sábado, 11 de agosto de 2012

Nelson Rodrigues era Pornográfico?



O "Posso Contar Contigo?" sente-se honrado em postar um texto de autoria de um dos leitores mais assíduos/críticos do blog... Antônio Costa é um querido amigo. Postamos agora, já agradecidos pela deferência.  

Chego em casa, ligo na Globo News, e está passando um “Arquivo N” em homenagem aos 100 Anos de Nelson Rodrigues. E, como não poderia deixar de ser, aparece o escritor Ruy Castro, autor do livro: O Anjo Pornográfico.

Curioso, sempre me perguntei de onde tiraram que Nelson Rodrigues era pornográfico?

Quando a TV Globo resolveu adaptar uma de suas obras para o horário das seis “O Homem Proibido” (1982), lembro que nos jornais de Belém/PA, só se liam comentários sobre a censura que a novela poderia sofrer, devido aos textos fortes de Nelson Rodrigues.


Como já trabalhava e estudava. Não consegui acompanhar a novela. Devo ter assistido mais ou menos uns dez capítulos aos sábados e, como não fez minha cabeça, não acompanhei o restante. Nem sei como é que terminou a novela.

Jamais me esquecerei de uma vizinha que não suportava Nelson Rodrigues.

Certa vez, após jogar futebol com seu filho, ao chegarmos à sua casa, a tevê estava ligada e lembro que a TV Globo, estava passando uma reportagem sobre Nelson Rodrigues para promover a novela, e ela, mandou que trocássemos de canal.

“Não paguei caríssimo por um aparelho de tevê, para ficar assistindo reportagens sobre um ser humano pervertido”. – disse ela.


Católica fervorosa, daquelas que confessavam no sábado, comungavam no domingo e só... Como direi... “Transava”, com dias marcados!

E, antes que alguém me pergunte: “Como que você sabia que esta vizinha só transava em “dias marcados””?

Respondo: Foi o próprio marido que numa noite, completamente alcoolizado, ao ser impedido de entrar em casa quase DUAS DA MANHÃ, disse em altos brados, que estava chegando àquela hora porque “Ipsis Litteris”: “MEU PINTO SERVE PRA OUTRAS COISAS, ALÉM DE FAZER XIXI!” É mole?!

Acontece que, o filho dela (que jogava futebol comigo), tinha 17 anos (oriundo do 1º casamento de sua mãe, cujo primeiro marido falecera com 32 anos, após dez anos de casados), e, nada menos que: 1m85 de altura. Tomou as dores da mãe (com razão. Afinal, se um homem não tá satisfeito com a mulher que tem, é melhor separar-se, ao invés de ficar fazendo presepada e, ainda por cima, expondo sua família ao ridículo), e deu um soco tão forte na cara do padrasto, que até quebrou o nariz deste.

Porém, morava na mesma casa, o filho do padrasto (fruto de outro relacionamento), que, é claro, tomou as dores do pai e (mesmo sendo um pouco menor em estatura), engalfinhou-se com o “meio-irmão” na frente da casa.

Em desespero, a mãe, pegou uma faca de cozinha, e ameaçou cortar os pulsos, se os dois não parassem de brigar. Um dos vizinhos (o único que tinha telefone no quarteirão – telefone há 30 anos, era coisa pra “rico”) ligou pra polícia, a história foi parar na delegacia, e etc.

Aliás, já que estou falando de Nelson Rodrigues, acho que essa história, até que poderia fazer parte do universo do próprio.

Quando era adolescente, de tanto me falarem que Nelson Rodrigues era pornográfico, dei um jeito de pegar um de seus livros emprestados em uma biblioteca pública, até para tirar a prova.

Ao ter em mãos o livro “Meu Destino É Pecar” (imaginem o que se passa na cabeça de um adolescente com um livro com esse “título”), uma expressão acompanhada de um olhar maligno, tomou conta de mim. Olhei em volta que nem aqueles personagens de desenhos animados, para ter certeza que ninguém me estava vendo e, corri para o banheiro, achando que ia ler algo do tipo “Cassandra Rios” (nossa escritora mais polêmica), essa sim, pornográfica.


Acabei foi DORMINDO DENTRO DO BANHEIRO, e acordei com alguém de minha família batendo na porta, e dizendo que estava louco para usar o mesmo.

Interessante que, com Jorge Amado, foi a mesma coisa. Fiquei sabendo do livro “Teresa Batista cansada de guerra”, através de uma professora de português, que numa aula sobre literatura, disse que não suportava os livros de Jorge Amado por que: “Ele só sabia escrever histórias de putas, marginais e “batuqueiros” (leia-se frequentador de Cultos Afros, politicamente correto).”.

Ainda disse que ficou horrorizada, pois, logo no primeiro capítulo do livro, Tereza Batista, entra num bordel, e já vai pra um compartimento do mesmo, com uns três homens!

Minha mente (poluída), de adolescente tarado, degenerado, pervertido e tudo o mais que for “ilegal, imoral ou engorda”, já ficou imaginando o quadro. Não resisti, e corri até a biblioteca pública para pegar o livro emprestado. Imagens de orgias “MÃOnogamicas”, se assomavam em minha mente.

“É hoje que eu me acabo” – pensei.

Cheguei até a pensar em colar um cartaz do tipo “Do Not Disturb” na porta do banheiro. Entrementes, DORMI DENTRO DO BANHEIRO DE NOVO!

Tenho a impressão que minha ideia de “pornográfico”, não condiz com a maioria.

trecho de "Meu Destino é Pecar" (TV Globo)



Antônio Costa é Desenhista de arquitetura, Ilustrador, Diretor de arte, Roteirista e Redator.

Um comentário:

  1. acho que pornografia é o outro lado menos nobre do erotismo ...em bonitinha, mas ordinária temos uma curra autorizada pela menina de família, algo escandaloso até pros dias de hoje, imaginem pra época. A genialidade do autor está no fato de misturar psicologia com os costumes da sociedade e colocar mesmo o dedo da ferida aumentando essa ferida, virando a sociedade do avesso, tirando o véu, exagerando mesmo. Lembro que sempre achei e ainda acho que em como Shakeaspere há um jeito de interpretar Nelson Rodrigues. Essa história contada da sua vizinha me lembrou muito as histórias dele...só faltou o filho pedir um beijo na boca pra mãe. Pornográfico é apenas um adjetivo que só reduz a obra desse autor magnífico.

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