Emerson Felipe
Miguel Falabella é conhecido por seu estilo de humor ferino, pouco convencional e ácido, emplacando novelas de razoável e/ou considerável sucesso na faixa das 19 horas, como Salsa e Merengue e A Lua Me Disse. Após a má recepção de sua Negócio da China às 18 horas no ano de 2008, o autor retorna às origens, no horário que o consagrou, com a desafiadora missão de manter as 19 horas em alta, após o sucesso da popularesca Morde e Assopra.
E nessa conjuntura veio Aquele Beijo, que revela um Miguel Falabella mais folhetinesco, com uma pitada a mais de romantismo na trama central, homenageando o gênero telenovela, que completa 60 anos em 2011, sem deixar de lado a sua tradicional comédia rasgada surrealmente sofisticada.
E nessa conjuntura veio Aquele Beijo, que revela um Miguel Falabella mais folhetinesco, com uma pitada a mais de romantismo na trama central, homenageando o gênero telenovela, que completa 60 anos em 2011, sem deixar de lado a sua tradicional comédia rasgada surrealmente sofisticada.
Miguel Falabella na festa de lançamento de sua novela Aquele Beijo. |
O mote de Aquele Beijo é simples e já há muito conhecido: Cláudia (Giovana Antonelli), mulher independente de classe social inferior, pretende se casar com um homem mais rico, Rubinho (Victor Percoraro), esbarrando na reprovação da opressora e esnobe mãe do rapaz, Maruschka (Marília Pera). Num momento de crise do relacionamento, Cláudia conhece outro homem numa viagem de negócios, Vicente (Ricardo Pereira), e após um beijo, ambos percebem-se completamente apaixonados. Em outra aresta, temos o mesmo Vicente ainda apaixonado por uma antiga namorada, Lucena (Grazi Massafera), que o abandonou e se casou com outro homem, sendo que, por motivo ainda desconhecido do público, o casamento não deu certo e ela volta ao convívio de Vicente, grávida, aparentemente com más intenções e disposta reconquistá-lo. Além desse quadrilátero amoroso, outros enlaces românticos cercam a maior parte das tramas paralelas, a exemplo de Alberto (Herson Capri), que abandona um casamento de décadas com Maruschka em nome de uma nova paixão, a jovem Sarita (Sheron Menezzes).
A protagonista Cláudia (Giovana Antonelli) dividida entre o amor de dois homens. |
Giovana Antonelli, super à vontade, carismática e segura como a protagonista Cláudia, forma um belo e simpático casal com Ricardo Pereira, com muita química e digno da torcida do público: a canção "Exato Momento", de Zé Ricardo, pontua com muita beleza as cenas em que ambos se encontram ou pensam um no outro. A antagonista principal da trama, Maruschka, está sendo impecavelmente vivida pela sempre impecável Marília Pera, deliciosamente esnobe, prepotente e chique, e que promete ser uma grande pedra no sapato da mocinha Cláudia e da rival Sarita, por quem o marido a abandonou.
Destaque também para Fernanda Souza, convencendo como a deslumbrada mulher desgostosa da vida de casada e do papel de mãe de dona-de-casa; o mesmo em relação a Maria Zilda, a interesseira e perigosa Olga, que trata com crueldade as crianças do orfanto que dirige a contragosto com a irmã. Frise-se também o trabalho da ótima Zezé Barbosa, bem diferente do arquétipo cômico e popular que a marcou: em Aquele Beijo, encontra um terreno mais dramático, vivendo uma sofisticada condessa que volta ao Brasil após anos de cárcere privado na Europa, a fim de recuperar o amor da filha Grace Kelly (Leilah Moreno), que não a perdoa pelo suposto abandono na infância.
Victor Percoraro e Fiuk, entretanto, parecem distantes do universo de Miguel Falabella e Aquele Beijo: o primeiro, apesar da boa intenção, não convence como protagonista, pois ainda destituído de desenvoltura para segurar um personagem de peso como Rubinho; o último, por sua vez, limita-se a repetir os trejeitos equivocados e desnecessários já exibidos em Malhação, soando extremamente forçado em cena com seu Agenor.
O casal em crise Maruschka (Marília Pera) e Alberto (Herson Capri). |
Outros temas frequentes da teledramaturgia são abordados em Aquele Beijo, como romance entre pessoas de classes sociais distintas, os opressores patrões explorando os desamparados empregados, a arrogante antagonista que possui um tenebroso segredo no passado conhecido pela empregada, a pessoa que assume a identidade de outrem para obter alguma vantagem, aquele que cresce sem mãe e tenta encontrá-la, etc.
A comédia rasgada e politicamente incorreta típica de Miguel Falabella, em meio aos enlaces amorosos, encontra amplo espaço nas tramas paralelas: temos o divertido núcleo do restaurante português, comandado pela esquentada Dona Brites (Maria Vieira); Cláudia Jimenez hilária como a falsa vidente Mãe Iara, utilizando seus "banhos de descarrego" como pretexto para "tirar uma casquinha" de belos garotões; o travesti Ana Girafa (Luis Salém) que, apesar de viver o drama de desconhecer sua mãe, fez o público rir com seu hilário vestido de carne em homenagem à cantora pop Lady Gaga; a trambiqueira Violante (Thelma Reston) que volta à casa da filha para atazanar a vida do genro e apronta as maiores confusões com a família e com a vizinhança a fim de obter vantagem.
Mãe Iara (Cláudia Jimenez) em um de seus hilários e cheios de segundas intenções "banhos de descarrego". |
Não poderiam deixar de ser citada as referências de Miguel Falabella às novelas mexicanas: a golpista Mãe Iara engana os clientes dizendo receber uma entidade mexicana chamada Hermanita, desde que a sua mãe morreu enquanto assistia a uma novela mexicana; e a mãe de Maruschka, Mirta (Jaqueline Laurence), usa um tapa-olho cuja cor combina sempre com a de sua roupa, tal qual a vilã Catarina Creel da novela Cuna de Lobos, exibida no Brasil nos anos 90 pelo SBT sob o título Ambição. Mais interessante é a razão pela qual a personagem usa o acessório: o mundo é muito feio e injusto e, com o tapa-olho, ela vê apenas metade desse mundo!
Mirta (Jaqueline Laurence) e seu inconfundível tapa-olho. |
A marca registrada do Miguel Falabella de batizar seus personagens com nome esquisitos e diferentes continua operante em Aquele Beijo, a exemplo de Locanda, Eveva, Belezinha, Íntima, Brites, Mirta, Taluda, entre outras alcunhas bem peculiares!
Também chama a atenção a abertura da novela, que presta uma homenagem aos marcantes beijos da teledramaturgia brasileira, exibindo beijos tanto de novelas consagradas (Irmãos Coragem, O Bem Amado, O Astro, Locomotivas, Top Model, O Salvador da Pátria) como de novelas mais recentes (Cordel Encantado, Insensato Coração, Mulheres Apaixonadas, O Clone, Laços de Família, O Cravo e a Rosa). E a narração em off de Miguel Falabella em algumas cenas da novela, revelando intimidades ou pensamentos dos personagens, também se mostra um interessante e charmoso recurso.
Com o clássico folhetim amoroso na trama central e os surreais núcleos e entrechos cômicos, Aquele Beijo é um ótimo entretenimento: uma típica comédia romântica, traduzida num despretensioso humor inteligente, prestando uma singela homenagem aos clichês da teledramaturgia. Com o diferencial de divertir sem ofender a inteligência do telespectador.
Não assisto à novela "Aquele beijo", mas gostei do texto.
ResponderExcluirTexto agradavel de uma novela agradavel tbm,rs,ponto pro Lipe...hehehe.
ResponderExcluirDetalhe fiz questão de ouvir Exato Momento pra ler o texto,rs.
eu tenho adorado a novela, tá uma coisa meio mistura de Cassiano( tramas pricipais) com Fallabella mesmo, a seriedade meio filósofica com a gaiatice.Destaque pra mim pro núcleo do Diogo Vilela que eu adoro...adoro a Damiana.Só não gostei do ataque nas entrelinhas a Morde e Assopra que cumpriu muito bem o seu papel tb.
ResponderExcluirÓtima análise, Lip! Não tenho acompanhado tanto a novela, mas sempre que vejo é um prazer ver as tiradas do texto do Falabella, mesmo com alguns equívocos na escalação, como vc citou.
ResponderExcluirO Lip como sempre capricha em seus textos... Não tenho acompanhado Aquele Beijo, nem posso opinar.
ResponderExcluirParabéns pelo texto!
ResponderExcluirAquele Beijo merece superar a clichêzenta, mas não menos chamativa Morde & Assopra.
O ponto alto é justamente as homenagens ás novelas mexicanas. Isso pode ajudar e muito a novela nas vendas internacionais.
No mais, é uma verdadeira novela das 19h. E pelos índices de audiência (entre 27/29, bons se considerarmos a situação da TV e o Horário de Verão) estão ajudando o Falabella á se livrar do fantasma de Negócio da China.
Miguel Falabella está se recuperando do tenebroso fracasso que foi às 18 horas com a estranha Negócio da China. Aquele beijo é uma ótima comédia sofisticada recheada de personagens bem típicos, próprios e, como diz o texto, surreais.
ResponderExcluirOs únicos poréns vão para os erros de escalação (Grazi Massafera, Fiuk, Victor Percoraro e Juliana Didone) e para a abertura-tinha uma bela proposta de homenagear os beijos famosos das novelas, mas a realização foi muito ruim, com aquelas imagens embaçadas e efeitos dispensáveis. E Xuxa na música foi de matar!
Olha, bom texto, mais realmente ainda não conseguir sentar e assistir a novela até o final. Algumas cenas passam pouca credibilidade, falta grandes nomes no elenco. Sinceramente ainda não consegui gostar da novela e olha que adoro assistir uma. espero que Miguel supere isso já que mandou super bem em a lua me disse. pra mim o que salva a historia é a brilhante Giovana antonelli.
ResponderExcluirVisitem meu blog http://brincdeescrever.blogspot.com/