terça-feira, 24 de setembro de 2013

Raio Laser - 9º Capítulo


RAIO LASER
NOVELA DE DAVI VALLERIO E ALEX SPINOLA
ESCRITA POR ALEX SPINOLA
CAPÍTULO O9

CENA. CIDADE DE TORRENTES. RUA DA DANCETERIA. EXT. NOITE

Continuação imediata da última cena do capítulo anterior. Lauro e Roger dentro do Alfa Romeu Spider. Lauro ainda a encarar a luminosa fachada da danceteria Raio Laser.

ROGER: Lambendo a cria, Laurinho?
LAURO: Mais do que isso, Roger.
ROGER: Eu sei. Disse isso só pra te provocar. Deve estar passando mil coisas na sua cabeça.
LAURO: Lembrei do que o Conrado me falava sobre o passado. Que a gente deixa num canto, até o momento de aprender a lidar com ele. Acho que esse momento chegou.
ROGER: (como quem sente um mau presságio) Só de pensar, fico todo arrepiado. Acho que eu não sei lidar com essas emoções fortes, (tenta descontrair), acho que a Malu iria amar essa danceteria. É a cara dela.
LAURO: Danceteria no fim do mundo com cara da Malu, Roger? Tá de brincadeira, né?
ROGER: Claro que não. Aquela lá iria com você até o fim do mundo. Ela é parada na sua, garoto, e você sabe disso. (irônico) E olha que ela nunca soube que você herdou tudo o que era do Conradinho!
LAURO: E eu não sei? Imagina a pirada me aplicando boa noite Cinderela, pra me prender em Nova Iorque na época da morte do Conrado...
ROGER: Ai, nem me lembra.
LAURO: (lembra, acaba rindo) Fiquei puto com ela.
ROGER: Ficou, mas depois caiu no charme dela, que, diga-se de passagem, é irresistível... Agora, puta ela também vai ficar quando descobrir que você aproveitou que ela tá gravando novela em São Paulo, pra se mandar.
LAURO: Nossa história já tinha acabado. Curtimos o que tinha pra curtir.
ROGER: Pode ter acabado pra você. Acabado, não. Acho que nunca nem começou. A Malu sempre teve que lidar com um fantasminha, não é? (fala baixinho) a tal da Lídia. Mas pra Malu, eu sei que não acabou.
LAURO: Chega desse papo, Roger. Agora não é hora de falar em finais. A história que eu deixei aqui, ainda não acabou. E a noite de hoje promete.

Lauro liga o carro. O vidro da janela do lado dele sobe lentamente, encobrindo seu rosto. O carro parte.

CORTA PARA:       
                   
CENA 02. CASA DOS JUAREZ. SALA. INT. NOITE

Sebastião ainda vidrado no capítulo de Roque Santeiro. À parte, Lídia e Amanda reparam no jeito dele.

AMANDA: Lídia, tá pra nascer homem mais noveleiro que o seu padrasto. Se alguém puxar prosa com ele agora, é capaz de levar um tiro.
LÍDIA: É exatamente por isso que ele é vidrado nessa daí. Ele se enxerga no Sinhozinho Malta.
AMANDA: (rindo) E a dona Eva é a viúva Porcina.
LÍDIA: Não, aquela lá tá mais pro bandido Navalhada.

Amanda explode numa gargalhada. Sebastião ralha com ela. Quer silêncio.

AMANDA: (quase cochichando) Daqui a pouco, Torrentes vai estar igual Asa Branca. Boate já chegou, e seu Sebastião vive dizendo que a Globo vai gravar novela aqui.
LÍDIA: Não é boate, é danceteria!
AMANDA: Hmmm, quero só ver a diferença... Se bem que nunca fui em nenhuma das duas.
LÍDIA: E essa historia de novela gravada aqui é conversa fiada. Ele inventou isso só pra iludir o povo. Isso aí é um trambiqueiro.
AMANDA: Ah, e por falar em trambiqueiro: cadê o Neco?
LÍDIA: Deve estar no quinto dos infernos!
AMANDA: Crendeuspai! Vem cá, (faz carinha de curiosa), vocês nunca que tiveram nada de intimidade mesmo?
LÍDIA: (ofendida pela pergunta) Quem vai bancar o Sinhozinho Malta, agora, sou eu Amanda! Claro que não. Eu tenho nojo daquele infeliz.
AMANDA: (arrependida) Desculpa, amiga. Eu sei que você nunca que ia esquecer o Lauro.
LÍDIA: É, mas ele esqueceu de mim.

Amanda sente uma pontada de remorso, e lembra-se da tramoia que Eva a obrigou fazer.

LÍDIA: (saindo da sala) E, com certeza, deve de estar bem feliz ao lado de outra.

CORTA PARA:

CENA 03. RIO DE JANEIRO. AV. ATLÂNTICA. EXT. NOITE

Malu atravessa a avenida e alcança a calçada. Por um breve instante, ela encara o prédio onde Conrado viveu.

CORTA PARA:

CENA 04. APARTAMENTO DE CONRADO. SALA. INT. NOITE

Malu entra seguida pelo PORTEIRO, que abriu a porta com a chave reserva.

PORTEIRO: Faz tempo que não vejo o seu Roger por aqui. O seu Conrado deixou esse baita apartamento pra ele, mas ele vive de mala na mão. O Lauro pouco tem ficado por aqui também. Aliás, dona Malu, eu nem sabia que vocês tinham se casado.
MALU: (tensa, acende um cigarro e pensa rápido numa mentira) Vida de artista é assim mesmo, meu querido. As coisas acontecem tão rápido que o povo nem fica sabendo, (ela abre a bolsa, pega uns trocados, quer despachar o porteiro), olha seu José, um agradinho pro senhor, viu? Não sei onde enfiei a minha chave.
PORTEIRO: Imagina, dona Malu. Fiz de coração, porque era pra senhora.

Malu agradece, coloca os trocados no bolso da camisa dele, o conduz para a saída e fecha a porta.

MALU: Você me paga, Lauro. Você me paga. Daqui eu não saio, daqui ninguém me tira.

CORTA PARA:

CENA 05. CASA DOS JUAREZ. SALA. INT. NOITE

Acabou Roque Santeiro. No MONITOR da televisão da sala, sobem os créditos finais do capítulo. Sebastião dá um pulo do sofá. Amanda se assusta.

SEBASTIÃO: Mas que peste de visita em hospício mais demorada? Será que resolveram prender a Eva por lá?
EVA: (chega) Falando de mim, Bastião?
AMANDA: (murmura) Falou no diabo, apareceu o rabo.
SEBASTIÃO: Claro! Isso lá são horas pra ir visitar aquela velha?
EVA: Tô cuidando da sua imagem, meu filho! Não se esqueça que com aquele negócio de Diretas Já, daqui a pouco, o povo vai votar em quem bem entender.
SEBASTIÃO: Uma pinoia! Nessa terra, manda quem pode, obedece que tem juízo. Sempre foi assim e vai continuar sendo!
EVA: Você anda vendo muita novela, Bastião.
SEBASTIÃO: Ah, me deixa em paz! Vai te aprontar, que não quero chegar atrasado lá na inauguração da tal boate, danceteria, sei lá que diabo é aquilo. O Neco ligou, disse que daqui a pouco tá aqui.
EVA: (para Amanda) Por falar em Neco, a Lídia já se aprontou?
AMANDA: Sei não, dona Eva. Ela tá meio jururu, acho que não vai querer ir, não.
EVA: Essa não cansa de se fazer de vítima. Deus me livre.
AMANDA: E a dona Sofia, como é que tá?
EVA: (já saindo) Tá ótima! Melhor impossível!

CORTE BRUSCO PARA:

CENA 06. CLÍNICA PSIQUIÁTRICA DE ALECRIM. FACHADA. EXT. NOITE

Take rápido da fachada da clínica. O prédio foi reformado e ampliado.

CORTA PARA:

CENA 07. CLÍNICA PSIQUIÁTRICA DE ALECRIM. QUARTO. INT. NOITE

 A CÂMERA foca uma mão feminina que empunha uma seringa com medicamento. Detalhe do líquido sendo esguichado antes da aplicação. A CÂMERA abre e nos mostra MARION, a enfermeira gorda da primeira fase, que se aproxima do leito onde dona Sofia está.

MARION: (ministrando a medicação na veia) Olha, dona Sofia, eu bem sei que aqui não é lugar pra senhora. Eu conheço um doido só pelo faro, e esse não é o seu caso...

No leito, uma Sofia em estado catatônico.

MARION: (continua) Mas quem mandou a senhora meter uma garrafada nos cornos do padre? A dona Eva achou melhor mandar a senhora pra cá... Mas não se preocupe não viu? Que ela me paga pra tomar conta da senhora, bem direitinho.

Marion finaliza a aplicação. Dona Sofia revira os olhos e apaga de uma vez.

CORTA PARA:

CENA 08. TORRENTES. RUA. EXT. NOITE

Um Fusca vem sacolejando pela rua. Escapamento cospe uma fumaça preta, o motor engasga e o automóvel para. Dele, saltam Beto e Amanda. Ela já se põe a praguejar o carro.

AMANDA: Eita lata-velha dos infernos! Eu não aguento mais esse sufoco, Beto!
BETO: (abre o capô, procura o defeito) É o que o meu dinheiro dá pra comprar, Amanda!
AMANDA: Imagina! Seu Sebastião cansou de te oferecer carro novo, mas você, com esse orgulho besta, nunca aceitou. Tá parecendo a dona Eva, que mesmo com carro novo, só vive enfiada naquela caminhonete horrorosa.
BETO: (fecha o capô, com raiva) Não é orgulho, minha filha, é vergonha na cara! Não aceitei e nunca vou aceitar!
AMANDA: Olha, Beto, eu não sei se você é teimoso ou se é burro mesmo!
BETO: Burra é você, Amanda! Será que você não enxerga que ele quer comprar todo mundo? Que ele quer ter todo mundo na mão dele? Já basta a casa lá na fazenda, que eu tive que aceitar quando a gente se casou.
AMANDA: Pelo menos isso!
BETO: Eu não vou discutir com você, Amanda! Não adianta! Você só enxerga o que você quer ver! Mas um dia há de chegar alguém nessa cidade que aponte o dedo pros desmandos desse jagunço!
AMANDA: (detesta esse papo político dele) Ai, Beto, me deixa! Me deixa! Vamo logo pra essa boate,quer dizer,danceteria... que diz que vai ter até show com artista famoso! Mas ó, eu que te pegue de graça com alguma oferecida, viu?

Beto bufa diante a alienação dela. Tempo. Ela dá uma piscadinha pra ele e lhe estende a mão. Beto sorri, dá um beijinho nela. Os dois seguem a pé.

CORTA PARA:

CENA 09. RUA DEFRONTE A DANCETERIA RAIO LASER. EXT. NOITE

Fila quilométrica. JOVENS ansiosos para a inauguração da boate. Papo animado entre eles, num determinado trecho da fila.

GAROTA 1: Gente, não vejo a hora de abrirem logo!
GAROTA 2: Nem eu!
GAROTO 1: Esse prefeito é danado de bom. Disse que ia mudar a cara da cidade, e mudou mesmo! Até a Globo vai gravar novela aqui.
GAROTA 1: Já pensou, a cidade assim ó, cheia de artista! (toda derretida) Ai, se eu vejo o Paulo Castelli, acho que eu morro.
GAROTA 2: Ah, mas ele tá em Tititi! Não vem gravar aqui, não.
GAROTO 2: Essa história de novela, eu não sei, não. Diz que vão filmar lá em Alecrim! Mas que a cidade melhorou, ah, isso melhorou. No tempo do pai do Lauro não tinha nada disso. Parecia que a cidade era proibida de ser feliz.

Beto e Amanda vão chegando por ali. Ela embasbacada com a multidão.

CORTA PARA:

CENA 10. DANCETERIA RAIO LASER. INTERIOR. NOITE

Superestrutura, toque de modernidade. Espaço para pista, palco e mesas. GARÇONS circulam entre os CONVIDADOS VIPS. Eva, Sebastião, Lídia e Neco tomam seus lugares na mesa reservada a eles, com ótima localização. Um garçom oferece bebida à Eva. Ela aceita. Sebastião lança um olhar severo para ela. Eva se faz de morta.

SEBASTIÃO: (olha ao redor) Isso aqui é boate ou casa de show?
LÍDIA: O nome é danceteria.
EVA: Até pouco tempo atrás era discoteca. Cada hora inventam um nome, pra mim é tudo a mesma coisa.
NECO: (pra alfinetar Lídia) Tomara que tenha show de mulher pelada.
EVA: Respeita sua mulher, seu traste!
NECO: Mulher? Que mulher? Tá tirando sarro da minha cara, sogrinha?

Corta descontínuo para a danceteria já lotada. Um set com várias músicas bota a garotada para dançar. Amanda se esbalda, mas sempre mantendo o tímido Beto em seu campo de visão. Ele ri do ciúme dela. Lídia se junta à amiga.

Na mesa reservada aos Juarez, Neco com cara de tacho. Sebastião e Eva em conversa adiantada.

EVA: Mas cadê o dono desse lugar, que nem veio cumprimentar a gente? Imagina, que desconsideração!
SEBASTIÃO: Sou obrigado a concordar com você. Tô curioso pra saber quem é. Pois aquele negrinho, com jeito esquisito, que andou por aqui, fechando negócio com meio mundo, não tem jeito de quem tem bala na agulha pra montar um negócio desses.
EVA: Verdade. Eu gostei disso aqui, viu?
SEBASTIÃO: É, mas vê se não enche a cara. Não quero saber de vexame.
EVA: Vexame é essa sua cara de jagunço. Nem combina com o lugar.

Sebastião vai responder ao desaforo, mas a banda RPM entra no palco. um pout´pourri com "LOIRAS GELADAS,REVOLUÇÕES POR MINUTO e OLHAR 43" leva a plateia ao delírio. Tempo no show e na reação do público. PAULO RICARDO pede uma pausa.

PAULO RICARDO: (animadíssimo) E aí, Torrentes?! (brinca) Eu vejo pelo olhar 43 de vocês que vocês realmente curtiram o nosso som! (a plateia vibra, ele continua) Maravilha! Mas agora eu preciso dedicar a próxima música para o responsável por todo isso: meu amigo, meu brother desde a época do Circo Voador, Laurinho Vianna!

Corte brusco para a reação da plateia. Eva e Sebastião quase paralisados. Beto e Amanda surpresos e felizes ao ouvir o nome do amigo. Lídia dá um safanão em Neco e se aproxima do palco. Luz e efeito especial. Lauro surge no palco em meio a uma densa nuvem de gelo seco.

LAURO: (no microfone) E aí, galera? Voltei pro meu berço! E voltei pra ficar! Apertem os cintos porque hoje é noite de festa. Hoje é noite de Raio Laser!

Canhão de luz aponta para o DISCJOCKEY, que está no mezanino, já discotecando ao lado por Roger. Sebastião percebe isso.

SEBASTIÃO: (cutuca Eva, aponta para Roger) Olha lá, o negrinho esquisito que andou por aqui, (caindo em si), maldito! Tava a mando dessa praga do Lauro!

Eva sequer ouve o que Sebastião fala. Seus olhos estão presos no palco, em Lauro. Um encara o outro. E num CLOSE, Eva lê, como numa alucinação, os lábios dele pronunciarem: “Bem-vinda ao inferno!”. Efeitos de raios são projetados por toda a boate, uma chuva de purpurina colorida cai sobre Eva e Sebastião ao som de "RADIO PIRATA".

CORTE BRUSCO PARA:

CENA 11. TORRENTES. EXT. NOITE

NUVENS NEGRAS cobrem o céu sobre a cidade. Trovões e raios anunciam uma tempestade. E nesse clima, FUSÃO PARA:

CENA 12. CASA DOS JUAREZ. VARANDA. EXT. MANHÃ

Clima quente. Manhã típica de verão. Algumas nuvens negras na linha do horizonte. Lídia olha para o infinito. Amanda chega e lhe entrega uma caneca com café.

AMANDA: Afê Maria, nem vou falar onde ainda tem brilho nessa casa. Seu Bastião e dona Eva estão cuspindo fogo colorido de tanta raiva.
LÍDIA: (olhar no infinito) Ele voltou pra mim, Amanda. Ele voltou pra mim.

Mais uma vez, Amanda rememora a tramoia que Eva a obrigou fazer. Beto passa em seu Fusca.

AMANDA: (saindo) Amiga, vou com o Beto pra cidade.

Lídia sequer ouve o que a outra disse.

CORTA PARA:         
                                                    
CENA 13. CASA DOS JUAREZ. SALA. INT. MANHÃ

Sebastião, Neco e Eva, como Amanda descreveu: cuspindo fogo colorido.

SEBASTIÃO: Esse infeliz voltou pra reclamar o que era dele, só pode ser! Ele voltou pra tomar o lugar que foi do pai dele, (intuindo), é isso: ele voltou pra tomar o meu lugar! E tem brilho até nos meus pentelhos!
NECO: Calma, meu sogro, vamos esperar a purpuri... Quer dizer, a poeira abaixar, vamos com calma. A gente dá um jeito nele!
SEBASTIÃO: Que jeito nele, Neco? Aquele fresco tá montado no dinheiro, cheio de amigo artista. Tudo mundo deve saber da história dele, do passado dele.

As últimas palavras de Sebastião mexem com Eva. Ela zanza de um lado pro outro.

EVA: (pensa em voz alta) Aquele infeliz voltou pra acabar comigo. Eu preciso pensar. (ela pega a bolsa, vai saindo) Eu preciso fazer alguma coisa, e rápido.
SEBASTIÃO: Pra onde você vai, Eva?
EVA: (fora de cena) Eu preciso respirar! Respirar!

Sebastião e Neco trocam olhares. Sebastião também toma seu rumo.

SEBASTIÃO: (já saindo) Fica por aí, Neco. Olho vivo na Lídia. Vou assuntar umas coisas com o pessoal do partido.

CORTA PARA:

CENA 14. CHÁCARA DE LAURO. EXT. MANHÃ

Take rápido da bela chácara e de uma mansão suntuosa.

CORTA PARA:

CENA 15. MANSÃO DE LAURO. SALA. INT. MANHÃ

Mesa posta para o café da manhã. Lauro e Roger em conversa adiantada.

LAURO: (rindo, se deliciando) A cara de terror da Eva Juarez vai ficar pra história.
ROGER: E a chuva de purpurina no casal? Foi brilhante!Literalmente!
LAURO: Quanto mais purpurina melhor, já disse nosso querido Gil!
ROGER: Ai que bárbaro! Mas você não voltou só por isso, que eu sei.
LAURO: Claro. Foi difícil ver a Lídia e não correr pros braços dela. Dali do palco, eu vi os olhinhos dela brilhando.
ROGER: Assim como os seus estão brilhando agora, não como as calçolas de dona Eva, é claro....
LAURO: A chama tá acesa, mas história pode esperar. Você sabe qual é o meu foco, Roger.
ROGER: E como sei, até decorei...
LAURO: (corta) Desmascarar, humilhar e arrancar deles a vida que eles me roubaram.

CORTA PARA:  
                                                                      
CENA 16. IGREJA DA SALVAÇÃO. ALTAR. INT. MANHÃ

Padre Manoel recebe uma Eva aflitíssima. Conversa adiantada.

PADRE MANOEL: Claro que eu sei que o Lauro Vianna voltou. A cidade inteira só fala disso. Mas pra que tanta aflição, dona Eva?
EVA: Padre Manoel, a minha aflição não é porque ele voltou! É por causa daquele lugar, daquela boate. Aquilo é a casa do demônio!
PADRE MANOEL: (se benze) Pelas chagas de Cristo, dona Eva, não fale o nome do tinhoso aqui dentro.
EVA: (incisiva) Desculpe, padre, mas o senhor tem que fazer alguma coisa.
PADRE MANOEL: Eu?!
EVA: Claro, padre! O senhor precisa falar com as beatas. Elas precisam fazer um protesto, pela moral e pelos bons costumes! O senhor sabe que por causa da política, eu não posso me meter.
PADRE MANOEL: Posso até falar com elas, dona Eva. Mas essas beatas de hoje em dia andam tão fracas na fé... Dona Sofia, que agora está internada, essa sim era uma líder espiritual nata.
EVA: (murmura pensativa) Aquela velha chantagista...
PADRE MANOEL: O que foi, minha filha?
EVA: (beija a mão do padre, já saindo) Nada, padre. Que Deus lhe abençoe!

Eva sai chispada. Padre Manoel fica sem entender nada.

CORTA BRUSCO PARA:  
                      
CENA 17. CASA DOS JUAREZ. SALA. INT. DIA

Lídia em estado de graça. Liga o rádio que toca "COMO EU QUERO" de Kid Abelha e os Abóboras Selvagens, cantarola. Neco vem da cozinha e repara na alegria dela.

NECO: Vê se não fica muito empolgada, viu Lídia? O fresco do Lauro vai durar pouco. Acho melhor você engolir essa sua alegria.
LÍDIA: Sabe quem vai ter que o engolir o que, Neco?
NECO: Hã?
LÍDIA: (chega junto dele, encara) Você. Você vai ter que engolir essa sua ironia e aceitar o pontapé que eu vou dar no seu rabo. E sabe por quê? Porque você acabou, porque perto do Lauro, você não é nada. Você nunca foi nada perto dele. Você nunca existiu.
NECO: Quero ver essa sua carinha de felicidade, quando tiver recolhendo os pedaços que vão sobrar dele.
LÍDIA: (gargalhada debochada) E você, Neco? Já começou a recolher os seus?
NECO: (aperta o rosto dela) Não me provoca, sua vadia. Que eu tô de saco cheio desse seu jeitinho: sonsa na frente dos outros, e comigo é só patada!
LÍDIA: (escarra no rosto dele) Isso é só o começo. Eu nunca fui sua, mas vou ser todinha dele.
NECO: Desgraçada! (ele perde as estribeiras, passa a agredir) Vai ser todinha dele, sua vadia, vai? (passa a rasgar as roupas dela) mas antes vai ser minha! (Lídia grita) Pode gritar sua vaca, não tem ninguém em casa!

Neco derruba Lídia no chão e aumenta o volume do rádio. Vai estuprá-la ali mesmo. Na expressão dele, a satisfação do que está prestes a fazer.

CORTE BRUSCO PARA:                    
                                                
CENA 18. RIO DE JANEIRO. PRAIA DO PEPÊ. EXT. DIA

Malu, estirada numa cadeira de praia, aprecia a paisagem, quando CLÁUDIA RAIA, com aqueles cabelos esvoaçantes de Ninon, de Roque Santeiro, aproxima-se dela.

CLÁUDIA RAIA: Malu Capricce?! Quanto tempo, menina!
MALU: (levanta e cumprimenta com beijinho) Verdade, Cláudia! Tô super a mil, filmando em São Paulo.
CLÁUDIA RAIA: Nem me fala menina, que tô cheia de texto da novela pra decorar. Pensei que você estivesse com o Lauro, na inauguração da danceteria.
MALU: (levanta os óculos escuros para o alto da cabeça) Danceteria?

CORTA PARA:

CENA 19. TORRENTES. ESTRADA DE TERRA. EXT. DIA

Chuva forte. Lídia corre desesperada, maltrapilha e enojada.

CORTA PARA:

CENA 20. CASA DOS JUAREZ. SALA. INT. DIA

Neco no chão, desacordado. Um filete de sangue a lhe escorrer pelo rosto.

CORTA PARA:

CENA 21. TORRENTES. ESTRADA DE TERRA. EXT. DIA

Chuva fortíssima. Temporal. Lídia ainda corre. Seu PONTO DE VISTA turvo pelas lágrimas e pela chuva nos revela um automóvel logo adiante. Ela se ajoelha. O carro para, o motorista salta e corre na direção dela. Ainda de joelhos, ela ergue o olhar para seu salvador, é Lauro.

CORTA PARA:

FIM DO CAPÍTULO 09



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2 comentários:

  1. Chorei com esse encontro! Gente, tá muito boa!!!!! Alex, vc ta arrasando, os capítulos estão de tirar o fôlego!!!

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    1. Fortíssimas emoções nessa reta final, Luciana! Romances, segredos e, claro, o pau comendo nessa mistura de folhetim e faroeste new wave!

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