E aí, gato? O
que você me diz?
LAURO: (puxa Malu para um canto, com
descrição) Acho melhor não. Olha como o Conrado tá. Muito fraco, perdeu peso
demais. Tô com medo dessa doença, que ninguém descobre o que é.
MALU: Conheço o Conrado. Ele não vai se
sentir bem se ficar todo mundo em volta dele. Ele vai ficar bem.
CORTA
PARA:
CENA 05. RUAS DE NOVA IORQUE.
EXTERIOR. NOITE
Cena
permeada por "EU TE AMO VOCÊ" de Marina, Lauro e Malu a passear.
Ele se mostra meio apático, preocupado, mas com uma energia cativante, Malu trata
de animá-lo. Tempo na descontração deles.
CORTE
BRUSCO PARA:
CENA 06. BOATE DANCETERIA NY.
INTERIOR. NOITE.
Clima
underground. Madonna novinha no palco cantando "BURNING UP". Lauro,
mais descontraído, curte a noite. Malu se aproxima trazendo bebidas.
LAURO: (fala alto, pra ser ouvido) Cara,
a Lídia ia se amarrar nesse lugar. Ela sempre falava que não dava pra curtir a
noite lá em...
MALU: (interrompe) Oi? Não entendi.
Lauro
repete a frase. Malu se faz de surda. Ele entende a ironia dela e sorri. Ela lhe
entrega a bebida.
MALU: Toma isso e fica quieto. Curte aí
os 15 minutos de fama dessa loirinha sem graça.
CORTA
PARA:
CENA 07. QUARTO DE HOTEL EM NOVA
IORQUE. INT. NOITE
Lauro
e Malu entram aos beijos. Ele está visivelmente de pileque. Ela está decidida a
fazê-lo esquecer de Lídia. Exalando sensualidade, ela liga o rádio e sintoniza
uma estação. Toca “SLAVE TO LOVE”, de Bryan Ferry. Mais beijos ardentes. Ela
arranca a casaco e camisa dele e o empurra sobre a cama. Ele a puxa para si,
apalpando o corpo dela sob o pesado sobretudo. Mais beijos. Malu encara Lauro.
MALU: Escuta o que vou te dizer, garoto,
porque será praticamente a revelação do último segredo de Fátima: eu não sei o
por quê. Não dá pra explicar, mas tô amarrada em você como nunca estive por
cara nenhum.
Lauro
arranca as roupas dela.
CORTA
PARA:
CENA 08. CIDADE DE TORRENTES. CORETO
DA PRAÇA. EXT. TARDE
A
CÂMERA abre na MULTIDÃO que tomas as ruas e as cercanias da praça. Clima de
festa. Um CORRELIGIONÁRIO comanda o foguetório. Beto e Amanda estão no meio do
povo. No coreto, Sebastião, ladeado por Eva, Neco e Lídia, começa a discursar.
SEBASTIÃO: Hoje é dia de festa, meu povo! E a
festa é de vocês que botaram sua confiança em mim, que acreditaram na minha
vontade de trabalhar para colocar Torrentes no rumo do progresso!
A
MULTIDÃO vibra. No meio do povo, Beto e Amanda.
BETO: Esse jagunço só ganhou a eleição
por que o voto ainda não é direto nessa porquera de pais.
AMANDA: Deixa seu Bastião ouvir você
chamando ele de jagunço que ele te arranca as orelhas na faca.
BETO: E quem faz isso é o que?
AMANDA: Será que o Neco vai fazer discurso
também?
BETO: (caçoando) Vai nada. Deve tá
falando fino, depois da mordida que a Lídia deu nele. Sorte o doutor Miguel ter
atendido àquelas horas.
AMANDA: (ri, ar de malícia) Olha que vou
morder o seu também, mô.
BETO: (abraça) Tem coisa melhor procê
fazer com ele, safadinha.
Corta
para o coreto da praça, onde Sebastião prossegue com seu discurso.
SEBASTIÃO: É por isso que eu digo, meu povo:
agora é hora de trabalhar! Vamo unir forças igual uma família, (aponta para
Eva, Lídia e Neco) pro progresso da nossa cidade! É isso mesmo, uma família. E
seu serei o pai de todos vocês!
MULTIDÃO: (beirando a histeria) Bastião, pai
do povo! Bastião, pai do povo!
Esperta,
Eva aprecia a catarse do populacho. Já que Sebastião assumiu a personalidade de
pai do povo, ela, certamente, será a mãe de todos os desvalidos.
EVA: (no ímpeto, abraça o marido) Sim,
minha gente! Vamos ser uma família! Contem comigo, essa primeira-dama que será
a mãe amiga de todos vocês!
MULTIDÃO: Eva é a nossa mãe! Eva é a nossa
mãe!
Eva
manda beijos e a MULTIDÃO delira ainda mais. Sebastião, mesmo tomado pela
euforia, lança um olhar desconfiado para a esposa.
CORTA
PARA:
CENA 09. FAZENDA DOS JUAREZ.
QUINTAL. EXTERIOR. ANOITECER
E
os festejos continuam. Gente por todos os lados. Eva flanando entre os
eleitores, com ares de first lady! Beto e Amanda atarantados para encher o
bucho da multidão. Sebastião chama Neco, de canto.
SEBASTIÃO: (garrafa de cerveja na mão, já
meio embriagado) Você cuidou de tudo, não é Neco? Não quero que falte nada pra
esse povo!
NECO: Tudo nos conformes, seu Sebastião!
Se precisar, meto bala em mais um boi!
SEBASTIÃO: Isso mesmo! Vamos encher o bucho
desse povo com carne e cerveja, porque pobre tem muita fome!
AMANDA: (para Beto) Jesus amado! Que
parece que esse povo nunca viu comida. Vou lá para a cozinha fritar mais
salgados!
Amanda
sai. Beto fica com aquela carinha de “pelo amor de Deus não demora!”. Um
FOTÓGRAFO chega por ali. Eva e Sebastião já fazem pose e chamam por Neco e
Lídia, que a enlaça em seus braços, mas
leva uma cotovelada nas costelas. O fotógrafo se ajeita para registrar o
congraçamento da família Busca-Pé. Amanda vem toda esbaforida do interior da
casa. Eva nota a aflição dela.
EVA: O que foi, Amanda?
Amanda
está em cólicas. O fotógrafo chama a atenção.
FOTÓGRAFO: Vamos lá, minha gente! Digam xis!
Sebastião
e Neco quase explodindo de tanta felicidade. Lídia com uma tromba daquelas. Eva
abre aquele sorrisão. Amanda despeja a notícia à queima roupa.
AMANDA: A dona Sofia sumiu! Escafedeu-se!
O
sorriso de Eva murcha. O fotógrafo aciona a câmera e o flash dispara. Não pelo
clarão que emanou da máquina fotográfica, mas sim pela notícia que Amanda
trouxe, o PONTO DE VISTA de Eva fica turvo, transformando tudo e todos ao redor
dela num borrão negro. E nesse BLECAUTE da megera, CORTE BRUSCO PARA:
CENA 10. RIO DE JANEIRO. RODOVIÁRIA.
INT. NOITE
Dona
Sofia salta de um ônibus.
CORTA
PARA:
CENA 11. QUARTO DE HOTEL EM NOVA
IORQUE. INT. MANHÃ
Lauro
veste-se rapidamente, ao mesmo tempo em que tenta acordar Malu, que dorme feito
pedra.
LAURO: Porra, Malu, acorda!
MALU: (sonolenta) O que foi, Lauro?
LAURO: Liguei pro apartamento do Conrado.
O Roger tava doido, não tava falando coisa com coisa! Acho que o Conrado passou
mal de novo!
CORTA
PARA:
CENA 12. PADARIA NO RIO DE JANEIRO.
INT. DIA
Televisor
ligado. Impaciente, Sofia aguarda seu pedido. O BALCONISTA lhe serve um misto
quente e um refrigerante.
BALCONISTA: São 300 cruzeiros.
SOFIA: (quase se afoga com o
refrigerante) Isso é um roubo, rapaz! Você nem imagina o que eu passei pra
chegar aqui na Guanabara! Tive uma noite do cão, dormi naqueles bancos da rodoviária,
tive que roubar dinheiro de uma salafrária, pra chegar aqui. Dê um desconto aí,
por favor?
BALCONISTA: (desconfiado) Não posso não, minha
tia, senão o patrão arranca meu couro. A coisa tá assim mesmo: preço sobe todo
dia! É a inflação!
NO
TELEVISOR entra plantão urgente de telejornal. No MONITOR, Leda Nagle noticia,
com pesar, o falecimento de Conrado Molina, e informa que o sepultamento será
no cemitério São João Batista e que o translado será acompanhado pelos seus
amigos Malu Capricce, Roger e Lauro Vianna.
BALCONISTA: Mas agora deu pra morrer viado!
SOFIA: (olhinhos cheios de esperança)
Graças a Deus! Que agora eu encontro o Laurinho!
BALCONISTA: É, deve ser castigo de Deus mesmo.
Sofia
olha estranho para o balconista, não entendeu ao que ele se referiu. Ela
termina o lanche, vai saindo quando dá de cara com Padre Manoel.
PADRE MANOEL: (quase enfartando) Dona Sofia?!
Pelo amor de Deus, o que a senhora está fazendo aqui?!
Sofia
se faz de louca, finge que não é com ela.
PADRE MANOEL: (pega-a pelo braço) Tudo mundo
preocupado com o sumiço da senhora. Foi Deus quem me colocou aqui! Vim pegar
encomenda de hóstia. Vem comigo, minha filha. Vamos, vamos pra casa.
SOFIA: (berra) Me larga!!
BALCONISTA: (percebe) Ô padre, qual é a sua?!
Larga a tiazinha aí!
PADRE MANOEL: Liga não, meu filho. Eu conheço, é
da minha cidade. Tá fugida! (faz sinal que indica loucura) Não bate bem,
entende?
BALCONISTA: (desconfiado) Sei não, hein!
PADRE MANOEL: Fique em paz, meu filho. Venha,
dona Sofia, vamos pra casa.
Sofia
visualiza uma garrafa de cerveja sobre uma mesa desocupada. Não pensa duas
vezes: acerta a cabeça do padre. Gritaria, confusão. CLIENTES vão ajudar padre
Manoel, que se esvai em sangue.
BALCONISTA: (pula o balcão e imobiliza a
velha) Puta que o pariu!! Não é que a velha é doida mesmo?! Imagina só, bater
em padre?! Bem que estranhei quando ela disse que roubou não sei quem, pra vir
pro Rio! Alguém aí chama a polícia!
PADRE MANOEL: (leva a mão à cabeça) Não te
disse, meu filho, que ela não batia bem da bola?
CORTA
PARA:
CENA 13. CASA DOS JUAREZ. QUARTO DE
EVA. INT. DIA
Eva
apreensiva. Sebastião entra. Tensão.
SEBASTIÃO: Nada da velha! Neco e Beto
vasculharam a cidade toda, na surdina, como eu mandei pra que ninguém
desconfiasse do sumiço dela. Nada! Dona Sofia virou fumaça!
EVA: Culpa desses seus capangas de
merda!
SEBASTIÃO: Culpa sua, que insistiu de
arrastar a velha pra cá, depois que ela saiu do coma!
EVA: Você deveria me agradecer. Fiz
isso pra ajudar sua campanha.
SEBASTIÃO: (desconfiado) Sei. Você não bate
prego sem estopa, Eva! Tô sentindo cheiro de encrenca sua. Alguma você aprontou
pra velha, do mesmo jeito que aprontou pro Lauro Vianna. Eu sei que tem dedo
seu naquela história, eu sei.
EVA: Sabe porra nenhuma! Eu não fiz
nada! E se eu tivesse feito, você tinha é que agradecer pela cadeira que vagou
na prefeitura, e que agora você vai colocar a bunda. Olha, pra te falar a
verdade, sem mim, você nunca foi ninguém!
SEBASTIÃO: (saca de seu chicote) Você me
respeita, Eva!
EVA: (encarando) Vai me bater, Sebastião?
Vai? Então bate nessa cara se for homem!
Sebastião
respira fundo, prende o chicote no cinto e esboça deixar o quarto.
EVA: (murmura) Seu corno manso.
Um
olhar sinistro brota no cenho de Sebastião. Ele se volta para Eva. Chicote em
riste.
SEBASTIÃO: Faz tempo que você tá pedindo
isso, sua vagabunda!
Sebastião
passa a chicotear a esposa com tamanha ferocidade, que mal lhe dá tempo de
defesa. Cada chicotada rasga um pedaço das roupas dela e abre em sua pele
chagas sangrentas.
CORTA
PARA:
CENA 14. APARTAMENTO DE CONRADO EM
NY. SALA. INT. MANHÃ
Lauro,
Malu e Roger inconsoláveis.
ROGER: Gente eu não aguento mais ficar
nesse apartamento. Tudo o que tinha pra fazer sobre o translado do corpo do meu
Conradinho, eu já fiz. Não aguento ficar aqui, tudo lembra ele. Eu vou sair,
pra respirar um pouco. A gente se encontra no aeroporto.
LAURO: Eu vou com você, Roger.
ROGER: Obrigado, Lauro. Mas eu quero
ficar um pouco sozinho. Eu preciso. Fica aí com a Malu. O telefone também não
vai parar de tocar, vão ser os amigos, a imprensa lá do Brasil... Eu sei que
não vou conseguir falar com mais ninguém. Vocês fazem isso por mim?
MALU: Claro, Roger. Eu e o Lauro vamos
resolvendo tudo por aqui.
Roger
sai. Um breve silêncio entre Lauro e Malu.
MALU: Cara, eu não consigo acreditar.
LAURO: Nem eu. Conheci o Conrado tão
rápido, de um jeito tão doido... Uma
ligação muito forte, Nem to dizendo isso pela força que ele me deu, pelo
trabalho que ele ia descolar pra mim... Tô falando de uma coisa de emoção, de
um sentimento maior.
MALU: (acaricia os cabelos dele) Eu te
entendo, meu amor. Também tô acabada. O Conrado sempre significou muito pra
mim. Estamos órfãos, ( dá um beijinho), e agora, o que vai ser da gente?
LAURO: O jeito vai ser retomar a vida. Eu
vou ter que retomar a minha de onde ela parou.
MALU: (emotiva) E a gente? Você vai
voltar pra aquela garota?
LAURO: (respira fundo, dá uma pausa)
Melhor a gente não falar disso agora.
MALU: (tenta disfarçar a decepção) Vou
preparar uma bebida pra gente.
Toca
o telefone. Lauro vai atender. No balcão do bar, Malu prepara as bebidas. Tempo
nela. Ela faz sinal pra ele, diz que vai fazer xixi. Lauro faz sinal de
positivo e continua ao telefone. Malu volta do banheiro e despeja algumas pílulas no copo destinado a Lauro.
CORTA
PARA:
LEGENDA: UM DIA DEPOIS.
CORTA
PARA:
CENA 15. RIO DE JANEIRO. CEMITÉRIO
SÃO JOÃO BATISTA. EXT. DIA
Cortejo
fúnebre de Conrado Molina. Imprensa, artistas e gente do povo por todos os
lados. Roger, aos prantos, é amparado por Tônia Carrero.
TÔNIA: (para Roger) Força, meu lindo,
força. (ela olha ao redor) Como o nosso Conrado era amado. As pessoas simples,
as pessoas do povo estão aqui. Ele sempre estendeu as mãos aos necessitados.
Isso é uma lição de vida.
CORTA
PARA:
LEGENDA: ALGUNS DIAS DEPOIS.
CORTA
PARA:
CENA 16. APARTAMENTO DE CONRADO NO
RIO. SALA. INT. DIA
Roger,
melancólico, olha para os retratos dele com Conrado. Toca a campainha. Ele abre
a porta e Malu entra feito um foguete.
MALU: Cadê o Lauro, Roger?
ROGER: Não está.
MALU: Cara, como é que ele some desse
jeito?
ROGER: Faz favor, Malu! Depois do boa
noite Cinderela que você armou pra ela lá em Nova Iorque, você ainda se acha no
direito de ficar ofendida?! Eu, no lugar dele, não teria só mudado a data do
seu embarque de Nova Iorque pro Rio, pra não ter o desprazer de ficar olhando
pra essa sua cara de pau durante o voo, eu teria de deixado você lá, sem um
mísero dólar no bolso, passando fome e ainda teria jogado seu passaporte nas
águas do rio Hudson, pra você largar a mão de ser trapaceira!
MALU: Porra, Roger, eu pisei na bola, eu
sei! Eu vacilei. Mas ele tava decidido a voltar praquela caipira! (ela respira
fundo, se abre, sincera) Roger, você pode não acreditar, mas eu sou louca por
ele.
ROGER: Que você é louca eu estou cansada
de saber. Mas quem ama, minha filha, não trai!
MALU: Sério que ele não tá aqui? Ele
viajou, ou foi atrás daquela tal de Lídia? Roger me fala! Eu vou ter que sair
do Rio por uns tempos... Andei dando uns vacilos por aí... Mas eu quero que o
Lauro venha comigo...
ROGER: (cortando) Ah, claro, de vacilos a
senhora entende! Mas é sério. Ele não está. Foi atrás dela, sim. E nem adianta
querer saber pra onde, porque eu não sei. E mesmo que soubesse, eu não te
diria.
MALU: (atacada) Você não pode fazer isso
comigo, Roger!
ROGER: Lo siento, queridinha, mas quem
fez tudo errado foi você.
CORTA
PARA:
CENA 17. SALA EM ESCRITÓRIO DE
ADVOCACIA. INT. DIA
Pela
janela, Lauro olha para a Avenida Nossa Senhora de Copacabana. Ele respira
fundo, parece incrédulo. Um ADVOGADO, na casa dos 60 anos, toca o ombro dele e
lhe entrega um copo com água.
ADVOGADO: Beba. Você está pálido, Lauro.
LAURO: (bebendo) Eu não acredito. Quando
o Conrado fez isso? O Roger sabia de alguma coisa?
ADVOGADO: Calma. Uma pergunta de cada vez.
Conrado alterou o testamento há algumas semanas. O Roger foi testemunha e
sempre soube de tudo. Mas antes de eu te explicar todos os procedimentos e
também todas as exigências de Conrado nesse novo testamento, eu é que te faço
uma pergunta, meu jovem: o que você vai fazer com toda essa fortuna que herdou?
LAURO: (ainda em choque) Honrar o nome do
Conrado... (pausa, ele pensa na vida, em tudo o que passou)... E também vou
fazer justiça.
Um
BLECAUTE gradativo enegrece a tela e sobre ele surge uma LEGENDA:
ALGUNS ANOS DEPOIS
CENA 18. MOTEL DE BEIRA DE ESTRADA.
QUARTO. INT. NOITE
Eva
acaba de se vestir. Ela olha pela janela, acende um cigarro e volta sua atenção
para um HOMEM de cueca Zorba branca, que está estirado sobre a cama. Ele esboça
retirar a cueca, quer atiçá-la. Eva sorri.
EVA: De novo, meu bem? Eu adoraria, mas
por hoje chega. Daqui até Torrentes tem chão e aquele porco do Sebastião já
deve ter dado por minha falta. A gente não pode vacilar. Depois que a gente
acabar com ele, e eu estiver com a prefeitura nas minhas mãos, talvez a gente
possa relaxar.
O
homem estende os braços, faz sinal com as mãos para que ela se aproxime. Eva
sorri, envolve a cabeça com um lenço e sai. Com o atrito, um CALENDÁRIO que
está preso à porta cai. Nele podemos ler: “SÁBADO,
09 DE MARÇO DE 1985”.
CORTA
PARA:
CENA 19. CASA DOS JUAREZ. SALA.
INTERIOR. NOITE
Tudo
está diferente na casa, que passou por reformas. Mobília nova. Televisor
ligado. No MONITOR cenas de um dos capítulos da novela ROQUE SANTEIRO. Sebastião
e Amanda vidrados com as peripécias de Sinhozinho Malta e viúva Porcina. Entram
os comerciais.
SEBASTIÃO: Cadê sua patroa, Amanda? Daqui a
pouco vai ter a inauguração daquela boate. O pessoal mais ilustre da cidade
recebeu convite. Coisa fina. Quero a família lá!
AMANDA: Será que é igual a boate Sexus? Tá
tão colorido. Mudaram tudo lá no casarão que foi do finado pai do Lauro, não é?
SEBASTIÃO: Gastaram um dinheirão no palacete
abandonado do velho. Aquele escurinho meio esquisito, deve ser testa de ferro
de alguém com muito dinheiro. Agora com esse monte de turista da laia deles
tinha que ter uma boate dessa aqui.
AMANDA: (nem ouviu direito o que ele
disse) Gente, e o Laurinho, hein? Nunca mais que ninguém soube dele.
SEBASTIÃO: Deve ter ido pro quinto dos
infernos, aquele fresco... Ô moleca, deixa de conversa fiada e responde: Cadê a
dona Eva?
AMANDA: (emburrada pelo fora que levou)
Ela ligou, quando o senhor tava no banho. Depois da reunião com o povo da
pastoral, ela ainda ia visitar a dona Sofia no hospício. Daqui a pouco ela
chega por aí.
Sebastião
cismado. Volta a novela, ele abre um sorriso.
CORTA
PARA:
CENA 20. CIDADE DE TORRENTES. RUA.
EXT. NOITE
Um
Alfa Romeo Spider com vidros negros estaciona. A janela do lado do motorista se
abre lentamente. Lauro olha para o casarão que foi de seu pai. Roger no banco
do carona. Da construção antiga só restou uma estátua art noveau presa no alto
da fachada como uma Fênix que renasceu das cinzas. Abaixo dela há uma placa
moderna, com letreiros em neon, onde se pode ler: “RAIO LASER” e começa a tocar
a música de Pepeu Gomes, "UM RAIO LASER".
LAURO: O massacre começa hoje.
CORTA
PARA:
FIM DO CAPÍTULO 08
UAU! Raio Laser cada dia mais emocionante!!!!
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