terça-feira, 22 de novembro de 2011

Aquele Beijo: Uma Surreal Comédia Romântica


 Emerson Felipe

Miguel Falabella é conhecido por seu estilo de humor ferino, pouco convencional e ácido, emplacando novelas de razoável e/ou considerável sucesso na faixa das 19 horas, como Salsa e Merengue e A Lua Me Disse. Após a má recepção de sua Negócio da China às 18 horas no ano de 2008, o autor retorna às origens, no horário que o consagrou, com a desafiadora missão de manter as 19 horas em alta, após o sucesso da popularesca Morde e Assopra.
E nessa conjuntura veio Aquele Beijo, que revela um Miguel Falabella mais folhetinesco, com uma pitada a mais de romantismo na trama central, homenageando o gênero telenovela, que completa 60 anos em 2011, sem deixar de lado a sua tradicional comédia rasgada surrealmente sofisticada.

Miguel Falabella na festa de lançamento de sua novela Aquele Beijo.
O mote de Aquele Beijo é simples e já há muito conhecido: Cláudia (Giovana Antonelli), mulher independente de classe social inferior, pretende se casar com um homem mais rico, Rubinho (Victor Percoraro), esbarrando na reprovação da opressora e esnobe mãe do rapaz, Maruschka (Marília Pera). Num momento de crise do relacionamento, Cláudia conhece outro homem numa viagem de negócios, Vicente (Ricardo Pereira), e após um beijo, ambos percebem-se completamente apaixonados. Em outra aresta, temos o mesmo Vicente ainda apaixonado por uma antiga namorada, Lucena (Grazi Massafera), que o abandonou e se casou com outro homem, sendo que, por motivo ainda desconhecido do público, o casamento não deu certo e ela volta ao convívio de Vicente, grávida, aparentemente com más intenções e disposta reconquistá-lo. Além desse quadrilátero amoroso, outros enlaces românticos cercam a maior parte das tramas paralelas, a exemplo de Alberto (Herson Capri), que abandona um casamento de décadas com Maruschka em nome de uma nova paixão, a jovem Sarita (Sheron Menezzes).

A protagonista Cláudia (Giovana Antonelli) dividida entre o amor de dois homens.
Giovana Antonelli, super à vontade, carismática e segura como a protagonista Cláudia, forma um belo e simpático casal com Ricardo Pereira, com muita química e digno da torcida do público: a canção "Exato Momento", de Zé Ricardo, pontua com muita beleza as cenas em que ambos se encontram ou pensam um no outro.  A antagonista principal da trama, Maruschka, está sendo impecavelmente vivida pela sempre impecável Marília Pera, deliciosamente esnobe, prepotente e chique, e que promete ser uma grande pedra no sapato da mocinha Cláudia e da rival Sarita, por quem o marido a abandonou. 
Destaque também para Fernanda Souza, convencendo como a deslumbrada mulher desgostosa da vida de casada e do papel de mãe de dona-de-casa; o mesmo em relação a Maria Zilda, a interesseira e perigosa Olga, que trata com crueldade as crianças do orfanto que dirige a contragosto com a irmã. Frise-se também o trabalho da ótima Zezé Barbosa, bem diferente do arquétipo cômico e popular que a marcou: em Aquele Beijo, encontra um terreno mais dramático, vivendo uma sofisticada condessa que volta ao Brasil após anos de cárcere privado na Europa, a fim de recuperar o amor da filha Grace Kelly (Leilah Moreno), que não a perdoa pelo suposto abandono na infância.
Victor Percoraro e Fiuk, entretanto, parecem distantes do universo de Miguel Falabella e Aquele Beijo: o primeiro, apesar da boa intenção, não convence como protagonista, pois ainda destituído de desenvoltura para segurar um personagem de peso como Rubinho; o último, por sua vez, limita-se a repetir os trejeitos equivocados e desnecessários já exibidos em Malhação, soando extremamente forçado em cena com seu Agenor.

O casal em crise Maruschka (Marília Pera) e Alberto (Herson Capri).
Outros temas frequentes da teledramaturgia são abordados em Aquele Beijo, como romance entre pessoas de classes sociais distintas, os opressores patrões explorando os desamparados empregados,  a arrogante  antagonista que possui um tenebroso segredo no passado conhecido pela empregada, a pessoa que assume a identidade de outrem para obter alguma vantagem, aquele que cresce sem mãe e tenta encontrá-la, etc.
A comédia rasgada e politicamente incorreta típica de Miguel Falabella, em meio aos enlaces amorosos, encontra amplo espaço nas tramas paralelas: temos o divertido núcleo do restaurante português, comandado pela esquentada Dona Brites (Maria Vieira); Cláudia Jimenez hilária como a falsa vidente Mãe Iara, utilizando seus "banhos de descarrego" como pretexto para "tirar uma casquinha" de belos garotões; o travesti Ana Girafa (Luis Salém) que, apesar de viver o drama de desconhecer sua mãe, fez o público rir com seu hilário vestido de carne em homenagem à cantora pop Lady Gaga; a trambiqueira Violante (Thelma Reston) que volta à casa da filha para atazanar a vida do genro e apronta as maiores confusões com a família e com a vizinhança a fim de obter vantagem.

Mãe Iara (Cláudia Jimenez) em um de seus hilários e cheios de segundas intenções "banhos de descarrego".

Não poderiam deixar de ser citada as referências de Miguel Falabella às novelas mexicanas: a golpista Mãe Iara engana os clientes dizendo receber uma entidade mexicana chamada Hermanita, desde que a sua mãe morreu enquanto assistia a uma novela mexicana; e a mãe de Maruschka, Mirta (Jaqueline Laurence), usa um tapa-olho cuja cor combina sempre com a de sua roupa, tal qual a vilã Catarina Creel da novela Cuna de Lobos, exibida no Brasil nos anos 90 pelo SBT sob o título Ambição. Mais interessante é a razão pela qual a personagem usa o acessório: o mundo é muito feio e injusto e, com o tapa-olho, ela vê apenas metade desse mundo!

Mirta (Jaqueline Laurence) e seu inconfundível tapa-olho.
 A marca registrada do Miguel Falabella de batizar seus personagens com nome esquisitos e diferentes continua operante em Aquele Beijo, a exemplo de Locanda, Eveva, Belezinha, Íntima, Brites, Mirta, Taluda, entre outras alcunhas bem peculiares!
Também chama a atenção a abertura da novela, que presta uma homenagem aos marcantes beijos da teledramaturgia brasileira, exibindo beijos tanto de novelas consagradas (Irmãos Coragem, O Bem Amado, O Astro, Locomotivas, Top Model, O Salvador da Pátria) como de novelas mais recentes (Cordel Encantado, Insensato Coração, Mulheres Apaixonadas, O Clone, Laços de Família, O Cravo e a Rosa). E a narração em off de Miguel Falabella em algumas cenas da novela, revelando intimidades ou pensamentos dos personagens, também se mostra um interessante e charmoso recurso.
Com o clássico folhetim amoroso na trama central e os surreais núcleos e entrechos cômicos, Aquele Beijo é um ótimo entretenimento: uma típica comédia romântica, traduzida num despretensioso humor inteligente, prestando uma singela homenagem aos clichês da teledramaturgia. Com o diferencial de divertir sem ofender a inteligência do telespectador.




8 comentários:

  1. Não assisto à novela "Aquele beijo", mas gostei do texto.

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  2. Texto agradavel de uma novela agradavel tbm,rs,ponto pro Lipe...hehehe.
    Detalhe fiz questão de ouvir Exato Momento pra ler o texto,rs.

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  3. eu tenho adorado a novela, tá uma coisa meio mistura de Cassiano( tramas pricipais) com Fallabella mesmo, a seriedade meio filósofica com a gaiatice.Destaque pra mim pro núcleo do Diogo Vilela que eu adoro...adoro a Damiana.Só não gostei do ataque nas entrelinhas a Morde e Assopra que cumpriu muito bem o seu papel tb.

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  4. Ótima análise, Lip! Não tenho acompanhado tanto a novela, mas sempre que vejo é um prazer ver as tiradas do texto do Falabella, mesmo com alguns equívocos na escalação, como vc citou.

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  5. O Lip como sempre capricha em seus textos... Não tenho acompanhado Aquele Beijo, nem posso opinar.

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  6. Parabéns pelo texto!

    Aquele Beijo merece superar a clichêzenta, mas não menos chamativa Morde & Assopra.

    O ponto alto é justamente as homenagens ás novelas mexicanas. Isso pode ajudar e muito a novela nas vendas internacionais.

    No mais, é uma verdadeira novela das 19h. E pelos índices de audiência (entre 27/29, bons se considerarmos a situação da TV e o Horário de Verão) estão ajudando o Falabella á se livrar do fantasma de Negócio da China.

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  7. Miguel Falabella está se recuperando do tenebroso fracasso que foi às 18 horas com a estranha Negócio da China. Aquele beijo é uma ótima comédia sofisticada recheada de personagens bem típicos, próprios e, como diz o texto, surreais.
    Os únicos poréns vão para os erros de escalação (Grazi Massafera, Fiuk, Victor Percoraro e Juliana Didone) e para a abertura-tinha uma bela proposta de homenagear os beijos famosos das novelas, mas a realização foi muito ruim, com aquelas imagens embaçadas e efeitos dispensáveis. E Xuxa na música foi de matar!

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  8. Olha, bom texto, mais realmente ainda não conseguir sentar e assistir a novela até o final. Algumas cenas passam pouca credibilidade, falta grandes nomes no elenco. Sinceramente ainda não consegui gostar da novela e olha que adoro assistir uma. espero que Miguel supere isso já que mandou super bem em a lua me disse. pra mim o que salva a historia é a brilhante Giovana antonelli.

    Visitem meu blog http://brincdeescrever.blogspot.com/

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