quinta-feira, 8 de março de 2012

A Escrita Marginal


Por Júlio Damásio

Definir a escrita marginal, esta longe de ser uma tarefa fácil. Muitos discursos já foram produzidos em relação a esta temática, portanto não é esta a intenção aqui, o que buscamos é como bem definiu João do Rio, observador e cronista do cotidiano da cidade do Rio de Janeiro do século XIX, flanar, entre as questões que envolvem este tema. A literatura marginal assume um caráter social, fato inegável, fundamental é sua contribuição na formação de novos leitores, pelo fato de chegar a locais onde dificilmente um escritor vinculado a um selo editorial chegaria, seja vendendo livros de porta em porta, seja visitando escolas e ministrando palestras de incentivo a leitura. Todavia o que nos últimos tempos, parece estar criando um caráter único é justamente o sentido atribuído ao escritor marginal, vários artigos, entrevistas e produções acadêmicas estabelecem certo enquadramento nos segmentos periféricos. Obviamente autores marginais como o caso de Férrez, por exemplo, especificam muito bem seu contexto de marginalidade, estando este vinculado ao espaço geográfico em que estão inseridos e na vivência de um cotidiano marcado pela violência, exclusão, ou seja, neste caso, o conceito de literatura marginal esta representado pelas vozes periféricas. Já na década de 70, eram as pessoas da classe média e alta que falavam sobre seu cotidiano de modo irônico que davam voz a literatura marginal. No caso da contemporaneidade a escrita marginal esta inserida em inúmeras roupagens, mas o que nos interessa aqui é o sentido de “estar à margem”, especificamente de um selo editorial.

A interferência, imposição das editoras começa pelo título e muitas vezes, vai até o ponto final do texto do livro, não nos preocupamos aqui com a crítica literária, pois como nos lembra Miguel Sanches Neto, “a crítica está desaparecendo dos jornais e das revistas”. Cada autor além de seu estilo tem seu foco, o meu é cativar, conquistar novos leitores, não somente para meus livros, mas também para outros autores. Tenho certeza que a melhor forma de criar o hábito de leitura antes de mais nada, é contar uma boa história, de forma que o leitor não se sinta um imbecil por não entender o enredo. A literatura contemporânea tem quase uma regra para ditar a literatura, quando falamos em prosa, o texto começa no meio da ação e termina por ali mesmo, ou seja, a literatura de hoje não tem começo meio e fim, mas só meio. Acredito no valor do final em aberto, mas esse mesmo “final” que encanta alguns leitores experimentados, deixa indignados os novos leitores, sem contar que em muitos casos autores se utilizam dessa técnica por incompetência para finalizar sua história. A arte que emociona ficou em desuso aos olhos da maioria, restando apenas o olhar de espanto, perplexidade, traduzido quase sempre em um questionamento que o leitor se faz: O que ele quis me dizer?

Talvez esta pergunta esteja martelando em sua mente neste exato momento, o que Júlio Damásio quis me dizer com este texto que começa com aquele flanar pela literatura marginal e acaba com apontamentos sobre a arte nos dias de hoje, o desuso de tudo que emociona a indignação do leitor frente a histórias que para ele não fazem sentido?

Sou um escritor marginal, estou desvinculado a um selo editorial, hoje por opção, faço literatura marginal, por ter em meus textos aquilo que observei seja nas periferias das grandes cidades em que morei, seja em áreas consideradas nobres pelo mercado de capitais, mas de uma coisa tenho certeza, os sotaques e a língua podem ser diferentes, mas os sentimentos os mesmos, traduzo em meus textos as distintas realidades em que estive inserido, o que me define como escritor marginal é a própria história que está nas entrelinhas de minha produção e que muitas vezes não é contada, mas está ali presente em cada novo livro editado e distribuído pelas minhas mãos.

Imagens: Google Imagens

2 comentários:

  1. Julio, brilhante estréia no blog... texto pertinente e escrito com propriedade, sem dúvida... muito bem vindo em nosso meio, querido!

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    1. Obrigado querido Isaac. Procurarei lapidar melhor o próximo texto, parabéns pelo belo espaço e por seu talento nas entrevistas. Abraços.

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