domingo, 28 de outubro de 2012

Assim não há telespectador que aguente!


Por Isaac Abda

Sou um cara que torce pela livre concorrência entre as emissoras de TV. Que seja justa, leal, movimente o mercado. Algo absolutamente saudável, principalmente pra nós, telespectadores. Sou todo contentamento quando um novo produto é lançado sobre bases sólidas, de qualidade, bem planejado e bem realizado. O público corresponde, óbvio. Mas   é quando a audiência não é tão louvável e ainda assim optam por considerar a relevância da execução do projeto, que sobram motivos pra comemorar. A qualidade sobreposta aos interesses de alguns empresários famigerados. Algo raríssimo em tempos modernos. 

Percebo uma frustração nas redes sociais quando o assunto é a programação exibida em alguns canais de TV. Eu poderia fazer uma postagem interminável e generalizada, mas prefiro focar naquela que atualmente tem liderado no quesito insistência em desrespeitar ao seu público. Não atentando para o fato de jogar exclusivamente contra si. Tá [Já passou da...] na hora de acordar, Rede Record. 

Naquilo que era proposto, o extinto Note e Anote era agradável, bem sucedido. Mudou-se para algo mais moderno, dinâmico e funcionou bem. O Hoje em Dia fez escola, mas como tudo que dá certo na emissora é "obrigatório" ser explorado à exaustão, o público enjoa. Quando não é deste modo, é pelas constantes mudanças, o público foge. Posso estar totalmente equivocado, mas o erro mortal cometido contra esse programa, foi ter se permitido um diretor "estrela". O mesmo que construiu o sucesso, se inflamou de tal modo que tudo começou a desandar. Hoje já está noutro programa, mas o matinal já não é nem de longe o mesmo de origem. Vejam um dos defeitos gritantes da emissora: "descobrir um santo pra vestir outro". Dois dos apresentadores do programa saíram pra projetos solos, agora continuam com estes, mas voltam a dividir o palco nas tardes da emissora, numa versão piorada de todas as revistas eletrônicas, uma espécia de clone do Hoje em Dia. O Programa da Tarde surge com todo o jeitão de tapa buraco, de "vamos ver no que dá". Aliás, uma falha cometida costumeiramente pela Record: testa-se no ar, dando certo estica-se o programa pra trocentas horas de exibição, não dando certo, esconde-se ou até mata o programa. Quem gosta e acompanha tem que estar preparado para tais possibilidades. 

Darei dois exemplos de jornalismo que eu adorava acompanhar e que foram abolidos pela direção da emissora: o matinal Fala Brasil [nos moldes originais], e anos depois, o vespertino Tudo a Ver [de igual modo]. Na contramão disto, vê-se programas de baixíssima qualidade, gosto duvidoso, explícita busca desenfreada por míseros pontinhos a mais de audiência. Balanço Geral, Cidade Alerta, e algumas versões, acreditem, pioradas, apresentadas pelas emissoras afiliadas, "escondidas" da crítica especializada que volta os olhos apenas para o que é veiculado no eixo Rio-Sampa. Estes programas, sobretudo, exploradores da desgraça alheia nunca terão o meu respeito, muito menos a minha audiência. Mas vale ressaltar que a partir do momento em que eu for indiferente a este lixão na TV Record, ela não terá, definitivamente, as minhas críticas, muito menos a minha torcida.


Outra questão desfavorável é a transformação numa emissora de "eventos". Compra-se este ou aquele evento esportivo e tudo gira em torno disto.  


2004 foi um ano desafiador para a teledramaturgia da emissora. 2005, criou-se o RecNov [Complexo de estúdios para produção de teledramaturgia], todos vibramos e torcemos com a notícia. Vieram boas produções, algumas, "incontestavelmente", inovando a teledramaturgia, vide Vidas Opostas. Mas fizeram muito barulho e não se prepararam como deveriam para a manutenção saudável, sustentável do Setor. Como lidar com épocas difíceis, de crise? Momento de preocupação e lamento para os profissionais envolvidos. Felizmente a emissora tem reagido e um novo responsável pelo departamento tem demonstrado não medir esforços pra reverter a situação. No entanto, pasmem, leio notas [não sei até que ponto verdades ou não] sobre novela tal ser empurrada para determinado horário, ou adiantada pra outro horário, ou ainda, é apenas o que falta, ser abduzida por uma emissora extraterrestre. 


Não dá pra levar a sério um produto se nem mesmo a dona deste souber vendê-lo. Quem curte novelas, embora alguns não se sintam a vontade pra reconhecer isto, torce pelo sucesso delas em qualquer que seja a emissora a transmiti-las. Torce pelo elenco, pelos autores, diretores, torcem pelo gênero. E se as críticas parecem "pirraça", "trolagens" gratuitas, eu não percebo desta forma. Sinto que há uma torcida pelo sucesso, mas a irritação diante de algumas falhas gritantes, não corrigidas e que continuam a ser percebidas, parece ser maior que a boa vontade com o que ali é produzido. E nem adianta questioná-los sob a justificativa de que aquela outra emissora também comete os seus erros, pois esta outra emissora, tem sim as suas falhas, mas em proporções infinitamente menores que os acertos, daí a sua tradição inconteste na teledramaturgia. Aliás, seu carro chefe.

Faz-se imprescindível que a emissora, ou ao menos a teledramaturgia da Record, se desvencilhe da ótica religiosa de sua alta cúpula, de seu dono, pra ser mais específico. Ora, não interessa a mim, acredito que pra uma maioria também, sentir que há uma resistência em determinados temas serem abordados pela teledramaturgia. Em alguns raros momentos [Bicho do Mato, Essas Mulheres] viu-se padres, madres em novelas, mas curiosamente [pra não ser mais incisivo, rs], destoando das histórias, se tornou algo recorrente, ver personagens pastores celebrando casamento de personagens que em momento algum da trama declararam ser evangélicos. 

Aqui não estou a defender ou propagar esta ou aquela religião, mas a sugerir que as novelas estejam isentas de qualquer preconceito na hora de realizá-las. Lembro de quando o Tiago Santiago fez a sua adaptação de A Escrava Isaura, os negros escravos pareciam adeptos de uma religião que remetia a tudo, menos ao candomblé. Não pode esta, não retrate nenhuma.

Talvez por essas resistências é que a teledramaturgia da emissora ainda não se firmou, não conquistou o devido respeito do grande público e da crítica especializada. Elogia-se, dá-se audiência a uma ou outra novela bonitinha, agradável, bem sucedida, mas findada, volta-se ao mesmo ponto de descrédito, porque não se observa a teledramaturgia do canal de modo geral, mas pontual. 

No dia em que a "Record" vencer a si mesma, aos seus medos, traumas, soberba, orgulho, teimosia, terá dado um primeiro passo para fazer uma TV digna.

Pra finalizar, evidencio alguns pontos que podem perfeitamente soar como um desafio aos padrões da emissora, mas que adoraria se um dia fossem observados:

  • Uma novela ao estilo Jorge Amado seria saudável ao seu crescimento.
  • Uma trama passada na Bahia traria um frescor à sua teledramaturgia, talvez pela ousadia.
  • Uma minissérie que não seja bíblica é também uma boa pedida. De preferência, de época.
  • Dar um "descanso" para as pirotecnias, tramas que sempre enveredam pela abordagem da violência.
  • Uma novela rural cairia bem. Uma novela de época, idem.
  • Novelas curtas [tomara as notícias de que começarão a ser realizadas, se concretizem] são bem vindas.
  • Acabar com o complexo de desmerecer alguns do seu casting em função de novas contratações de recém saídos da Globo, uns até mesmo mesmo medíocres, considerando apenas a questão da vitrine. Isso é uma vergonha.
  • Ponderar na questão do pudor extremo. Ousar um pouco mais [sem descambar pra baixaria] em cenas de amor, de nudez, de sensualidade. Bons folhetins não pecam nesse sentido, apenas agregam.
  • Planejar as substitutas com tempo suficiente para a produção de algo excelente.
  • Justificar a existência do RecNov. Tanto investimento deve valer a pena!
  • Dar uma atenção especial aos figurinos e cenários de suas novelas. Os padrões atuais da Televisão não toleram mais cenários fakes, de "papelão", ou que mais parecem um conjunto de bugigangas reaproveitadas. 
  • A iluminação não pode incomodar, tem que ser natural. Nos fazer acreditar que estamos diante de algo real.
  • Deixar de ostentação no sentido de não querer jogar na cara do telespectador que tem dinheiro pra fazer essa ou aquela cena mirabolante e que por vezes, acaba ficando gratuita. Tipo: Navios, aviões [o exagero é proposital] sendo explodidos. 
  • Entender que as reprises de novelas não podem, nem devem concorrer com produtos inéditos da concorrência, no horário nobre. Aliás, o público da Record não compra a ideia de rever as novelas do canal. Isto já ficou mais que demonstrado, mas se querem continuar tentando que escolham um horário "ideal" e se responsabilizem pelas consequências. Desrespeitar o público tirando a novela do ar é o cúmulo do absurdo, da incompetência.
  • Fixar os horários deve ser uma lei na programação da emissora. Acabe-se com os testes no ar. Se serão duas novelas, que sejam duas novelas. Em quais horários serão exibidas? Definidos? Assumam o sucesso ou fracasso destas decisões. Vai chocar com o horário do jornalismo ou da teledramaturgia da Globo? A novela atual da emissora líder é bombástica? Faça-se o melhor possível, mas com dignidade prezem pelo respeito a quem optar por continuar a ver os seus produtos. Se neste horário são 10 (dez)os pontos obtidos pela audiência, o que estes significam pra emissora? É preciso criar uma tradição. Olhar pra si e não ficar toda a vida baseando-se no que for levado ao ar pela concorrência. A inveja não é uma qualidade, ela pode matar, então caso a emissora não se dê conta, certamente tudo o que se deseja será frustrado. 

"A gente sofre muito: o que é preciso é sofrer bem, com discernimento, com classe, som serenidade de quem já é iniciado no sofrimento. Não para tirar dele uma compensação, mas um reflexo."
  • Fernando Sabino

4 comentários:

  1. Cara, falou tudo que eu penso! Às vezes quero acompanhar as produções da Record, mas com a lenga-lenga dos horários, fica dificílimo. Eu preferia o "Fala Brasil" nas manhãs, pois traçava uma panorama das notícias no país inteiro, nos dava uma dimensão maior do que estava ocorrendo de mais importante em todas as regiões. Gente competente pra produzir eles têm, falta respeitar esses talentos e, principalmente, nós espectadores!

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  2. Quando só se pensa em dinheiro e muitos zeros nas contas dos bispos, é muito difícil falar em respeito ao público e tudo o que vc falou, meu caro Abda. O canal é dirigido por religiosos, gente que não entende de televisão; foi criado com o propósito de ganhar dinheiro e de falar que é um canal família, evangélico, etc. Enquanto for associada a imagem do Macedo à Record, dificilmente ela vai sequer fazer conquinha na audiência da Vênus Platinada. Hoje, ela briga com o Sílvio Santos e, vez ou outra, ainda ganha uma "péia" dele. Quem perde? O público, os técnicos, atores, jornalistas, enfim, todos os excelentes profissionais trabalham na empresa.

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  3. Maravilhoso post Isaac,

    Sempre tive medo de parecer implicante, mas sempre tive certa resistência á programação da record. Sempre achei o jornalismo, um ponto forte da emissora, mas até nisso a emissora vem deixando á desejar. Gostava do programa do Faro, boa opção para os sábados, mas também já cansou, o mesmo digo de Hoje em dia. Quanto á teledramaturgia, por opção, sempre preferi não acompanhar nenhuma novela ou série, apenas vejo uma cena ou outra, pois já acompanho todas da globo se for ver as da record também, acabo enlouquecendo rs. Mesmo sem acompanhar, vi com bons olhos, algumas produções como Vidas opostas, Prova de amor, Amor e intrigas e Bela a feia. Acho que o que falta as novelas, é bem o que diz no texto, falta de ousadia, falta de apostar em outros estilos, e o mais importante falta de organização. Pra quem acompanha, deve ser terrível ver a novela mudar de horário sempre, também é estranho uma novela terminar numa segunda, estrear numa quinta, a trama nova estrear no mesmo dia e em seguida do último capítulo de sua antecessora e etc. Desde que me entendo por gente que a globo mantém o padrão de novelas das seis, sete e oito que hoje são nove, que suas novelas sempre terminam na sexta com reprise no sábado, e que suas estréias são sempre nas segundas feiras, sem falar nos outros programas que sempre se mantém no mesmo horário. Isto significa respeito por nós telespectadores, organização e é isto que mantém o público da globo cativo e é isso que faz dela a melhor emissora do Brasil. Além de tudo, falta também criatividade e originalidade a programação da record que sempre copia as concorrentes, vide A fazenda, Ídolos, Programa do Gugu e etc. Portanto, A rede record ainda tem que "cumê muito arroiz cum fejão" para alnaçar o padrão globo de qualidade.

    Abraço.

    http://brincdeescrever.blogspot.com.br/

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  4. A Record é uma emissora com puta potencial financeiro, mas sem uma direção de teledramaturgia e de programas competente!

    Desesperada, muda a programação com frequência.

    Coloca no ar programas clichês.

    Novelas equivocadas, vide Máscaras e Balacobaco.

    Espero que se recupere. Até Máscaras só teve boas novelas.

    Acho que Fazenda de Verão fará sucesso e dará uma reerguida na emissora!

    Balacobaco tem uma boa história, só que quiseram vendê-la como uma trama popular com uma comédia exagerada que ficou um cocô!

    Acho que qualquer um de nós, telemaníacos conseguiria melhorar essa emissora que parece ser conduzida por um grupo de criança, de tanto equívocos que cometem!

    E essa re-re-re-reprise de Rei Davi? A minissérie, apesar de boa, já foi exibida com exaustão esse ano!

    Abraço

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