RAIO LASER
NOVELA DE DAVI
VALLERIO E ALEX SPINOLA
ESCRITA
POR ALEX SPINOLA
CAPÍTULO
O9
CENA.
CIDADE DE TORRENTES. RUA DA DANCETERIA. EXT. NOITE
Continuação
imediata da última cena do capítulo anterior. Lauro e Roger dentro do
Alfa Romeu Spider. Lauro ainda a encarar a luminosa fachada da danceteria Raio
Laser.
ROGER: Lambendo a cria,
Laurinho?
LAURO: Mais do que isso, Roger.
ROGER: Eu sei. Disse isso só pra
te provocar. Deve estar passando mil coisas na sua cabeça.
LAURO: Lembrei do que o Conrado
me falava sobre o passado. Que a gente deixa num canto, até o momento de
aprender a lidar com ele. Acho que esse momento chegou.
ROGER: (como quem sente um mau
presságio) Só de pensar, fico todo arrepiado. Acho que eu não sei lidar com
essas emoções fortes, (tenta descontrair), acho que a Malu iria amar essa
danceteria. É a cara dela.
LAURO: Danceteria no fim do
mundo com cara da Malu, Roger? Tá de brincadeira, né?
ROGER: Claro que não. Aquela lá
iria com você até o fim do mundo. Ela é parada na sua, garoto, e você sabe
disso. (irônico) E olha que ela nunca soube que você herdou tudo o que era do
Conradinho!
LAURO: E eu não sei? Imagina a
pirada me aplicando boa noite Cinderela, pra me prender em Nova Iorque na época
da morte do Conrado...
ROGER: Ai, nem me lembra.
LAURO: (lembra, acaba rindo)
Fiquei puto com ela.
ROGER: Ficou, mas depois caiu no charme dela,
que, diga-se de passagem, é irresistível... Agora, puta ela também vai ficar
quando descobrir que você aproveitou que ela tá gravando novela em São Paulo,
pra se mandar.
LAURO: Nossa história já tinha
acabado. Curtimos o que tinha pra curtir.
ROGER: Pode ter acabado pra
você. Acabado, não. Acho que nunca nem começou. A Malu sempre teve que lidar
com um fantasminha, não é? (fala baixinho) a tal da Lídia. Mas pra Malu, eu sei
que não acabou.
LAURO: Chega desse papo, Roger.
Agora não é hora de falar em finais. A história que eu deixei aqui, ainda não
acabou. E a noite de hoje promete.
Lauro liga o carro. O vidro da janela do lado
dele sobe lentamente, encobrindo seu rosto. O carro parte.
CORTA PARA:
CENA 02.
CASA DOS JUAREZ. SALA. INT. NOITE
Sebastião ainda vidrado no capítulo de Roque
Santeiro. À parte, Lídia e Amanda reparam no jeito dele.
AMANDA: Lídia, tá pra nascer
homem mais noveleiro que o seu padrasto. Se alguém puxar prosa com ele agora, é
capaz de levar um tiro.
LÍDIA: É exatamente por isso que
ele é vidrado nessa daí. Ele se enxerga no Sinhozinho Malta.
AMANDA: (rindo) E a dona Eva é a
viúva Porcina.
LÍDIA: Não, aquela lá tá mais
pro bandido Navalhada.
Amanda explode numa gargalhada. Sebastião ralha
com ela. Quer silêncio.
AMANDA: (quase cochichando) Daqui
a pouco, Torrentes vai estar igual Asa Branca. Boate já chegou, e seu Sebastião
vive dizendo que a Globo vai gravar novela aqui.
LÍDIA: Não é boate, é
danceteria!
AMANDA: Hmmm, quero só ver a
diferença... Se bem que nunca fui em nenhuma das duas.
LÍDIA: E essa historia de novela
gravada aqui é conversa fiada. Ele inventou isso só pra iludir o povo. Isso aí
é um trambiqueiro.
AMANDA: Ah, e por falar em
trambiqueiro: cadê o Neco?
LÍDIA: Deve estar no quinto dos
infernos!
AMANDA: Crendeuspai! Vem cá, (faz
carinha de curiosa), vocês nunca que tiveram nada de intimidade mesmo?
LÍDIA: (ofendida pela pergunta)
Quem vai bancar o Sinhozinho Malta, agora, sou eu Amanda! Claro que não. Eu
tenho nojo daquele infeliz.
AMANDA: (arrependida) Desculpa,
amiga. Eu sei que você nunca que ia esquecer o Lauro.
LÍDIA: É, mas ele esqueceu de
mim.
Amanda sente uma pontada de remorso, e lembra-se
da tramoia que Eva a obrigou fazer.
LÍDIA: (saindo da sala) E, com
certeza, deve de estar bem feliz ao lado de outra.
CORTA PARA:
CENA 03.
RIO DE JANEIRO. AV. ATLÂNTICA. EXT. NOITE
Malu atravessa a avenida e alcança a calçada. Por
um breve instante, ela encara o prédio onde Conrado viveu.
CORTA PARA:
CENA 04.
APARTAMENTO DE CONRADO. SALA. INT. NOITE
Malu entra seguida pelo PORTEIRO, que abriu a
porta com a chave reserva.
PORTEIRO: Faz tempo que não vejo o
seu Roger por aqui. O seu Conrado deixou esse baita apartamento pra ele, mas
ele vive de mala na mão. O Lauro pouco tem ficado por aqui também. Aliás, dona
Malu, eu nem sabia que vocês tinham se casado.
MALU: (tensa, acende um cigarro
e pensa rápido numa mentira) Vida de artista é assim mesmo, meu querido. As
coisas acontecem tão rápido que o povo nem fica sabendo, (ela abre a bolsa,
pega uns trocados, quer despachar o porteiro), olha seu José, um agradinho pro
senhor, viu? Não sei onde enfiei a minha chave.
PORTEIRO: Imagina, dona Malu. Fiz
de coração, porque era pra senhora.
Malu agradece, coloca os trocados no bolso da
camisa dele, o conduz para a saída e fecha a porta.
MALU: Você me paga, Lauro. Você
me paga. Daqui eu não saio, daqui ninguém me tira.
CORTA PARA:
CENA 05.
CASA DOS JUAREZ. SALA. INT. NOITE
Acabou Roque Santeiro. No MONITOR da televisão
da sala, sobem os créditos finais do capítulo. Sebastião dá um pulo do sofá.
Amanda se assusta.
SEBASTIÃO: Mas que peste de visita
em hospício mais demorada? Será que resolveram prender a Eva por lá?
EVA: (chega) Falando de mim,
Bastião?
AMANDA: (murmura) Falou no diabo,
apareceu o rabo.
SEBASTIÃO: Claro! Isso lá são horas
pra ir visitar aquela velha?
EVA: Tô cuidando da sua
imagem, meu filho! Não se esqueça que com aquele negócio de Diretas Já, daqui a
pouco, o povo vai votar em quem bem entender.
SEBASTIÃO: Uma pinoia! Nessa terra,
manda quem pode, obedece que tem juízo. Sempre foi assim e vai continuar sendo!
EVA: Você anda vendo muita
novela, Bastião.
SEBASTIÃO: Ah, me deixa em paz! Vai
te aprontar, que não quero chegar atrasado lá na inauguração da tal boate,
danceteria, sei lá que diabo é aquilo. O Neco ligou, disse que daqui a pouco tá
aqui.
EVA: (para Amanda) Por falar
em Neco, a Lídia já se aprontou?
AMANDA: Sei não, dona Eva. Ela tá
meio jururu, acho que não vai querer ir, não.
EVA: Essa não cansa de se
fazer de vítima. Deus me livre.
AMANDA: E a dona Sofia, como é
que tá?
EVA: (já saindo) Tá ótima!
Melhor impossível!
CORTE BRUSCO PARA:
CENA 06.
CLÍNICA PSIQUIÁTRICA DE ALECRIM. FACHADA. EXT. NOITE
Take rápido da fachada da clínica. O prédio foi
reformado e ampliado.
CORTA PARA:
CENA 07.
CLÍNICA PSIQUIÁTRICA DE ALECRIM. QUARTO. INT. NOITE
A CÂMERA
foca uma mão feminina que empunha uma seringa com medicamento. Detalhe do
líquido sendo esguichado antes da aplicação. A CÂMERA abre e nos mostra MARION,
a enfermeira gorda da primeira fase, que se aproxima do leito onde dona Sofia
está.
MARION: (ministrando a medicação
na veia) Olha, dona Sofia, eu bem sei que aqui não é lugar pra senhora. Eu
conheço um doido só pelo faro, e esse não é o seu caso...
No leito, uma Sofia em estado catatônico.
MARION: (continua) Mas quem
mandou a senhora meter uma garrafada nos cornos do padre? A dona Eva achou
melhor mandar a senhora pra cá... Mas não se preocupe não viu? Que ela me paga
pra tomar conta da senhora, bem direitinho.
Marion finaliza a aplicação. Dona Sofia revira
os olhos e apaga de uma vez.
CORTA PARA:
CENA 08.
TORRENTES. RUA. EXT. NOITE
Um Fusca vem sacolejando pela rua. Escapamento
cospe uma fumaça preta, o motor engasga e o automóvel para. Dele, saltam Beto e
Amanda. Ela já se põe a praguejar o carro.
AMANDA: Eita lata-velha dos
infernos! Eu não aguento mais esse sufoco, Beto!
BETO: (abre o capô, procura o
defeito) É o que o meu dinheiro dá pra comprar, Amanda!
AMANDA: Imagina! Seu Sebastião
cansou de te oferecer carro novo, mas você, com esse orgulho besta, nunca
aceitou. Tá parecendo a dona Eva, que mesmo com carro novo, só vive enfiada
naquela caminhonete horrorosa.
BETO: (fecha o capô, com raiva)
Não é orgulho, minha filha, é vergonha na cara! Não aceitei e nunca vou
aceitar!
AMANDA: Olha, Beto, eu não sei se
você é teimoso ou se é burro mesmo!
BETO: Burra é você, Amanda!
Será que você não enxerga que ele quer comprar todo mundo? Que ele quer ter
todo mundo na mão dele? Já basta a casa lá na fazenda, que eu tive que aceitar
quando a gente se casou.
AMANDA: Pelo menos isso!
BETO: Eu não vou discutir com
você, Amanda! Não adianta! Você só enxerga o que você quer ver! Mas um dia há
de chegar alguém nessa cidade que aponte o dedo pros desmandos desse jagunço!
AMANDA: (detesta esse papo
político dele) Ai, Beto, me deixa! Me deixa! Vamo logo pra essa boate,quer
dizer,danceteria... que diz que vai ter até show com artista famoso! Mas ó, eu
que te pegue de graça com alguma oferecida, viu?
Beto bufa diante a alienação dela. Tempo. Ela dá
uma piscadinha pra ele e lhe estende a mão. Beto sorri, dá um beijinho nela. Os
dois seguem a pé.
CORTA PARA:
CENA 09.
RUA DEFRONTE A DANCETERIA RAIO LASER. EXT. NOITE
Fila quilométrica. JOVENS ansiosos para a
inauguração da boate. Papo animado entre eles, num determinado trecho da fila.
GAROTA 1: Gente, não vejo a hora de
abrirem logo!
GAROTA 2: Nem eu!
GAROTO 1: Esse prefeito é danado de
bom. Disse que ia mudar a cara da cidade, e mudou mesmo! Até a Globo vai gravar
novela aqui.
GAROTA 1: Já pensou, a cidade assim
ó, cheia de artista! (toda derretida) Ai, se eu vejo o Paulo Castelli, acho que
eu morro.
GAROTA 2: Ah, mas ele tá em Tititi!
Não vem gravar aqui, não.
GAROTO 2: Essa história de novela,
eu não sei, não. Diz que vão filmar lá em Alecrim! Mas que a cidade melhorou,
ah, isso melhorou. No tempo do pai do Lauro não tinha nada disso. Parecia que a
cidade era proibida de ser feliz.
Beto e Amanda vão chegando por ali. Ela
embasbacada com a multidão.
CORTA PARA:
CENA 10.
DANCETERIA RAIO LASER. INTERIOR. NOITE
Superestrutura, toque de modernidade. Espaço
para pista, palco e mesas. GARÇONS circulam entre os CONVIDADOS VIPS. Eva,
Sebastião, Lídia e Neco tomam seus lugares na mesa reservada a eles, com ótima
localização. Um garçom oferece bebida à Eva. Ela aceita. Sebastião lança um
olhar severo para ela. Eva se faz de morta.
SEBASTIÃO: (olha ao redor) Isso aqui
é boate ou casa de show?
LÍDIA: O nome é danceteria.
EVA: Até pouco tempo atrás era
discoteca. Cada hora inventam um nome, pra mim é tudo a mesma coisa.
NECO: (pra alfinetar Lídia)
Tomara que tenha show de mulher pelada.
EVA: Respeita sua mulher, seu
traste!
NECO: Mulher? Que mulher? Tá
tirando sarro da minha cara, sogrinha?
Corta descontínuo para a danceteria já lotada.
Um set com várias músicas bota a garotada para dançar. Amanda se esbalda, mas
sempre mantendo o tímido Beto em seu campo de visão. Ele ri do ciúme dela.
Lídia se junta à amiga.
Na mesa reservada aos Juarez, Neco com cara de
tacho. Sebastião e Eva em conversa adiantada.
EVA: Mas cadê o dono desse
lugar, que nem veio cumprimentar a gente? Imagina, que desconsideração!
SEBASTIÃO: Sou obrigado a concordar
com você. Tô curioso pra saber quem é. Pois aquele negrinho, com jeito
esquisito, que andou por aqui, fechando negócio com meio mundo, não tem jeito
de quem tem bala na agulha pra montar um negócio desses.
EVA: Verdade. Eu gostei disso
aqui, viu?
SEBASTIÃO: É, mas vê se não enche a
cara. Não quero saber de vexame.
EVA: Vexame é essa sua cara de
jagunço. Nem combina com o lugar.
Sebastião vai responder ao desaforo, mas a banda
RPM
entra no palco. um pout´pourri com "LOIRAS
GELADAS,REVOLUÇÕES POR MINUTO e OLHAR 43" leva a plateia ao delírio.
Tempo no show e na reação do público. PAULO RICARDO pede uma pausa.
PAULO
RICARDO:
(animadíssimo) E aí, Torrentes?! (brinca) Eu vejo pelo olhar 43 de vocês que
vocês realmente curtiram o nosso som! (a plateia vibra, ele continua)
Maravilha! Mas agora eu preciso dedicar a próxima música para o responsável por
todo isso: meu amigo, meu brother desde a época do Circo Voador, Laurinho
Vianna!
Corte brusco para a reação da plateia. Eva e
Sebastião quase paralisados. Beto e Amanda surpresos e felizes ao ouvir o nome
do amigo. Lídia dá um safanão em Neco e se aproxima do palco. Luz e efeito
especial. Lauro surge no palco em meio a uma densa nuvem de gelo seco.
LAURO: (no microfone) E aí,
galera? Voltei pro meu berço! E voltei pra ficar! Apertem os cintos porque hoje
é noite de festa. Hoje é noite de Raio Laser!
Canhão de luz aponta para o DISCJOCKEY, que está
no mezanino, já discotecando ao lado por Roger. Sebastião percebe isso.
SEBASTIÃO: (cutuca Eva, aponta para
Roger) Olha lá, o negrinho esquisito que andou por aqui, (caindo em si),
maldito! Tava a mando dessa praga do Lauro!
Eva sequer ouve o que Sebastião fala. Seus olhos
estão presos no palco, em Lauro. Um encara o outro. E num CLOSE, Eva lê, como
numa alucinação, os lábios dele pronunciarem: “Bem-vinda ao inferno!”. Efeitos
de raios são projetados por toda a boate, uma chuva de purpurina colorida cai
sobre Eva e Sebastião ao som de "RADIO PIRATA".
CORTE BRUSCO PARA:
CENA 11.
TORRENTES. EXT. NOITE
NUVENS NEGRAS cobrem o céu sobre a cidade.
Trovões e raios anunciam uma tempestade. E nesse clima, FUSÃO PARA:
CENA 12.
CASA DOS JUAREZ. VARANDA. EXT. MANHÃ
Clima quente. Manhã típica de verão. Algumas
nuvens negras na linha do horizonte. Lídia olha para o infinito. Amanda chega e
lhe entrega uma caneca com café.
AMANDA: Afê Maria, nem vou falar
onde ainda tem brilho nessa casa. Seu Bastião e dona Eva estão cuspindo fogo
colorido de tanta raiva.
LÍDIA: (olhar no infinito) Ele
voltou pra mim, Amanda. Ele voltou pra mim.
Mais uma vez, Amanda rememora a tramoia que Eva
a obrigou fazer. Beto passa em seu Fusca.
AMANDA: (saindo) Amiga, vou com o
Beto pra cidade.
Lídia sequer ouve o que a outra disse.
CORTA PARA:
CENA 13.
CASA DOS JUAREZ. SALA. INT. MANHÃ
Sebastião, Neco e Eva, como Amanda descreveu:
cuspindo fogo colorido.
SEBASTIÃO: Esse infeliz voltou pra
reclamar o que era dele, só pode ser! Ele voltou pra tomar o lugar que foi do
pai dele, (intuindo), é isso: ele voltou pra tomar o meu lugar! E tem brilho
até nos meus pentelhos!
NECO: Calma, meu sogro, vamos
esperar a purpuri... Quer dizer, a poeira abaixar, vamos com calma. A gente dá
um jeito nele!
SEBASTIÃO: Que jeito nele, Neco?
Aquele fresco tá montado no dinheiro, cheio de amigo artista. Tudo mundo deve
saber da história dele, do passado dele.
As últimas palavras de Sebastião mexem com Eva.
Ela zanza de um lado pro outro.
EVA: (pensa em voz alta)
Aquele infeliz voltou pra acabar comigo. Eu preciso pensar. (ela pega a bolsa,
vai saindo) Eu preciso fazer alguma coisa, e rápido.
SEBASTIÃO: Pra onde você vai, Eva?
EVA: (fora de cena) Eu preciso
respirar! Respirar!
Sebastião e Neco trocam olhares. Sebastião
também toma seu rumo.
SEBASTIÃO: (já saindo) Fica por aí,
Neco. Olho vivo na Lídia. Vou assuntar umas coisas com o pessoal do partido.
CORTA PARA:
CENA 14.
CHÁCARA DE LAURO. EXT. MANHÃ
Take rápido da bela chácara e de uma mansão
suntuosa.
CORTA PARA:
CENA 15.
MANSÃO DE LAURO. SALA. INT. MANHÃ
Mesa posta para o café da manhã. Lauro e Roger
em conversa adiantada.
LAURO: (rindo, se deliciando) A
cara de terror da Eva Juarez vai ficar pra história.
ROGER: E a chuva de purpurina no
casal? Foi brilhante!Literalmente!
LAURO: Quanto mais purpurina
melhor, já disse nosso querido Gil!
ROGER: Ai que bárbaro! Mas você
não voltou só por isso, que eu sei.
LAURO: Claro. Foi difícil ver a
Lídia e não correr pros braços dela. Dali do palco, eu vi os olhinhos dela
brilhando.
ROGER: Assim como os seus estão
brilhando agora, não como as calçolas de dona Eva, é claro....
LAURO: A chama tá acesa, mas
história pode esperar. Você sabe qual é o meu foco, Roger.
ROGER: E como sei, até
decorei...
LAURO: (corta) Desmascarar,
humilhar e arrancar deles a vida que eles me roubaram.
CORTA PARA:
CENA 16.
IGREJA DA SALVAÇÃO. ALTAR. INT. MANHÃ
Padre Manoel recebe uma Eva aflitíssima.
Conversa adiantada.
PADRE
MANOEL:
Claro que eu sei que o Lauro Vianna voltou. A cidade inteira só fala disso. Mas
pra que tanta aflição, dona Eva?
EVA: Padre Manoel, a minha
aflição não é porque ele voltou! É por causa daquele lugar, daquela boate.
Aquilo é a casa do demônio!
PADRE
MANOEL:
(se benze) Pelas chagas de Cristo, dona Eva, não fale o nome do tinhoso aqui
dentro.
EVA: (incisiva) Desculpe,
padre, mas o senhor tem que fazer alguma coisa.
PADRE
MANOEL:
Eu?!
EVA: Claro, padre! O senhor
precisa falar com as beatas. Elas precisam fazer um protesto, pela moral e
pelos bons costumes! O senhor sabe que por causa da política, eu não posso me
meter.
PADRE
MANOEL:
Posso até falar com elas, dona Eva. Mas essas beatas de hoje em dia andam tão
fracas na fé... Dona Sofia, que agora está internada, essa sim era uma líder
espiritual nata.
EVA: (murmura pensativa)
Aquela velha chantagista...
PADRE MANOEL: O que foi, minha filha?
EVA: (beija a mão do padre, já
saindo) Nada, padre. Que Deus lhe abençoe!
Eva sai chispada. Padre Manoel fica sem entender
nada.
CORTA BRUSCO PARA:
CENA 17.
CASA DOS JUAREZ. SALA. INT. DIA
Lídia em estado de graça. Liga o rádio que toca "COMO
EU QUERO" de Kid Abelha e os Abóboras Selvagens, cantarola. Neco
vem da cozinha e repara na alegria dela.
NECO: Vê se não fica muito
empolgada, viu Lídia? O fresco do Lauro vai durar pouco. Acho melhor você
engolir essa sua alegria.
LÍDIA: Sabe quem vai ter que o
engolir o que, Neco?
NECO: Hã?
LÍDIA: (chega junto dele,
encara) Você. Você vai ter que engolir essa sua ironia e aceitar o pontapé que
eu vou dar no seu rabo. E sabe por quê? Porque você acabou, porque perto do
Lauro, você não é nada. Você nunca foi nada perto dele. Você nunca existiu.
NECO: Quero ver essa sua
carinha de felicidade, quando tiver recolhendo os pedaços que vão sobrar dele.
LÍDIA: (gargalhada debochada) E
você, Neco? Já começou a recolher os seus?
NECO: (aperta o rosto dela) Não
me provoca, sua vadia. Que eu tô de saco cheio desse seu jeitinho: sonsa na
frente dos outros, e comigo é só patada!
LÍDIA: (escarra no rosto dele)
Isso é só o começo. Eu nunca fui sua, mas vou ser todinha dele.
NECO: Desgraçada! (ele perde as
estribeiras, passa a agredir) Vai ser todinha dele, sua vadia, vai? (passa a
rasgar as roupas dela) mas antes vai ser minha! (Lídia grita) Pode gritar sua
vaca, não tem ninguém em casa!
Neco derruba Lídia no chão e aumenta o volume do
rádio. Vai estuprá-la ali mesmo. Na expressão dele, a satisfação do que está
prestes a fazer.
CORTE BRUSCO PARA:
CENA 18.
RIO DE JANEIRO. PRAIA DO PEPÊ. EXT. DIA
Malu, estirada numa cadeira de praia, aprecia a
paisagem, quando CLÁUDIA RAIA, com aqueles cabelos esvoaçantes de Ninon, de
Roque Santeiro, aproxima-se dela.
CLÁUDIA
RAIA:
Malu Capricce?! Quanto tempo, menina!
MALU: (levanta e cumprimenta
com beijinho) Verdade, Cláudia! Tô super a mil, filmando em São Paulo.
CLÁUDIA
RAIA:
Nem me fala menina, que tô cheia de texto da novela pra decorar. Pensei que
você estivesse com o Lauro, na inauguração da danceteria.
MALU: (levanta os óculos
escuros para o alto da cabeça) Danceteria?
CORTA PARA:
CENA 19.
TORRENTES. ESTRADA DE TERRA. EXT. DIA
Chuva forte. Lídia corre desesperada,
maltrapilha e enojada.
CORTA PARA:
CENA 20.
CASA DOS JUAREZ. SALA. INT. DIA
Neco no chão, desacordado. Um filete de sangue a
lhe escorrer pelo rosto.
CORTA PARA:
CENA 21.
TORRENTES. ESTRADA DE TERRA. EXT. DIA
Chuva fortíssima. Temporal. Lídia ainda corre.
Seu PONTO DE VISTA turvo pelas lágrimas e pela chuva nos revela um automóvel
logo adiante. Ela se ajoelha. O carro para, o motorista salta e corre na
direção dela. Ainda de joelhos, ela ergue o olhar para seu salvador, é Lauro.
CORTA PARA:
FIM DO
CAPÍTULO 09
Chorei com esse encontro! Gente, tá muito boa!!!!! Alex, vc ta arrasando, os capítulos estão de tirar o fôlego!!!
ResponderExcluirFortíssimas emoções nessa reta final, Luciana! Romances, segredos e, claro, o pau comendo nessa mistura de folhetim e faroeste new wave!
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